tag:blogger.com,1999:blog-75480649991858962082024-03-06T01:27:32.457-03:00Meio Rosa, Meio LiaLia Silveirahttp://www.blogger.com/profile/01914928244809718150noreply@blogger.comBlogger40125tag:blogger.com,1999:blog-7548064999185896208.post-81138991464931533332023-08-16T19:28:00.010-03:002023-08-23T16:58:26.475-03:00Mas, enfim, seria a psicanálise uma ciência?
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgUOQLCheix_f0e9TzySDZf33sR_tVEItaWn17DMW8id1fmToe-RR9i_7Tz9e89Y61l2blhy75vxUkr_5la3bHOOa1E0dCylUy3mbPatNCN-DXFI1f2MgTg7to7hZyb0cgVCb9YuVUbevVirKLr9T3E0O_Lgfg-8Qd0lPkB04jpsGAsgVtDnVW5LYgUTYs/s1200/Sigmund-Freud0-1.webp" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="800" data-original-width="1200" height="213" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgUOQLCheix_f0e9TzySDZf33sR_tVEItaWn17DMW8id1fmToe-RR9i_7Tz9e89Y61l2blhy75vxUkr_5la3bHOOa1E0dCylUy3mbPatNCN-DXFI1f2MgTg7to7hZyb0cgVCb9YuVUbevVirKLr9T3E0O_Lgfg-8Qd0lPkB04jpsGAsgVtDnVW5LYgUTYs/w320-h213/Sigmund-Freud0-1.webp" width="320" /></a></div><p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-left: 280px; text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"><span style="font-family: arial; line-height: 115%;"> </span></span><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: medium; line-height: 115%;">“A
ciência, se a examinarmos de perto, não tem memória. Ela esquece as peripécias
em que nasceu uma vez constituída, ou seja, uma dimensão de verdade, que é
exercida em alto grau pela psicanálise" (Lacan, 1965/1998, p. 884).</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; text-align: justify;"><span style="font-size: small;"><span style="font-family: arial; line-height: 115%;"><b>OBS: </b>Esse texto é continuação do post anterior. Se você ainda não leu a primeira parte, <a href="https://meiorosameiolia.blogspot.com/2023/08/a-bobagem-deles-e-nossa.html">clique aqui </a>antes de prosseguir. <br /></span></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-left: 163.05pt; text-align: justify;"><span style="font-size: small;"><span style="font-family: arial; line-height: 115%;"><br /></span></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; text-align: justify;"><span class="x193iq5w"><b><span style="font-size: 11pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-family: "Times New Roman";"> </span></b></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif;">O surgimento da ciência moderna tem
suas condições de possibilidade em determinado momento histórico que é chamado
por Foucault em <i>A Hermenêutica do Sujeito</i> (2006) de “momento
cartesiano”. </span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif;">Ao afirmar a possibilidade de
aceder ao conhecimento através da aplicação de um método, Descartes abre espaço
para uma nova configuração das relações entre sujeito e verdade, onde a
possibilidade mesma do acesso a esta verdade depende, doravante, do próprio
homem e não de dogmas divinos, como regia o teocentrismo medieval.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif;">O método cartesiano toma a dúvida
como ponto de partida: é preciso duvidar de qualquer coisa que não se possa
reconhecer como evidente. Após duvidar de tudo que é possível duvidar, chega à
constatação <a style="mso-comment-date: 20230813T2339; mso-comment-reference: _1;">de
que se há algo de que não pode duvidar é de que ele mesmo pensa.</a></span><span style="mso-no-proof: yes;"> (Descartes, 1996 p. 255)</span><span style="font-family: "Times New Roman",serif;">. Esse raciocínio o leva a elaborar
o que ficou conhecido como o cogito cartesiano, fundamento de toda a
racionalidade moderna: penso, logo sou. </span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="color: #1a1718; font-family: "Times New Roman",serif;">Lacan em seu texto
“Ciência e Verdade” recorre à definição aristotélica da causa para elaborar o
que está em jogo na relação de cada um dos saberes (magia, na religião e na
ciência) no vínculo da verdade com a causa<a href="#_ftn1" name="_ftnref1" style="mso-footnote-id: ftn1;" title=""><span class="FootnoteAnchor"><span style="mso-special-character: footnote;"><span class="FootnoteAnchor"><span style="color: #1a1718; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin;">[1]</span></span></span></span></a>.
E, a partir daí, vai poder situar a especificidade da psicanálise em situação
de ex-centricidade em relação a esses outros campos. </span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="color: #1a1718; font-family: "Times New Roman",serif;">Na ciência, o que
ocorre é que, da verdade como causa, ela nada quer saber, centrando-se
inteiramente na causa formal. As questões do saber e da verdade são reduzidas à
questão do método, da formalização, e nada mais do lado do sujeito precisa ser
questionado, como por exemplo, o desejo do cientista... Voltaremos a isso um
pouco depois. </span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="color: #1a1718; font-family: "Times New Roman",serif;">A ciência progride
pela vontade de domínio sobre o real. Encontrar as respostas para tudo aquilo
que se atravessa em nossa história como enigma, obstáculo, e no limite, para a
própria morte. No entanto, esse progresso científico é balizado muito mais
pelos novos obstáculos que cada teorização encontra, do que pelos próprios
avanços obtidos. Essa é a tese de Koyré, filósofo como quem Lacan irá dialogar.
(CABAS, 2003, p.200)</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="color: #1a1718; font-family: "Times New Roman",serif;">No entanto, o curioso
do discurso científico é que, desses limites com os quais ele vai se deparando
(e que constituem sua verdade), ele não quer saber nada. Ele foraclui a verdade
como causa, assim como sutura o sujeito eliminando a questão do seu desejo. É
assim que a ciência moderna nasce por um movimento que elimina as relações do
sujeito com a verdade, </span><span style="font-family: "Times New Roman",serif;">por
uma valorização do “como funciona”, em detrimento do “qual o agente” ou “qual a
finalidade” de uma ação.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="color: #1a1718; font-family: "Times New Roman",serif;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span></span><span style="font-family: "Times New Roman",serif;">É
interessante observarmos que, ao mesmo tempo em que cria as condições para o
surgimento do sujeito (antes do momento cartesiano, o único agente do universo
era Deus), o nascimento da ciência moderna expulsa de suas condições de
possibilidade exatamente tudo que diz respeito a esse sujeito. Isso porque, a
partir daí, nada do “ser de sujeito” do cientista participa dessa produção do
conhecimento. Pelo contrário, espera-se dele a máxima neutralidade. </span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span class="x193iq5w"><span style="mso-bidi-font-family: "Times New Roman";">Vários
colegas têm respondido ao livro “Que bobagem!” numa linha argumentativa que
advoga pela cientificidade da psicanálise. É essa posição que Pasternak &
Orsi rebatem quando criticam a existência de uma “outra ciência”, uma ciência
hermenêutica, mais voltada para a mente, para o espírito, que operaria por
regras próprias (Pasternak & Orsi 2023, p.200). Não é a posição que penso
podermos depreender da obra de Lacan e tampouco é a posição que depreendo da
minha própria experiencia com a psicanálise. </span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif;">A psicanálise opera com o saber e a
verdade de modo diferente da ciência, embora também não assuma uma posição de
negação da ciência. Podemos dizer que há pontos de aproximação entre esses dois
campos do saber, mas também um determinado ponto em que eles se separam,
justamente em relação ao lugar da verdade em relação ao saber e no que diz
respeito ao ponto de onde se pode extrair uma garantia em relação ao
saber.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif;">Pontos de aproximação, primeiro. A
psicanálise, não é fruto de uma revelação, pois, assim como a ciência é produto
de uma certa relação com a racionalidade. Sabemos como Freud sonhava com a
possibilidade de instalar a psicanálise no Panteão da ciência. Lacan até
determinado ponto também o acompanha nessa empreitada. O recurso a linguística,
a lógica e a matemática vão no sentido de afastar a psicanálise de qualquer
experiência de revelação e de fazer dela algo transmissível em termos
científicos. </span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif;">Na matemática o processo de
formalização consiste na redução lógica a partir de uma operação que converte
uma sentença ou argumento em uma forma sentencial composta de letras que, por
sua vez, vão permitir realizar operações. No final de seu ensino, Lacan recorre
mesmo a esse campo do saber como o único que poderia permitir um acesso ao
real. “</span><span class="x193iq5w"><span style="mso-bidi-font-family: "Times New Roman";">Uma
falsa ciência, assim como uma verdadeira, pode ser posta em fórmulas”, diz
Lacan no seminário 11. Mas</span></span><span style="font-family: "Times New Roman",serif;">
aí também está o distanciamento da psicanálise em relação à ciência. O recurso
a essas ferramentas não está dedicado a fazer a psicanálise caber na lógica
científica, mas de levar essa lógica até seu último limite para fazer aparecer
aí o que nela falha. </span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif;">O que vai interessar a Lacan não é
o que se formaliza das proposições em si, mas seus impasses, pois é justo por
eles que o real pode vir a se escrever. É por isso que, apesar de recorrer
largamente à formalização lógica, Lacan vai dizer que “</span>O truque
analítico não será matemático. É mesmo por isso que o discurso da análise se
distingue do discurso científico<span style="font-family: "Times New Roman",serif;">”
(Lacan, 1972, p. 159).</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif;">A razão desde Freud comporta uma
dimensão que só vai poder ser acessada a partir daquilo que falha nessa
racionalidade. De todo modo, essa “falha” também estava em jogo na origem da
ciência, na dúvida cartesiana que divide o sujeito e na angústia que acomete
Descartes nos pesadelos da agitada noite em San Martinho no ano de 1619; noite
que precede “os fundamentos da ciência maravilhosa”. (<span class="MsoSubtleReference">Baillet apud </span></span><span style="mso-no-proof: yes;">(Borges-Duarte, 2003 p. 318)</span><span class="MsoSubtleReference">.</span><span style="font-family: "Times New Roman",serif;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif;">É esse sujeito dividido e
angustiado que Lacan vai afirmar ser o sujeito da psicanálise, o mesmo sujeito
da ciência. Antes da ciência moderna, não haveria possibilidade de surgimento
da psicanálise pois a questão da “causa” era totalmente atribuída a Deus. Além
disso, podemos dizer que a psicanálise nasce de um dos obstáculos encontrados
pela ciência positivista: é Freud em seu encontro com as histéricas de
Salpetriêre, essas que se constituíam em um limite para o saber científico, não
respondiam a ele, não se encaixavam em suas premissas.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif;">Assim, seguindo a tese de Koyré,
seria a psicanálise uma ciência, já que nasce do encontro de um obstáculo de
uma axiomática anterior? Poderia até ser, se não fosse o fato de que a
psicanálise já nasce subvertendo a lógica do discurso científico. Ocorre que
Freud, ao se questionar sobre a histeria, não o fez sob os moldes de um
observador externo ao objeto estudado. O que a psicanálise sustenta é que o
“sujeito está, se nos permitem dizê-lo, em uma exclusão interna a seu objeto”.
(Lacan, 1966/1998, p. 875).</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif;">Foi através da análise de seus
próprios sonhos que Freud avançou no terreno da histeria. Isso porque ele,
assim como Descartes, se perguntou sobre o que fundamenta a relação de um saber
com a verdade. Isso porque dizer “Penso, logo sou” em termos de pensamento, não
resolve absolutamente a questão acerca de “o que sou eu?”. Descartes respondeu
recorrendo a Deus como sujeito suposto saber, aquele que não o deixaria
enganar-se.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Já Freud, ao se perguntar
sobre esse lugar da relação entre saber e verdade, respondeu: ela deve ser
acessada numa relação com seu próprio inconsciente. Isso porque o que ele
descobre é que o sintoma tem um sentido, uma lógica a ser decifrada: isso fala!
É, portanto, no próprio texto inconsciente que se manifesta através dos lapsos,
sonhos chistes, que a verdade do sujeito deve ser buscada. Ou seja, a
psicanálise reintroduz no campo do saber a relação do sujeito com seu desejo,
ou seja, com sua verdade.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif;">Para a acessar a verdade é preciso
que o próprio sujeito vá se interrogar sobre o seu desejo, ou seja, para a
psicanálise, não se trata de uma verdade transcendente, absoluta, universal.
Trata-se de uma verdade particular, um “fato de memória”: “lembrar os
obstáculos que precederam a conquista de um saber – o que Lacan denomina ‘a
verdade enquanto causa’- é o que o discurso analítico define como ‘lembrança da
castração’. (CABAS, G. 2003, p. 212). É isso que a ciência não considera, a
memória dos obstáculos, e que a psicanálise vai resgatar. </span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%;"><span class="x193iq5w"><b><span style="mso-bidi-font-family: "Times New Roman";">Não sem o ser do analista</span></b></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif;">É por isso que as provas da eficiência
da psicanálise não poderiam, em última instância, ser buscada segundo a lógica
da ciência moderna (por mais que até se possam realizar estudos comparando um
ou outro de seus resultados segundo os moldes científicos).<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>A psicanálise não é uma terapia que visa a
corrigir um transtorno ou eliminar um sintoma. Ela é o acesso absolutamente
singular à relação que um sujeito estabelece com a verdade que o sustenta e com
o saber furado de onde pode vir a orientar no mundo.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif;">Aqui chegamos ao</span><span class="x193iq5w"><span style="mso-bidi-font-family: "Times New Roman";"> segundo
ponto que conseguimos extrair do texto de Pasternak para fazer avançar nossa
discussão sobre a separação entre o campo da psicanálise e o da ciência é
aquele em que ela aponta que, se a psicanálise traz benefícios, isso deriva
mais da pessoa do terapeuta do que da técnica usada ou da teoria que embasa a
técnica: “Em termos de saúde física, seria como se os antibióticos e as teorias
dos germes só funcionassem bem se o médico tivesse características pessoais
favoráveis”.(Pasternak & Orsi, 2023)</span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span class="x193iq5w"><span style="mso-bidi-font-family: "Times New Roman";">Apesar de
mais uma vez demonstrar uma ignorância muito grande sobre o campo da clínica
(desde seu surgimento a medicina esta advertida dos poderes da sugestão da
pessoa do clínico sobre o paciente) aqui os autores têm um ponto. É verdade que
em psicanálise a pessoa do terapeuta vai ser convocada, pelo menos na medida em
que este compareça com sua angústia. </span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span class="x193iq5w"><span style="mso-bidi-font-family: "Times New Roman";">As
acusações de que os autores fazem de que psicanalistas seriam vaidosos e
abusariam do exercício de seu poder tem um nome em psicanálise. </span></span><span style="font-family: "Times New Roman",serif;">Trata-se do fenômeno da contratransferência,
definida por Freud (1910) como a resposta que surge no médico quando o paciente
influencia os seus sentimentos inconscientes. E que, desde sempre, é
localizada por ele como algo a ser sobrepujado na experiência analítica, já
que o tratamento deve, na medida do possível, ser executado na privação. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif;">Para Lacan (1960-1961/2010) a contratransferência
é índice de que este que conduz a análise está se colocando aí como
sujeito, pois o sujeito é aquele que experimenta os afetos. Mas, ao contrário
do que possa supor o cientista, o antídoto para a contratransferência não é a
neutralidade do método, mas sim, o desejo do analista. Se o analista pode, e
deve, deixar de fora do tratamento sua sede de poder, sua vaidade, seus
preconceitos, é porque cerniu o suficiente aquilo que causa seu ser de sujeito.
</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif;">Então a psicanálise é o discurso
que, ao invés de dizer “Que Bobagem!”, vai dizer: “venha, traga sua bobagem,
venha falar dela aqui até você pode extrair daí a escrita de algo que possa vir
a funcionar como garantia do seu ser”. <span style="color: #1d1d1d;"></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif;">O que permitiria então que, na condução
do tratamento, o analista se abstenha de tomar seu paciente como objeto é “desejo
mais forte que os desejos que poderiam estar em causa, a</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif;">saber, de chegar às vias de fato
com seu paciente, de tomá-lo nos braços ou atirá-lo pela janela” (LACAN,
1960-61/2010, p. 233) . </span><span class="x193iq5w"><span style="mso-bidi-font-family: "Times New Roman";">Por isso</span></span><span style="font-family: "Times New Roman",serif;">
a indissociabilidade entre a análise do analista e sua aptidão para ocupar esse
lugar. Mas, </span><span class="x193iq5w"><span style="mso-bidi-font-family: "Times New Roman";">“O
que há de ser do desejo do analista para que ele opere de maneira correta? Pode
esta questão ser deixada fora dos limites de nosso campo, como o é de fato nas
ciências- as ciências modernas do tipo mais garantido - em que ninguém se
interroga sobre o que é, por exemplo, do desejo do físico?” (</span></span><b><span style="font-weight: normal;">LACAN, 1964/2008</span></b><span style="font-family: "Times New Roman",serif;">, p. 17)</span><span class="x193iq5w"><span style="mso-bidi-font-family: "Times New Roman";">, se
pergunta Lacan no Seminário 11 – Os conceitos Fundamentais da Psicanálise. É
exatamente porque esse desejo que concerne ao analista não pode ser deixado de
fora, como acontece com o físico, que a psicanálise não pode ser considerada
uma ciência e, por extensão, não pode ser também uma pseudociência. Como disse
minha irmã e pesquisadora da filosofia da psicanálise Léa Silveira, “a gente
não pode chamar um alho de pseudobugalho”. </span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span class="x193iq5w"><span style="mso-bidi-font-family: "Times New Roman";">Para
elaborar um pouco mais essa distinção entre o caminho da psicanálise que leva
ao desejo do analista e o caminho da ciência que não se pergunta pelo desejo do
físico, explorarei a seguir um pouco da vida e obra de Oppenheimer, recorrendo
ao recém-lançado e sensacional filme de </span></span><span style="font-family: "Times New Roman",serif;">Christopher Nolan e ao livro que deu origem ao filme “</span><span style="font-family: "Times New Roman",serif; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR; mso-font-kerning: 1.0pt;">Oppenheimer: O triunfo e a
tragédia do Prometeu americano” de </span><span class="author"><span style="font-family: "Times New Roman",serif;">Kai Bird </span></span><span class="a-color-secondary"><span style="font-family: "Times New Roman",serif;">e </span></span><span class="author"><span style="font-family: "Times New Roman",serif;">Martin J.
Sherwin. </span></span><span style="font-family: "Times New Roman",serif; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR; mso-font-kerning: 1.0pt;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR; mso-font-kerning: 1.0pt;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR; mso-font-kerning: 1.0pt;"><span style="mso-spacerun: yes;">Em breve, no próximo post! <br /></span></span></p>
<div style="mso-element: footnote-list;"><br clear="all" />
<hr align="left" size="1" width="33%" />
<div id="ftn1" style="mso-element: footnote;">
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; text-align: justify;"><a href="#_ftnref1" name="_ftn1" style="mso-footnote-id: ftn1;" title=""><span class="FootnoteCharacters"><span style="mso-special-character: footnote;"><span class="FootnoteCharacters"><span face=""Calibri",sans-serif" style="font-size: 12pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-language: AR-SA; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">[1]</span></span></span></span></a>
<span style="color: #1a1718; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 9pt; line-height: 115%;">Aristóteles, há mais de 300 anos a.c. definiu as quatro
dimensões da causa: </span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; mso-pagination: none; text-align: justify;"><span style="color: #1a1718; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 9pt; line-height: 115%;">1. a causa materialis, o material, a matéria a partir da qual,
por exemplo, uma taça de prata é feita; </span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; mso-pagination: none; text-align: justify;"><span style="color: #1a1718; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 9pt; line-height: 115%;">2. a causa formalis, a forma, a figura, na qual se instala o
material, a forma da taça; </span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; mso-pagination: none; text-align: justify;"><span style="color: #1a1718; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 9pt; line-height: 115%;">3. a causa finalis, o fim, por exemplo, o sacrifício para o qual
a taça requerida é determinada segundo matéria e forma;</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; mso-pagination: none; text-align: justify;"><span style="color: #1a1718; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 9pt; line-height: 115%;">4. a causa efficiens, o forjador da prata que efetua o efeito, a
taça real acabada. </span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; mso-pagination: none; text-align: justify;"><span style="color: #1a1718; font-family: "Times New Roman",serif;"> </span></p>
<p class="MsoFootnoteText"><b>Referências</b></p><p class="MsoFootnoteText">
</p><p class="MsoBibliography" style="margin-bottom: 6pt;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; mso-no-proof: yes;"> </span></p><p class="MsoBibliography" style="margin-bottom: 6pt;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; mso-no-proof: yes;">Borges-Duarte, Irene. 2003. O Melão,
o Remoinho e o Tempo: Descartes e o Sonho de uma Noite de Outono. <i>Revista
Portuguesa de </i></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6pt; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif;">CABAS, A. G. O sujeito na
psicanálise de Freud a Lacan: da questão do sujeito ao sujeito em questão. Rio
de Janeiro: Jorge Zahar, 2009. </span></p>
<p class="MsoBibliography" style="margin-bottom: 6pt;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; mso-no-proof: yes;">Descartes, René. [1637] 1996.
Discurso do Método. <i>Descartes - Coleção Os Pensadores. </i>São Paulo :
Martins Fontes, [1637] 1996.</span></p>
<p class="MsoBibliography" style="margin-bottom: 6pt;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; mso-no-proof: yes;">Foucault, Michel. 2006. <i>A
Hermenêutica do Sujeito. Curso dado no Collège de France, 1981-1982. </i>São
Paulo : Martins Fontes, 2006.</span></p>
<p style="background: white; margin-bottom: 6pt; text-align: justify;"><span style="color: black; mso-color-alt: windowtext;">Freud, S. (2006). As perspectivas
futuras da terapêutica psicanalítica. <i>Obras completas, ESB</i>, v. XI.
Imago: Rio de Janeiro. (Trabalho original publicado em 1910)</span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6pt; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif;">Lacan, J. (1985). <i>O Seminário,
livro 20: mais, ainda</i>. Rio de Janeiro: Jorge Zahar. (Seminário original de
1972-1973) </span></p>
<p style="background: white; margin-bottom: 6pt; text-align: justify;"><span style="color: black; mso-color-alt: windowtext;">Lacan, J. (1992). <i>O seminário,
livro 8: a transferência</i>. Rio de Janeiro: Jorge Zahar. (Seminário original
de 1960-1961) </span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6pt; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif;">Lacan, J. (1998). A ciência e a
verdade. </span><span lang="EN-US" style="font-family: "Times New Roman",serif; mso-ansi-language: EN-US;">In J. Lacan, <i>Escritos </i>(pp. 869-892). </span><span style="font-family: "Times New Roman",serif;">Rio de Janeiro: Jorge Zahar.
(Originalmente publicado em 1966) </span></p>
<p style="background: white; margin-bottom: 6pt; text-align: justify;"><span style="color: black; mso-color-alt: windowtext;">LACAN, J. Os quatro conceitos
fundamentais da psicanálise (1964). Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2008. (O
Seminário, 11)</span></p>
<p style="background: white; margin-bottom: 6pt; text-align: justify;"><span style="color: black; mso-color-alt: windowtext;">Pasternak, N.; Orsi, C. Que
Bobagem! Pseudociência e outros absurdos que não merecem ser levados a sério.
São Paulo: Contexto, 2023.</span></p>
<p class="MsoFootnoteText"><style>@font-face
{font-family:"Cambria Math";
panose-1:2 4 5 3 5 4 6 3 2 4;
mso-font-charset:0;
mso-generic-font-family:roman;
mso-font-pitch:variable;
mso-font-signature:-536870145 1107305727 0 0 415 0;}@font-face
{font-family:Calibri;
panose-1:2 15 5 2 2 2 4 3 2 4;
mso-font-charset:0;
mso-generic-font-family:swiss;
mso-font-pitch:variable;
mso-font-signature:-469750017 -1073732485 9 0 511 0;}p.MsoNormal, li.MsoNormal, div.MsoNormal
{mso-style-unhide:no;
mso-style-qformat:yes;
mso-style-parent:"";
margin:0cm;
mso-pagination:widow-orphan;
font-size:12.0pt;
font-family:"Calibri",sans-serif;
mso-ascii-font-family:Calibri;
mso-ascii-theme-font:minor-latin;
mso-fareast-font-family:Calibri;
mso-fareast-theme-font:minor-latin;
mso-hansi-font-family:Calibri;
mso-hansi-theme-font:minor-latin;
mso-bidi-font-family:Calibri;
mso-bidi-theme-font:minor-bidi;
mso-fareast-language:EN-US;}p
{mso-style-priority:99;
mso-style-qformat:yes;
mso-margin-top-alt:auto;
margin-right:0cm;
mso-margin-bottom-alt:auto;
margin-left:0cm;
mso-pagination:widow-orphan;
font-size:12.0pt;
font-family:"Times New Roman",serif;
mso-fareast-font-family:"Times New Roman";}p.MsoBibliography, li.MsoBibliography, div.MsoBibliography
{mso-style-priority:37;
mso-style-next:Normal;
margin:0cm;
mso-pagination:widow-orphan;
font-size:12.0pt;
font-family:"Calibri",sans-serif;
mso-ascii-font-family:Calibri;
mso-ascii-theme-font:minor-latin;
mso-fareast-font-family:Calibri;
mso-fareast-theme-font:minor-latin;
mso-hansi-font-family:Calibri;
mso-hansi-theme-font:minor-latin;
mso-bidi-font-family:Calibri;
mso-bidi-theme-font:minor-bidi;
mso-fareast-language:EN-US;}.MsoChpDefault
{mso-style-type:export-only;
mso-default-props:yes;
font-family:"Calibri",sans-serif;
mso-ascii-font-family:Calibri;
mso-ascii-theme-font:minor-latin;
mso-fareast-font-family:Calibri;
mso-fareast-theme-font:minor-latin;
mso-hansi-font-family:Calibri;
mso-hansi-theme-font:minor-latin;
mso-bidi-font-family:Calibri;
mso-bidi-theme-font:minor-bidi;
mso-font-kerning:0pt;
mso-ligatures:none;
mso-fareast-language:EN-US;}div.WordSection1
{page:WordSection1;}</style> <br /></p>
</div>
</div>
<div style="mso-element: comment-list;">
<hr align="left" class="msocomoff" size="1" width="33%" />
<div style="mso-element: comment;">
<div class="msocomtxt" id="_com_1"><span style="mso-comment-author: "Unknown Author";"><a name="_msocom_1"></a></span>
<p class="MsoNormal"> </p>
</div>
</div>
</div>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-left: 163.05pt; text-align: justify;"><style id="dynCom" type="text/css"></style><style>@font-face
{font-family:"MS Mincho";
panose-1:2 2 6 9 4 2 5 8 3 4;
mso-font-alt:"MS 明朝";
mso-font-charset:128;
mso-generic-font-family:modern;
mso-font-pitch:fixed;
mso-font-signature:-536870145 1791491579 134217746 0 131231 0;}@font-face
{font-family:"Cambria Math";
panose-1:2 4 5 3 5 4 6 3 2 4;
mso-font-charset:0;
mso-generic-font-family:roman;
mso-font-pitch:variable;
mso-font-signature:-536870145 1107305727 0 0 415 0;}@font-face
{font-family:Calibri;
panose-1:2 15 5 2 2 2 4 3 2 4;
mso-font-charset:0;
mso-generic-font-family:swiss;
mso-font-pitch:variable;
mso-font-signature:-469750017 -1073732485 9 0 511 0;}@font-face
{font-family:Cambria;
panose-1:2 4 5 3 5 4 6 3 2 4;
mso-font-charset:0;
mso-generic-font-family:roman;
mso-font-pitch:variable;
mso-font-signature:-536870145 1073743103 0 0 415 0;}@font-face
{font-family:"\@MS Mincho";
panose-1:2 2 6 9 4 2 5 8 3 4;
mso-font-charset:128;
mso-generic-font-family:modern;
mso-font-pitch:fixed;
mso-font-signature:-536870145 1791491579 134217746 0 131231 0;}p.MsoNormal, li.MsoNormal, div.MsoNormal
{mso-style-unhide:no;
mso-style-qformat:yes;
mso-style-parent:"";
margin:0cm;
mso-pagination:widow-orphan;
font-size:12.0pt;
font-family:"Calibri",sans-serif;
mso-ascii-font-family:Calibri;
mso-ascii-theme-font:minor-latin;
mso-fareast-font-family:Calibri;
mso-fareast-theme-font:minor-latin;
mso-hansi-font-family:Calibri;
mso-hansi-theme-font:minor-latin;
mso-bidi-font-family:Calibri;
mso-bidi-theme-font:minor-bidi;
mso-fareast-language:EN-US;}p.MsoFootnoteText, li.MsoFootnoteText, div.MsoFootnoteText
{mso-style-priority:99;
mso-style-link:"Texto de nota de rodapé Char";
margin:0cm;
mso-pagination:widow-orphan;
font-size:12.0pt;
font-family:"Cambria",serif;
mso-fareast-font-family:"MS Mincho";
mso-bidi-font-family:"Times New Roman";
mso-fareast-language:EN-US;}span.MsoSubtleReference
{mso-style-priority:31;
mso-style-unhide:no;
mso-style-qformat:yes;
mso-ansi-font-size:12.0pt;
font-family:"Times New Roman",serif;
mso-ascii-font-family:"Times New Roman";
mso-hansi-font-family:"Times New Roman";
font-variant:normal !important;
color:black;
mso-themecolor:text1;
mso-hide:none;
text-transform:none;
position:relative;
top:0pt;
mso-text-raise:0pt;
text-decoration:none;
text-line-through:none;
vertical-align:baseline;}span.x193iq5w
{mso-style-name:x193iq5w;
mso-style-unhide:no;
mso-style-qformat:yes;}span.TextodenotaderodapChar
{mso-style-name:"Texto de nota de rodapé Char";
mso-style-priority:99;
mso-style-unhide:no;
mso-style-qformat:yes;
mso-style-locked:yes;
mso-style-link:"Texto de nota de rodapé";
font-family:"Cambria",serif;
mso-ascii-font-family:Cambria;
mso-fareast-font-family:"MS Mincho";
mso-hansi-font-family:Cambria;
mso-bidi-font-family:"Times New Roman";}span.FootnoteCharacters
{mso-style-name:"Footnote Characters";
mso-style-priority:99;
mso-style-qformat:yes;
vertical-align:super;}span.FootnoteAnchor
{mso-style-name:"Footnote Anchor";
mso-style-unhide:no;
mso-style-parent:"";
vertical-align:super;}span.author
{mso-style-name:author;
mso-style-unhide:no;
mso-style-qformat:yes;}span.a-color-secondary
{mso-style-name:a-color-secondary;
mso-style-unhide:no;
mso-style-qformat:yes;}span.TextodenotaderodapChar1
{mso-style-name:"Texto de nota de rodapé Char1";
mso-style-noshow:yes;
mso-style-priority:99;
mso-style-unhide:no;
mso-ansi-font-size:10.0pt;
mso-bidi-font-size:10.0pt;}.MsoChpDefault
{mso-style-type:export-only;
mso-default-props:yes;
font-family:"Calibri",sans-serif;
mso-ascii-font-family:Calibri;
mso-ascii-theme-font:minor-latin;
mso-fareast-font-family:Calibri;
mso-fareast-theme-font:minor-latin;
mso-hansi-font-family:Calibri;
mso-hansi-theme-font:minor-latin;
mso-bidi-font-family:Calibri;
mso-bidi-theme-font:minor-bidi;
mso-font-kerning:0pt;
mso-ligatures:none;
mso-fareast-language:EN-US;}div.WordSection1
{page:WordSection1;}</style></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-left: 163.05pt; text-align: justify;"><span style="font-size: small;"><span style="font-family: arial; line-height: 115%;"> <br /></span></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-left: 163.05pt; text-align: justify;"><span style="font-size: small;"><span style="font-family: arial; line-height: 115%;"> </span></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-left: 163.05pt; text-align: justify;"><span style="font-size: small;"><span style="font-family: arial; line-height: 115%;"> </span></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-left: 163.05pt; text-align: justify;"><span style="font-size: small;"><span style="font-family: arial; line-height: 115%;"> </span></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-left: 163.05pt; text-align: justify;"><span style="font-size: small;"><span style="font-family: arial; line-height: 115%;"> </span></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-left: 163.05pt; text-align: justify;"><span style="font-size: small;"><span style="font-family: arial; line-height: 115%;"> </span></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-left: 163.05pt; text-align: justify;"><span style="font-size: small;"><span style="font-family: arial; line-height: 115%;"> </span></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-left: 163.05pt; text-align: justify;"><span style="font-size: small;"><span style="font-family: arial; line-height: 115%;"> </span></span></p><br /><div><div class="msocomtxt" id="_com_1"><style><font size="3"><span style="font-family: arial;">@font-face
{font-family:"Cambria Math";
panose-1:2 4 5 3 5 4 6 3 2 4;
mso-font-charset:0;
mso-generic-font-family:roman;
mso-font-pitch:variable;
mso-font-signature:-536870145 1107305727 0 0 415 0;}@font-face
{font-family:Calibri;
panose-1:2 15 5 2 2 2 4 3 2 4;
mso-font-charset:0;
mso-generic-font-family:swiss;
mso-font-pitch:variable;
mso-font-signature:-536859905 -1073732485 9 0 511 0;}@font-face
{font-family:Verdana;
panose-1:2 11 6 4 3 5 4 4 2 4;
mso-font-charset:0;
mso-generic-font-family:swiss;
mso-font-pitch:variable;
mso-font-signature:-1593833729 1073750107 16 0 415 0;}p.MsoNormal, li.MsoNormal, div.MsoNormal
{mso-style-unhide:no;
mso-style-qformat:yes;
mso-style-parent:"";
margin:0cm;
mso-pagination:widow-orphan;
font-size:12.0pt;
font-family:"Calibri",sans-serif;
mso-ascii-font-family:Calibri;
mso-ascii-theme-font:minor-latin;
mso-fareast-font-family:Calibri;
mso-fareast-theme-font:minor-latin;
mso-hansi-font-family:Calibri;
mso-hansi-theme-font:minor-latin;
mso-bidi-font-family:Calibri;
mso-bidi-theme-font:minor-bidi;
mso-fareast-language:EN-US;}p
{mso-style-priority:99;
mso-style-qformat:yes;
mso-margin-top-alt:auto;
margin-right:0cm;
mso-margin-bottom-alt:auto;
margin-left:0cm;
mso-pagination:widow-orphan;
font-size:12.0pt;
font-family:"Times New Roman",serif;
mso-fareast-font-family:"Times New Roman";}p.MsoBibliography, li.MsoBibliography, div.MsoBibliography
{mso-style-priority:37;
mso-style-next:Normal;
margin:0cm;
mso-pagination:widow-orphan;
font-size:12.0pt;
font-family:"Calibri",sans-serif;
mso-ascii-font-family:Calibri;
mso-ascii-theme-font:minor-latin;
mso-fareast-font-family:Calibri;
mso-fareast-theme-font:minor-latin;
mso-hansi-font-family:Calibri;
mso-hansi-theme-font:minor-latin;
mso-bidi-font-family:Calibri;
mso-bidi-theme-font:minor-bidi;
mso-fareast-language:EN-US;}.MsoChpDefault
{mso-style-type:export-only;
mso-default-props:yes;
font-family:"Calibri",sans-serif;
mso-ascii-font-family:Calibri;
mso-ascii-theme-font:minor-latin;
mso-fareast-font-family:Calibri;
mso-fareast-theme-font:minor-latin;
mso-hansi-font-family:Calibri;
mso-hansi-theme-font:minor-latin;
mso-bidi-font-family:Calibri;
mso-bidi-theme-font:minor-bidi;
mso-font-kerning:0pt;
mso-ligatures:none;
mso-fareast-language:EN-US;}div.WordSection1
{page:WordSection1;}</span></font></style></div></div>
<style id="dynCom" type="text/css"></style><style><font size="3"><span style="font-family: arial;">@font-face
{font-family:"MS Mincho";
panose-1:2 2 6 9 4 2 5 8 3 4;
mso-font-alt:"MS 明朝";
mso-font-charset:128;
mso-generic-font-family:modern;
mso-font-pitch:fixed;
mso-font-signature:-536870145 1791491579 134217746 0 131231 0;}@font-face
{font-family:"Cambria Math";
panose-1:2 4 5 3 5 4 6 3 2 4;
mso-font-charset:0;
mso-generic-font-family:roman;
mso-font-pitch:variable;
mso-font-signature:-536870145 1107305727 0 0 415 0;}@font-face
{font-family:Calibri;
panose-1:2 15 5 2 2 2 4 3 2 4;
mso-font-charset:0;
mso-generic-font-family:swiss;
mso-font-pitch:variable;
mso-font-signature:-536859905 -1073732485 9 0 511 0;}@font-face
{font-family:Cambria;
panose-1:2 4 5 3 5 4 6 3 2 4;
mso-font-charset:1;
mso-generic-font-family:roman;
mso-font-pitch:variable;
mso-font-signature:-536870145 1073743103 0 0 415 0;}@font-face
{font-family:"\@MS Mincho";
panose-1:2 2 6 9 4 2 5 8 3 4;
mso-font-charset:128;
mso-generic-font-family:modern;
mso-font-pitch:fixed;
mso-font-signature:-536870145 1791491579 134217746 0 131231 0;}p.MsoNormal, li.MsoNormal, div.MsoNormal
{mso-style-unhide:no;
mso-style-qformat:yes;
mso-style-parent:"";
margin:0cm;
mso-pagination:widow-orphan;
font-size:12.0pt;
font-family:"Calibri",sans-serif;
mso-ascii-font-family:Calibri;
mso-ascii-theme-font:minor-latin;
mso-fareast-font-family:Calibri;
mso-fareast-theme-font:minor-latin;
mso-hansi-font-family:Calibri;
mso-hansi-theme-font:minor-latin;
mso-bidi-font-family:Calibri;
mso-bidi-theme-font:minor-bidi;
mso-fareast-language:EN-US;}p.MsoFootnoteText, li.MsoFootnoteText, div.MsoFootnoteText
{mso-style-priority:99;
mso-style-link:"Texto de nota de rodapé Char";
margin:0cm;
mso-pagination:widow-orphan;
font-size:12.0pt;
font-family:"Cambria",serif;
mso-fareast-font-family:"MS Mincho";
mso-bidi-font-family:"Times New Roman";
mso-fareast-language:EN-US;}span.MsoSubtleReference
{mso-style-priority:31;
mso-style-unhide:no;
mso-style-qformat:yes;
mso-ansi-font-size:12.0pt;
font-family:"Times New Roman",serif;
mso-ascii-font-family:"Times New Roman";
mso-hansi-font-family:"Times New Roman";
font-variant:normal !important;
color:black;
mso-themecolor:text1;
mso-hide:none;
text-transform:none;
position:relative;
top:0pt;
mso-text-raise:0pt;
text-decoration:none;
text-line-through:none;
vertical-align:baseline;}span.x193iq5w
{mso-style-name:x193iq5w;
mso-style-unhide:no;
mso-style-qformat:yes;}span.TextodenotaderodapChar
{mso-style-name:"Texto de nota de rodapé Char";
mso-style-priority:99;
mso-style-unhide:no;
mso-style-qformat:yes;
mso-style-locked:yes;
mso-style-link:"Texto de nota de rodapé";
font-family:"Cambria",serif;
mso-ascii-font-family:Cambria;
mso-fareast-font-family:"MS Mincho";
mso-hansi-font-family:Cambria;
mso-bidi-font-family:"Times New Roman";}span.FootnoteCharacters
{mso-style-name:"Footnote Characters";
mso-style-priority:99;
mso-style-qformat:yes;
vertical-align:super;}span.FootnoteAnchor
{mso-style-name:"Footnote Anchor";
mso-style-unhide:no;
mso-style-parent:"";
vertical-align:super;}span.TextodenotaderodapChar1
{mso-style-name:"Texto de nota de rodapé Char1";
mso-style-noshow:yes;
mso-style-priority:99;
mso-style-unhide:no;
mso-ansi-font-size:10.0pt;
mso-bidi-font-size:10.0pt;}.MsoChpDefault
{mso-style-type:export-only;
mso-default-props:yes;
font-family:"Calibri",sans-serif;
mso-ascii-font-family:Calibri;
mso-ascii-theme-font:minor-latin;
mso-fareast-font-family:Calibri;
mso-fareast-theme-font:minor-latin;
mso-hansi-font-family:Calibri;
mso-hansi-theme-font:minor-latin;
mso-bidi-font-family:Calibri;
mso-bidi-theme-font:minor-bidi;
mso-font-kerning:0pt;
mso-ligatures:none;
mso-fareast-language:EN-US;}div.WordSection1
{page:WordSection1;}</span></font></style>Lia Silveirahttp://www.blogger.com/profile/01914928244809718150noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7548064999185896208.post-57089561024316764632023-08-16T13:21:00.017-03:002023-08-24T20:27:28.849-03:00A Bobagem deles e a nossa <div><p>
</p><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi3qXt8a4QhLPvV-luV3J6a2DlaFYI552KZNiCeiLrQhzuwumoexbOtCKhTZl8LYdjPFpGltBRkinNTXipMBGMPWABfgKuxCgH6kVQDE6_4GGmwEXjg6gJ6anCkyIPwps7qmUQ7BE1p-l8tOm4na5PH0FA7eLuv9VxrenY7EDQgL8oj2qh1e3K4xMpCQLU/s625/bobagem.png" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="625" data-original-width="622" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi3qXt8a4QhLPvV-luV3J6a2DlaFYI552KZNiCeiLrQhzuwumoexbOtCKhTZl8LYdjPFpGltBRkinNTXipMBGMPWABfgKuxCgH6kVQDE6_4GGmwEXjg6gJ6anCkyIPwps7qmUQ7BE1p-l8tOm4na5PH0FA7eLuv9VxrenY7EDQgL8oj2qh1e3K4xMpCQLU/s320/bobagem.png" width="318" /></a><span style="font-family: arial; font-size: small;"><br /></span></div></div><div><span style="font-family: arial; font-size: small;"> </span></div><div><div style="text-align: justify;"><div style="text-align: justify;"><p><span style="font-family: arial; font-size: small;"><span></span></span></p><a name='more'></a>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;"><span face=""Arial",sans-serif" style="mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR; mso-font-kerning: 0pt; mso-ligatures: none;">Quando Freud (1909/2015) aceita tratar à
distância o pequenino fóbico que ficou conhecido como "caso Hans",
ele combina com o pai do garoto que, quando o filho manifestasse sua fobia, os
pais diriam a ele que seu problema com os cavalos não passava de uma
"bobagem". Desde então, a criança passa a usar esse significante pra
nomear o indizível de seu sintoma: "ontem eu saí de casa e senti a
bobagem"; “Uma vez que saí com mamãe, mesmo com a minha
'bobagem'; "o professor Freud vai poder me ajudar com a minha
bobagem". Hans sabe uma coisa que muitos adultos não sabem: é justo nessa
bobagem que mora algo muito íntimo de um sujeito. É justamente disso que uma
psicanálise se ocupa: da nossa bobagem, aquela que não revelamos nem para nós
mesmos.</span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;">No entanto, é justamente sob esse significante que os autores Natalia Pasternak & Carlo Orsi (2023) arrolam a psicanálise ao lado da astrologia e de práticas de saúde orientais. sob a
velha acusação de “pseudociência” no recém-lançado
“Que Bobagem! Pseudociência e outros absurdos que não merecem ser levados a
sério” de 2023.</p><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;">No livro, cujo título é bastante
autoexplicativo (vai ser difícil outra obra conseguir reunir tanta bobagem
sobre a psicanálise) os autores partem do princípio de que a ciência não é
apenas “mais uma lógica” entre outras, mas sim o “uso mais correto e refinado
possível quando o assunto é descrever, controlar e prever a realidade factual e
o mundo natural” (Pasternak & Orsi, 2023, p.10). Que a ciência seja o mais
refinado modo de pensar o mundo natural que já existiu não está em questão. No
entanto, caberia aos autores um pouco mais de leitura no campo da epistemologia
que, com todo o conhecimento acumulado nesse campo que, não só questiona a tal
“realidade factual” e o “mundo natural” , mas também
já reconhece que a física, química e biologia, por si só, não conseguem dar
conta da complexidade da vida humana. Ficando só no campo da medicina, podemos
citar as pesquisas recentes no campo da neurociência que, até hoje, não só não
encontram um causa exclusivamente biológica ou genética para os chamados
“transtornos mentais”, como reconhecem, através da noção de “epigenética”, que
há na verdade uma complexa interação entre os genes e o chamado “meio ambiente”, o qual participa do modo como isso se expressa em determinado fenótipo
(Freitas-Silva e Ortega, 2016). Se considerarmos nesse “meio ambiente” o fator
“linguagem” temos elementos suficientes para afirmar que a experiência do ser
falante nunca se reduz ao fato objetivo, mas participa aí, também, o modo
como cada um interpreta e subjetiva a realidade. </p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;"><span face=""Arial",sans-serif" style="mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR; mso-font-kerning: 0pt; mso-ligatures: none;"> </span>Mas, entrando no que nos interessa aqui,
vejamos como os autores abordam a psicanálise: ela seria uma psicoterapia que
promete aliviar e/ou curar as dores da mente e que, como terapia, falha quando
é incapaz de realizar as curas que promete (Pasternak & Orsi 2023,
p.11-12). Em primeiro lugar, a psicanálise, embora tenha efeitos terapêuticos,
não é uma psicoterapia. Ela não tem como objetivo principal aliviar dores ou
curar. A psicanálise interroga o sujeito nas suas relações com o desejo e gozo,
convocando-o a uma tomada de posição. </p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;"><span face=""Arial",sans-serif" style="mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR; mso-font-kerning: 0pt; mso-ligatures: none;"> </span>No entanto, ignorando toda a discussão já existente
nesse campo, o livro em questão enfia a psicanálise num saco de gatos chamado
“terapias psicodinâmicas” em que cabem de Freud a Jung, passando por Lacan.
Autores com matizes epistemológicos tão diferentes são reduzidos a uma mesma
categoria teórica sem nenhum critério. Além disso, as tais psicoterapias psicodinâmicas reivindicariam uma posição privilegiada na hierarquia do
conhecimento clínico, argumentando que suas elaborações teóricas e práticas
"encontram-se fora - de fato, acima - do alcance das ciências"
(Pasternak & Orsi 2023, p. 197). Como eles não citam fontes dessa pretensa
reivindicação de superioridade da psicanálise, não dá para saber como chegaram
a essa conclusão, inverídica, diga-se de passagem.</p><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR; mso-font-kerning: 0pt; mso-ligatures: none;"></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;"><span face=""Arial",sans-serif" style="mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR; mso-font-kerning: 0pt; mso-ligatures: none;"> </span>Já o conceito de “inconsciente psicodinâmico”
teria sido, segundo os autores, comparado (ninguém sabe por quem) a uma mente
paralela, uma espécie de calabouço, “um repositório para onde a mente baniria
os desejos inconfessáveis, pensamentos vergonhosos, impulsos inomináveis,
motivações pérfidas, memórias indizíveis e, dependendo da corrente teórica que
se adere, um monte de outras coisa” (Pasternak & Orsi 2023, p.162). </p><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR; mso-font-kerning: 0pt; mso-ligatures: none;"></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;"><span face=""Arial",sans-serif" style="mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR; mso-font-kerning: 0pt; mso-ligatures: none;"> </span>Afirmações essa são feitas sem citar
ninguém. Aqui, como em diversos trechos do texto, não parecem ter lido Freud (e
de fato não o citam diretamente em nenhum momento), pois se ele não precisou
adjetivar o termo inconsciente (que de fato já existia e ainda é usado até hoje
em diferentes acepções) foi por tê-lo elevado a categoria de conceito, e um
conceito muito mais complexo do que esse baú de obscenidades que os autores
citam.</p><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR; mso-font-kerning: 0pt; mso-ligatures: none;"></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;">Depois, os autores afirmam que, levada ao
extremo, a doutrina do inconsciente psicodinâmico sugere que os únicos
pensamentos autênticos que uma pessoa tem são os que o psicanalista lhe revela.
Todo o resto não passaria de conteúdo inconsciente disfarçado, sintomas de
traumas e desejos reprimidos. Isso daria ao analista um potencial manipulador e
autoritário que já teria sido notado por mais de um crítico. (Pasternak &
Orsi 2023, p.211): </p><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;"><span face=""Arial",sans-serif" style="mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR; mso-font-kerning: 0pt; mso-ligatures: none;"> </span><span style="font-family: "Times New Roman",serif; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR; mso-font-kerning: 0pt; mso-ligatures: none;"></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: repeat white; margin-left: 120.5pt; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify; text-indent: -7.1pt;"><span face=""Arial",sans-serif" style="color: black; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR; mso-font-kerning: 0pt; mso-ligatures: none;">“De
repente, podemos acusar homofóbicos de estarem possuídos por desejos
homossexuais que eles mesmos ignoram; filantropos, de pulsões egoístas;
pecadores, de sofrerem de santidade enrustida e, inversamente, santos de não
serem nada mais do que pecadores insinceros. </span><span style="font-family: "Times New Roman",serif; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR; mso-font-kerning: 0pt; mso-ligatures: none;"></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: repeat white; margin-left: 120.5pt; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;"><span face=""Arial",sans-serif" style="color: black; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR; mso-font-kerning: 0pt; mso-ligatures: none;">O
que um autor realmente quer dizer é, na verdade, o oposto daquilo que se lê na
página (este capítulo todo prova que morremos de amores reprimidos pela
psicanálise, alguém poderia dizer)”.</span></p><p class="MsoNormal" style="background: repeat white; margin-left: 120.5pt; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;"><span face=""Arial",sans-serif" style="color: black; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR; mso-font-kerning: 0pt; mso-ligatures: none;"> </span><span style="font-family: "Times New Roman",serif; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR; mso-font-kerning: 0pt; mso-ligatures: none;"></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;"><span face=""Arial",sans-serif" style="mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR; mso-font-kerning: 0pt; mso-ligatures: none;">Bom, não sou eu quem os faz dizer! Essa é,
segundo Lacan (1972/2003) o elemento mínimo da dimensão interpretativa, porque
o analista só recolhe da fala do analisando aquilo que este mesmo lhe revela em
seus tropeços com a linguagem. Freud também é explícito em recomendar que é
preciso receber cada novo caso como se fosse o primeiro. Ou seja, o analista
não pode usar um saber previamente acumulado para interpretar pois, de fato,
não sabe sobre o inconsciente de seu analisante, antes que ele mesmo entregue a
sua verdade. No entanto, ironicamente, para os Pasternak & Orsi (2023), um
psicanalista seria alguém que diz, “eu sei o que você está pensando melhor do
que você”. Nada mais longínquo do que a experiencia de uma psicanálise do que
isso.</span><span style="font-family: "Times New Roman",serif; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR; mso-font-kerning: 0pt; mso-ligatures: none;"></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;"><span face=""Arial",sans-serif" style="mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR; mso-font-kerning: 0pt; mso-ligatures: none;"> </span>Por fim, para os autores o inconsciente seria
completamente insustentável tanto do ponto de vista lógico quanto da evidência
empírica. (Pasternak & Orsi, 2023). Qual a fonte que usam para fazer
essa afirmação tão categórica? Não se sabe. Mas, continuam eles, se esse
inconsciente psicodinâmico não está lá (que é a premissa que temos que
considerar verdadeira para que a conclusão que se segue seja válida): </p><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;"><span face=""Arial",sans-serif" style="mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR; mso-font-kerning: 0pt; mso-ligatures: none;"> </span><span style="font-family: "Times New Roman",serif; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR; mso-font-kerning: 0pt; mso-ligatures: none;"></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: repeat white; margin-left: 4cm; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;"><span face=""Arial",sans-serif" style="color: black; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR; mso-font-kerning: 0pt; mso-ligatures: none;">“(...)
então todo o empreendimento psicanalítico faz tanto sentido quanto
hepatoscopia, a arte de prever o futuro examinando o fígado de animais
sacrificados. </span><span style="font-family: "Times New Roman",serif; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR; mso-font-kerning: 0pt; mso-ligatures: none;"></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: repeat white; margin-left: 4cm; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;"><span face=""Arial",sans-serif" style="color: black; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR; mso-font-kerning: 0pt; mso-ligatures: none;">E que
motivos temos para acreditar que esteja lá? A palavra dos psicanalistas e de
alguns de seus clientes: a falácia da “experiência clínica”. O que é exatamente
o mesmo nível de evidências que existe a favor da hepatoscopia (...)”.
(Pasternak & Orsi, 2023, p.163)</span><span style="font-family: "Times New Roman",serif; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR; mso-font-kerning: 0pt; mso-ligatures: none;"></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-left: 106.35pt; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;"><span face=""Arial",sans-serif" style="mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR; mso-font-kerning: 0pt; mso-ligatures: none;"> </span><span style="font-family: "Times New Roman",serif; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR; mso-font-kerning: 0pt; mso-ligatures: none;"></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;"><span face=""Arial",sans-serif" style="mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR; mso-font-kerning: 0pt; mso-ligatures: none;">Aqui chegamos ao cerne da acusação que motiva
o livro: a alegada pseudocientificidade da psicanálise. A comparação com a
hepatoscopia mostra como desconhecem as elaborações lacanianas sobre o
inconsciente estruturado como uma linguagem, já que a prática da sua decifraçao
estaria muito mais próxima de um Champollion decifrando a estrutura de um código
do que de "áugures e sacerdotes". </span><span style="font-family: "Times New Roman",serif; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR; mso-font-kerning: 0pt; mso-ligatures: none;"></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;"><span face=""Arial",sans-serif" style="mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR; mso-font-kerning: 0pt; mso-ligatures: none;"> </span>Os autores até se arriscam na proposição de
uma saída para a psicanálise, que chega a ser engraçada de tão equivocada: para
que ela comprovasse sua validade, teria que se prestar a testes estatísticos, selecionando um objetivo claro – a superação de fobias, por exemplo – e
comparar o progresso do grupo de pacientes testados com os que seguem outro
tipo de terapia e um terceiro grupo placebo que seria tratado por um ator,
fingindo ser um terapeuta. Quanta bobagem! E depois ainda é o trabalho com o
caso clínico que é chamado por eles de “evidências anedóticas”.</p><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR; mso-font-kerning: 0pt; mso-ligatures: none;"></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;"><span face=""Arial",sans-serif" style="mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR; mso-font-kerning: 0pt; mso-ligatures: none;"> </span>Quando se trata de comprovar a eficiência da
psicanálise, os relatos clínicos seriam, segundo os autores, insuficientes,
inconclusivos e, no limite, inválidos como fonte de evidência: “Os pacientes
insatisfeitos não voltam. Os mortos não falam. A memória é seletiva, os vieses
e a vaidade do profissional filtram aquilo que prestará mais atenção.” (<span style="color: black;">Pasternak & Orsi, 2023, p</span>.197) Bom saber! uma
afirmação dessa vinda de alguém que aposta na ciência como meio de análise do
mundo “natural” e da realidade “factual” é interessante. </p><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR; mso-font-kerning: 0pt; mso-ligatures: none;"></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;"><span face=""Arial",sans-serif" style="mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR; mso-font-kerning: 0pt; mso-ligatures: none;"> </span>Mas quando se trata de deslegitimar a
psicanálise, eles se apoiam num único caso de Freud para comprovar não só sua
ineficácia, mas inclusive a suposta iatrogenia da psicanálise: o caso que ficou
conhecido como “homem dos lobos”. Sim, é um caso em que Freud reconhece não ter
conseguido bons resultados, assim como em vários outros que ele publica. Freud
é adepto da prática de publicar os casos em que fracassa, e inclusive extrai
avanços de seus erros. Mas os autores apresentam tudo isso como se ele agisse
de má fé, maquiando seus achados. Qualquer leitor da obra de Freud sabe que ele
chega a ser de uma sinceridade desconcertante quando se trata de apontar seus
impasses na clínica, inclusive descartando conceitos e reformulando sua teoria
quando esses impasses se mostram insustentáveis.</p><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR; mso-font-kerning: 0pt; mso-ligatures: none;"></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;">A “falácia da experiência clínica” eu não
conhecia, mas conheço outra que se aplica muito bem à argumentação de Pasternak
e Orsi: a falácia do espantalho. Em lógica argumentativa, a falácia do
espantalho consiste em uma espécie de reducionismo aliado à distorção dos
argumentos que se deseja atacar. O autor, desse modo, deforma os argumentos da
outra parte, selecionando, modificando ou acrescentando o que for possível para
desacreditar ou ridicularizar seu opositor.<b> </b>É exatamente isso que fazem
os autores com a psicanálise, seja pela superficialidade de suas fontes, seja
pelo completo desconhecimento dos conceitos, seja por embaralhar alhos com
bugalhos sem nenhuma vergonha. </p><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR; mso-font-kerning: 0pt; mso-ligatures: none;"></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;"><span face=""Arial",sans-serif" style="mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR; mso-font-kerning: 0pt; mso-ligatures: none;"> </span>Além da falácia do espantalho, o texto recorre
também à falácia <i>ad hominem</i> ao pintar Freud como um charlatão antiético,
cuja pesquisa seria toda baseada em fraudes, fabricações e distorções. A
correspondência de Freud com Fliess e com Martha Bernays revelada na integra
recentemente comprovaria isso. Quanto a isso, eles não citam nenhuma carta
específica, mas dizem que a bibliografia a respeito é abundante, embora citem
apenas a obra de um norte americano intitulado Frederick Crews, conhecido por
seu revisionismo e pouco respeitado entre os historiadores da psicanálise.
(RUDGE, 2001). </p><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR; mso-font-kerning: 0pt; mso-ligatures: none;"></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;">Segundo os Pasternak & Orsi (2023), o pai
da psicanálise cometeu exageros e distorções que apenas servem à sua vaidade e
ajudam a fazer suas ideias soarem mais plausíveis, enquanto seus casos seriam
imposturas do início ao fim. Sim, Freud seria um mentiroso contumaz, movido
pela vaidade e que não teria hesitado em deturpar os fatos para que coubessem
em suas teorias. Por fim, afirmam que “a psicanálise é uma viagem cujo
princípio é acatar um conjunto de premissas que permite concluir qualquer coisa
e seu oposto, tendo como único critério a conveniência do momento, que é não só
inútil, como desonesta. (...) Uma chave que parece servir todas as fechaduras,
provavelmente não vai abrir nenhuma, mas pode quebrar várias”.(Pasternak &
Orsi, 2023, p.212).</p><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR; mso-font-kerning: 0pt; mso-ligatures: none;"></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;"><span face=""Arial",sans-serif" style="mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR; mso-font-kerning: 0pt; mso-ligatures: none;"> </span>Bom, em determinado ponto os autores se fazem
a pergunta que não quer calar: “como um sistema baseado numa lógica tão pueril
pode ter se tornado tão popular por quase um século e, entre tantas pessoas
cultas, educadas e inteligentes?” Pois, então! Que coisa mais curiosa, não é?
As respostas que os autores fornecem para o fato de a psicanálise ter se
mantido ao longo das décadas são:</p><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR; mso-font-kerning: 0pt; mso-ligatures: none;"></span></p>
<p class="MsoNormal" style="mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR; mso-font-kerning: 0pt; mso-ligatures: none;"> </span>a)
A reverência à palavra de supostos gênios fundadores como Freud. </p><p class="MsoNormal" style="mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto;"><span face=""Arial",sans-serif" style="mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR; mso-font-kerning: 0pt; mso-ligatures: none;"> </span>b)
A sedução exercida pelos psicanalistas: “não se deve subestimar a sedução
exercida pelo poder de psicanalisar. Quem domina as chaves do inconsciente é
como um visionário em Terra de cegos, um apóstolo entre os gentios. Alguém que
conhece as pessoas muito melhor do que elas mesmas”. (Pasternak & Orsi,
2023, p.211)</p><p class="MsoNormal" style="mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto;"><span face=""Arial",sans-serif" style="mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR; mso-font-kerning: 0pt; mso-ligatures: none;"> </span> c)
O glamour que a psicanálise confere aos seus adeptos: “Passou a ser chique usar
as ideias derivadas do trabalho de Freud” (Pasternak & Orsi, 2023, p. 200).</p><p class="MsoNormal" style="mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto;"><span face=""Arial",sans-serif" style="mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR; mso-font-kerning: 0pt; mso-ligatures: none;"> </span> d)
E, por fim, a força bruta: A psicanálise seria o equivalente a uma tomada de
reféns por terroristas. Se ela for explodida leva muita gente junto. </p><p class="MsoNormal" style="mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto;"><span face=""Arial",sans-serif" style="mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR; mso-font-kerning: 0pt; mso-ligatures: none;"> </span>Ou seja, a psicanálise se sustentou por tantos
anos entre intelectuais e pessoas inteligentes porque elas ou são ou muito
crédulas, ou muito vaidosas ou simplesmente sofrem de síndrome de Estocolmo.</p><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR; mso-font-kerning: 0pt; mso-ligatures: none;"></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;"><span face=""Arial",sans-serif" style="mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR; mso-font-kerning: 0pt; mso-ligatures: none;"> </span>Sinceramente, um texto com esse nível de
profundidade não passaria numa banca de monografia de graduação. Pode-se
argumentar que não é um texto acadêmico, mesmo assim, fazer acusações tão
sérias sem nenhum rigor argumentativo, iguala os autores em leviandade aos
negacionistas que Dra. Pasternak combatia durante a pandemia. Esperemos, para
nossa proteção imunológica, que ela se saia melhor como microbiologista.</p><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR; mso-font-kerning: 0pt; mso-ligatures: none;"></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;"><span face=""Arial",sans-serif" style="mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR; mso-font-kerning: 0pt; mso-ligatures: none;"> </span>Bom, resumi aqui para vocês o livro porque não
ia fazer como os autores e ficar comentando levianamente algo que não tivesse
lido. (Claro que acabei contribuindo um pouquinho mais para as vendas do livro,
que parece ser o que eles queriam quando escolheram um título tão apelativo).
Mas meu intuito principal em ler essa obra não foi o de me deter em confrontar
os argumentos, primeiro porque eles são tão mal construídos que eu teria que
revisitar e desconstruir cada uma das premissas equivocadas do texto, ou seja,
uma perda de tempo. Depois porque, como diz Lacan, a psicanálise não tem nada
que “cãovencer”<a href="https://www.blogger.com/"><span style="color: blue;">[1]</span></a>:
“o próprio da psicanálise, é de não vencer, cão ou não” (LACAN, 1972, p. 72). </p><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR; mso-font-kerning: 0pt; mso-ligatures: none;"></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;"><span face=""Arial",sans-serif" style="mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR; mso-font-kerning: 0pt; mso-ligatures: none;"> </span>Apesar disso, encontrei nesse texto dois
pontos que vale a pena cotejar, não para respondê-los, mas porque eles nos
permitem avançar na própria psicanálise (afinal, como já disse Lacan, o efeito
do discurso da histérica é aquele que toma o outro como mestre para fazê-lo
produzir). </p><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR; mso-font-kerning: 0pt; mso-ligatures: none;"></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;"><span face=""Arial",sans-serif" style="mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR; mso-font-kerning: 0pt; mso-ligatures: none;"> </span>O primeiro desses pontos é sobre a própria
acusação de que a psicanálise seria uma pseudociência. Tenho visto alguns
psicanalistas responderem a isso afirmando que a psicanálise seria, sim, uma
ciência, mas uma ciência de outra ordem. Acho que esse argumento é equivocado e
acho importante desenvolver por quê. O segundo ponto é aquele em que o livro
afirma que, se houver algum benefício da psicanálise seria mais pela pessoa do
terapeuta do que pela teoria. Embora careça de algum desenvolvimento, aqui a
hipótese de Parternak & Orsi (2023) talvez passe mais perto do alvo. Esses
são os únicos dois pontos do livro (no que tange à psicanálise) que eu acho que
a “bobagem” rende um bom debate.</p><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR; mso-font-kerning: 0pt; mso-ligatures: none;"></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;"><span face=""Arial",sans-serif" style="mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR; mso-font-kerning: 0pt; mso-ligatures: none;"> </span>Mas então, seria a psicanálise uma ciência? Para continuar acompanhando a discussão,
clique nesse <a href="https://meiorosameiolia.blogspot.com/2023/08/mas-enfim-seria-psicanalise-uma-ciencia.html">link </a>!</p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto;"><span face=""Arial",sans-serif" style="mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR; mso-font-kerning: 0pt; mso-ligatures: none;"> </span><span style="font-family: "Times New Roman",serif; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR; mso-font-kerning: 0pt; mso-ligatures: none;"></span></p>
<p class="MsoNormal" style="mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto;"><span face=""Arial",sans-serif" style="mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR; mso-font-kerning: 0pt; mso-ligatures: none;"><b>Referências</b></span></p>
<p class="MsoNormal" style="mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto;"><span face=""Arial",sans-serif" style="mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR; mso-font-kerning: 0pt; mso-ligatures: none;">Freitas-Silva, L. R., & Ortega, F. (2016).
A determinação biológica dos transtornos mentais: uma discussão a partir de
teses neurocientíficas recentes. <i>Cadernos De Saúde Pública</i>, <i>32</i>(8),
e00168115. https://doi.org/10.1590/0102-311X00168115</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 6pt; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;"><span face=""Arial",sans-serif" style="mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR; mso-font-kerning: 0pt; mso-ligatures: none;"> </span><span style="font-family: "Times New Roman",serif; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR; mso-font-kerning: 0pt; mso-ligatures: none;"></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 6pt; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;"><span face=""Arial",sans-serif" style="mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR; mso-font-kerning: 0pt; mso-ligatures: none;">Freud, S. (2015). Análise da fobia de um
garoto de cinco anos (“O pequeno Hans”). In S. Freud, Obras completas (Vol. 8,
pp. 123-284). Companhia das Letras. (Trabalho original publicado em 1909) </span><span style="font-family: "Times New Roman",serif; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR; mso-font-kerning: 0pt; mso-ligatures: none;"></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 6pt; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;"><span face=""Arial",sans-serif" style="mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR; mso-font-kerning: 0pt; mso-ligatures: none;">Lacan, J. (2003). O Aturdito. In J. Lacan. <i>Outros
escritos </i>(pp. 448-497). Rio de Janeiro: Zahar. (Trabalho original publicado
em 1972) </span><span style="font-family: "Times New Roman",serif; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR; mso-font-kerning: 0pt; mso-ligatures: none;"></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: repeat white; line-height: 115%; margin-bottom: 6pt; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;"><span face=""Arial",sans-serif" style="color: black; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR; mso-font-kerning: 0pt; mso-ligatures: none;">Pasternak,
N.; Orsi, C. Que Bobagem! Pseudociência e outros absurdos que não merecem ser
levados a sério. São Paulo: Contexto, 2023.</span><span style="font-family: "Times New Roman",serif; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR; mso-font-kerning: 0pt; mso-ligatures: none;"></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 6pt; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;"><span face=""Arial",sans-serif" style="mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR; mso-font-kerning: 0pt; mso-ligatures: none;">Rudge, A. M. (2001). Pressupostos da “nova”
crítica à psicanálise: o revisionismo freudiano e a epistemologia da
psicanálise. Temas em psicologia (Ribeirão Preto), 9(3), 179-186. Recuperado a
partir de http://pepsic.bvsalud.org/pdf/tp/v9n3/v9n3a03.pdf </span><span style="font-family: "Times New Roman",serif; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR; mso-font-kerning: 0pt; mso-ligatures: none;"></span></p>
<p class="MsoNormal" style="mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto;"><span face=""Arial",sans-serif" style="mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR; mso-font-kerning: 0pt; mso-ligatures: none;"><br clear="all" style="mso-special-character: line-break;" />
</span><span style="font-family: "Times New Roman",serif; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR; mso-font-kerning: 0pt; mso-ligatures: none;"></span></p>
<div class="MsoNormal"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR; mso-font-kerning: 0pt; mso-no-proof: yes;">
<hr align="left" size="0" width="33%" />
</span></div>
<p class="MsoNormal" style="mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto;"><span face=""Arial",sans-serif" style="mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR; mso-font-kerning: 0pt; mso-ligatures: none;"><a href="https://www.blogger.com/"><span style="color: blue;">[1]</span></a>
Neologismo criado pelos tradutores do seminário XX para contemplar o jogo de
palavras que Lacan faz em francês com a palavra “convaincre” (convencer) que,
separando as sílabas, ficaria “con vaincre”, ou seja, “vencer o idiota”.
O que é bem o caso que comentamos nesse texto, diga-se de passagem. </span><span style="font-family: "Times New Roman",serif; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR; mso-font-kerning: 0pt; mso-ligatures: none;"></span></p>
<p class="MsoNormal"> <a href="https://meiorosameiolia.blogspot.com/2023/08/mas-enfim-seria-psicanalise-uma-ciencia.html?m=1">link</a><a href="https://meiorosameiolia.blogspot.com/2023/08/mas-enfim-seria-psicanalise-uma-ciencia.html?m=1">link </a> </p>
<style>@font-face
{font-family:"Cambria Math";
panose-1:2 4 5 3 5 4 6 3 2 4;
mso-font-charset:0;
mso-generic-font-family:roman;
mso-font-pitch:variable;
mso-font-signature:-536870145 1107305727 0 0 415 0;}@font-face
{font-family:Calibri;
panose-1:2 15 5 2 2 2 4 3 2 4;
mso-font-charset:0;
mso-generic-font-family:swiss;
mso-font-pitch:variable;
mso-font-signature:-469750017 -1073732485 9 0 511 0;}p.MsoNormal, li.MsoNormal, div.MsoNormal
{mso-style-unhide:no;
mso-style-qformat:yes;
mso-style-parent:"";
margin:0cm;
mso-pagination:widow-orphan;
font-size:12.0pt;
font-family:"Calibri",sans-serif;
mso-ascii-font-family:Calibri;
mso-ascii-theme-font:minor-latin;
mso-fareast-font-family:Calibri;
mso-fareast-theme-font:minor-latin;
mso-hansi-font-family:Calibri;
mso-hansi-theme-font:minor-latin;
mso-bidi-font-family:"Times New Roman";
mso-bidi-theme-font:minor-bidi;
mso-font-kerning:1.0pt;
mso-ligatures:standardcontextual;
mso-fareast-language:EN-US;}.MsoChpDefault
{mso-style-type:export-only;
mso-default-props:yes;
font-family:"Calibri",sans-serif;
mso-ascii-font-family:Calibri;
mso-ascii-theme-font:minor-latin;
mso-fareast-font-family:Calibri;
mso-fareast-theme-font:minor-latin;
mso-hansi-font-family:Calibri;
mso-hansi-theme-font:minor-latin;
mso-bidi-font-family:"Times New Roman";
mso-bidi-theme-font:minor-bidi;
mso-fareast-language:EN-US;}div.WordSection1
{page:WordSection1;}</style></div></div></div>Lia Silveirahttp://www.blogger.com/profile/01914928244809718150noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7548064999185896208.post-63135215709693256252023-08-03T14:24:00.017-03:002023-08-03T14:59:35.479-03:00O Pop Não Poupa Ninguém<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgrsUhBI9RXTFmqIVyTNXuQ0WPcEFjkzLzp_IgwFr5EwksMi6n6JGnaXA0e0kLMYuJg7kBb9hkW_OQyNKqapArNjYY7huIKQ1PZossvWGVBAwc2wXm1jky_utyRcicmZtY1ceV2VXbDjEKSB9hnaOwou2xdIzb29CRDpxl9gbSC_C2m0aFamqvGOFoFKyM/s564/campbell.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="466" data-original-width="564" height="330" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgrsUhBI9RXTFmqIVyTNXuQ0WPcEFjkzLzp_IgwFr5EwksMi6n6JGnaXA0e0kLMYuJg7kBb9hkW_OQyNKqapArNjYY7huIKQ1PZossvWGVBAwc2wXm1jky_utyRcicmZtY1ceV2VXbDjEKSB9hnaOwou2xdIzb29CRDpxl9gbSC_C2m0aFamqvGOFoFKyM/w400-h330/campbell.jpg" width="400" /></a></div><br /><p>
</p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><b><span style="font-family: "Times New Roman",serif;"> </span></b></p>
<p align="right" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: right;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif;">por Lia Silveira</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif;"> </span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif;">A Psicanálise pode ser pop? Foi o
intrigante título proposto pela curadoria do Simpósio Internacional de
Psicanálise da UNIFOR, a quem agradeço em nome das professoras Sabrina Matos e
Juçara Mapurunga pelo convite e pela oportunidade de pensar esse tema.</span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif;"> </span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif;">A primeira pergunta que a gente
pode se fazer é “o que é mesmo ser pop?”. Numa rápida pesquisa que fiz descobri
que o termo se refere a certo tipo de manifestação cultural, aquela também
chamado “cultura de massa”, a ser distinguida da “cultura popular”. Enquanto a
última caracteriza-se pelas <span class="markedcontent">manifestações artísticas
de um povo (suas danças, festas, crenças, artesanatos, etc.) a cultura de massa
ou cultura pop, é aquela industrializada, produzida e disseminada pela
indústria cultural que, com intuito mercadológico, populariza músicas, roupas,
produtos e pessoas. Podemos pensar assim: enquanto a cultura popular é a
expressão do modo de ser desejante de um povo, a cultura pop modula o que esse povo
deve desejar reduzindo a sua expressão ao consumo.</span></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif;"><span class="markedcontent"> </span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span class="markedcontent"><span style="font-family: "Times New Roman",serif;">Esse modo
de apropriação do desejo a partir da oferta de objetos de consumo foi definido
por Jaques Lacan como sendo a base do que ele chamou de discurso capitalista. Um
discurso, para Lacan, é um certo modo de ordenação do gozo, que articula
através da linguagem os modos de relação entre o lugar do agente, do outro, da
verdade e do produto. </span></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span class="markedcontent"><span style="font-family: "Times New Roman",serif;"> </span></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif;">Como seres falantes,
não contamos mais com o instinto para nos orientar. Resta-nos, portanto a
linguagem, como único recurso para nos apalavrar diante da precariedade em que
nos encontramos para lidar com as exigências da pulsão. <span class="markedcontent">Não existe um uma realidade pré-discursiva, ou seja, toda
relação que estabelecemos com a realidade é mediada de algum modo por um
discurso. No discurso do mestre, por exemplo, </span></span><span style="font-family: "Times New Roman",serif; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">temos
o ponto inaugural do sujeito, na inscrição de um significante sob o qual este
assente em se fazer representar. Trata-se, portanto, de um processo de
alienação em que o significante, que vem do outro, representa o sujeito para
outro significante. Essa operação, por sua vez, deixa um resto, impossível de
ser simbolizado, uma vez que a apalavra não consegue recobrir tudo da
experiência.</span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Ocorre
que no ponto em que nos encontramos na ordenação discursiva chegamos, pela via
de uma torção nesse discurso do mestre, à produção daquilo que Lacan chamou de
discurso capitalista.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif;">A principal mudança que o discurso
capitalista opera é a ausência de qualquer relação entre o agente e o outro, o
que denuncia sua ineficácia para fazer laço social, para fazer o amor, por
exemplo: “nesta montagem de discurso o sujeito ($) só se relaciona com a mercadoria
de objetos (a) comandados pelo mestre (S1)” (SOLER, 2011)<span class="markedcontent"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif;">Dessa forma, o discurso capitalista
vela o ponto de impossível que se coloca para todo ser falante, criando a
ilusão da oferta de objetos de consumo que poderiam tamponar a sua falta
estrutural. A satisfação que esses objetos produzem, no entanto, é bastante
precária, o que faz com que o circuito se renove e novos objetos se tornem “indispensáveis”,
exigindo a substituição veloz e imediata dos objetos de consumo, os gadgets, garantindo,
assim, que a reprodução do discurso seja perpetuada (ALBERTI, 2000). </span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span class="markedcontent"><span style="font-family: "Times New Roman",serif;">Nesse
curto-circuito de consumição as engrenagens não podem parar de girar, nem que
seja às custas da combustão do próprio corpo, como mostra muito bem a síndrome
de burnout, tão característica da nossa época. Nada é relevante se não puder
ser transformado em mais-valia, não só as coisas em si, mas tudo aquilo que
participa do horizonte da subjetividade do ser falante passa a ser interessante
na medida em que possa ser comercializado. Como diz a frase da música do
Engenheiros do Havaí: o pop não poupa ninguém. </span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span class="markedcontent"><span style="font-family: "Times New Roman",serif;"> Se o pop
não poupa ninguém, certamente não iria poupar também a psicanálise. Temos nos
deparado nos últimos anos com a circulação frequente do significante “psicanálise”
nas redes sociais, seja através de instituições que se propõem a formar
psicanalistas, seja pelos próprios sujeitos que se autorizam analistas e
produzem conteúdos às vezes (não todos) bastante afinados à estética desse
universo. Mas será que a psicanálise pode se manter existindo dentro dessa
estrutura? Examinemos alguns pontos: </span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span class="markedcontent"><span style="font-family: "Times New Roman",serif;">1 - O pop
é palatável e fácil de consumir como um big mac. A psicanálise não é algo fácil
de digerir. Não porque ela precise ser hermética e inacessível. Mas porque à
medida que nos aproximamos dela, algo em nossa própria angústia é chamado a
comparecer. É certo que isso não acontece com todos. Há aqueles que se mostram
indiferentes a esse encontro. Mas uma vez que se é tocado de algum modo por
esse saber, seja por seu fascínio seja pela sua repulsa, algo desse indigesto
objeto causa vai se apresentar.</span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span class="markedcontent"><span style="font-family: "Times New Roman",serif;">2 - O pop
é rápido, time is Money, é o lema do capitalismo. Mas uma psicanálise requer
tempo. Como diz Freud, poderíamos até pensar que estamos diante de uma forma de
magia, quando através de palavras, algo do sintoma se dissolve. Mas só se
pudéssemos falar de uma magia lenta.</span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span class="markedcontent"><span style="font-family: "Times New Roman",serif;">3 - O pop
almeja atingir o maior público possível para alcançar cada vez mais
visibilidade. As redes sociais estão aí a serviço disso. O maior número de
likes possível. A psicanálise não é um discurso expansionista. Ela não é o que
faz bruá-bruá, como diz Lacan. Ela não lota estádios como os coachs. Ela não
visa criar “seguidores”. Ela também não é o intelectualismo, o elitismo. “A
psicanálise não é pra qualquer um”, ouvimos as vezes com certo pedantismo. Mas
não é de presunção que se trata. Realmente a psicanálise não é pra qualquer um,
ela é, como diz a colega Zilda Machado, “A psicanálise é pra qual quer?” qual
dentre tantos vai querer se deparar com a sua angústia e enveredar realmente
por ela para chegar a sua verdadeira singularidade, aquela que dá sustentação a
seu desejo?</span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span class="markedcontent"><span style="font-family: "Times New Roman",serif;">4 - Ser
pop é estar na moda... Mas a moda passa e gera o lixo, o resto. O motor do pop
é a obsolescência programada que gera montanhas de lixo. Que lugar haveria para
a psicanálise aí? A psicanálise é o discurso que recolhe esse lixo, o analista
é um minerador de ocorrências involuntárias, diz Freud. Um apanhador de
desperdícios, podemos dizer com Manoel de Barros. Ela lida com tudo aquilo que
não tem valor de troca, apenas valor de gozo. </span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span class="markedcontent"><span style="font-family: "Times New Roman",serif;"> Desses
pontos podemos deduzir, então, que pode até haver (e há muitas) tentativas de
apropriação da psicanálise por parte do discurso capitalista em fazer existir
uma psicanálise pop, produto de consumo. Mas como Midas, ao tentar transformar
o discurso psicanalítico em ouro, eles o condenam a não servir mais para nada.
Resta muito pouco ou quase nada da operatividade da psicanálise nesses produtos
ofertados em seu nome. E isso por uma questão de estrutura. </span></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span class="markedcontent"><span style="font-family: "Times New Roman",serif;"> O
discurso analítico é estruturalmente diferente do discurso capitalista (o que
não quer dizer que a psicanálise possa sobreviver menos no modo de produção
capitalista do que no socialismo). Mas é de outra lógica que se trata, uma
lógica que, inclusive, fura a lógica do modo de produção capitalista. </span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span class="markedcontent"><span style="font-family: "Times New Roman",serif;">Num texto
chamado “</span></span><span style="font-family: "Times New Roman",serif;">Nota
aos Italianos » Lacan diz que há um clamor próprio á humanidade, ela clama
por alívio do seu sofrimento. Só que, nesse clamor há um « não querer
saber nada » que lhe é ao mesmo tempo inerente. Não querer saber nada de que?
Do furo que habita o próprio saber, que no coração de toda experiência do ser falante
há um impossível de ser suprido com o saber. Enquanto a civilização e os discursos
que a sustentam se fundam por ignorar esse fato de estrutura, o discurso analítico
é o único que não somente reconhece esse furo, mas que faz dele mesmo um
fundamento de sua experiência. </span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span class="markedcontent"><span lang="FR" style="font-family: "Times New Roman",serif; mso-ansi-language: FR;">Ele é o
único discurso que se interessa por aquilo que ninguém quer saber: a falha, o
fracasso. Não por gosto pelo sofrimento, mas por saber que a única forma de
tratamento possível da angústia passa justamente por incorporar de algum modo a
falta que é efeito da linguagem sobre o corpo.</span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span class="markedcontent"><span style="font-family: "Times New Roman",serif;"> Para
finalizar, podemos passar então a questão da transmissão e da sobrevivência da
psicanálise na era da internet e suas ferramentas, o Instagram, do Tweeter, do
Tik Tok e do ChatGpt. A psicanálise pode se apropriar de alguma maneira dessas
tecnologias para continuar se transmitindo? Será que ela tem chance de
sobreviver na era cibernética?</span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span class="markedcontent"><span style="font-family: "Times New Roman",serif;"> Para
Lacan, a chance de a psicanálise sobreviver é que alguma coisa nisso tudo
continue fracassando. E para isso, nós, como analistas não precisamos fazer
nada. Não é do analista que depende o futuro daquilo que fracassa sempre, mas o
que depende dele, sim, é a resposta que dará diante do retorno disso que
fracassa e que insiste sob a forma de angústia. </span></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span class="markedcontent"><span style="font-family: "Times New Roman",serif;">Em 1974
quando Lacan dava uma entrevista para uma revista italiana, o auge do que
ameaçava a civilização era a televisão. Sugiro que leiamos esse trecho da
entrevista substituindo “televisão” por “internet”:</span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span class="markedcontent"><span style="font-family: "Times New Roman",serif;"> </span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif;">“É verdade, existem à nossa volta
coisas horripilantes e devoradoras, como a televisão pela qual uma grande parte
de nós é fagocitada. Mas isto é apenas porque existem pessoas que se
deixam fagocitar, que até inventam um interesse para aquilo que elas veem. E
depois há outras coisas monstruosas devoradoras de outra maneira: os foguetes
que vão à lua, as pesquisas no fundo dos oceanos, etc. Todas as coisas que
devoram. Mas não há por que se fazer um drama disso (...) É uma
revivescência da religião, não é? E que melhor monstro devorador do que a
religião? É uma festa contínua com a qual se divertir por séculos, como
isso já foi demonstrado. Minha resposta a tudo isso é que o homem sempre soube
se adaptar ao mal. O único real que podemos conceber, ao qual temos
acesso, é justamente este, será preciso se fazer uma razão: dar um sentido às
coisas, como dizíamos. De outra forma, o homem não teria angústia, Freud
não teria se tornado célebre, e eu seria professor de segundo grau” (LACAN, 1974).</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif;"> </span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif;">A nossa aposta, portanto, é que
enquanto houver linguagem, haverá furo no saber e havendo furo, haverá quem se
angustie. E quando há angústia, há chance de que alguém queira saber algo do
seu desejo. O futuro da psicanálise, portanto, não está em saber se vamos usar
ou não as ferramentas “pop” para fazer sua transmissão. Mas que haja sempre
alguns que, em atravessando sua própria experiência com a angústia e com o
desejo, possam, sem ceder do seu desejo, <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>sustentar aberto o furo por onde se poderá fazer
chegar a outros o contágio da peste. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span class="markedcontent"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span></span></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif;"><span class="markedcontent"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span></span></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif;"><span class="markedcontent"><span style="mso-spacerun: yes;">Referências <br /></span></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
</p><p class="MsoNormal"> </p><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">ALBERTI,
S. (2000) <a href="http://www.berggasse19.psc.br/site/wp-content/uploads/2012/07/19133239-Sonia-Alberti-O-Discurso-Do-Capitalist-A-e-o-Mal-Estar-Na-Cultura-1.pdf" target="_blank">O discurso do capitalista e o mal estar na cultura.</a> Acesso em 30.Out.2016.</span></p><p class="MsoNormal"><span style="mso-fareast-font-family: "Times New Roman";"> <br /></span></p><p class="MsoNormal"><span style="mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">LACAN, J. (1974) <a href="http://www.allandeaguiar.com/2009/09/entrevista-jacques-lacan_07.html" target="_blank">Entrevista à Revista Panorama</a>. Acesso em 03.Ago.2023.<br /></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"></p>
<span style="font-family: "Times New Roman",serif;"></span><p class="MsoNormal"> </p><p class="MsoNormal">SOLER, C. O discurso capitalista. <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Stylus Revista de Psicanálise</i>, Rio de Janeiro, n. 22, p. 55-68,
2011.</p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><style>@font-face
{font-family:"Cambria Math";
panose-1:2 4 5 3 5 4 6 3 2 4;
mso-font-charset:0;
mso-generic-font-family:roman;
mso-font-pitch:variable;
mso-font-signature:-536870145 1107305727 0 0 415 0;}@font-face
{font-family:Calibri;
panose-1:2 15 5 2 2 2 4 3 2 4;
mso-font-charset:0;
mso-generic-font-family:swiss;
mso-font-pitch:variable;
mso-font-signature:-536859905 -1073697537 9 0 511 0;}p.MsoNormal, li.MsoNormal, div.MsoNormal
{mso-style-unhide:no;
mso-style-qformat:yes;
mso-style-parent:"";
margin:0cm;
mso-pagination:widow-orphan;
font-size:12.0pt;
font-family:"Times New Roman",serif;
mso-fareast-font-family:Calibri;}.MsoChpDefault
{mso-style-type:export-only;
mso-default-props:yes;
font-size:10.0pt;
mso-ansi-font-size:10.0pt;
mso-bidi-font-size:10.0pt;
font-family:"Calibri",sans-serif;
mso-ascii-font-family:Calibri;
mso-fareast-font-family:Calibri;
mso-hansi-font-family:Calibri;
mso-font-kerning:0pt;
mso-ligatures:none;}div.WordSection1
{page:WordSection1;}</style><span class="markedcontent"><span style="font-family: "Times New Roman",serif;"></span></span></p><br /><span style="font-family: "Times New Roman",serif;"> </span>
<p><style>@font-face
{font-family:"Cambria Math";
panose-1:2 4 5 3 5 4 6 3 2 4;
mso-font-charset:0;
mso-generic-font-family:roman;
mso-font-pitch:variable;
mso-font-signature:-536870145 1107305727 0 0 415 0;}@font-face
{font-family:Calibri;
panose-1:2 15 5 2 2 2 4 3 2 4;
mso-font-charset:0;
mso-generic-font-family:swiss;
mso-font-pitch:variable;
mso-font-signature:-536859905 -1073697537 9 0 511 0;}p.MsoNormal, li.MsoNormal, div.MsoNormal
{mso-style-unhide:no;
mso-style-qformat:yes;
mso-style-parent:"";
margin:0cm;
mso-pagination:widow-orphan;
font-size:12.0pt;
font-family:"Calibri",sans-serif;
mso-ascii-font-family:Calibri;
mso-ascii-theme-font:minor-latin;
mso-fareast-font-family:Calibri;
mso-fareast-theme-font:minor-latin;
mso-hansi-font-family:Calibri;
mso-hansi-theme-font:minor-latin;
mso-bidi-font-family:"Times New Roman";
mso-bidi-theme-font:minor-bidi;
mso-fareast-language:EN-US;}p.MsoFooter, li.MsoFooter, div.MsoFooter
{mso-style-priority:99;
mso-style-link:"Rodapé Char";
margin:0cm;
mso-pagination:widow-orphan;
tab-stops:center 212.6pt right 425.2pt;
font-size:12.0pt;
font-family:"Calibri",sans-serif;
mso-ascii-font-family:Calibri;
mso-ascii-theme-font:minor-latin;
mso-fareast-font-family:Calibri;
mso-fareast-theme-font:minor-latin;
mso-hansi-font-family:Calibri;
mso-hansi-theme-font:minor-latin;
mso-bidi-font-family:"Times New Roman";
mso-bidi-theme-font:minor-bidi;
mso-fareast-language:EN-US;}span.markedcontent
{mso-style-name:markedcontent;
mso-style-unhide:no;}span.RodapChar
{mso-style-name:"Rodapé Char";
mso-style-priority:99;
mso-style-unhide:no;
mso-style-locked:yes;
mso-style-link:Rodapé;}.MsoChpDefault
{mso-style-type:export-only;
mso-default-props:yes;
font-family:"Calibri",sans-serif;
mso-ascii-font-family:Calibri;
mso-ascii-theme-font:minor-latin;
mso-fareast-font-family:Calibri;
mso-fareast-theme-font:minor-latin;
mso-hansi-font-family:Calibri;
mso-hansi-theme-font:minor-latin;
mso-bidi-font-family:"Times New Roman";
mso-bidi-theme-font:minor-bidi;
mso-font-kerning:0pt;
mso-ligatures:none;
mso-fareast-language:EN-US;}div.WordSection1
{page:WordSection1;}</style></p>Lia Silveirahttp://www.blogger.com/profile/01914928244809718150noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7548064999185896208.post-72525691869778377912022-03-28T15:02:00.000-03:002022-03-28T15:02:10.772-03:00A passagem ao ato Hollywoodiana<p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgWqa9ltX1mWV8hqBaru3G-FIMY-k9oEbjHerq3lvV0zzQHoT4ZH8NxL57MHA-0dILYupC6X5_eM4bRMmnJKtutFX0wR7-tMouFVqAdKCt1OeRVknwNXNjz3lc9hO2VQBXQBc9RpizMppryOusmbD94mNYx3eL5WPRw32lgDkQf8YWXBtORjY3g2JGo/s1024/F5605CBF-D020-4376-9246-F763872AD4AC.jpeg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1024" data-original-width="971" height="290" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgWqa9ltX1mWV8hqBaru3G-FIMY-k9oEbjHerq3lvV0zzQHoT4ZH8NxL57MHA-0dILYupC6X5_eM4bRMmnJKtutFX0wR7-tMouFVqAdKCt1OeRVknwNXNjz3lc9hO2VQBXQBc9RpizMppryOusmbD94mNYx3eL5WPRw32lgDkQf8YWXBtORjY3g2JGo/w275-h290/F5605CBF-D020-4376-9246-F763872AD4AC.jpeg" width="275" /></a></div><br /> <span style="-webkit-text-size-adjust: auto; font-family: UICTFontTextStyleBody; font-size: 28px;">A violência não é justificável em (quase) nenhuma circunstância. Quando o homem proferiu um insulto ao invés de jogar uma pedra, fundou a civilização, já disse Freud.</span><p></p><p class="p2" style="-webkit-text-size-adjust: auto; font-size: 28px; font-stretch: normal; line-height: normal; margin: 0px; min-height: 34px;"><span style="font-family: UICTFontTextStyleBody;">Mas não é mais escândalo nenhum afirmar a precarização em que o discurso capitalista lança esses laços, reduzindo a palavra ao cinismo e o corpo a só mais um objeto de consumo.</span><span class="s1" style="font-family: UICTFontTextStyleBody;"></span></p><p class="p2" style="-webkit-text-size-adjust: auto; font-size: 28px; font-stretch: normal; line-height: normal; margin: 0px; min-height: 34px;"><span style="font-family: UICTFontTextStyleBody;"><br /></span></p><p class="p2" style="-webkit-text-size-adjust: auto; font-size: 28px; font-stretch: normal; line-height: normal; margin: 0px; min-height: 34px;"><span style="font-family: UICTFontTextStyleBody;">Hollywood, queiram ou não seus agentes, é uma das peças dessa engrenagem. Nos últimos anos foi se revelando a misoginia e o racismo que grassam atrás das câmeras e que revela-se também nas premiações do Oscar, etc.</span><span style="font-family: UICTFontTextStyleBody;"> </span><span class="s1" style="font-family: UICTFontTextStyleBody;"></span></p><p class="p2" style="-webkit-text-size-adjust: auto; font-size: 28px; font-stretch: normal; line-height: normal; margin: 0px; min-height: 34px;"><span class="s1" style="font-family: UICTFontTextStyleBody;"></span><br /></p><p class="p1" style="-webkit-text-size-adjust: auto; font-size: 28px; font-stretch: normal; line-height: normal; margin: 0px;"><span class="s1" style="font-family: UICTFontTextStyleBody;">Assustados com o que viram, os organizadores trataram de enfrentar o problema pela via identitária- o que há algum tempo já se reflete na premiação do Oscar. </span></p><p class="p2" style="-webkit-text-size-adjust: auto; font-size: 28px; font-stretch: normal; line-height: normal; margin: 0px; min-height: 34px;"><span class="s1" style="font-family: UICTFontTextStyleBody;"></span><br /></p><p class="p1" style="-webkit-text-size-adjust: auto; font-size: 28px; font-stretch: normal; line-height: normal; margin: 0px;"><span class="s1" style="font-family: UICTFontTextStyleBody;">A cerimônia de ontem seguia a risca o figurino: negros, mulheres, latinos, LGBTs, todos representados nas obras indicadas, na organização do evento e na plateia. Que bom, poderíamos dizer! Hollywood está mudando. </span></p><p class="p2" style="-webkit-text-size-adjust: auto; font-size: 28px; font-stretch: normal; line-height: normal; margin: 0px; min-height: 34px;"><span class="s1" style="font-family: UICTFontTextStyleBody;"></span><br /></p><p class="p1" style="-webkit-text-size-adjust: auto; font-size: 28px; font-stretch: normal; line-height: normal; margin: 0px;"><span class="s1" style="font-family: UICTFontTextStyleBody;">Mas logo na abertura uma coisa chama a atenção. Como num filme de David Linch, tem algo muito estranho quando a lente se aproxima. Amy Schumer, Wonda Sykes e Regina Hall fazem a fala inicial. As duas apresentadoras negras, dizem que estão ali representando as mulheres negras no cinema. A outra, branca, responde: “e eu estou aqui representando as brancas que ligam pra polícia quando vocês estão falando alto demais”. A plateia ri. Em seguida, elas se dirigem a um homem branco de meia idade sentado na plateia dizendo: você viu o fulano? Está acabado ele, né ? Ao que a outra responde algo como: “eu ainda pegava”.</span></p><p class="p2" style="-webkit-text-size-adjust: auto; font-size: 28px; font-stretch: normal; line-height: normal; margin: 0px; min-height: 34px;"><span class="s1" style="font-family: UICTFontTextStyleBody;"></span><br /></p><p class="p1" style="-webkit-text-size-adjust: auto; font-size: 28px; font-stretch: normal; line-height: normal; margin: 0px;"><span class="s1" style="font-family: UICTFontTextStyleBody;">E segue o show de horrores com acusações de incesto aos irmãos Gyllenhall, de promiscuidade a Di Caprio e outras piadas de péssimo gosto ao longo de toda a cerimônia, tudo bem recheado de auto e hetero agressividade. </span></p><p class="p2" style="-webkit-text-size-adjust: auto; font-size: 28px; font-stretch: normal; line-height: normal; margin: 0px; min-height: 34px;"><span class="s1" style="font-family: UICTFontTextStyleBody;"></span><br /></p><p class="p1" style="-webkit-text-size-adjust: auto; font-size: 28px; font-stretch: normal; line-height: normal; margin: 0px;"><span class="s1" style="font-family: UICTFontTextStyleBody;">Até o momento em que Chris Rock faz mais uma dessas piadas terríveis , dessa vez sobre a falta de cabelos da de mulher de Will Smith, que levantou foi até o palco e esbofeteou o apresentador. </span></p><p class="p1" style="-webkit-text-size-adjust: auto; font-size: 28px; font-stretch: normal; line-height: normal; margin: 0px;"><span class="s1" style="font-family: UICTFontTextStyleBody;">A essa altura, como tem sido frequente no contexto atual, ninguém sabia mais o que era piada e o que era realidade. Infelizmente parece que não foi cena. </span></p><p class="p2" style="-webkit-text-size-adjust: auto; font-size: 28px; font-stretch: normal; line-height: normal; margin: 0px; min-height: 34px;"><span class="s1" style="font-family: UICTFontTextStyleBody;"></span><br /></p><p class="p1" style="-webkit-text-size-adjust: auto; font-size: 28px; font-stretch: normal; line-height: normal; margin: 0px;"><span class="s1" style="font-family: UICTFontTextStyleBody;">Lamentável a atitude, mas </span></p><p class="p1" style="-webkit-text-size-adjust: auto; font-size: 28px; font-stretch: normal; line-height: normal; margin: 0px;"><span class="s1" style="font-family: UICTFontTextStyleBody;">não acho que Will seja um imbecil ou uma vítima do machismo. Ele só atuou o que a cerimônia estava a todo todo tempo pedindo. </span></p><p class="p2" style="-webkit-text-size-adjust: auto; font-size: 28px; font-stretch: normal; line-height: normal; margin: 0px; min-height: 34px;"><span class="s1" style="font-family: UICTFontTextStyleBody;"></span><br /></p><p class="p1" style="-webkit-text-size-adjust: auto; font-size: 28px; font-stretch: normal; line-height: normal; margin: 0px;"><span class="s1" style="font-family: UICTFontTextStyleBody;">A lógica, apesar de montada em enunciados de inclusão, está sustentada numa enunciação que é a do ódio ao gozo (imaginado como do Outro, sem saber que é do próprio corpo que se trata).</span></p><p class="p2" style="-webkit-text-size-adjust: auto; font-size: 28px; font-stretch: normal; line-height: normal; margin: 0px; min-height: 34px;"><span style="font-family: UICTFontTextStyleBody;">Não podia dar mesmo noutra coisa.</span><span style="font-family: UICTFontTextStyleBody;"> </span><span class="s1" style="font-family: UICTFontTextStyleBody;"></span></p><p class="p2" style="-webkit-text-size-adjust: auto; font-size: 28px; font-stretch: normal; line-height: normal; margin: 0px; min-height: 34px;"><span class="s1" style="font-family: UICTFontTextStyleBody;"></span><br /></p><p class="p1" style="-webkit-text-size-adjust: auto; font-size: 28px; font-stretch: normal; line-height: normal; margin: 0px;"><span class="s1" style="font-family: UICTFontTextStyleBody;">Provavelmente nem mesmo Will sabe porque agiu assim, mas, sem ter lugar para localizar a falta, o que emerge é o mais-de-gozar em sua face odiosa e que, na falta de recursos simbólicos, passa ao ato. </span></p><p class="p2" style="-webkit-text-size-adjust: auto; font-size: 28px; font-stretch: normal; line-height: normal; margin: 0px; min-height: 34px;"><span class="s1" style="font-family: UICTFontTextStyleBody;"></span><br /></p><p class="p1" style="-webkit-text-size-adjust: auto; font-size: 28px; font-stretch: normal; line-height: normal; margin: 0px;"><span class="s1" style="font-family: UICTFontTextStyleBody;">Will Smith interpretou Hollywood … ainda bem que foi só um tapa. Podia ter sido bem pior.</span></p>
Lia Silveirahttp://www.blogger.com/profile/01914928244809718150noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7548064999185896208.post-20243458982269755662022-01-21T14:12:00.000-03:002022-01-21T14:12:51.083-03:00Está oficialmente decretado o fim do mundo <div style="text-align: left;"><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEh0kN11nlQo44LxnzPoqZXIh5H7WoFu8O9TbFvngOczshLrsCYfVoU7GabopYBUPkMBJ1tBLWgrp9tnXZvo_rd6gMShxgaZirjZQdBBvE7f635V0eePuBGiIAWMKxvDgjz0R2BkLPwyoJGwpS-OXNsBaiWhN4V9sj0VrnHz88VxIz9-xA3PgBx-fdaU=s300" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="300" data-original-width="300" height="300" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEh0kN11nlQo44LxnzPoqZXIh5H7WoFu8O9TbFvngOczshLrsCYfVoU7GabopYBUPkMBJ1tBLWgrp9tnXZvo_rd6gMShxgaZirjZQdBBvE7f635V0eePuBGiIAWMKxvDgjz0R2BkLPwyoJGwpS-OXNsBaiWhN4V9sj0VrnHz88VxIz9-xA3PgBx-fdaU" width="300" /></a></div><br />Todo mundo já sabia, o mundo acabou faz tempo. Nos últimos anos acabaram-se várias conquistas democráticas, acabou-se o prazer ingênuo de tomar um chopp na calçada, de encontrar os amigos sem culpa. Acabou-se o dinheiro de papel, a comida no restaurante, as aulas presenciais. Acabou-se a mídia impressa, o jornal das oito, a campanha política com santinho. </div><div style="text-align: left;"> </div><div style="text-align: left;">Nem todas essas coisas vão fazer falta, algumas já vão tarde, na verdade. Mas hoje, a morte de Elza Soares materializou simbolicamente esse sentimento de luto. Ela que disse que ia cantar até o fim, se calou. E o fim do mundo chegou. “It's the end of the world as we know it”… como diz outra canção.</div><div style="text-align: left;"><br />Mas Elza também foi a mulher que enfrentou a pobreza, a discriminação, a violência e.. renasceu, recriou-se. Como uma espécie de Benjamin Button, rejuvenesceu a medida que os anos se passavam. Incorporou o rap ao samba e nos surpreendeu com uma música fresca, jovem e ao mesmo tempo, com um tempero de maturidade. Quando gravou o álbum “A Mulher do fim do mundo” obviamente já sabia que o fim estava próximo.. mas era tanta força , tanto desejo, que ela esticou ainda uns anos. E no dia do show homônimo ela tava lá, sentada numa cadeira de rainha. Um corpo já quase morto, não ficava mais de pé. Mas quando abriu a boca se via que ele era habitado por um sujeito cheio de desejo, insistindo em viver. E ela botou pra fuder! Aquela voz parecia saindo do centro da terra como um vulcão. Muita emoção…<br /> </div><div style="text-align: left;">Beleza, mana. Fica com Deus!.. a gente que continua fica com a responsa de inventar outro mundo e nele vai ter uma pedrinha do que você nos deixou.<br /><br />Lia Silveira</div>Lia Silveirahttp://www.blogger.com/profile/01914928244809718150noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7548064999185896208.post-45695799673871218862019-09-23T21:42:00.000-03:002019-09-23T21:42:01.450-03:0080 anos da morte de Freud<br />
<br />
<br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgNpJywXwFRbmIEJcqDyJFtojej3MUX6ODiKKxDWv7i_JG4ehKzdY9EF9f94vTy5rdicr4ELSinR_gdJvuxULPQdf7YE03eqe18V1wFCCUkHADW5iV0MrS3LoTKslL6JM9mE5UtCtg8aVil/s1600/freud-1.png" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="400" data-original-width="800" height="200" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgNpJywXwFRbmIEJcqDyJFtojej3MUX6ODiKKxDWv7i_JG4ehKzdY9EF9f94vTy5rdicr4ELSinR_gdJvuxULPQdf7YE03eqe18V1wFCCUkHADW5iV0MrS3LoTKslL6JM9mE5UtCtg8aVil/s400/freud-1.png" width="400" /></a></div>
<br />
<br />
<div style="text-align: justify;">
A história é repleta de grandes nomes que contribuíram para o progresso
da civilização: conquistadores, inventores, filósofos, políticos,
artistas, cada um transformando de sua maneira a aventura humana na
terra. <br /> Mas, se todos esses contribuíram para o progresso, apenas
um deles deixou como legado uma invenção capaz de desvendar ao homem o
seu avesso, a “outra cena” que o verniz civi<span class="text_exposed_show">lizatório insiste em não querer saber, mas que retorna como o mais íntimo de cada um.<br />
Sigmund Freud legou-nos a psicanálise, e com ela uma possibilidade de
tratamento do mal-estar correlativo a existência em civilização. Em
meio ao assombroso avanço científico do final do século XIX, ousou falar
daquilo que resistia, e ainda resiste, a ser processado no maquinário
do progresso. Correu o risco de falar e escutar aquilo que se atravessa
no meio do caminho impedindo que a raça humana avance desenfreada rumo a
um futuro distópico alimentado pelo sonho de imortalidade. Mais ainda,
arriscou-se a sustentar um discurso para o qual a consciência da
transitoriedade é, na verdade, aquilo que faz com que a vida valha a
pena ser vivida com entusiasmo. Pois se tudo perece, tudo acaba, é por
isso mesmo que se torna mais raro e singular a experiência. Ele ousou
falar de limite, de fim e de castração para um mundo que quer cada vez
menos saber de tudo isso. Freud não chegou a conhecer o capitalismo globalizado atual, mas o que ele produziu nunca foi tão necessário. <br />
Até aqui, não me refiro ao homem Freud que, vira e mexe, volta às capas
de revista acusado disso e daquilo. Refiro-me ao discurso que ele fez
germinar de sua própria experiência e que se dissemina até hoje pelo
contágio da peste. Acho que isso ultrapassa sua biografia e faz de seu nome uma marca que funciona como divisor na história da humanidade.<br />
Mas hoje, 23 de setembro de 2019, data que marca 80 anos de sua morte,
quero deixar expresso meu agradecimento por ele ter existido e por ter
sustentado seu desejo, pois, sem isso, não teria havido a psicanálise.
Meu agradecimento, também, por por ela ter persistido viva ao longo
desses anos todos, contagiando tantos outros analistas. E por, nessa
cadeia de homens e mulheres que ousaram querer saber do seu desejo, ter
chegado com sua lâmina cortante até mim, e me dado a oportunidade de
de-siderare, romper com a sideração do destino que estava escrito. Por
fim, por poder sustentar essa experiência para os que hoje procuram
também querer saber e reescrever suas histórias. Por tudo isso, muito
obrigada, Freud! <br /> <a class="profileLink" data-hovercard-prefer-more-content-show="1" data-hovercard="/ajax/hovercard/user.php?id=1085876005&extragetparams=%7B%22__tn__%22%3A%22%2CdK-R-R%22%2C%22eid%22%3A%22ARAOgSZagolAycPvHN8mqCte3jFwE_cLYJXRpjD91gt7z_azDXIg8dVZBZxehSyb6q3PonaKoNdjmUpQ%22%2C%22fref%22%3A%22mentions%22%7D" href="https://www.facebook.com/silveiralia?__tn__=%2CdK-R-R&eid=ARAOgSZagolAycPvHN8mqCte3jFwE_cLYJXRpjD91gt7z_azDXIg8dVZBZxehSyb6q3PonaKoNdjmUpQ&fref=mentions" title="Lia Silveira">Lia Silveira</a></span></div>
Lia Silveirahttp://www.blogger.com/profile/01914928244809718150noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7548064999185896208.post-13926270036108456892019-05-23T23:58:00.002-03:002019-05-23T23:58:23.331-03:00O prêmio Camões é nosso<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjOYgs837KGWW84uuvciUY4q5mQRamaSmd4fadvX89SyTjkKKfz97DBxXV7HDE5l5ctMh7vTVG-cfN2axyZNW5alRs25MU-Ih1y2_TLg1QifCmpkABCJ16XQSwlXLs6PjIE0KYMaEvGAoKr/s1600/40420540-2BB2-41C6-B69A-8910C76A28B6.jpeg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="952" data-original-width="720" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjOYgs837KGWW84uuvciUY4q5mQRamaSmd4fadvX89SyTjkKKfz97DBxXV7HDE5l5ctMh7vTVG-cfN2axyZNW5alRs25MU-Ih1y2_TLg1QifCmpkABCJ16XQSwlXLs6PjIE0KYMaEvGAoKr/s320/40420540-2BB2-41C6-B69A-8910C76A28B6.jpeg" width="242" /></a></div>
<div class="p1" style="-webkit-text-size-adjust: auto; color: #454545; font-family: ".SF UI Display"; font-size: 28px; font-stretch: normal; line-height: normal;">
<span class="s1" style="font-family: ".SFUIDisplay"; font-size: 28pt;">Não resisti .. depois que a amiga Eliany Nazaré me marcou no post de Pedro Tadeu “<a href="https://www.dn.pt/opiniao/opiniao-dn/pedro-tadeu/interior/chico-buarque-ensinou-o-que-10926786.html" target="_blank">Chico Buarque lhe ensinou o que?</a>” resolvi escrever a minha versão:</span></div>
<div class="p2" style="-webkit-text-size-adjust: auto; color: #454545; font-family: ".SF UI Display"; font-size: 28px; font-stretch: normal; line-height: normal; min-height: 33.4px;">
<span class="s1" style="font-family: ".SFUIDisplay"; font-size: 28pt;"></span><br /></div>
<div class="p1" style="-webkit-text-size-adjust: auto; color: #454545; font-family: ".SF UI Display"; font-size: 28px; font-stretch: normal; line-height: normal;">
<span class="s1" style="font-family: ".SFUIDisplay"; font-size: 28pt;">- Quando eu tinha 05 anos não entendia nada do que a música dizia, mas aprendi a dançar loucamente com a Irma Léa Silveira ouvindo “Tanto Mar “, correndo e rodopiando no salão de casa. Detalhe, a gente cantava “manda novamente algum cheirinho de alegrim”. Então eu achava que a música era sobre uma coisa alegre demais ..não fazia ideia que vivia uma ditadura e Portugal tava acabando de fazer a sua revolução dos cravos. Chico me ensinou a minha lalangue.</span></div>
<div class="p2" style="-webkit-text-size-adjust: auto; color: #454545; font-family: ".SF UI Display"; font-size: 28px; font-stretch: normal; line-height: normal; min-height: 33.4px;">
<span class="s1" style="font-family: ".SFUIDisplay"; font-size: 28pt;"></span><br /></div>
<div class="p1" style="-webkit-text-size-adjust: auto; color: #454545; font-family: ".SF UI Display"; font-size: 28px; font-stretch: normal; line-height: normal;">
<span class="s1" style="font-family: ".SFUIDisplay"; font-size: 28pt;">- quando eu tinha entre seis e sete anos, ouvindo “pedaço de mim”, ficava realmente impressionada com a história do revés do parto e de arrumar o quarto do filho que já morreu. Chico me ensinou a nomear angústia.</span></div>
<div class="p2" style="-webkit-text-size-adjust: auto; color: #454545; font-family: ".SF UI Display"; font-size: 28px; font-stretch: normal; line-height: normal; min-height: 33.4px;">
<span class="s1" style="font-family: ".SFUIDisplay"; font-size: 28pt;"></span><br /></div>
<div class="p1" style="-webkit-text-size-adjust: auto; color: #454545; font-family: ".SF UI Display"; font-size: 28px; font-stretch: normal; line-height: normal;">
<span class="s1" style="font-family: ".SFUIDisplay"; font-size: 28pt;">- os anos seguintes, entre os 9 e os 12 foram regados à muito “Cálice” e seu pileque homérico no mundo. Não sei muito bem o que eu entendia da música, mas fazia muito sentido. Chico me ensinou sobre o apelo e o desamparo.</span></div>
<div class="p2" style="-webkit-text-size-adjust: auto; color: #454545; font-family: ".SF UI Display"; font-size: 28px; font-stretch: normal; line-height: normal; min-height: 33.4px;">
<span class="s1" style="font-family: ".SFUIDisplay"; font-size: 28pt;"></span><br /></div>
<div class="p1" style="-webkit-text-size-adjust: auto; color: #454545; font-family: ".SF UI Display"; font-size: 28px; font-stretch: normal; line-height: normal;">
<span class="s1" style="font-family: ".SFUIDisplay"; font-size: 28pt;">- dos 12 aos 20 e poucos anos, Chico não tava lá. Mas tudo bem. Eu também não. Quando voltamos, ele me ensinou sobre viver, sobre reconstruir, com muito “injuriado” e “deixa a menina sambar em paz”. Ali, ainda bolsista na era FHC, eu comecei a ir em todas as suas turnês, catando moeda pra poder pagar o show, mas não perdia um. Ainda bem que não eram muitos, se não Chico ia ter que me ensinar a pagar empréstimo.</span></div>
<div class="p2" style="-webkit-text-size-adjust: auto; color: #454545; font-family: ".SF UI Display"; font-size: 28px; font-stretch: normal; line-height: normal; min-height: 33.4px;">
<span class="s1" style="font-family: ".SFUIDisplay"; font-size: 28pt;"></span><br /></div>
<div class="p1" style="-webkit-text-size-adjust: auto; color: #454545; font-family: ".SF UI Display"; font-size: 28px; font-stretch: normal; line-height: normal;">
<span class="s1" style="font-family: ".SFUIDisplay"; font-size: 28pt;">- depois ele me ensinou a amar de novo, advertida dessa vez com um “sob medida”, mas ainda bem encantada com “todo sentimento”.</span></div>
<div class="p2" style="-webkit-text-size-adjust: auto; color: #454545; font-family: ".SF UI Display"; font-size: 28px; font-stretch: normal; line-height: normal; min-height: 33.4px;">
<span class="s1" style="font-family: ".SFUIDisplay"; font-size: 28pt;"></span><br /></div>
<div class="p1" style="-webkit-text-size-adjust: auto; color: #454545; font-family: ".SF UI Display"; font-size: 28px; font-stretch: normal; line-height: normal;">
<span class="s1" style="font-family: ".SFUIDisplay"; font-size: 28pt;">-aí eu fui apreendendo cada vez mais com Chico, me encantando com a astúcia de “Feijoada completa” , me emocionado com a vida do “Pedro Pedreiro” esperando um filho pra esperar também. Experimentando o amor de “Suburbano Coração”, sambando com a “Rita”.</span></div>
<div class="p2" style="-webkit-text-size-adjust: auto; color: #454545; font-family: ".SF UI Display"; font-size: 28px; font-stretch: normal; line-height: normal; min-height: 33.4px;">
<span class="s1" style="font-family: ".SFUIDisplay"; font-size: 28pt;"></span><br /></div>
<div class="p1" style="-webkit-text-size-adjust: auto; color: #454545; font-family: ".SF UI Display"; font-size: 28px; font-stretch: normal; line-height: normal;">
<span class="s1" style="font-family: ".SFUIDisplay"; font-size: 28pt;">-em 2012 ele entrou no palco cantando “pensou que eu não vinha mais, pensou”. Eu acreditava que era pra mim. nesse dia Chico me ensinou o que era a erotomania... só por alguns segundos. </span></div>
<div class="p2" style="-webkit-text-size-adjust: auto; color: #454545; font-family: ".SF UI Display"; font-size: 28px; font-stretch: normal; line-height: normal; min-height: 33.4px;">
<span class="s1" style="font-family: ".SFUIDisplay"; font-size: 28pt;"></span><br /></div>
<div class="p1" style="-webkit-text-size-adjust: auto; color: #454545; font-family: ".SF UI Display"; font-size: 28px; font-stretch: normal; line-height: normal;">
<span class="s1" style="font-family: ".SFUIDisplay"; font-size: 28pt;">-Em 2015 fiz parte de um cartel sobre o feminino nas letras de Chico Buarque. Cada membro escolhia uma música para estudar a partir da psicanálise. Lá aprendi com “uma canção desnaturada” que o feminino pode ser sem devastação e aprendi também com a colega Lina Cavalcante sobre a beleza de descobrir que “com açúcar, com afeto” é só um retrato. Mais recentemente ele me ensinou mais ainda sobre o feminino numa apresentação de jornada de cartéis com o trabalho cantado de Raissa Dantas sobre “palavra de mulher”. Chico me ensinou psicanálise.</span></div>
<div class="p2" style="-webkit-text-size-adjust: auto; color: #454545; font-family: ".SF UI Display"; font-size: 28px; font-stretch: normal; line-height: normal; min-height: 33.4px;">
<span class="s1" style="font-family: ".SFUIDisplay"; font-size: 28pt;"></span><br /></div>
<div class="p1" style="-webkit-text-size-adjust: auto; color: #454545; font-family: ".SF UI Display"; font-size: 28px; font-stretch: normal; line-height: normal;">
<span class="s1" style="font-family: ".SFUIDisplay"; font-size: 28pt;">- E não poderia deixar de contabilizar aqui o aprendizado político em que, mesmo quando eu duvidei de onde deveria estar, fiz minha escolha e, quando olhei pro lado, Chico sempre estava lá. Sempre coerente, nunca silenciando quando se faz necessário falar.</span></div>
<div class="p2" style="-webkit-text-size-adjust: auto; color: #454545; font-family: ".SF UI Display"; font-size: 28px; font-stretch: normal; line-height: normal; min-height: 33.4px;">
<span class="s1" style="font-family: ".SFUIDisplay"; font-size: 28pt;"></span><br /></div>
<div class="p1" style="-webkit-text-size-adjust: auto; color: #454545; font-family: ".SF UI Display"; font-size: 28px; font-stretch: normal; line-height: normal;">
<span class="s1" style="font-family: ".SFUIDisplay"; font-size: 28pt;">Então, nessa página infeliz da nossa história que vivenciamos esses dias, o prêmio Camões foi um bálsamo e, assim como o colega do belíssimo texto que circulou esses dias , também posso dizer : eu ganhei !</span></div>
Lia Silveirahttp://www.blogger.com/profile/01914928244809718150noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7548064999185896208.post-34337675388273967232018-04-08T22:48:00.005-03:002018-04-08T22:48:51.571-03:00A Fotografia do Golpe
<br />
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: center; text-indent: 35.45pt;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjkFTDUSs2mVZ96oQEWYK8infBeFvucoT03gBDP7aijRi9xmapl8QGibgL1bG-Xor0_PSCXUEmeB2Y7Nj0dB1qLfU6LDxIMF2MTi8SAGsy9g-02UgKUCoqQ7NMWWdYlb4VtAKdjx7vbs2lR/s1600/maroni.JPG" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="815" data-original-width="540" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjkFTDUSs2mVZ96oQEWYK8infBeFvucoT03gBDP7aijRi9xmapl8QGibgL1bG-Xor0_PSCXUEmeB2Y7Nj0dB1qLfU6LDxIMF2MTi8SAGsy9g-02UgKUCoqQ7NMWWdYlb4VtAKdjx7vbs2lR/s400/maroni.JPG" width="265" /></a></div>
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"></span><span style="font-family: "Times New Roman",serif; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">“Menina, não se atreva a falar de
Deus aqui dentro. Se Deus existisse ele não deixaria a gente fazer isso com
você.” (M. de Sade)</span><br />
<br />
<div style="text-align: justify;">
Poderíamos contar os últimos dias apenas por imagens e, certamente, elas
servirão muito àqueles que se dedicarem a escrever a história do golpe político
que o Brasil vem sofrendo vivendo desde agosto de 2016 e que hoje se concretiza
com o ex-presidente Lula transformado em preso político na “República de
Curitiba”. Mas talvez poucas delas sejam tão capazes de sintetizar a “moral” subjacente
ao que veio sendo gestado em nosso país como a de Oscar Maroni vestido de
prisioneiro exibindo a genitália de uma prostituta semidesnuda, calcinhas arreadas
nos joelhos, diante de uma turba convidada para comemorar a prisão de Lula. Para
quem não sabe, Oscar é um cafetão famoso no mundo da pornografia e dono da casa
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">Bahama</i> que a imprensa chamou de “centro
hedonista”, tucanando definitivamente o “puteiro”. Ele também ficou conhecido
por ser preso diversas vezes por formação de quadrilha, exploração e prostituição.
Atrás de Maroni e o corpo exposto da mulher, perfilam-se, entre homenageados e
abençoadores da cena, os rostos do paladino da justiça, juiz Sergio Moro, e da ilustríssima
ministra do Supremo (com tudo) Tribunal Federal, Senhora Carmen Lucia. A festa
é o cumprimento de uma promessa feita em 2016. Num vídeo que pode facilmente
ser acessado na internet, Maroni promete cerveja, caso Lula seja preso, no
seguinte diálogo: </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-left: 4.0cm; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; mso-fareast-language: PT-BR;">"Se o Lula for preso,
a cerveja é de graça até a meia noite. Agora, se matarem ele na prisão, a
cerveja vai ser de graça durante o mês inteiro". Outro homem que está
numa mesa junto ao empresário questiona caso a morte seja com crueldade.
"E se for sofrida, a morte?". Ao que Maroni responde em tom jocoso:
"Aí eu dou meu rabo". </span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-left: 4.0cm; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; mso-fareast-language: PT-BR;">(<a href="https://catracalivre.com.br/geral/cidadania/indicacao/oscar-maroni-bahamas-matar-lula/)">https://catracalivre.com.br/geral/cidadania/indicacao/oscar-maroni-bahamas-matar-lula/)</a></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="color: black; mso-themecolor: text1;">Impossível ver a cena e não
ser lançado imediatamente na imageria de “Os 120 Dias de Sodoma” do famoso
Marquês de Sade. </span><span style="color: black; font-family: "Times New Roman",serif; mso-themecolor: text1;">Na obra um padre, um financista, um juiz e um
nobre francês reúnem-se no castelo de </span><span style="color: black; font-family: "Times New Roman",serif; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR; mso-themecolor: text1;">Silling, para por em prática as mais inomináveis
práticas sexuais junto à jovens meninas e meninos arrancados de suas famílias, acompanhados
de um grupo de pessoas compostos por prostitutas, homens viris e velhas feiticeiras.
Numa das cenas mais famosas, uma jovem garotinha implora por clemência em nome
de Deus e ouve a frase da nossa epígrafe. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="color: black; font-family: "Times New Roman",serif; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR; mso-themecolor: text1;">Tanto
a frase como a metáfora do livro são muito inspiradoras nesse momento porque
nos permitem deslindar a montagem perversa que age como plano de fundo do
golpe. Tentarei pincelar aqui algumas de suas coordenadas. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="color: black; font-family: "Times New Roman",serif; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR; mso-themecolor: text1;">A
ideia de Deus, da moral pequeno burguesa, da família e dos bons costumes sempre
foi usada para trazer à tona nossos medos mais secretos. Medo de algo que não
conseguimos nomear, mas que insiste a partir de dentro e do qual não podemos
fugir. Esse medo, em última instância, podemos reduzir ao nosso próprio corpo,
mas que facilmente toma a forma do outro a quem julgamos dever extirpar. <span style="mso-bidi-font-style: italic;">Um outro ameaçador, que com seu gozo obscuro
põe em risco nossas conquistas. </span>Foi assim em 64, tem sido assim nos
últimos tempos (considerando apenas que agora temos essa figura pouco
convencional do ator pornô que milita na defesa dessa moral). </span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="color: black; font-family: "Times New Roman",serif; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR; mso-themecolor: text1;">O
Outro, desde priscas eras, tem um nome no Brasil: o comunista. Ele mata
pessoas, come criancinhas, é ateu, não respeita a família nem a...propriedade. É
aí que chegamos a verdade desse discurso. A manipulação do medo como a
experimentamos não está a serviço de outra coisa que a manutenção de uma ordem financeira.
O deputado que votou pelo impeachment de Dilma em nome de Deus e da família não
dá a mínima para esses valores. Foram todos comemorar a vitória no prostíbulo,
como foi divulgado na época. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="color: black; font-family: "Times New Roman",serif; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR; mso-themecolor: text1;">Estavam
todos, sim, a serviço do dinheiro que corria solto nas propinas e que foi
cortado pela presidenta deposta. Dinheiro que corre a serviço da <i style="mso-bidi-font-style: normal;">norme – mâle</i>, como diz Lacan, fazendo um
jogo significante entre “normal” e “norma macho” que aponta para o lugar do
falo na regulação do gozo em sua tradução significante. Ao contrário do que muitas
vezes se pensa, a norma fálica não se pauta na potência do órgão masculino, mas
justamente em sua insuficiência em saturar o desejo humano. Não estamos mais
sob o primado do instinto que programa o macho para a fêmea e vice-versa. Somos
regidos pela pulsão que, em sua premência incessante, não conhece objeto que a
satisfaça completamente. A norma fálica inscreve para o neurótico essa falta na
cadeia simbólica e faz com que passemos a perseguir o ponto que localizamos
como resposta ao enigma norteador do desejo. Alguns colocam aí o dinheiro, o
amor, o trabalho. Mas de todo modo ela faz parecer menos louco o fato de
estarmos todos correndo atrás de algo. A norma fálica também estrutura a
fantasia do neurótico como aquele cenário onde haveria um outro que goza
plenamente, um gozo que o neurótico desconhece conscientemente, mas com o qual mantém
um jogo de aproxima e afasta repetitivo. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="color: black; font-family: "Times New Roman",serif; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR; mso-themecolor: text1;">No
entanto, a norma fálica não faz só o neurótico. Ela também se inscreve de algum
modo para o perverso. Só que este, ao contrário do primeiro, não se localiza no
polo faltante dessa fantasia. O perverso “sabe” do gozo do outro e é como seu
agente que ele se coloca. Ele põe em cena para o neurótico o objeto que supõe
ser causa de sua divisão e de sua angústia. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="color: black; font-family: "Times New Roman",serif; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR; mso-themecolor: text1;">Para
além da fantasia, seja ela neurótica ou perversa, nem todo gozo se se deixa
dizer pela norma fálica. Trata-se, como elaborou Lacan, do gozo feminino que,
em ser não-todo fálico, aponta para o que extravasa essa lógica do ter e para o
que não se deixa amoedar no discurso. Por isso, se por um lado a mulher pode
ser tomada por um homem como objeto causa de seu desejo e lugar onde este vai
recortar o objeto para gozar com ele no encontro sexuado, por outro lado, o gozo
propriamente feminino encarna tudo aquilo que se coloca como alteridade
radical, inclusive para ela mesma. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="color: black; font-family: "Times New Roman",serif; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR; mso-themecolor: text1;">Voltemos
para a cena sadeana de Maroni e sua relação com o golpe. Ela encarna o gozo
obsceno que deveria permanecer velado em todo o discurso que sustenta essa
trama. O golpe está a serviço da manutenção de uma ordem perversa que não
aceita a falta. Que não admite tocar na distribuição de renda, não admite pobre
viajando de avião, nem porteiro passando férias em Miami. Não admite “analfabeto”
presidente. Mais ainda, não admite mulher governando! Se há um lugar para a
mulher na lógica do golpe esse só pode ser o de objeto de exploração (bem
diferente do objeto causa do desejo) como pedaço de carne, olhos vendados e
genitália exposta ao espetáculo dado aos homens que votam em nome de Deus, da
família...e da propriedade. É a lógica que matou Marielle, que depôs Dilma e
que quer ver Lula morto. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>É assim que, em
nome de Deus, os homens de bem localizam uma Lei para corrompê-la, com os mesmos
significantes que usam para encobrir seu golpe. É assim que temos pedófilos
votando leis anti-pedofilia, estupradores votando leis anti-aborto, traficantes
votando leis anti-drogas, assassinos votando pela pena de morte e corruptos
votando leis anti-corrupção. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="color: black; font-family: "Times New Roman",serif; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR; mso-themecolor: text1;">Por
isso tudo, podemos dizer que o golpe é machista, é racista, é fascista. Por
isso tudo, a única chance de resistirmos é se aprendermos de algum modo a somar
forças diante dele e não cedermos ante a sedução do narcisismo das pequenas
diferenças. A meu ver o discurso, já histórico, do presidente Lula, ao desapegar-se
da sua persona e colocar-se a serviço da militância (mesmo sabendo que corre o
risco de não sair vivo dessa prisão), deixa algumas dicas nesse sentido: </span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-left: 5.0cm; text-align: justify;">
<span style="color: black; font-family: "Times New Roman",serif; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR; mso-themecolor: text1;">“não
adianta eles acharem que vão fazer com que eu pare, eu não pararei porque não
sou mais um ser humano. Eu sou uma ideia. Uma ideia misturada com a ideia de
vocês.” </span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="color: black; font-family: "Times New Roman",serif; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR; mso-themecolor: text1;">Que
suas palavras lançadas aos que partilham de algum modo dos ideais da esquerda possam
ser capazes de superar e produzir algo em sentido divergente da (obs)cena de
seus inimigos. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<br /></div>
<style>
<!--
/* Font Definitions */
@font-face
{font-family:"Cambria Math";
panose-1:2 4 5 3 5 4 6 3 2 4;
mso-font-charset:0;
mso-generic-font-family:roman;
mso-font-pitch:variable;
mso-font-signature:-536870145 1107305727 0 0 415 0;}
@font-face
{font-family:Calibri;
panose-1:2 15 5 2 2 2 4 3 2 4;
mso-font-charset:0;
mso-generic-font-family:swiss;
mso-font-pitch:variable;
mso-font-signature:-536870145 1073786111 1 0 415 0;}
/* Style Definitions */
p.MsoNormal, li.MsoNormal, div.MsoNormal
{mso-style-unhide:no;
mso-style-qformat:yes;
mso-style-parent:"";
margin:0cm;
margin-bottom:.0001pt;
mso-pagination:widow-orphan;
font-size:12.0pt;
font-family:"Calibri",sans-serif;
mso-ascii-font-family:Calibri;
mso-ascii-theme-font:minor-latin;
mso-fareast-font-family:Calibri;
mso-fareast-theme-font:minor-latin;
mso-hansi-font-family:Calibri;
mso-hansi-theme-font:minor-latin;
mso-bidi-font-family:"Times New Roman";
mso-bidi-theme-font:minor-bidi;
mso-fareast-language:EN-US;}
a:link, span.MsoHyperlink
{mso-style-priority:99;
color:#0563C1;
mso-themecolor:hyperlink;
text-decoration:underline;
text-underline:single;}
a:visited, span.MsoHyperlinkFollowed
{mso-style-noshow:yes;
mso-style-priority:99;
color:#954F72;
mso-themecolor:followedhyperlink;
text-decoration:underline;
text-underline:single;}
.MsoChpDefault
{mso-style-type:export-only;
mso-default-props:yes;
font-family:"Calibri",sans-serif;
mso-ascii-font-family:Calibri;
mso-ascii-theme-font:minor-latin;
mso-fareast-font-family:Calibri;
mso-fareast-theme-font:minor-latin;
mso-hansi-font-family:Calibri;
mso-hansi-theme-font:minor-latin;
mso-bidi-font-family:"Times New Roman";
mso-bidi-theme-font:minor-bidi;
mso-fareast-language:EN-US;}
@page WordSection1
{size:595.0pt 842.0pt;
margin:70.85pt 3.0cm 70.85pt 3.0cm;
mso-header-margin:35.4pt;
mso-footer-margin:35.4pt;
mso-paper-source:0;}
div.WordSection1
{page:WordSection1;}
-->
</style>Lia Silveirahttp://www.blogger.com/profile/01914928244809718150noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-7548064999185896208.post-64565568057624402902017-11-03T23:24:00.004-03:002017-11-04T19:12:19.613-03:00As três de Sampa, ou um resumo das conferências de Bernard Nominé em SP a partir de minhas anotações pessoais<style>
<!--
/* Font Definitions */
@font-face
{font-family:Arial;
panose-1:2 11 6 4 2 2 2 2 2 4;
mso-font-charset:0;
mso-generic-font-family:swiss;
mso-font-pitch:variable;
mso-font-signature:-536859905 -1073711037 9 0 511 0;}
@font-face
{font-family:"Courier New";
panose-1:2 7 3 9 2 2 5 2 4 4;
mso-font-charset:0;
mso-generic-font-family:roman;
mso-font-pitch:fixed;
mso-font-signature:-536859905 -1073711037 9 0 511 0;}
@font-face
{font-family:Wingdings;
panose-1:5 0 0 0 0 0 0 0 0 0;
mso-font-charset:2;
mso-generic-font-family:auto;
mso-font-pitch:variable;
mso-font-signature:0 268435456 0 0 -2147483648 0;}
@font-face
{font-family:"Cambria Math";
panose-1:2 4 5 3 5 4 6 3 2 4;
mso-font-charset:0;
mso-generic-font-family:roman;
mso-font-pitch:variable;
mso-font-signature:-536870145 1107305727 0 0 415 0;}
@font-face
{font-family:Calibri;
panose-1:2 15 5 2 2 2 4 3 2 4;
mso-font-charset:0;
mso-generic-font-family:swiss;
mso-font-pitch:variable;
mso-font-signature:-536870145 1073786111 1 0 415 0;}
@font-face
{font-family:"MS Mincho";
panose-1:2 2 6 9 4 2 5 8 3 4;
mso-font-charset:128;
mso-generic-font-family:roman;
mso-font-pitch:fixed;
mso-font-signature:-536870145 1791491579 134217746 0 131231 0;}
@font-face
{font-family:Cambria;
panose-1:2 4 5 3 5 4 6 3 2 4;
mso-font-charset:0;
mso-generic-font-family:roman;
mso-font-pitch:variable;
mso-font-signature:-536870145 1073743103 0 0 415 0;}
@font-face
{font-family:EcritSym;
mso-font-alt:Geneva;
mso-font-charset:0;
mso-generic-font-family:auto;
mso-font-pitch:variable;
mso-font-signature:3 0 0 0 1 0;}
/* Style Definitions */
p.MsoNormal, li.MsoNormal, div.MsoNormal
{mso-style-unhide:no;
mso-style-qformat:yes;
mso-style-parent:"";
margin:0cm;
margin-bottom:.0001pt;
mso-pagination:widow-orphan;
font-size:10.0pt;
font-family:"Cambria",serif;
mso-fareast-font-family:"MS Mincho";
mso-bidi-font-family:"Times New Roman";
mso-fareast-language:EN-US;}
h4
{mso-style-unhide:no;
mso-style-parent:"";
mso-style-link:"Título 4 Char";
mso-style-next:Corpo;
margin:0cm;
margin-bottom:.0001pt;
text-align:center;
mso-pagination:widow-orphan;
page-break-after:avoid;
mso-outline-level:4;
font-size:10.0pt;
font-family:"Times New Roman",serif;
mso-fareast-font-family:"Times New Roman";
color:black;
border:none;
mso-ansi-language:FR;
mso-fareast-language:EN-US;
font-weight:normal;
text-underline:black;}
p.MsoListParagraph, li.MsoListParagraph, div.MsoListParagraph
{mso-style-priority:34;
mso-style-unhide:no;
mso-style-qformat:yes;
margin-top:0cm;
margin-right:0cm;
margin-bottom:0cm;
margin-left:36.0pt;
margin-bottom:.0001pt;
mso-add-space:auto;
mso-pagination:widow-orphan;
font-size:10.0pt;
font-family:"Cambria",serif;
mso-fareast-font-family:"MS Mincho";
mso-bidi-font-family:"Times New Roman";
mso-fareast-language:EN-US;}
p.MsoListParagraphCxSpFirst, li.MsoListParagraphCxSpFirst, div.MsoListParagraphCxSpFirst
{mso-style-priority:34;
mso-style-unhide:no;
mso-style-qformat:yes;
mso-style-type:export-only;
margin-top:0cm;
margin-right:0cm;
margin-bottom:0cm;
margin-left:36.0pt;
margin-bottom:.0001pt;
mso-add-space:auto;
mso-pagination:widow-orphan;
font-size:10.0pt;
font-family:"Cambria",serif;
mso-fareast-font-family:"MS Mincho";
mso-bidi-font-family:"Times New Roman";
mso-fareast-language:EN-US;}
p.MsoListParagraphCxSpMiddle, li.MsoListParagraphCxSpMiddle, div.MsoListParagraphCxSpMiddle
{mso-style-priority:34;
mso-style-unhide:no;
mso-style-qformat:yes;
mso-style-type:export-only;
margin-top:0cm;
margin-right:0cm;
margin-bottom:0cm;
margin-left:36.0pt;
margin-bottom:.0001pt;
mso-add-space:auto;
mso-pagination:widow-orphan;
font-size:10.0pt;
font-family:"Cambria",serif;
mso-fareast-font-family:"MS Mincho";
mso-bidi-font-family:"Times New Roman";
mso-fareast-language:EN-US;}
p.MsoListParagraphCxSpLast, li.MsoListParagraphCxSpLast, div.MsoListParagraphCxSpLast
{mso-style-priority:34;
mso-style-unhide:no;
mso-style-qformat:yes;
mso-style-type:export-only;
margin-top:0cm;
margin-right:0cm;
margin-bottom:0cm;
margin-left:36.0pt;
margin-bottom:.0001pt;
mso-add-space:auto;
mso-pagination:widow-orphan;
font-size:10.0pt;
font-family:"Cambria",serif;
mso-fareast-font-family:"MS Mincho";
mso-bidi-font-family:"Times New Roman";
mso-fareast-language:EN-US;}
span.Ttulo4Char
{mso-style-name:"Título 4 Char";
mso-style-unhide:no;
mso-style-locked:yes;
mso-style-link:"Título 4";
mso-ansi-font-size:10.0pt;
mso-bidi-font-size:10.0pt;
font-family:"Times New Roman",serif;
mso-fareast-font-family:"Times New Roman";
color:black;
border:none;
mso-ansi-language:FR;
text-underline:black;}
p.Corpo, li.Corpo, div.Corpo
{mso-style-name:Corpo;
mso-style-unhide:no;
mso-style-parent:"";
margin-top:0cm;
margin-right:0cm;
margin-bottom:10.0pt;
margin-left:0cm;
line-height:115%;
mso-pagination:widow-orphan;
font-size:11.0pt;
font-family:"Calibri",sans-serif;
mso-fareast-font-family:Calibri;
mso-bidi-font-family:Calibri;
color:black;
border:none;
mso-fareast-language:EN-US;
text-underline:black;}
p.Corps, li.Corps, div.Corps
{mso-style-name:Corps;
mso-style-unhide:no;
mso-style-parent:"";
margin-top:0cm;
margin-right:0cm;
margin-bottom:10.0pt;
margin-left:0cm;
line-height:115%;
mso-pagination:widow-orphan;
font-size:11.0pt;
font-family:"Calibri",sans-serif;
mso-fareast-font-family:Calibri;
mso-bidi-font-family:Calibri;
color:black;
border:none;
mso-ansi-language:FR;
mso-fareast-language:EN-US;
text-underline:black;}
.MsoChpDefault
{mso-style-type:export-only;
mso-default-props:yes;
font-size:11.0pt;
mso-ansi-font-size:11.0pt;
mso-bidi-font-size:11.0pt;
mso-fareast-font-family:"MS Mincho";
mso-fareast-language:EN-US;}
@page WordSection1
{size:595.0pt 842.0pt;
margin:72.0pt 90.0pt 72.0pt 90.0pt;
mso-header-margin:35.4pt;
mso-footer-margin:35.4pt;
mso-paper-source:0;}
div.WordSection1
{page:WordSection1;}
/* List Definitions */
@list l0
{mso-list-id:159850995;
mso-list-type:hybrid;
mso-list-template-ids:1293428398 67698689 67698691 67698693 67698689 67698691 67698693 67698689 67698691 67698693;}
@list l0:level1
{mso-level-number-format:bullet;
mso-level-text:;
mso-level-tab-stop:none;
mso-level-number-position:left;
margin-left:0cm;
text-indent:-18.0pt;
font-family:Symbol;}
@list l0:level2
{mso-level-number-format:bullet;
mso-level-text:o;
mso-level-tab-stop:none;
mso-level-number-position:left;
margin-left:36.0pt;
text-indent:-18.0pt;
font-family:"Courier New",serif;
mso-bidi-font-family:"Times New Roman";}
@list l0:level3
{mso-level-number-format:bullet;
mso-level-text:;
mso-level-tab-stop:none;
mso-level-number-position:left;
margin-left:72.0pt;
text-indent:-18.0pt;
font-family:Wingdings;}
@list l0:level4
{mso-level-number-format:bullet;
mso-level-text:;
mso-level-tab-stop:none;
mso-level-number-position:left;
margin-left:108.0pt;
text-indent:-18.0pt;
font-family:Symbol;}
@list l0:level5
{mso-level-number-format:bullet;
mso-level-text:o;
mso-level-tab-stop:none;
mso-level-number-position:left;
margin-left:144.0pt;
text-indent:-18.0pt;
font-family:"Courier New",serif;
mso-bidi-font-family:"Times New Roman";}
@list l0:level6
{mso-level-number-format:bullet;
mso-level-text:;
mso-level-tab-stop:none;
mso-level-number-position:left;
margin-left:180.0pt;
text-indent:-18.0pt;
font-family:Wingdings;}
@list l0:level7
{mso-level-number-format:bullet;
mso-level-text:;
mso-level-tab-stop:none;
mso-level-number-position:left;
margin-left:216.0pt;
text-indent:-18.0pt;
font-family:Symbol;}
@list l0:level8
{mso-level-number-format:bullet;
mso-level-text:o;
mso-level-tab-stop:none;
mso-level-number-position:left;
margin-left:252.0pt;
text-indent:-18.0pt;
font-family:"Courier New",serif;
mso-bidi-font-family:"Times New Roman";}
@list l0:level9
{mso-level-number-format:bullet;
mso-level-text:;
mso-level-tab-stop:none;
mso-level-number-position:left;
margin-left:288.0pt;
text-indent:-18.0pt;
font-family:Wingdings;}
@list l1
{mso-list-id:1695882496;
mso-list-type:hybrid;
mso-list-template-ids:2035706808 67698689 67698691 67698693 67698689 67698691 67698693 67698689 67698691 67698693;}
@list l1:level1
{mso-level-number-format:bullet;
mso-level-text:;
mso-level-tab-stop:none;
mso-level-number-position:left;
margin-left:0cm;
text-indent:-18.0pt;
font-family:Symbol;}
@list l1:level2
{mso-level-number-format:bullet;
mso-level-text:o;
mso-level-tab-stop:none;
mso-level-number-position:left;
margin-left:36.0pt;
text-indent:-18.0pt;
font-family:"Courier New",serif;
mso-bidi-font-family:"Times New Roman";}
@list l1:level3
{mso-level-number-format:bullet;
mso-level-text:;
mso-level-tab-stop:none;
mso-level-number-position:left;
margin-left:72.0pt;
text-indent:-18.0pt;
font-family:Wingdings;}
@list l1:level4
{mso-level-number-format:bullet;
mso-level-text:;
mso-level-tab-stop:none;
mso-level-number-position:left;
margin-left:108.0pt;
text-indent:-18.0pt;
font-family:Symbol;}
@list l1:level5
{mso-level-number-format:bullet;
mso-level-text:o;
mso-level-tab-stop:none;
mso-level-number-position:left;
margin-left:144.0pt;
text-indent:-18.0pt;
font-family:"Courier New",serif;
mso-bidi-font-family:"Times New Roman";}
@list l1:level6
{mso-level-number-format:bullet;
mso-level-text:;
mso-level-tab-stop:none;
mso-level-number-position:left;
margin-left:180.0pt;
text-indent:-18.0pt;
font-family:Wingdings;}
@list l1:level7
{mso-level-number-format:bullet;
mso-level-text:;
mso-level-tab-stop:none;
mso-level-number-position:left;
margin-left:216.0pt;
text-indent:-18.0pt;
font-family:Symbol;}
@list l1:level8
{mso-level-number-format:bullet;
mso-level-text:o;
mso-level-tab-stop:none;
mso-level-number-position:left;
margin-left:252.0pt;
text-indent:-18.0pt;
font-family:"Courier New",serif;
mso-bidi-font-family:"Times New Roman";}
@list l1:level9
{mso-level-number-format:bullet;
mso-level-text:;
mso-level-tab-stop:none;
mso-level-number-position:left;
margin-left:288.0pt;
text-indent:-18.0pt;
font-family:Wingdings;}
@list l2
{mso-list-id:2118136368;
mso-list-type:hybrid;
mso-list-template-ids:1372888420 68550657 68550659 68550661 68550657 68550659 68550661 68550657 68550659 68550661;}
@list l2:level1
{mso-level-number-format:bullet;
mso-level-text:;
mso-level-tab-stop:none;
mso-level-number-position:left;
text-indent:-18.0pt;
font-family:Symbol;}
@list l2:level2
{mso-level-number-format:bullet;
mso-level-text:o;
mso-level-tab-stop:none;
mso-level-number-position:left;
text-indent:-18.0pt;
font-family:"Courier New",serif;}
@list l2:level3
{mso-level-number-format:bullet;
mso-level-text:;
mso-level-tab-stop:none;
mso-level-number-position:left;
text-indent:-18.0pt;
font-family:Wingdings;}
@list l2:level4
{mso-level-number-format:bullet;
mso-level-text:;
mso-level-tab-stop:none;
mso-level-number-position:left;
text-indent:-18.0pt;
font-family:Symbol;}
@list l2:level5
{mso-level-number-format:bullet;
mso-level-text:o;
mso-level-tab-stop:none;
mso-level-number-position:left;
text-indent:-18.0pt;
font-family:"Courier New",serif;}
@list l2:level6
{mso-level-number-format:bullet;
mso-level-text:;
mso-level-tab-stop:none;
mso-level-number-position:left;
text-indent:-18.0pt;
font-family:Wingdings;}
@list l2:level7
{mso-level-number-format:bullet;
mso-level-text:;
mso-level-tab-stop:none;
mso-level-number-position:left;
text-indent:-18.0pt;
font-family:Symbol;}
@list l2:level8
{mso-level-number-format:bullet;
mso-level-text:o;
mso-level-tab-stop:none;
mso-level-number-position:left;
text-indent:-18.0pt;
font-family:"Courier New",serif;}
@list l2:level9
{mso-level-number-format:bullet;
mso-level-text:;
mso-level-tab-stop:none;
mso-level-number-position:left;
text-indent:-18.0pt;
font-family:Wingdings;}
ol
{margin-bottom:0cm;}
ul
{margin-bottom:0cm;}
</style>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 36.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<br /></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: right; text-indent: 36.0pt;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">"</span>E foste um difícil começo<br />
Afasto o que não conheço<br />
E quem vem de outro sonho feliz de cidade<br />
Aprende depressa a chamar-te de realidade<br />
Porque és o avesso do avesso do avesso do avesso"</div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: right; text-indent: 36.0pt;">
(Sampa - Caetano Veloso)<br />
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 36.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 36.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Três conferências, três amarrações. As conferências de Bernard Nominé em
São Paulo no último fim de semana tiveram para mim a estrutura de um nó. Não
somente por se encadearem umas às outras, mas especialmente por terem a função
de mostrar um real em jogo na formação que vai além de qualquer possibilidade
abordagem através da significação. O nó não demonstra a estrutura, ele <b style="mso-bidi-font-weight: normal;">é </b>a estrutura. Passo a apresentar aqui
um resumo do que ouvi. Certamente não se trata de uma transcrição exata do que
foi dito, mas aquilo que consegui ouvir no que Nominé disse. Nesse movimento sempre se perde algo, mas
espero que possa ser útil em transmitir um pouco da vivacidade da experiência que
esses dias presentificaram para mim. <table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: right; margin-left: 1em; text-align: right;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEji9NU_c0IOQ7cpukmWx0glGtbhiYKGPN4UiZ393rUz1uDc2dY1O0KFOyVC1Gtp_R7ptWdonaGVS2WZfJOgeUszLjDCXxTEEjNBaVJGNnSQJC1XrwcYzfavwgbV_axYsiOgNj4eXg2xpacB/s1600/IMG_1235.JPG" imageanchor="1" style="clear: right; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="1200" data-original-width="1600" height="240" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEji9NU_c0IOQ7cpukmWx0glGtbhiYKGPN4UiZ393rUz1uDc2dY1O0KFOyVC1Gtp_R7ptWdonaGVS2WZfJOgeUszLjDCXxTEEjNBaVJGNnSQJC1XrwcYzfavwgbV_axYsiOgNj4eXg2xpacB/s320/IMG_1235.JPG" width="320" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><b>Bernard Nominé e a demonstração do nó</b></td></tr>
</tbody></table>
</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 36.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">A primeira conferência, proferida na PUC, “Função do tempo no desejo e seu uso
na cultura hoje”, apresenta o tempo como um elemento que participa daquilo que
causa nosso desejo. O tempo pode ser tomado na sua vertente simbólica como
aquilo que os governantes se esforçaram em sistematizar, organizando-o em seus
calendários. Esse é puramente simbólico. Trata-se de uma escrita, um calculo
matemático que fatia o tempo de acordo com os acontecimentos naturais (as fases
da lua, o dia e a noite, as colheitas, etc.) </span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 36.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Mas o tempo tem uma dimensão real como objeto que não é controlável e, no
entanto, nos define. E isso não da mesma maneira para todos. Temos um prazo de
vencimento que queremos todos esquecer. É assim para o obsessivo, em seu jogo
de procrastinação, para a histérica que se lança na antecipação e para o fóbico
que tenta suspender o tempo na prevenção. De todo modo, o neurótico é aquele
que nunca está na hora de seu desejo pois acerta seu relógio pela hora da
demanda do Outro. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 36.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Ao mesmo tempo real e pura abstração é assim que nos dividimos entre o
tempo de cada um e a hora que é para todos. De todo modo, o tempo nunca será
suficiente, sempre nos faltará tempo para ser. O momento final nunca é e nunca
será contado por aquele que vive. Ainda assim é um momento de verdade que
impele o sujeito a estar na hora de seu desejo.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 36.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Recorrendo às elaborações de Santo Agostinho em suas “Confissões”, Nominé
começa a construir uma abordagem borromeana do tempo. Para o filósofo, na
experiência humana é possível falar de três “presentes”:</span></div>
<div class="MsoListParagraphCxSpFirst" style="line-height: 150%; margin-left: 0cm; mso-add-space: auto; mso-list: l1 level1 lfo1; text-align: justify; text-indent: 36.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "symbol"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><span style="mso-list: Ignore;">·<span style="font: 7.0pt "Times New Roman";">
</span></span></span><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Presente
do passado – é a nossa memória</span></div>
<div class="MsoListParagraphCxSpMiddle" style="line-height: 150%; margin-left: 0cm; mso-add-space: auto; mso-list: l1 level1 lfo1; text-align: justify; text-indent: 36.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "symbol"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><span style="mso-list: Ignore;">·<span style="font: 7.0pt "Times New Roman";">
</span></span></span><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Presente
do Presente – é a intuição</span></div>
<div class="MsoListParagraphCxSpLast" style="line-height: 150%; margin-left: 0cm; mso-add-space: auto; mso-list: l1 level1 lfo1; text-align: justify; text-indent: 36.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "symbol"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><span style="mso-list: Ignore;">·<span style="font: 7.0pt "Times New Roman";">
</span></span></span><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Presente
do Futuro – é a esperança, a expectativa</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 36.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Para a psicanálise, o real do tempo cria uma divisão no ser falante e
Nominé vai propor que abordemos as categorias agostinianas da seguinte forma:</span></div>
<div class="MsoListParagraphCxSpFirst" style="line-height: 150%; margin-left: 0cm; mso-add-space: auto; mso-list: l0 level1 lfo2; text-align: justify; text-indent: 36.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "symbol"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><span style="mso-list: Ignore;">·<span style="font: 7.0pt "Times New Roman";">
</span></span></span><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">O
presente do passado, ser de memória, é puramente simbólico</span></div>
<div class="MsoListParagraphCxSpMiddle" style="line-height: 150%; margin-left: 0cm; mso-add-space: auto; mso-list: l0 level1 lfo2; text-align: justify; text-indent: 36.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "symbol"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><span style="mso-list: Ignore;">·<span style="font: 7.0pt "Times New Roman";">
</span></span></span><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">O
presente do futuro, como aquilo que so pode ser imaginado, é o imaginário</span></div>
<div class="MsoListParagraphCxSpLast" style="line-height: 150%; margin-left: 0cm; mso-add-space: auto; mso-list: l0 level1 lfo2; text-align: justify; text-indent: 36.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "symbol"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><span style="mso-list: Ignore;">·<span style="font: 7.0pt "Times New Roman";"> </span></span></span><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">O
presente do presente, como real, faz-se permanentemente e só ex-iste deixando
de ser.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 36.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Nominé inclui ainda um tempo verbal bastante explorado por Lacan que é o
futuro anterior, ou em português, o futuro do presente composto, aquele que é
expresso na frase “Eu terei jantado quando ele chegar”. </span></div>
<div class="MsoListParagraph" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 36.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"> <table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjLujrGEW5FuJVWpe4B6yItI2xVF8C6oemJCdc5lTM5v1zS80Gic9w9ZR0Zg2JWLqCUxS9OKo-LFmX_Duw6vGEs8cjZlVmRGM8xsERPSIfa8QmMzAjCt4kt4uCA5opK7K6y-edPJHjSE1WI/s1600/Imagem1.png" imageanchor="1" style="clear: left; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="455" data-original-width="593" height="306" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjLujrGEW5FuJVWpe4B6yItI2xVF8C6oemJCdc5lTM5v1zS80Gic9w9ZR0Zg2JWLqCUxS9OKo-LFmX_Duw6vGEs8cjZlVmRGM8xsERPSIfa8QmMzAjCt4kt4uCA5opK7K6y-edPJHjSE1WI/s400/Imagem1.png" width="400" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><b>O tempo e o nó</b></td></tr>
</tbody></table>
</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 36.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">O que se realiza em minha história é o nó entre presente passado e futuro,
incluindo o futuro anterior. O que ata os três registro é o dizer. Dizer cedo
demais pode não ter efeito algum. Dizer tarde demais não tem mais nenhuma
serventia. O dizer da enunciação só tem efeito se chegar no momento certo. O
bom momento não é o analista quem decide, é o analisante que lhe sopra. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 36.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">O real do tempo, o presente do presente, é o que o neurótico evita viver
e é o que todas as intervenções do analista tentam delimitar. O analista tem um
manejo desse real do tempo. A transferência é uma relação essencialmente ligada
ao tempo e seu manejo. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>O analisante
precisa se haver com seu presente do presente em presença do analista. O Ato do
analista deve incidir no momento certo para ter um efeito. A presença do
analista se associa ao presente do analisante. Poder viver o presente do
presente,<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>estar na hora de seu desejo é
o que a análise pode oferecer a quem atravessa a experiência. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 36.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">A segunda conferencia, proferida no sábado de manha na USP, tratou sobre
“O Corpo, o significante e a letra”.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Nela
Nominé começa falando dos efeitos do inconsciente simbólico sobre o corpo e diz
que esses podem ser </span><span lang="PT" style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-ansi-language: PT;">esses efeitos podem ser interpretados em termos de
insatisfaçã</span><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">o sexual. <table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: left; margin-right: 1em; text-align: left;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgHRXgHU-XDmepLDwN2m5xej47TLd63MstGwFhi18g8RIPfYzVfa7qU6aDRi1lXnYjqpY-G1t1OW1vpnNsyflbFCJXjhaSU9IcpHgFkIq8y2eKS2Up3LYOdyfrL7jW7vD61IajK39JGbGs5/s1600/IMG_2437.JPG" imageanchor="1" style="clear: left; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="1200" data-original-width="1600" height="240" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgHRXgHU-XDmepLDwN2m5xej47TLd63MstGwFhi18g8RIPfYzVfa7qU6aDRi1lXnYjqpY-G1t1OW1vpnNsyflbFCJXjhaSU9IcpHgFkIq8y2eKS2Up3LYOdyfrL7jW7vD61IajK39JGbGs5/s320/IMG_2437.JPG" width="320" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">O nó borromeu</td></tr>
</tbody></table>
</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 36.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">O sujeito tem um corpo. Ele não é um corpo. Essa relação do sujeito com o
corpo pode ser tomada em termos de uma estrutura de discurso, a partir do
discurso do mestre. O discurso do mestre articula a relação do corpo com o
gozo, ao tomar o primeiro como simbólico. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 36.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">O mestre é o protótipo daquele que domina seu próprio corpo. Ele renuncia
ao gozo do corpo em prol do gozo do prestígio, isto é, o gozo do significante
mestre. O escravo, ao contrário, é aquele que prefere a vida ao puro prestígio.
Ele é definido pelo gozo, mas perde a liberdade de seu corpo.</span><span style="font-size: small;"><span style="line-height: 150%;"> </span></span><br />
<span style="font-size: small;"><span style="line-height: 150%;">O mestre se priva do gozo e, o escravo, da liberdade. O corpo do escravo
passa a ser metáfora do gozo do mestre. Mas atenção, mestre e escravo não devem
ser tomados aqui como duas pessoas. Somos todos escravos do mestre (salvo
algumas exceções), pois temos que recorrer ao significante para sustentar nosso
corpo como simbólico. O S1 é o ideal, significante mestre como aquele que
supostamente conseguiu vencer o gozo. Já o S2 é o corpo como outro, marcado
pelo carimbo do significante ideal. S2 é o corpo simbólico.</span></span>
</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 36.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Nominé fala que em algumas situações o sujeito pode querer tentar reduzir
todo o ser a esse corpo do simbólico, mas que isso é um risco mortal e
exemplifica isso com o livro de Yukio Mishima “Confissões de uma Máscara”. Nele
o autor relata suas relações com os valores tradicionais do Japão e como esse
ideal acaba levando-o ao suicídio através do ritual do sepuku. <table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjuNqii0_Z11vuab94ADdbprYdPxU9dKmY9HcLt12s8kg0jceyeB2ynhe_Yjcrh26JxwHgrzFULML2O8A3URuoyGQnBu4QOlmkj6c1VPphz26ilNuJDAX0EhFmT_D-B-TB6XPZJIY4igzLc/s1600/BEYs1dSK_400x400.jpeg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="339" data-original-width="339" height="200" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjuNqii0_Z11vuab94ADdbprYdPxU9dKmY9HcLt12s8kg0jceyeB2ynhe_Yjcrh26JxwHgrzFULML2O8A3URuoyGQnBu4QOlmkj6c1VPphz26ilNuJDAX0EhFmT_D-B-TB6XPZJIY4igzLc/s200/BEYs1dSK_400x400.jpeg" width="200" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Yukio Mishima</td></tr>
</tbody></table>
</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 36.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Essa dialética do senhor e do
escravo, luta por puro prestígio, não é humanamente sustentável. Lacan vai se
afastar de Hegel, portanto, exatamente ao introduzir nessa dialética a
subjetividade do escravo. Na dialética hegeliana não entra o gozo do escravo,
apenas o gozo de seu corpo que é atribuído ao mestre. Lacan vai tomar o escravo
como sujeito.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 36.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span lang="PT" style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-ansi-language: PT;">O</span><span lang="PT" style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-ansi-language: PT;"> gozo próprio ao escravo permanece a
deriva, escapa a dialética hegeliana e difere do gozo do corpo do escravo.
Esses dois gozos não são intercambiáveis, o que é um modo de dizer que a
relação sexual não existe. </span><br />
<span lang="PT" style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-ansi-language: PT;">O Escravo gozo fora de seu corpo que é
aquele do gozo do mestre. Sendo assim há uma parte de seu ser que escapa ao
mestre. Esse gozo se condensa num objeto a ser situado fora do corpo, objeto
que e;e não sacrifica pelo mestre. Esse objeto não faz parte do corpo simbólico
e permite ao escravo não se confundir com o que é sacrificado pelo mestre.
Trata-se do gozo da vida, suporte do mistério do corpo falante. </span><br />
<div class="Corps" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 36.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span lang="PT" style="font-family: "cambria" , serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Para Nominé essa escrita é aquela de “um”, que se dá completamente
no particular. O que ata o sujeito ao corpo é algo que é produto dessa
alienação, mas que também lhe escapa. O inconsciente é uma formação de compromisso:
ao mesmo tempo em que serve ao outro fazendo metáfora do gozo do outro, ele
também se serve disso para fazer “dis-corps”, dis-corpo, um corpo discordante. </span><span lang="PT" style="font-family: "cambria" , serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">O inconsciente fabrica sentido a partir desse gozo discordante, que
permanece </span><span lang="PT" style="font-family: "cambria" , serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">à deriva. O sintoma é aí a
resposta possível, ainda que fantasiosa, ao real do corpo que escapa,
remendando a relação esquartejada do corpo com o gozo. </span><br />
<span lang="PT" style="font-family: "cambria" , serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"> É o nó borromeano que vai permitir melhor apreender qual a função desse gozo
discordante. É ele que vai ocupar o lugar de amarração entre real, simbólico e
imaginário. É o objeto a que assegura a função do nó. Objeto de separação, mas
que também assegura a junção do sujeito com seu corpo. </span></span></div>
</div>
<div class="Corpo" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 36.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="mso-ignore: vglayout;">
</span></div>
<table align="left" cellpadding="0" cellspacing="0">
<tbody>
<tr>
<td height="7" width="223"></td></tr>
<tr><td><br /></td><td><br /></td></tr>
</tbody></table>
<div class="Corps" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 36.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 36.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<br /></div>
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiwi91DtHkzIzVWn0v0b65SwGG1Pf2NEpG7jMBPtgL1Mga-5SUR0NFOlz8cXyHTQNVKV4VAXal2UW8yXu1kAqnx6AGGsPudI2auNCrSaH7qAVrP8A35JypcuGu9oirCz2voeW2yIsl_85No/s1600/Imagem2.png" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="408" data-original-width="402" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiwi91DtHkzIzVWn0v0b65SwGG1Pf2NEpG7jMBPtgL1Mga-5SUR0NFOlz8cXyHTQNVKV4VAXal2UW8yXu1kAqnx6AGGsPudI2auNCrSaH7qAVrP8A35JypcuGu9oirCz2voeW2yIsl_85No/s320/Imagem2.png" width="315" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><b>O Objeto a no centro do nó borromeano</b></td></tr>
</tbody></table>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: center; text-indent: 36.0pt;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-language: PT-BR; mso-no-proof: yes;"><br /></span><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 36.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Embora possam parecer a primeira vista, o nó borromeano e o círculo de Euler são diferentes. O nó borromeano é algo que se pode apertar e reduzir a um
ponto bem apertado. É preciso para ter uma representação do mundo que se
sustenta é preciso ter uma representação de si mesmo que seja consistente,
amarrando os registros do imaginário, do simbólico e do real.</span></div>
<div class="MsoListParagraphCxSpFirst" style="line-height: 150%; mso-list: l2 level1 lfo3; text-align: justify; text-indent: 36.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "symbol"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><span style="mso-list: Ignore;">·<span style="font: 7.0pt "Times New Roman";"> </span></span></span><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Registro
do imaginário: Nascemos imaturos neurologicamente, é o estádio do espelho,
desenvolvido por Lacan, que vai nos assegurar a ilusão de uma imagem.</span></div>
<div class="MsoListParagraphCxSpMiddle" style="line-height: 150%; mso-list: l2 level1 lfo3; text-align: justify; text-indent: 36.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "symbol"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><span style="mso-list: Ignore;">·<span style="font: 7.0pt "Times New Roman";"> </span></span></span><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Registro
simbólico: é o registro onde se localiza a morte. O corpo simbólico não é um
corpo vivo, ele é mortificado pelo simbólico. Não se pode localizar o gozo ai,
no entanto se pode gozar dele, do reconhecimento de seu ser no Outro, como
Ideal. O corpo imaginário e o corpo simbólico estão ligados entre si. É o real
que liga a imagem do corpo ao significante do Ideal. </span></div>
<div class="MsoListParagraphCxSpLast" style="line-height: 150%; mso-list: l2 level1 lfo3; text-align: justify; text-indent: 36.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "symbol"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><span style="mso-list: Ignore;">·<span style="font: 7.0pt "Times New Roman";"> </span></span></span><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Registro
do real: é o corpo que vive sem pedir nossa opinião. Não é apreendido na imagem
que fazemos de nós mesmos e também transborda o corpo simbólico que nos foi
reservado.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 36.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 36.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<iframe allowfullscreen="" class="YOUTUBE-iframe-video" data-thumbnail-src="https://i9.ytimg.com/vi/cmO3_JM-csA/default.jpg?sqp=CNDH9M8F&rs=AOn4CLBR5_Cj0D9cQqgnyWst2XE8O-VbpQ" frameborder="0" height="266" src="https://www.youtube.com/embed/cmO3_JM-csA?feature=player_embedded" width="320"></iframe></div>
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Utilizando-se de uma vinheta clinica, Nominé passa em seguida a articular
no nó borromeano os outros gozos que aí consistem. O gozo fálico está fora da
imagem do corpo. É anomálico ao gozo do corpo e mostra a cada um os limites de
seu próprio corpo. O falo não é um órgão, mas uma função simbólica regulada
pelo Outro. É a castração que vem fazer limite ao campo do imaginário. É o
objeto a que separa o gozo fálico do campo do Imaginário.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 36.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Nominé toma a clinica da histeria para exemplificar essa elaboração do nó
e toma o conceito de </span><i><span lang="PT" style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-ansi-language: PT;">Entgegenkommung </span></i><span lang="PT" style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-ansi-language: PT; mso-bidi-font-style: italic;">utilizado por Freud para falar dessa experiência do
corpo. Trata-se daquilo que foi traduzido como “complacência somática”, mas que
a ele parece uma tradução insuficiente, pois em alemão a palavra remete a “concessão”,
“boa vontade” e também “vir ao encontro”. Mas trata-se de algo que trata das
relações do somático com o psíquico no sintoma histérico. É o que fixa o
sintoma histérico a uma significação e dai que surge a repetição. O sentido em
si mesmo nunca é fixado, ele foge. O trauma não é a excitação corporal, mas a significação
que é atribuída a ele. A parte do corpo tomada no sintoma é como o grão de
areia em torno do qual a ostra vai produzir a pérola. Está em Freud essa
metáfora.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 36.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span lang="PT" style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-ansi-language: PT; mso-bidi-font-style: italic;">Mas para
Lacan a complacência somática se trata, antes, de uma recusa do corpo. A histérica
é aquela que, com seu corpo, recusa em participar totalmente do gozo do Outro
(embora ela se preste a ele de outro modo, com suas intrigas). </span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 36.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span lang="PT" style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-ansi-language: PT; mso-bidi-font-style: italic;">Para Nominé,
a complacência somática <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>é a participação
do corpo real no sintoma histérico. Ela está em concordância com a estrutura da
cadeia borromeana. O sintoma histérico da um gozo de sentido ao gozo real. O
corpo se põe a imitar o encontro de corpo a corpo que a histérica recusa.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 36.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<iframe allowfullscreen="" class="YOUTUBE-iframe-video" data-thumbnail-src="https://i9.ytimg.com/vi/ggP4h4M35zc/default.jpg?sqp=CNDH9M8F&rs=AOn4CLDJGae6ZhZLEUJOpxTiY4WC7N2WNQ" frameborder="0" height="266" src="https://www.youtube.com/embed/ggP4h4M35zc?feature=player_embedded" width="320"></iframe></div>
<span lang="PT" style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-ansi-language: PT; mso-bidi-font-style: italic;">Por fim ,
Nominé vai localizar em relação ao nó Borromeano como se dá a função da
análise e a intervenção do analista. O analista, segundo ele, deve ensinar o
analisante a “épisser”. Palavra que em francês tem o sentido de “emendar”, mas
também faz homofonia com “épicer” que significa “temperar”, colocar especiarias.
</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 36.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span lang="PT" style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-ansi-language: PT; mso-bidi-font-style: italic;">A introdução do
ato analítico não desfaz o nó. Pelo contrário, isso fica firme. Trata-se de
levar o analisante a fazer a sutura entre seu sintoma e o real parasita que
habita seu corpo. É de suturas e emendas que se trata a análise. Isso se faz
reduzindo e cortando o ponto em que o neurótico situava o gozo do Outro, pois o
Outro do Outro não existe. Essa operação amarra o </span><span lang="PT" style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-ansi-language: PT;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>o gozo fálico com o gozo do sentido, apertando
o nó em torno do que causa o desejo, ou seja, do objeto a. <span style="mso-bidi-font-style: italic;"></span></span></div>
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhVaT486scS55I0FoaOZRY0tdBRJV42AzAf46bxfMdF5lWa6iyn9JEwXrBA05zw5lP0fbp-yRjU-Jl9zrUT9DnU-MAU-QTumhq2D411_XOKmpujLabvVuXfs37M2216zFXn0C7SxZxn6BQr/s1600/Imagem3.png" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="522" data-original-width="433" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhVaT486scS55I0FoaOZRY0tdBRJV42AzAf46bxfMdF5lWa6iyn9JEwXrBA05zw5lP0fbp-yRjU-Jl9zrUT9DnU-MAU-QTumhq2D411_XOKmpujLabvVuXfs37M2216zFXn0C7SxZxn6BQr/s320/Imagem3.png" width="265" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><b>O corte e a emenda do nó</b></td></tr>
</tbody></table>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: center; text-indent: 36.0pt;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: Arial; mso-fareast-font-family: Arial; mso-fareast-language: PT-BR; mso-no-proof: yes;"><br /></span><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"></span></div>
<div class="Corps" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 36.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span lang="FR" style="font-family: "cambria" , serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"> A
interpretação tem a estrutura de um chiste. N</span><span lang="PT" style="font-family: "cambria" , serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">ão é por meio da significação que ela participa do nó,
mas da sonoridade do significante, e essa sonoridade procede de uma letra.</span><br />
<span lang="PT" style="font-family: "cambria" , serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><span id="goog_1515773827"></span><span id="goog_1515773828"></span> Por fim, tivemos ainda a realização no Fórum do Campo
Lacaniano de São Paulo da conferência intitulada “Saber fazer ou saber fazer
com”. Nominé começou essa conferencia lembrando o dever de interpretar do
analista. E ele se pergunta: será que a interpretação depende de um saber
fazer? <span style="mso-spacerun: yes;"> </span></span></div>
<div class="Corps" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 36.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span lang="PT" style="font-family: "cambria" , serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Ele responde dizendo que o saber-fazer é a coisa do
especialista do expertisse. O que está em jogo na interpretação é de outra
ordem, o saber fazer com (savoir y faire) que remete muito mais a saber se
virar com algo, a algo que é da ordem da invenção, o saber se inventa. <table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEheVqcfkLcyniyTkJW7P8aLRHalTlWMaolBDvMTQhFQ14Uz7MQ78izWgNPPMS852bzr1Tm6GNsvlZjXt0f5nA7KVqDiQwiFK0Nd5Caga5E_6DOKThKodgai5q1tNwHQxCw0UjXX5taWJYif/s1600/IMG_9152.JPG" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="1200" data-original-width="1600" height="240" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEheVqcfkLcyniyTkJW7P8aLRHalTlWMaolBDvMTQhFQ14Uz7MQ78izWgNPPMS852bzr1Tm6GNsvlZjXt0f5nA7KVqDiQwiFK0Nd5Caga5E_6DOKThKodgai5q1tNwHQxCw0UjXX5taWJYif/s320/IMG_9152.JPG" width="320" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><b>Conferência no FCL-SP traduzida por Dominique Fingermann</b></td></tr>
</tbody></table>
</span></div>
<div class="Corps" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 36.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span lang="PT" style="font-family: "cambria" , serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">O pedagogo transmite o saber. Na transmissão da
psicanálise o que se transmite é antes o desejo de saber. O savoir y faire do
analista também tem a ver com estar aí, no momento preciso. </span></div>
<div class="Corps" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 36.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span lang="PT" style="font-family: "cambria" , serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">O objeto a permanece inimaginável, ele é a volta não
contada do toro, o centro inapreensível do crosscap. Ele ex-siste, se situa
sempre ao lado (à cotê). </span></div>
<div class="Corps" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 36.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span lang="PT" style="font-family: "cambria" , serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">O centro do nó, segundo Nominé só é definível quando o nó
é feito. Os nós corrediços deslizam, é preciso, portanto identificar o centro
em torno do qual o nó se aperta. Trata-se de estreitar ao máximo aquilo em
torno do qual o trabalho de uma análise gira. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 36.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span lang="PT" style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-ansi-language: PT;">Cada circulo do nó borromeano é, em si,
um nó trivial. (pesquisando na internet encontrei que, <span style="color: black; mso-themecolor: text1;">e</span></span><span style="color: black; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">m matemática, </span><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">um nó não é um cordão enrolado, mas uma curva no espaço, fechada e que
não se auto-intersecta, formando um arranjos espacial peculiar. O adjetivo
trivial remete aos objetos topológicos – nós - que têm uma estrutura muito
simples, que pode facilmente ser provado ou definido. A origem do termo em
linguagem matemática vem do <span style="color: black; mso-themecolor: text1;">currículo
trivium </span>medieval, formado pela lógica, gramática e retórica). </span><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">A cadeia
borromeana é um arranjo formado por três nós triviais. </span> <a href="https://super.abril.com.br/ciencia/no-da-matematica/#" target="_blank">Para saber mais, clique aqui.</a> </span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 36.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 36.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">O nó
é efeito de um dizer que causa um acontecimento. Ele também implica o tempo,
que por sua vez é uma das funções do objeto a. Não é o analista que decide o
momento oportuno (Kairós), é o analisante quem lhe indica sem saber</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 36.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Para
Nominé o esforço de Lacan em realizar essa amarração é anterior aos nós
borromeus e remete a construção do grafo do desejo, mas essa tentativa se
mostrou insuficiente. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 36.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">O
Objeto a surge de um nó de sentido, mas o cerne dessa amarração é um “pas de
sense”, significante que em francês faz homofonia entre o sem sentido e um
passo de sentido. É o chiste que faz aparecer o cerne do "pas de sense". Aceder a
isso é contar de outra forma para saborear de outro lugar essa operação. Aquilo
com que se ata o Imaginário e o Simbólico é o real do significante. Nominé da
o exemplo de um chiste de um governante que morre nos braços de uma prostituta. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 36.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<iframe allowfullscreen="" class="YOUTUBE-iframe-video" data-thumbnail-src="https://i9.ytimg.com/vi/mvl1uxz1COE/default.jpg?sqp=CNDH9M8F&rs=AOn4CLAiDQtVwewr7ySa_5giZc2jjlb-9w" frameborder="0" height="266" src="https://www.youtube.com/embed/mvl1uxz1COE?feature=player_embedded" width="320"></iframe></div>
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">A
interpretação deve ter a estrutura do chiste, trazendo a surpresa. Aqui ele
traz duas referencias interessantes, uma delas é a de Shakespeare: “ A fortuna
de um gracejo está no ouvido de quem escuta, nunca na língua de quem o faz”. A
outra referência é a de Teodor Reik , que escreveu o livro “O Psicólogo surprendido” (Clique <a href="http://www.denoel.fr/Catalogue/DENOEL/L-Espace-analytique/Le-Psychologue-surpris" target="_blank">aqui</a> para ver uma resenha).
Para Reik o psicanalista será s</span><span lang="PT" style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-ansi-language: PT; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">urpreendido pelas emergências do inconsciente tanto
nele mesmo, quanto no paciente. E ele deve ser capaz de permanecer se surpreendendo
para permanecer agindo como analista, mantendo vivo em si mesmo o caminho
iniciado durante sua psicanálise pessoal. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 36.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span lang="PT" style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-ansi-language: PT; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Essa presença do analista é ao mesmo tempo, um
tempo e um lugar, um “dizer que não” que faz o corte. Para que o analista
apreenda esse “saber fazer com” não basta repetir o que Lacan disse, é preciso
se colocar na experiência. O sinthome elaborado por Lacan remete a que cada um
saiba fazer algo de seu gozo, algo que seja suportável, tirando o melhor de si. </span><br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<iframe allowfullscreen="" class="YOUTUBE-iframe-video" data-thumbnail-src="https://i9.ytimg.com/vi/cr8Cn7Bl-HA/default.jpg?sqp=CNDH9M8F&rs=AOn4CLAzJ67ZtounUe-67cTFZ4bFxORrIQ" frameborder="0" height="266" src="https://www.youtube.com/embed/cr8Cn7Bl-HA?feature=player_embedded" width="320"></iframe></div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 36.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span lang="PT" style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-ansi-language: PT; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">E agora, finalizando o rascunho e a tentativa de
amarração de tudo que ouvi e vivi de forma intensa esses dias em São Paulo, vou
me aventurando a elaborar algo sobre o que estava em jogo quando pensamos na
amarração borromeana dessas três conferências. </span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgSF5J8Ut7ogm_M7gv3w39gnocNFE7whEO6HXvgwjKsb_XwuWriCk4x8wjamPpRXAMhz2hPKFVP4e-9EbQuM8FQD6exqe_M_3pYbJKTeuIWZfHnCFmten9a_JwCBWYiejZcNptr_g_1brX7/s1600/IMG_7669.JPG" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1200" data-original-width="1600" height="240" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgSF5J8Ut7ogm_M7gv3w39gnocNFE7whEO6HXvgwjKsb_XwuWriCk4x8wjamPpRXAMhz2hPKFVP4e-9EbQuM8FQD6exqe_M_3pYbJKTeuIWZfHnCFmten9a_JwCBWYiejZcNptr_g_1brX7/s320/IMG_7669.JPG" width="320" /></a></div>
<br />
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEieBYSjKbSE3_gXcY7H9JD1FLCfHxlO8mKfV2i9PO2D-p36GIOQow2-frfaOLTF649-EGHdZ6WIbscnOuWdRo5IPhxpE9isff7lSeIJkLxgk4aBa0bDlDtjnMwUv55wqPxnq1mRHAlnfpiY/s1600/IMG_5243.JPG" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="1200" data-original-width="1600" height="240" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEieBYSjKbSE3_gXcY7H9JD1FLCfHxlO8mKfV2i9PO2D-p36GIOQow2-frfaOLTF649-EGHdZ6WIbscnOuWdRo5IPhxpE9isff7lSeIJkLxgk4aBa0bDlDtjnMwUv55wqPxnq1mRHAlnfpiY/s320/IMG_5243.JPG" width="320" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><b>Algumas amigas que estiveram por lá</b></td></tr>
</tbody></table>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 36.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span lang="PT" style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-ansi-language: PT; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Do tempo como modo de pensar os registro do
imaginário (presente do passado), simbólico (presente do futuro) e real
(presente do presente) Nominé extraiu o objeto <i>a </i>como o atemporal de cada
sujeito. Gozo discordante com a programação dos ideais coletados do Outro, é
ele quem permite uma amarração possível entre s três registros, mas ao mesmo
tempo mantendo uma distância necessária entre cada um deles. Essa delimitação
tão clara é o que não existe sem uma análise. Sem os ditos que se desenrolam
trivialmente em uma análise, repetidos à exaustão, não existe borda, não existe
furo. Ou melhor, os furos estão todos recobertos, preenchidos pelo sentido atribuídos
ao gozo do Outro. Cortar esse ponto de gozo e emendar de outra maneira o gozo fálico
e o gozo do sentido é o que vai permitir ao sujeito inventar outra maneira de
se virar com o gozo anomálico e saber fazer com isso. </span><br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<iframe allowfullscreen="" class="YOUTUBE-iframe-video" data-thumbnail-src="https://i9.ytimg.com/vi/8hWq_zjn6-M/default.jpg?sqp=CNDH9M8F&rs=AOn4CLDyy9oxZQGKVCSyLH6PocIpH6mC0Q" frameborder="0" height="266" src="https://www.youtube.com/embed/8hWq_zjn6-M?feature=player_embedded" width="320"></iframe></div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 36.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span lang="PT" style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-ansi-language: PT; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Na costura dessas três conferencias, percebi que
elas se transpassam em pelo menos dois pontos (pontes e túneis?): </span><br />
<span lang="PT" style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-ansi-language: PT; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">1 – não basta
repetir o que Freud disse, o que Lacan disse, (nem mesmo o que Nominé disse), é
preciso se arriscar na experiência, experimentar. Não ter medo de se aventurar
pelo desconhecido, inclusive pelo desconhecido da matemática e da topologia que
as vezes provoca resistências entre nós. Urge nos dedicarmos a isso se
quisermos estar a altura de nossa tarefa; 2- A interpretação é um dizer com
estrutura de um chiste. Ela exige, do lado do analista, que este esteja
presente no lugar certo. E do lado do analisante que seja ele a soprar para o
analista que momento é esse.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 36.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span lang="PT" style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-ansi-language: PT; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Outros desdobramentos dessa experimentação que
foram esses dias em Sampa certamente se farão ouvir.</span><br />
<div style="text-align: center;">
<span lang="PT" style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-ansi-language: PT; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">***************************************************** </span></div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 36.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<br /></div>
<div class="Corps" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 36.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
PS: os trechos das mídias divulgados nessa página foram autorizados pelo autor.</div>
<div class="Corps" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 36.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<br /></div>
<div class="Corps" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 36.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
PS2: atualizando a postagem hoje, 04 de novembro, com o trabalho da artista plástica F<a href="https://www.facebook.com/fabiana.azeredo.1/about?lst=1085876005%3A100001661638284%3A1509811700" target="_blank">abiana Azeredo</a>, <span class="fbPhotosPhotoCaption" data-ft="{"tn":"K"}" id="fbPhotoSnowliftCaption" tabindex="0"><span class="hasCaption">intitulado "Nós do nó" ( Posca sobre papel Fabriano 22x33) inspirado na leitura do texto acima.</span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 36.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 36.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgYjybobYP2uHJxnOOIZ6fW59ehHG6powGx0jhP3Mzl36drd-nh87d4wqtWl_IQXiAaOTp5Xd40MxI94_uxUN7L3BeCHoD30Nfe7wQlFzAKDytJIXxYkWLiyQZtv5i8Az8vDi2seCPUI7Vo/s1600/23032599_1564861406912565_2197357594371620625_n.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="960" data-original-width="641" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgYjybobYP2uHJxnOOIZ6fW59ehHG6powGx0jhP3Mzl36drd-nh87d4wqtWl_IQXiAaOTp5Xd40MxI94_uxUN7L3BeCHoD30Nfe7wQlFzAKDytJIXxYkWLiyQZtv5i8Az8vDi2seCPUI7Vo/s640/23032599_1564861406912565_2197357594371620625_n.jpg" width="426" /></a></div>
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 36.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 36.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<br /></div>
Lia Silveirahttp://www.blogger.com/profile/01914928244809718150noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-7548064999185896208.post-51854235344868040102016-07-20T15:36:00.000-03:002016-07-20T15:36:07.780-03:00A Psicanálise nos Tempos do Cólera ou algumas palavras sobre a apresentação “Parcerias amorosas e laços sociais[1]”
<style>@font-face {
font-family: "Times";
}@font-face {
font-family: "Times";
}@font-face {
font-family: "Cambria";
}@font-face {
font-family: "MS Mincho";
}p.MsoNormal, li.MsoNormal, div.MsoNormal { margin: 0cm 0cm 0.0001pt; font-size: 10pt; font-family: Cambria; }p.MsoFootnoteText, li.MsoFootnoteText, div.MsoFootnoteText { margin: 0cm 0cm 0.0001pt; font-size: 12pt; font-family: Cambria; }span.MsoFootnoteReference { vertical-align: super; }p { margin-right: 0cm; margin-left: 0cm; font-size: 10pt; font-family: Times; }span.FootnoteTextChar { font-family: Cambria; }span.textexposedshow { }.MsoChpDefault { font-size: 11pt; }div.WordSection1 { }ol { margin-bottom: 0cm; }ul { margin-bottom: 0cm; }</style>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg4qN6jgM-bXmrvNZxMqFyjsT1GX2x6kWpNtPoIJ8l4NW8Uzkedrzdmo23L09Xg7yL9nzOg-_eh8yu805yJASPYWfLJO_NieZvpwBWhAVXXjzm60BWP-A-htJNcRxevY7i_6oD0v2lr9JIA/s1600/IMG_4942-COLLAGE.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg4qN6jgM-bXmrvNZxMqFyjsT1GX2x6kWpNtPoIJ8l4NW8Uzkedrzdmo23L09Xg7yL9nzOg-_eh8yu805yJASPYWfLJO_NieZvpwBWhAVXXjzm60BWP-A-htJNcRxevY7i_6oD0v2lr9JIA/s320/IMG_4942-COLLAGE.jpg" width="320" /></a></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="margin-bottom: 12.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; mso-layout-grid-align: none; mso-list: l0 level1 lfo1; mso-pagination: none; tab-stops: 0cm 11.0pt; text-align: center; text-autospace: none; text-indent: 0cm;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 14.0pt;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 14.0pt;">“Aceitem as regras e
estarão conectados!”, informou uma das organizadoras do evento enquanto a mesa,
composta por reconhecidos nomes da psicanálise, se acomodava. A frase dizia
respeito a um probleminha que tinha ocorrido com a rede de wifi e que agora
precisava ser registrada para que pudéssemos acessá-la.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Mas lembrada a posteriori, parece mais um prenúncio
do que se seguiria. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 14.0pt;">Freud, em 19 de abril de
1935, escreveu numa carta à uma mãe de um jovem homossexual: </span></div>
<div style="text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 14.0pt;">“(...) <span class="textexposedshow">Não tenho dúvidas que a homossexualidade não representa
uma vantagem, no entanto, também não existem motivos para se envergonhar dela,
já que isso não supõe vício nem degradação alguma. Não pode ser qualificada
como uma doença e nós a consideramos como uma variante da função sexual,
produto de certa interrupção no desenvolvimento sexual. Muitos homens de grande
respeito da Antiguidade e Atualidade foram homossexuais, e dentre eles, alguns
dos personagens de maior destaque na história como Platão, Miguel Ângelo,
Leonardo da Vinci, etc. É uma grande injustiça e também uma crueldade,
perseguir a homossexualidade como se esta fosse um delito.”</span></span></div>
<div style="text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<span class="textexposedshow"><span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 14.0pt;">Nem
precisávamos desse posicionamento explícito do pai da psicanálise para
deduzirmos que o campo do saber por ele inventado, rechaça qualquer
interpretação da sexualidade humana como normatizada: a sexualidade infantil
perverso-polimorfa, a variedade ampla do objeto da pulsão, a bissexualidade originária,
a dupla vertente do édipo, enfim. </span></span></div>
<div style="text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<span class="textexposedshow"><span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 14.0pt;">Por
isso, passados mais de 80 anos da carta mencionada acima, tendemos a pensar
(pelo menos entre quem está engajado em uma comunidade de analistas) que a
transferência com a psicanálise, por si só, seria uma garantia de um
posicionamento mais aberto acerca da desnaturalização da sexualidade humana. Especialmente
entre os ditos “lacanianos”, acostumados que estão com a leitura da entrada no
simbólico como subvertendo tudo que pudesse ser tomado como instintual.</span></span></div>
<div style="text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<span class="textexposedshow"><span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 14.0pt;">Mas
o trabalho apresentado por Antonio Quinet no </span></span><span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 14.0pt;">IX Encontro da IF/ EPFCL
Brasil em Medellin, Colômbia, alertou a uma plateia, atônita, que não é bem
assim. Reunindo trechos de textos e falas proferidas em entrevistas por alguns
analistas contemporâneos, Quinet mostrou como tem sido frequente o recurso de
certos psicanalistas à teoria psicanalítica para se posicionarem contrariamente
a temas da atualidade como o casamento homoafetivo e a adoção homoparental. </span></div>
<div style="text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 14.0pt;">Um afeto de horror
atravessou a plateia que, entre “ohhhs” e “uhhhs”, ouvia os relatos de
declarações homofóbicas (ou homoterroristas, como chamou o autor do trabalho)
que reduziam a diferença sexual à anatomia e o Édipo Freudiano à noção de
família nuclear burguesa “com pai, mãe e filho natural registrado em cartório e
batizado”. Algumas declarações chegavam a associar a homossexualidade a uma
perversão inata a esses sujeitos e a comparar a adoção de crianças por casais
homoparentais às ações do “Estado Islâmico”. (Isso enquanto ouvíamos pelos
corredores do evento as notícias sobre o atentado em Nice e ainda guardávamos
na lembrança o pesadelo do ocorrido em Orlando). </span></div>
<div style="text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 14.0pt;">Durante a apresentação,
o sistema de som (ou de tradução) falha temporariamente. Um real que se
atravessa? Quinet resume o que já havia apresentado e rebate todas as teses
homofóbicas com argumentos brilhantemente ancorados na obra freudo-lacaniana e
na sua própria experiência com a psicanálise.</span></div>
<div style="text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 14.0pt;">Enquanto o escuto, suas
palavras vão se encontrando e afetando outras memórias. Uma delas ecoava mais
forte: o assassinato de uma criança, João Donati, de 18 anos, </span><span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 14.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">na cidade goiana de Inhumas. O jovem teve suas<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>pernas quebradas, foi torturado e enforcado. Em
sua boca encontraram um bilhete, escrito pelo assassino, que fazia menção ao
fato de ele ser homossexual.</span></div>
<div style="text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 14.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Até escrever esse texto, não sabia porque essa memória tinha
se presentificando com tanta força ao ouvir a apresentação de Quinet. Talvez
porque soube dela como uma invasão do real (estamos todos conectados, para o
bem e para o mal): acessava a linha do tempo do Facebook e, sem ter tempo de
decidir se queria mesmo ver aquilo, aparece-me uma foto do corpo do rapaz como
foi encontrado em um terreno baldio, desfigurado, ao lado de uma foto de seu
perfil na rede social. Podia ser meu filho, podia ser o filho de um amigo. Foi
demais.</span></div>
<div style="text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 14.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Mas ao pesquisar para falar aqui desse caso, lembrei o que
dizia o bilhete encontrado no corpo de João: “Vamos acabar com essa praga”. Foi
esse significante “praga” que encadeou minha lembrança à fala de Quinet que, por
sua vez ressoava com outro comentário proferido, nesse mesmo encontro, por
Colette Soler: a psicanálise não se transmite pelo saber, ela é, antes
epidêmica, transmitida como uma praga. Já disse Freud quando ia visitar os
americanos: “Eles não sabem que estou indo lá levar a peste”.</span></div>
<div style="text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 14.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">De um lado, o objeto de ataques terroristas (e
homoterroristas) do outro, a psicanálise. O que eles tem em comum? Ambos
convocam o real, ambos tocam a peste. Mas não certamente da mesma maneira. O
discurso analítico é o único que permite fazer algo frente a isso que irrompe
como diferença insuportável, mas que habita o cerne do nosso ser. Permite
tocá-lo sem precisar destruí-lo, aniquilá-lo, torturá-lo e matá-lo. </span></div>
<div style="text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 14.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Por fim, uma outra epidemia entra na minha cadeia
associativa. Enquanto passeava pelas ruas mágicas de Cartagena (ali entendemos
de onde vem o realismo fantástico de Gabriel Garcia Marques<a href="https://www.blogger.com/blogger.g?blogID=7548064999185896208#_ftn2" name="_ftnref2" style="mso-footnote-id: ftn2;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 14.0pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: EN-US;">[2]</span></span></span></span></a>)
lia nas horas de descuido “O Amor nos Tempo do Cólera”. Ao ser tomada pelas
histórias de Fermina Daza, Florentino Ariza e Juvenal Urbino e fazê-las
encontrar com o que ouvi na apresentação de Antonio Quinet, lembrei da frase de
um desses personagens: “...lhe tinha amor bastante para vê-la com olhos de
verdade."<a href="https://www.blogger.com/blogger.g?blogID=7548064999185896208#_ftn3" name="_ftnref3" style="mso-footnote-id: ftn3;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 14.0pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: EN-US;">[3]</span></span></span></span></a></span></div>
<div style="text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 14.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Não é qualquer amor que permite ver o outro com olhos de
verdade, é o que nos diz Gabo. No que diz respeito às parcerias amorosas, aceitar
as regras não é garantia de que estejamos conectados. Há sempre um gozo
estranho que se atravessa e que é impossível de conectar. </span></div>
<div style="text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 14.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Fica a pergunta: seria possível hoje, em tempos de surto de
cólera (do afeto, mais que da bactéria), pensarmos uma psicanálise que responda
à questões da atualidade como uma possibilidade de um novo amor, um amor que
seja bastante para que possamos ver o outro com os olhos da verdade, sem que
isso nos leve a querer destruí-lo? A apresentação de Quinet me faz acreditar
que sim, sob o preço de que não nos calemos e de que não façamos da psicanálise
uma justificativa para nos adequarmos às regras.</span></div>
<div style="text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<br /></div>
<div style="mso-element: footnote-list;">
<br clear="all" />
<hr align="left" size="1" width="33%" />
<div id="ftn1" style="mso-element: footnote;">
<div class="MsoFootnoteText">
<a href="https://www.blogger.com/blogger.g?blogID=7548064999185896208#_ftnref1" name="_ftn1" style="mso-footnote-id: ftn1;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-family: Cambria; font-size: 12.0pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: "MS Mincho"; mso-fareast-language: EN-US;">[1]</span></span></span></span></a> <span style="font-family: "Times New Roman";">“</span><span lang="EN-US" style="font-family: "Times New Roman"; mso-ansi-language: EN-US;">Parcerias
amorosas e laços sociais” é o título da apresentação proferida por<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Antonio Quinet no IX Encontro da IF/ EPFCL
Brasil em Medellin, Colômbia</span><span lang="EN-US" style="mso-ansi-language: EN-US;"></span></div>
</div>
<div id="ftn2" style="mso-element: footnote;">
<div class="MsoFootnoteText">
<a href="https://www.blogger.com/blogger.g?blogID=7548064999185896208#_ftnref2" name="_ftn2" style="mso-footnote-id: ftn2;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-family: Cambria; font-size: 12.0pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: "MS Mincho"; mso-fareast-language: EN-US;">[2]</span></span></span></span></a>
Categoria que ele mesmo rejeitava: <span style="mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">"é
só realismo. A realidade que é mágica. Não invento nada. Não há uma linha nos
meus livros que não seja realidade. Não tenho imaginação".</span><span lang="EN-US" style="mso-ansi-language: EN-US;"></span></div>
</div>
<div id="ftn3" style="mso-element: footnote;">
<div class="MsoFootnoteText">
<a href="https://www.blogger.com/blogger.g?blogID=7548064999185896208#_ftnref3" name="_ftn3" style="mso-footnote-id: ftn3;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-family: Cambria; font-size: 12.0pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: "MS Mincho"; mso-fareast-language: EN-US;">[3]</span></span></span></span></a> <span style="mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Marques, Gabriel Garcia. O
Amor nos Tempos do Cólera. Rio de Janeiro, Record, 1985.</span><span lang="EN-US" style="mso-ansi-language: EN-US;"></span></div>
</div>
</div>
Lia Silveirahttp://www.blogger.com/profile/01914928244809718150noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-7548064999185896208.post-51416974215633928352015-06-29T15:51:00.000-03:002015-07-24T11:54:35.915-03:00What Happened, Miss Simone? <style>
<!--
/* Font Definitions */
@font-face
{font-family:"Cambria Math";
panose-1:2 4 5 3 5 4 6 3 2 4;
mso-font-charset:0;
mso-generic-font-family:auto;
mso-font-pitch:variable;
mso-font-signature:-536870145 1107305727 0 0 415 0;}
@font-face
{font-family:Cambria;
panose-1:2 4 5 3 5 4 6 3 2 4;
mso-font-charset:0;
mso-generic-font-family:auto;
mso-font-pitch:variable;
mso-font-signature:-536870145 1073743103 0 0 415 0;}
@font-face
{font-family:"MS Mincho";
panose-1:0 0 0 0 0 0 0 0 0 0;
mso-font-alt:"MS 明朝";
mso-font-charset:128;
mso-generic-font-family:roman;
mso-font-format:other;
mso-font-pitch:fixed;
mso-font-signature:1 134676480 16 0 131072 0;}
/* Style Definitions */
p.MsoNormal, li.MsoNormal, div.MsoNormal
{mso-style-unhide:no;
mso-style-qformat:yes;
mso-style-parent:"";
margin:0cm;
margin-bottom:.0001pt;
mso-pagination:widow-orphan;
font-size:10.0pt;
font-family:Cambria;
mso-fareast-font-family:"MS Mincho";
mso-bidi-font-family:"Times New Roman";}
.MsoChpDefault
{mso-style-type:export-only;
mso-default-props:yes;
font-size:11.0pt;
mso-ansi-font-size:11.0pt;
mso-bidi-font-size:11.0pt;
mso-fareast-font-family:"MS Mincho";}
@page WordSection1
{size:595.0pt 842.0pt;
margin:72.0pt 90.0pt 72.0pt 90.0pt;
mso-header-margin:35.4pt;
mso-footer-margin:35.4pt;
mso-paper-source:0;}
div.WordSection1
{page:WordSection1;}
</style>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj94aBHlOpE1WBV0ngQ0KWRlcJrLw2_M5_U5Z6h_ZvJfpgIcWiApDpZvdSzK6E7j8rA0sNOuKdDy5rbd9sAN_lsDtuX9pVzlKAjbmkxyeceqH_drKrTiT7t1kPRiLg8JTmsJ6DADEJaq-c5/s1600/nina-simone-bl-1-t30-e2.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="200" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj94aBHlOpE1WBV0ngQ0KWRlcJrLw2_M5_U5Z6h_ZvJfpgIcWiApDpZvdSzK6E7j8rA0sNOuKdDy5rbd9sAN_lsDtuX9pVzlKAjbmkxyeceqH_drKrTiT7t1kPRiLg8JTmsJ6DADEJaq-c5/s400/nina-simone-bl-1-t30-e2.jpg" width="400" /></a></div>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt;">O aguardado documentário
sobre a vida de Nina Simone, uma das maiores vozes do século XX, não
desapontou. A diretora Liz Garbus soube compor um mosaico sobre a vida e obra
da cantora que passa longe de uma simples exaltação. A pergunta título já deixa
entrever o que vamos encontrar ali: uma história demasiado humana e que, por
isso mesmo, nos cativa.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt;">What happened, miss Simone?
Poderia ser respondia de diversas maneiras: pelo viés político, artístico,
histórico. Mas, sem deixar de lado a importância de nenhuma dessas facetas, foi
a mulher que encontrei ali que me tomou. Logo nas primeiras cenas, temos uma
Nina que sobre ao palco em Montreux com um olhar ausente, perdida em meio aos
aplausos que chovem. Talvez ela mesmo se pergunte neste momento: what happened?</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt;">Nascida Eunice Waymon, em
meio a segregação racial da Carolina do Norte,<span style="mso-spacerun: yes;">
</span>se encantou por<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: right; margin-left: 1em; text-align: right;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgpSi0f1ui-vOETi6hCD49TMwIAh-cvUhD7OoLDvkDNvFVpJ8XJpVCi_Dil-eiyaHeb-7Tur-QtKTvX15Lzy84xjfaFxDKvhq_w79RljnSveXaTrRCt9b1wkMvGX9yZLTjFJaZJAE2W-CYs/s1600/segregated_water_fountains_1950.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img alt="" border="0" height="209" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgpSi0f1ui-vOETi6hCD49TMwIAh-cvUhD7OoLDvkDNvFVpJ8XJpVCi_Dil-eiyaHeb-7Tur-QtKTvX15Lzy84xjfaFxDKvhq_w79RljnSveXaTrRCt9b1wkMvGX9yZLTjFJaZJAE2W-CYs/s320/segregated_water_fountains_1950.jpg" title="" width="320" /><span style="font-size: 12.0pt;"><table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: right; margin-left: 1em; text-align: right;"><tbody>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"></td><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><br /></td></tr>
</tbody></table>
</span></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Bebedouros separam brancos e negros nos anos 50</td><td class="tr-caption" style="text-align: center;"></td><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><br /></td><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><br /></td></tr>
</tbody></table>
Bach na década de 40 e traçou uma carreira de sucesso
que a levaria ao Carnegie Hall. Apesar da paixão pelo piano clássico, foi como
cantora de jazz e blues que se revelou ao mundo. Tocar e cantar nos bares
tornou-se a única alternativa para a filha de uma empregada doméstica com um
marceneiro. Foi essa vicissitude do destino quem deu ao mundo o prazer de
conhecer a voz robusta e aveludada de Nina (menina, como era chamada por um
namorado) Simone (em homenagem a atriz Simone Signoret). </span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt;">A composição escolhida para
se re-nomear revela um ideal : a menina,<span style="mso-spacerun: yes;">
</span>branca, bem-sucedida, sensual e politicamente engajada, encarnada na
atriz francesa com quem compartilha um mesmo sonho de liberdade. O encontro com
seu grande amor, Andy, talvez tenha sido o primeiro descobrimento dessa imagem
(todo amor, afinal, não é ao mesmo tempo narcísico e objetal?) A menina cai de
amores pelo policial durão, pois ele “sabia o que queria”. Ele a protege,
organiza sua vida, passa a ser seu empresário e lhe dá a segurança de que
precisava para enfrentar o show business. Mas é este mesmo amor que vai
revelar-se em sua face mais cruel, empurrando-a para o trabalho além das forças
e espancando-a quando desobedecia.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>“Ele
me assustava”, dizia Nina, “mas eu o amava e achava que ele ia mudar”. História
tão conhecida essa, dessas mulheres, brancas, negras, americanas, brasileiras,
que por amor, se deixam (ou se fazem) destruir. What Happened, miss Simone?
Como o sonho de liberdade acabou flertando com os grilhões de uma relação
abusiva? </span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt;">Uma palavra que ricocheteia
em todo documentário, talvez seja a senha para respondermos à pergunta: <i style="mso-bidi-font-style: normal;">anger</i>. Seja uma raiva auto dirigida, nos
momentos de depressão; seja nos ataques no palco, onde exigia a atenção que um
pianista clássico merecia; seja quando dirigia essa raiva para a filha ainda
criança: “minha mãe era movida pela fúria”, afirma Lisa Simone em determinado ponto.
Foi essa mesma “fúria” que a permitiu, depois de muitos anos, separar-se de
Andy, engajar-se no ativismo pelos direitos civis e fazer disso uma causa. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span> </span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt;">Nessa militância ela usa toda sua raiva em prol do ativismos politico, culminando com "Mississipi, Goddam!". Algo como "Misssissipi, puta que pariu!", música feita após a morte de quatro crianças negras num ataque a uma igreja. Ela disse o que estava engasgado e todo mundo queria dizer. Mas sua raiva levou-a mais longe, chegando a divergir de Luther King quanto ao uso da violência. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt;">“Are you ready black people? Are you ready to
smash white things?”, ouvimos uma Nina quase em transe instigando o público em
um de seus shows. O circuito pulsional faz seu trottoir onde "bater" e "ser batido" são duas faces da mesma moeda. “Strange Fruit” essa que
carregamos no ventre, que vemos com horror (como o poema cantado <table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: right; margin-left: 1em; text-align: right;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh9K_sLoOKimDwaq3bkP2OsI8dySh6hYsd_FqQzz5TCykQLuCPGwQ6QlE4Pl3RCd-T1CG9oAeA1w3y5XPbhRARNOVPVmTf8zKVS9b8A5y_N3WPKr7EufU_Zy4u6utnPgc9_7tiEPy4pZhHA/s1600/beitler.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="245" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh9K_sLoOKimDwaq3bkP2OsI8dySh6hYsd_FqQzz5TCykQLuCPGwQ6QlE4Pl3RCd-T1CG9oAeA1w3y5XPbhRARNOVPVmTf8zKVS9b8A5y_N3WPKr7EufU_Zy4u6utnPgc9_7tiEPy4pZhHA/s320/beitler.jpg" width="320" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Negros linchados em indiana, origem do poema "Srange Fruits"</td></tr>
</tbody></table>
por Nina diz),
balançando nas árvores para apodrecer como os cadáveres dos negros linchados em Indiana, mas que também encontramos em nós mesmos como nossa causa mais
íntima.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Estranho familiar, diria Freud.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt;">Nina sonhava com a liberdade,
mas quando se desvencilhou das garras de Andy, não soube o que fazer com ela.
Destruiu-se e perdeu tudo que tinha e, quando já era uma lenda, se viu
completamente perdida cantando em bares anônimos de Paris.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt;">Essa história me lembrou uma
outra. A de Ysé, contada por Paul Claudel, e retomada por Colete Soler em seu
livro “O que Lacan dizia das mulheres”.<span style="mso-spacerun: yes;">
</span>Frente a iminência da partida de seu amante para a guerra, Ysé lhe
implora que não vá. Ele se vangloria: Então, no fim a gente tem que confessar
que precisa mesmo é do marido! Mas Ysé lhe arranca o pedestal: “Não confie
muito em mim. Não sei, sinto em mim uma tentação... E peço que não me venha
essa tentação, porque não convém... De que precisa uma mulher, senão de
segurança, como a abelha atarefada na colmeia, limpinha e bem fechada? E não
esta liberdade assustadora!” </span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt;">Diz Colete Soler: “Não era
contra os perigos da China que ela fazia seu apelo, mas contra a coisa mais
próxima. Em síntese, Ysé lhe diz: proteja-me de mim mesma.” </span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt;">Acho que podemos ler na
história de Nina também um apelo, algo que a defendesse dessa liberdade
assustadora onde, no final do trilho, o que encontramos, são corpos decompostos
balançando numa árvore. Strange Fruits. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt;">O mérito do documentário foi, além de nos proporcionar momentos belíssimos em companhia de Miss Simone, mostrar os diversos ângulos de Nina: da entrega amorosa à fúria odienta, sem
reduzi-la a nenhum deles, mostrando-a susceptível de todas as paixões humanas.
Assim como qualquer um de nós. </span><br />
<br />
Afinal, no one can always be an angel, não é Miss Simone?<br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<iframe allowfullscreen="" class="YOUTUBE-iframe-video" data-thumbnail-src="https://i.ytimg.com/vi/EcKHuvkAEDM/0.jpg" frameborder="0" height="266" src="https://www.youtube.com/embed/EcKHuvkAEDM?feature=player_embedded" width="320"></iframe></div>
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
Lia Silveirahttp://www.blogger.com/profile/01914928244809718150noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-7548064999185896208.post-38800068291227650652015-05-29T15:51:00.003-03:002015-05-30T18:45:24.066-03:00Análise, supervisão e desejo do analista: enlaces e desenlaces de uma valsa <style>@font-face {
font-family: "Times";
}@font-face {
font-family: "Cambria Math";
}@font-face {
font-family: "Cambria";
}@font-face {
font-family: "MS Mincho";
}p.MsoNormal, li.MsoNormal, div.MsoNormal { margin: 0cm 0cm 0.0001pt; font-size: 10pt; font-family: Cambria; }p.MsoFootnoteText, li.MsoFootnoteText, div.MsoFootnoteText { margin: 0cm 0cm 0.0001pt; font-size: 12pt; font-family: Cambria; }p.MsoFooter, li.MsoFooter, div.MsoFooter { margin: 0cm 0cm 0.0001pt; font-size: 10pt; font-family: Cambria; }span.MsoFootnoteReference { vertical-align: super; }p.MsoListParagraph, li.MsoListParagraph, div.MsoListParagraph { margin: 0cm 0cm 0.0001pt 36pt; font-size: 10pt; font-family: Cambria; }p.MsoListParagraphCxSpFirst, li.MsoListParagraphCxSpFirst, div.MsoListParagraphCxSpFirst { margin: 0cm 0cm 0.0001pt 36pt; font-size: 10pt; font-family: Cambria; }p.MsoListParagraphCxSpMiddle, li.MsoListParagraphCxSpMiddle, div.MsoListParagraphCxSpMiddle { margin: 0cm 0cm 0.0001pt 36pt; font-size: 10pt; font-family: Cambria; }p.MsoListParagraphCxSpLast, li.MsoListParagraphCxSpLast, div.MsoListParagraphCxSpLast { margin: 0cm 0cm 0.0001pt 36pt; font-size: 10pt; font-family: Cambria; }span.FootnoteTextChar { font-family: Cambria; }span.il { }span.FooterChar { font-family: Cambria; }.MsoChpDefault { font-size: 11pt; }div.WordSection1 { page: WordSection1; }ol { margin-bottom: 0cm; }ul { margin-bottom: 0cm; }</style>
<br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjP9t7WVn_NA46d5sUIbL-4MfcAqZ_mMavGL4gSB9rjxB8iI7g-ncke3e9LVihI2mI6hRMtI8_6IYf_UfrPG46PZT0v0DUrbRw5MauPpskfdwS0GV-jKG2_wx58HCmm7AimUq6EX9Bpj7V6/s1600/imagens-de-notas-musicais-coloridas.png" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="152" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjP9t7WVn_NA46d5sUIbL-4MfcAqZ_mMavGL4gSB9rjxB8iI7g-ncke3e9LVihI2mI6hRMtI8_6IYf_UfrPG46PZT0v0DUrbRw5MauPpskfdwS0GV-jKG2_wx58HCmm7AimUq6EX9Bpj7V6/s200/imagens-de-notas-musicais-coloridas.png" width="200" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">O famoso “tripé”
da formação do analista: análise (<b style="mso-bidi-font-weight: normal;">um</b>),
supervisão (<b style="mso-bidi-font-weight: normal;">dois</b>), estudo teórico (<b style="mso-bidi-font-weight: normal;">tres</b>) talvez seja o ponto pacífico
para<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>a maioria das<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>entidades psicanalíticas. Desde a IPA até a
Escola lacaniana, todos repetem isso que já virou quase um bordão. O problema é
que, aprendemos no divã, às vezes aquilo que é repetido resta esquecido por
trás do que se diz no que se ouve. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Talvez<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>seja esse o caso do que acontece com a
supervisão, ovelha negra desse tripé, não parece ter despertado tanto
interesse, pelo menos no que diz respeito a elaboração desta experiência.</span><br />
</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">No entanto esse
dispositivo tem um lugar de fundamental importância, não só para a formação no
que diz respeito ao exercício da clínica, mas também pelo que ela pode apontar
do desejo do analista. É por isso que gostaria de parabenizar Elynes pela
escolha do tema e agradecer pela oportunidade de pensar um pouco acerca de uma
questão que eu experiencio e que ainda faltava escrever.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Minha proposta é
tentar ver, a partir da minha experiência, o que posso dizer desse
enlaçamento entre Análise, supervisão (poderíamos incluir aqui o estudo
teórico) e o desejo do analista. Teríamos aí então um tripé enodado por um
quarto termo, desejo do analista.</span><br />
</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Quero começar
então “sacudindo” um pouco esse tripé. Comecemos pela palavra. Tripé vem do
latim <i>tripes, -edis</i>, que tem três pés<a href="https://www.blogger.com/blogger.g?blogID=7548064999185896208#_ftn1" name="_ftnref1" style="mso-footnote-id: ftn1;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: EN-US;">[1]</span></span></span></span></a>. É
um instrumento utilizado para dar estabilidade a alguma coisa. Aliás, descobri
que um outro nome do tripé é “estativa” palavra que tem a mesma raiz
etimológica que “estátua”, “status” e que tem sua raiz no verbo “estar”. Essa é
realmente a primeira imagem que nos ocorre. Mas, eu queria relembrar aqui, na
apresentação de Ercília sobre a supervisão, achei muito propícia uma fala de
Osvaldo, quando ele disse que esse tripé não pode ser estático,
</span><span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";"><span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">“estativa”, </span>como o tripé de uma maquina fotográfica. Mas a língua nos ajuda a sair do
impasse pois não temos somente o pé do tripé, temos o “pé-de-vento”, o “pé-de-valsa”, o
“pé-de-planta” e até o “peito-do-pé”. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Então, é preciso, como disse Osvaldo, <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>pensar três "pés" que dançam,
bailam, se encontram e se afetam: </span><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgcFneeIHyM5fDQFMUb-L0K5ZJ8BUTr2uwPDcpLM0822-e4vJEInBXZzEWUHUdCYpgYKtfGhe7sN71R-sTrFJM5dl4TEHvlEhVHrfK47sSQaJzt2zfo95sZqbeZSc6T7y85ClZj5roMQmTq/s1600/valsa2.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"></a><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Um, dois, tres ... um, dois, tres...</span></b> (pensem na contagem do tempo na
valsa!)</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgcFneeIHyM5fDQFMUb-L0K5ZJ8BUTr2uwPDcpLM0822-e4vJEInBXZzEWUHUdCYpgYKtfGhe7sN71R-sTrFJM5dl4TEHvlEhVHrfK47sSQaJzt2zfo95sZqbeZSc6T7y85ClZj5roMQmTq/s1600/valsa2.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgcFneeIHyM5fDQFMUb-L0K5ZJ8BUTr2uwPDcpLM0822-e4vJEInBXZzEWUHUdCYpgYKtfGhe7sN71R-sTrFJM5dl4TEHvlEhVHrfK47sSQaJzt2zfo95sZqbeZSc6T7y85ClZj5roMQmTq/s1600/valsa2.jpg" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";"></span><br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">É sobre isso que
eu queria falar, porque a minha hipótese é de que é o desejo do analista que
permite essa dança, impedindo que se congele feito estátua, os três pés no
chão.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Porque pensei isso?
Porque em primeiro lugar, o desejo do analista é algo que permeia os
dispositivos da formação. Depois, porque, para Lacan, o desejo do analista é
algo que só pode manter-se de pé ao final de uma análise. É quando o sujeito,
até então analisante, experimenta, em ato, o vazio do circuito pulsional do
qual se fez, como objeto, o fecho. Ao extrair o gozo que tamponava esse vazio,
o sujeito pode se reconhecer aí desvelando a verdade mentirosa que encobria o
seu desejo e justificava como uma espécie de álibi a sua impotência em
sustentá-lo. É esta operação que vai permitir consentir com o desejo do
analista.</span><br />
</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Mas, é fato da
experiência, os sujeitos na maioria das vezes, não esperam o final da análise
para começar a sustentar uma clínica. As vezes entra-se nisso completamente
inadvertido, às vezes tem-se um pequenos vislumbre do que mais tarde vai
permitir sustentar essa prática, mas isso ainda é tênue. Por outro lado, uma
vez tendo essa clínica iniciado, ela convocará o desejo, os encontros com o
real, todo mundo que começa a atender em algum momento se dá conta disso. </span><br />
</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">E aí, quando o
desejo do analista ainda não pode ser sustentado, o que responde é a angústia.
Não se fala muito da angústia do lado do analista praticante<a href="https://www.blogger.com/blogger.g?blogID=7548064999185896208#_ftn2" name="_ftnref2" style="mso-footnote-id: ftn2;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: EN-US;">[2]</span></span></span></span></a>,
mas Lacan fala dela no seminário 10: “Mas, quando o analista inicia sua
prática, não é impossível, graças a Deus, que, por mais que se apresente uma
ótima disposição para ser analista, ele sinta, desde sua primeiras relações com
o doente no divã, uma certa angústia.” (p.13) Vejam que Lacan, chistosamente,
dá graças a deus por essa angústia. Acredito que seja pelo fato de que angústia
e desejo são topologicamente congêneres. Então, a presença da angustia do lado
do analista praticante é, antes de tudo, um guia que lhe permitirá explorar oa
veredas do seu desejo, na análise: </span><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Um, dois tres...um dois, tres..</span></b><span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";"></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Dito isto, vou me
deter agora sobre o lugar da supervisão nesse processo, examinando-o a partir
de duas vertentes:</span></div>
<div class="MsoListParagraphCxSpFirst" style="line-height: 150%; mso-list: l0 level1 lfo1; text-align: justify; text-indent: -18.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";"><span style="mso-list: Ignore;">a)<span style="font: 7.0pt "Times New Roman";"> </span></span></span><span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">a vertente dos enlaces e desenlaces
da supervisão com a clínica do analista praticante.</span></div>
<div class="MsoListParagraphCxSpLast" style="line-height: 150%; mso-list: l0 level1 lfo1; text-align: justify; text-indent: -18.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";"><span style="mso-list: Ignore;">b)<span style="font: 7.0pt "Times New Roman";"> </span></span></span><span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">a vertente dos enlaces e desenlaces
da supervisão para a análise do analista praticante.</span><br />
</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-indent: 36.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">A
primeira vertente é a mais óbvia. Não é por acaso que Freud ressalta a
importância do dispositivo da supervisão ao diferenciar a formação do analista
do ensino universitário ao afirmar em “Sobre o ensino da psicanálise na
universidade (1918) que “</span><span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">No que diz respeito à experiência prática, além
do que adquire com a sua própria análise pessoal, pode consegui-la ao levar a
cabo os tratamentos, uma vez que consiga supervisão e orientação de
psicanalistas reconhecidos.” Se tomamos a questão através do conceito de
“desejo do analista” entendemos que a supervisão surge nesse tripé como o lugar
onde esse operador necessário vai poder se colocar (considerando que o
supervisor é um analista que já chegou na sua análise ao ponto de poder
sustentá-lo) <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>enquanto a análise do
analista praticante ainda não o permite fazê-lo. Na minha experiência isso foi
fundamental, principalmente depois que pude fazer da supervisão uma
regularidade, não formal, mas necessária, para o refinamento do caso. A questão
que descobri aqui, não é tanto a de alguém que sabe e vai te dizer o “como
fazer”. Mas é a oportunidade que é a supervisão de poder, ao falar a um outro,
elaborar os pontos do caso a partir desse vazio que o desejo do analista
sustenta.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span></span><span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">É curioso o que leva alguém a pedir supervisão e o que vai
permitir a esta instauração momentânea do sujeito suposto saber operar. Não vou
discorrer sobre isso aqui, m</span><span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">as posso afirma que isso só vai ser possível a partir da
análise do “analista praticante”, até porque, dependendo da fantasia desse
sujeito e do ponto em que ela foi ou não tocada em sua análise, os comentários do supervisor podem até ser tomados como crítica ou desaprovação
e aí não consegue provocar muito mais do que angústia. Que também é necessária,
já vimos, pois ela, por sua vez, vai remeter o supervisionando (analista
–praticante) à sua análise, guiando assim os passos que ele vai trilhar: </span><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Um,
dois, tres... um, dois, tres..</span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Mas é quanto a
segunda vertente desses enlaces que eu mais me surpreendi e queria agora
compartilhar com vocês. Queria dar aqui dois exemplos de como a supervisão se
enlaça com o tempo da análise e remete a ela:</span></div>
<div class="MsoListParagraphCxSpFirst" style="line-height: 150%; margin-left: 18.0pt; mso-add-space: auto; mso-list: l1 level1 lfo2; text-align: justify; text-indent: -18.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";"><span style="mso-list: Ignore;">a)<span style="font: 7.0pt "Times New Roman";">
</span></span></span></b><span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">um
analista praticante assiste a um seminário teórico sobre a histeria. Ao final,
resolve pedir supervisão ao ensinante que ministrava o seminário. Sua questão
sobre o caso era acerca do diagnóstico: há dois anos escutando essa pessoa e a
questão do pai não se colocava. Seu lugar no caso era uma incógnita já que não
surgia espontaneamente e, mesmo quando perguntada, as respostas pareciam
evasivas. Seria então uma psicose? O analista praticante relata o caso, a
partir do que ouviu, claro, e coloca essa questão diagnóstica. Primeira
pergunta do supervisor: “porque você achou que eu podia lhe ajudar com esse
caso?” A resposta foi: porque eu achei interessante as coisas que você falou
sobre o lugar do pai na histeria. A resposta do supervisor veio em ato: “então
você já se respondeu a sua pergunta quando pensou em me procurar: trata-se de
uma histeria. Se o pai não aparece é porque ele está deliberadamente escondido
para que ele possa ser salvo. Procure isso.” Um tempo depois, na análise, foi
possível perceber como essa intervenção apontava para algo do ato do analista,
sustentado por seu desejo, embora ainda não sabido, naquele momento pelo
analista praticante: <b style="mso-bidi-font-weight: normal;">Um, dois, tres.. um
dois, tres...</b></span></div>
<div class="MsoListParagraphCxSpFirst" style="line-height: 150%; margin-left: 18.0pt; mso-add-space: auto; mso-list: l1 level1 lfo2; text-align: justify; text-indent: -18.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-left: 18.0pt; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";"><span style="mso-list: Ignore;">b)<span style="font: 7.0pt "Times New Roman";">
</span></span></span></b><span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Um
analista praticante manda uma mensagem para marcar uma supervisão. Ao escrever,
faz um lapso: me avise quando estiver “porta”, ao invés de “me avise quando
estiver “pronta”. A supervisora chistosamente responde: “já abri a porta!”. O
que vai se desenrolar nessa supervisão não vem ao caso contar aqui, mas posso
dizer que, no material que compôs esta supervisão, algumas palavras do supervisor
tiveram um efeito ao apontar exatamente para o que impedia o desenganchar de um
impasse na análise, abrindo a "<span class="il">porta</span>",
literalmente. Mais uma vez, é o trabalho da análise que permite ao sujeito
poder atravessá-la: </span><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Um, dois, tres.. um, dois, tres</span></b><span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">... e o desejo do analista como
quarto nó, enlaçando essa valsa! </span></div>
<div class="MsoListParagraph" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
ps: ao final da apresentação deste texto no Fórum do Campo Lacaniano de Fortaleza, a colega e coordenadora da atividade, Elynes Barros, nos brindou com uma música de Chico Buarque de Holanda (indefectível, viu Osvaldo Martins? rs) que remete à nossas discussão. Deixo aqui a letra/poema da música e compartilho também o video:<br />
<div class="cor_2" id="cabecalho" itemscope="" itemtype="http://schema.org/MusicRecording">
<b><br />Tem Mais Samba <br />(Chico Buarque) </b><br />
<h2>
</h2>
</div>
Tem mais samba no encontro que na espera<br />
Tem mais samba a maldade que a ferida<br />
Tem mais samba no porto que na vela<br />
Tem mais samba o perdão que a despedida<br />
Tem mais samba nas mãos do que nos olhos<br />
Tem mais samba no chão do que na lua<br />
Tem mais samba no homem que trabalha<br />
Tem mais samba no som que vem da rua<br />
Tem mais samba no peito de quem chora<br />
Tem mais samba no pranto de quem vê<br />
Que o bom samba não tem lugar nem hora<br />
O coração de fora<br />
Samba sem querer<br />
Vem que passa<br />
Teu sofrer<br />
Se todo mundo sambasse<br />
Seria tão fácil viver</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<iframe allowfullscreen="" class="YOUTUBE-iframe-video" data-thumbnail-src="https://i.ytimg.com/vi/CkjRswIXC5s/0.jpg" frameborder="0" height="266" src="https://www.youtube.com/embed/CkjRswIXC5s?feature=player_embedded" width="320"></iframe></div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<br /></div>
<div style="mso-element: footnote-list;">
<br clear="all" />
<hr align="left" size="1" width="33%" />
<div id="ftn1" style="mso-element: footnote;">
<div class="MsoNormal">
<a href="https://www.blogger.com/blogger.g?blogID=7548064999185896208#_ftnref1" name="_ftn1" style="mso-footnote-id: ftn1;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-family: Cambria; font-size: 10.0pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: "MS Mincho"; mso-fareast-language: EN-US;">[1]</span></span></span></span></a><b><span style="font-family: Times; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">"tripe"</span></b><span style="font-family: Times; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">, in
Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2013, </span><a href="http://www.priberam.pt/dlpo/tripe"><span style="color: blue; font-family: Times; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">http://www.priberam.pt/dlpo/tripe</span></a><span style="font-family: Times; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">
[consultado em 26-05-2015].</span></div>
<div class="MsoFootnoteText">
<br /></div>
</div>
<div id="ftn2" style="mso-element: footnote;">
<div class="MsoFootnoteText">
<a href="https://www.blogger.com/blogger.g?blogID=7548064999185896208#_ftnref2" name="_ftn2" style="mso-footnote-id: ftn2;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-family: Cambria; font-size: 12.0pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: "MS Mincho"; mso-fareast-language: EN-US;">[2]</span></span></span></span></a> <span lang="EN-US" style="mso-ansi-language: EN-US;">Usarei aqui a designcação “analista praticante” para aquele que, ainda engajado em sua análise, aventura-se a
autorizar-se numa prática clínica. </span></div>
</div>
</div>
Lia Silveirahttp://www.blogger.com/profile/01914928244809718150noreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-7548064999185896208.post-73514281815279282002015-03-22T16:31:00.005-03:002015-03-22T16:34:08.400-03:00Os Labirintos da Falta e as Tramas por Onde Advém o Sujeito<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: center;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"> </span></b><span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">A pergunta sobre a origem não é nova na história da
humanidade. Provavelmente, desde que há pensamento, há ali também a pergunta
sobre a origem. De Gaia e Urano, passando por Adão e Eva até as teorias
evolucionistas de hoje, todo um saber foi sendo elaborado para tentar dar conta
do que constitui aquilo que é. O ser, a substância e o que o causa tem sido
temas caros também à filosofia. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">A psicanálise também vai se interessar por esta pergunta,
não no sentido de uma metafísica, mas na medida em que Freud assume que não há,
desde o início de cada vida que vem ao mundo, algo que responda como um
sujeito. Para tanto, faz-se necessário todo um movimento, mas esse movimento
que gira em torno da função estruturante da falta. Daí que Lacan vai afirmar
que, nada na experiência psicanalítica, pode ser elaborado se não considerarmos
a função da falta. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">A
elaboração da falta na experiência psicanalítica</span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Teoricamente, podemos tomar essa elaboração sobre a falta na
constituição do sujeito por das vertentes: a vertente da falta de objeto e a
vertente da falta fálica.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<br />
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Em Freud, temos na experiência primordial de satisfação algo
que poderíamos considerar o momento mítico de constituição do sujeito. A
sensação de fome que inerva a parede do estômago faz com que o bebê emita um
grito, grito este que vai ser tomado pelo outro, <i style="mso-bidi-font-style: normal;">nebemensch</i>, como um apelo. Esse outro comparece então com o seio
que vai proporcionar a primeira experiência de satisfação. Dessa experiência,
resta um traço que vai se inscrever e que vai ser “ativado” da próxima vez que
a fome se apresentar. O outro lado da moeda dessa experiência é que,
concomitante à inscrição do traço como afirmação (<i style="mso-bidi-font-style: normal;">bejahung</i>) temos a expulsão (<i style="mso-bidi-font-style: normal;">austossung</i>)
de algo que vai ser rejeitado como estranho. O complexo do <i style="mso-bidi-font-style: normal;">nebemensch</i> se divide agora <i style="mso-bidi-font-style: normal;">“em
dois componentes, dos quais um produz uma impressão por sua estrutura constante
e permanece unido como uma coisa, enquanto o outro pode ser compreendido por
meio da atividade de memória – isto é, pode ser rastreado até as informações
sobre o próprio corpo [do sujeito]</i>.”(Freud, projeto, p. 448)</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<br />
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Temos então a situação em que agora, o bebê não mais espera
a intervenção do Outro, mas busca satisfazer-se investindo esse traço mnêmico,
ou seja, alucinando. No entanto, o objeto alucinado que o bebê investe não se
sustenta como experiência de satisfação já que não existe na realidade. Mais
uma vez ele chora, mais uma vez o outro comparece com o seio. Só que agora já
se instalou aí uma diferença abissal entre o que ficou registrado como traço e
o que se encontra na realidade como objeto, sempre insatisfatório, sempre
deixando “a desejar”. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<br />
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">A outra via pela qual podemos resgatar a função da falta na
psicanálise é aquela que se apresenta em torno da dialética do falo. Seguindo
uma via diferente daquela apontadas pelos pós-freudianos (que propunham a
existência de um objeto genital maduro) Lacan vai retomar as elaborações
freudianas acerca da primazia do falo e suas consequências para apontar que o
que está em jogo aí é, na verdade, a falta de objeto. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<br />
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">A relação mãe – filho já se coloca desde o início como
triádica, tendo em visto que o falo já se coloca ai como terceiro elemento. Na
subjetividade da mãe, o filho que vem ao mundo é tomado como substituto fálico
e, pelo menos parcialmente, ocupa no desejo da mãe esse lugar. Temos então a
situação em que o bebê é tomado no “engodo cooptativo” que o faz identificar-se
ao falo imaginário materno. No entanto, como diz Lacan, a noção de falicismo
implica por si mesma o desprendimento da categoria de imaginário, pois é por
uma espécie de reviramento que ele passa a ocupar o seu lugar na dialética
subjetiva, não enquanto órgão real, mas enquanto significante. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Isso porque o de que se trata aqui não é do órgão real, mas
do falo da mãe, aquele que só é descoberto enquanto faltando em seu lugar, no
lugar em que era esperado, e essa é a própria definição de significante já que
ele não é outra coisa senão “o símbolo de uma ausência”. (Lacan, Seminário sobre a carta roubada , p.27)</span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">É assim que, por um movimento que se inicia com as
presenças-ausências da mãe, a criança vai se dando conta de sua incompletude. Vimos
que o movimento do desejo vai ser o de tentar reencontrar o objeto perdido. Mas
essa tentativa só pode se dar através da única via possível, aquela da demanda.
A demanda implica em colocar aquilo que se apresenta como necessidade nas
trilhas do significante, dirigindo-as ao outro. <b>(Figura 01)</b></span></div>
<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhwQlTY0QDUg7npowcYuxbjikHGU7cE2Xs7S5aqPQM9gu05Bb5XKa_djzLwM8tP7DAh8GELz8EtGLHETqLmJmGtIF9hrB3gU7PgrS0sVolI1hAPEaKCLSNWv98MPsegBz2MXHrqTdCFaB9F/s1600/Captura+de+tela+2015-03-22+16.04.39.png" imageanchor="1" style="clear: right; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhwQlTY0QDUg7npowcYuxbjikHGU7cE2Xs7S5aqPQM9gu05Bb5XKa_djzLwM8tP7DAh8GELz8EtGLHETqLmJmGtIF9hrB3gU7PgrS0sVolI1hAPEaKCLSNWv98MPsegBz2MXHrqTdCFaB9F/s1600/Captura+de+tela+2015-03-22+16.04.39.png" height="206" width="320" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="font-family: "Times New Roman";">Figura 01</span></td></tr>
</tbody></table>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<style>
<!--
/* Font Definitions */
@font-face
{font-family:"Cambria Math";
panose-1:2 4 5 3 5 4 6 3 2 4;
mso-font-charset:1;
mso-generic-font-family:roman;
mso-font-format:other;
mso-font-pitch:variable;
mso-font-signature:0 0 0 0 0 0;}
@font-face
{font-family:Cambria;
panose-1:2 4 5 3 5 4 6 3 2 4;
mso-font-charset:0;
mso-generic-font-family:auto;
mso-font-pitch:variable;
mso-font-signature:3 0 0 0 1 0;}
@font-face
{font-family:"MS Mincho";
panose-1:0 0 0 0 0 0 0 0 0 0;
mso-font-alt:"MS 明朝";
mso-font-charset:128;
mso-generic-font-family:roman;
mso-font-format:other;
mso-font-pitch:fixed;
mso-font-signature:1 134676480 16 0 131072 0;}
/* Style Definitions */
p.MsoNormal, li.MsoNormal, div.MsoNormal
{mso-style-unhide:no;
mso-style-qformat:yes;
mso-style-parent:"";
margin:0cm;
margin-bottom:.0001pt;
mso-pagination:widow-orphan;
font-size:10.0pt;
font-family:Cambria;
mso-fareast-font-family:"MS Mincho";
mso-bidi-font-family:"Times New Roman";}
.MsoChpDefault
{mso-style-type:export-only;
mso-default-props:yes;
font-size:11.0pt;
mso-ansi-font-size:11.0pt;
mso-bidi-font-size:11.0pt;
mso-fareast-font-family:"MS Mincho";}
@page WordSection1
{size:612.0pt 792.0pt;
margin:72.0pt 90.0pt 72.0pt 90.0pt;
mso-header-margin:36.0pt;
mso-footer-margin:36.0pt;
mso-paper-source:0;}
div.WordSection1
{page:WordSection1;}
</style>
-->
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Estamos no domínio da reivindicação, onde espera-se que o
Outro possa responder. Mas, no horizonte, o que se espera que o Outro responda
é, não pelo objeto da demanda, mas pelo objeto do desejo, aquele perdido e que
se busca reencontrar. O desejo é
exatamente aquilo que surge nessa “<i style="mso-bidi-font-style: normal;">margem
onde a demanda se rasga da necessidade</i>”(Lacan, subversão, p. 828)</span></div>
<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: right; margin-left: 1em; text-align: right;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiHs-56hHekiArTOcmzH-OfL7pwh66n9lrU9hZGGMVRcmlJkpBoa3YcAJLqy6lOEqCBIKJj_eCN9Mh5lbVMl0HJ-2kYc176ptPOGiz0GoB6rtmuNXSq5oNQeFBf_ZgOIloIBa_pm4hmfjka/s1600/Captura+de+tela+2015-03-22+16.08.05.png" imageanchor="1" style="clear: right; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiHs-56hHekiArTOcmzH-OfL7pwh66n9lrU9hZGGMVRcmlJkpBoa3YcAJLqy6lOEqCBIKJj_eCN9Mh5lbVMl0HJ-2kYc176ptPOGiz0GoB6rtmuNXSq5oNQeFBf_ZgOIloIBa_pm4hmfjka/s1600/Captura+de+tela+2015-03-22+16.08.05.png" height="214" width="320" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Figura 02</td></tr>
</tbody></table>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">O desejo é
exatamente aquilo que surge nessa “<i style="mso-bidi-font-style: normal;">margem
onde a demanda se rasga da necessidade</i>” (Lacan, subversão, p. 828)</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<br />
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">A frustração, é, para Lacan, a <i style="mso-bidi-font-style: normal;">versagung</i>, quebra da promessa, onde o Outro não responde. Não
responde, claro, porque do desejo ele também nada sabe. Mas o neurótico é
aquele que não se conforma com que o Outro não saiba. (sem IX, p. 215)</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<br />
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Uma das consequências da frustração assim experimentada, é
que o sujeito vai tomar o desejo enigmático do Outro como integrante do
circuito das demandas, e vai fazer do seu próprio desejo uma demanda no Outro. <b>(Figura 02)</b> No Seminário “A identificação”, Lacan
recorre a dois toros que se entrelaçam para demonstrar essa relação que ocorre
a partir de uma inversão: desejo num, demanda no outro; demanda de um, desejo
do outro, que é o nó onde se atravanca toda a dialética da frustração. A
segunda consequência é que esse vazio que corresponde ao desejo do outro, vai,
em parte, ser reduzido a um significante, o falo, que passa a ser agora “o
objeto metonímico de todas as demandas”. (Sem IX, p.200)</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<br />
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">É sobre esse movimento que a operação da castração vem
incidir para, fazendo atravessar-se ai o registro da Lei, que irá permitir com
que o sujeito escape à essa relação de engodo. Ela implica em que a demanda do
Outro seja tomada como desejo pelo sujeito, e essa demanda, Lacan a explicita,
se formula assim: “tu não desejarás aquela que foi o meu desejo.” Isso tem uma
função de corte. É isso que o mito do Édipo vem a ocupar, sendo necessário que,
doravante, seja o pai morto quem venha desempenhar essa função de Lei, que
permite o advento do desejo.</span><span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";"><span style="font-family: "Times New Roman";"> </span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";"><span style="font-family: "Times New Roman";">C</span>omo
elaboramos em nosso trabalho apresentado no encontro da EPFCL-Brasil do ano
passado, o neurótico, ao se defrontar com a falta, com o impossível de dizer,
recorre ao pai para interditar aquilo que supõe correr o risco de gozar. No
entanto, é essa própria impossibilidade que impõe a criação do mito do pai
gozador, seu assassinato e consequente instauração do pai simbólico. Todo o
mito é construído, afirma Lacan, para velar essa falha, fazendo com que aquilo
que era impossível, surja como interditado. </span></div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-indent: 36.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<br />
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">É
por isso que o Outro enquanto coisa interditada e o Outro enquanto Lei são a
mesma coisa, porque o Outro só existe enquanto efeito de linguagem e é por uma
operação de metáfora que ele constitui ao mesmo tempo, a coisa interditada e a
lei a que a interdita. Operação que vimos materializar-se na operação do corte no Crosscap, que produz ao mesmo tempo a banda de moebius (por onde passeia o inseto) e essa pecinha faltante (o <i>a</i>) . (Figura 03)</span></div>
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgVGUVn3IoO2YDIQVOCI9QQYIEvQ_gammFzXzxvgdK2oO9S1GZeXAHfgBpio_z1CdG8x5BCSiedrCvAZme0h5K2WRWg3rDHGJFKh91GKNazXLCyQM5ll3NLqndcLt_y0vGVpaPPXQoJBt8T/s1600/Captura+de+tela+2015-03-22+16.15.30.png" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgVGUVn3IoO2YDIQVOCI9QQYIEvQ_gammFzXzxvgdK2oO9S1GZeXAHfgBpio_z1CdG8x5BCSiedrCvAZme0h5K2WRWg3rDHGJFKh91GKNazXLCyQM5ll3NLqndcLt_y0vGVpaPPXQoJBt8T/s1600/Captura+de+tela+2015-03-22+16.15.30.png" height="210" width="320" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Figura 03</td></tr>
</tbody></table>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-indent: 36.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-indent: 36.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";"><span style="color: red;"></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-indent: 36.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-justify: inter-ideograph;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Os
Labirintos de Ophélia</span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-justify: inter-ideograph;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiJ-VQCpSufYxerXQS_itdQrJ2Qg_N0Y9_6Kvny7jgMxpyzBFAVIxmcDdI_KQAF4u2XLXGu0Y2Y-ZLjV4OXe2G4gS6mDfIRKrBdMwL117torsmMum491CcX6fVi68nSrghkDBBbXeZ5najA/s1600/fauno-cartel.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiJ-VQCpSufYxerXQS_itdQrJ2Qg_N0Y9_6Kvny7jgMxpyzBFAVIxmcDdI_KQAF4u2XLXGu0Y2Y-ZLjV4OXe2G4gS6mDfIRKrBdMwL117torsmMum491CcX6fVi68nSrghkDBBbXeZ5najA/s1600/fauno-cartel.jpg" height="180" width="320" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-justify: inter-ideograph;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-indent: 36.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Ofélia é uma personagem, fruto
da criação artística do diretor espanhol Guillermo Del Toro no Filme “O
Labirinto do Fauno”. O cenário é o da</span><span class="st"><span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";"> guerra civil espanhola. O pai de
Ofélia, um alfaiate, morrera há alguns meses e sua mãe fica grávida de um dos
clientes do marido: o temível capitão Vidal. Vidal é um dos comandantes do
exército franquista, conhecido por sua crueldade e responsável por exterm</span></span><span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">inar os rebeldes contrários ao
regime do ditador espanhol. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-indent: 36.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">A
gravidez apresenta-se como de alto risco, mas mesmo assim, Vidal decide levar
Ophelia e sua mãe para morar com ele em uma instalação militar, no meio da
floresta. Chegando lá, sua primeira providência é separar mãe e filha, sob o
argumento de que esta precisa de repouso absoluto. Ophelia, sentindo-se sozinha
naquele ambiente hostil, consegue driblar a separação imposta pelo capitão e
consegue chegar ao quarto da mãe que está muito fragilizada pela gravidez e
pela viagem. Nesta cena que abre todo o desenrolar do filme, a menina pergunta
á mãe: porque tivemos que vir pra cá? Por que você teve que casar com ele? Ao
que a mãe responde que se sentia muito sozinha depois que o pai morreu.
Ophelia, um tanto quanto admirada, interpõe: sozinha? Mas você tinha a mim! Ao
que a mãe responde: existem coisas que uma mulher precisa que você só vai
entender quando crescer.</span></div>
<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: right; margin-left: 0px; margin-right: 0px; text-align: left;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhIAhik5SPe4q4AC8KERd-o5GGKXVpaTaU5MZgeM8rMx7wfxhIwzmnox-TEPVFLYifn1KiGPc3rIuqH7l4-5BSYO56vTRHkhPnZebjfyMRad5QubICvyRTe-zY0btQksF0qxN3iaUV2gwSm/s1600/fauno.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhIAhik5SPe4q4AC8KERd-o5GGKXVpaTaU5MZgeM8rMx7wfxhIwzmnox-TEPVFLYifn1KiGPc3rIuqH7l4-5BSYO56vTRHkhPnZebjfyMRad5QubICvyRTe-zY0btQksF0qxN3iaUV2gwSm/s1600/fauno.jpg" height="212" width="320" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">o Fauno</td></tr>
</tbody></table>
<div style="line-height: 150%; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Deparada ao mesmo tempo com a
fragilidade da mãe e com seu desejo enigmático, Ophelia mergulha em mundo de
fantasias onde conhece o Fauno, uma criatura metade humana, metade bode, que a
convence de que ela é a princesa perdida do reino subterrâneo e que precisa
realizar três tarefas para retornar para seu reino. </span><span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"></span></div>
<div style="line-height: 150%; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Uma
dessas tarefas consiste em resgatar um certo punhal mágico. Nessa que é uma das
mais belas e impactantes cenas do filme, Ophelia precisa atravessar um portal
para procurar o punhal, mas é advertida pelo Fauno de lá encontrará um grande
banquete exposto: ela não deve, em hipótese alguma, comer nada. </span></div>
<div style="line-height: 150%; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
<iframe allowfullscreen="" class="YOUTUBE-iframe-video" data-thumbnail-src="https://ytimg.googleusercontent.com/vi/vkANFuxNSXE/0.jpg" frameborder="0" height="266" src="http://www.youtube.com/embed/vkANFuxNSXE?feature=player_embedded" width="320"></iframe></div>
<div style="line-height: 150%; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="line-height: 150%; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Chegando lá, ela encontra o tal baquete e uma
figura estranhíssima que jaz inerte na cabeceira da mesa. O monstro horrível
tem apenas dois buracos no lugar das narinas e um outro no lugar da boca. Sobre
a mesa, em um prato estão dois olhos arrancados. Nas paredes imagens de
infanticídio anunciam o que está por vir. Apesar de todo o horror da cena,
Ophelia transgride a proibição do fauno e come uma uva. Nesse momento o monstro
toma vida, coloca os dois olhos que estavam na mesas em buracos na palma da mão
e começa a perseguir Ophelia e as fadinhas que a auxiliam na tarefa. </span></div>
<div style="line-height: 150%; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<br /></div>
<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: right; margin-left: 0px; margin-right: 0px; text-align: left;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi2bxO4aWT6V7VU2AZyw8Tzpm7rZYAIBzRtt6h3hRwVvboYrbAkTPT0fiOsmSBDm98ndf2cfnVomGPfdJe3uVcNsG2Filjc_oEst3aj0qPQUw1sAXBips7qMBwi9Fi9f9V_hT1tjmovm-5v/s1600/santa_luzia.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi2bxO4aWT6V7VU2AZyw8Tzpm7rZYAIBzRtt6h3hRwVvboYrbAkTPT0fiOsmSBDm98ndf2cfnVomGPfdJe3uVcNsG2Filjc_oEst3aj0qPQUw1sAXBips7qMBwi9Fi9f9V_hT1tjmovm-5v/s1600/santa_luzia.jpg" height="320" width="184" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Figura 04 - Santa Luzia de Zurbaran</td></tr>
</tbody></table>
<div style="line-height: 150%; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Essa
cena aporta os elementos que se encontram no ponto mesmo onde surge o sujeito. Após
se deparar com o desejo enigmático do Outro (tem coisas que uma mulher precisa...),
a pulsão é forçada a realizar uma torção: “Por um reviramento que não é uma
simples negação da negação, a potência de pura perda surge no resíduo de uma
obliteração.” (A significação do falo, p. 698).<span style="mso-spacerun: yes;">
</span>A ausência do objeto ali onde ele era buscado impõe à pulsão um retorno:
“assim, o curso se completa quando o ciclo pulsional atinge o ponto de partida,
a saber, a fonte pulsional. E, no exato momento em que o circuito se fecha, um
efeito se inscreve no lugar de onde brotara o empuxo. Esse ponto concerne ao
sujeito. (Godino, p. 68)</span></div>
<div style="line-height: 150%; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Pulsão
escópica e pulsão oral convergem na sedução de um fausto banquete. Os olhos
arrancados sobre o prato, assim como na “Santa Lucia” de Francisco de Zurbarán
que encontramos no Seminário da Angustia <span style="color: red;"><b><span style="color: black;">(Figura 04)</span></b> </span>,
apontam para esse objeto que cai do sujeito em sua relação com o desejo, objeto
ao qual o sujeito é reduzido na cena fantasmática que suporta seu desejo. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span></span></div>
<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: left; margin-left: 0px; margin-right: 0px; text-align: left;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi0AdpFPdPsb0ihNDPkH-7bEiSI7p3al-u3vOxgaaWRASgWnmUNry2wDlBMGU1TbNHey0AdSOcbQN4wX6C792O0IkMRocz0MkXo1Hrvx0SczupXIqC_XVjBGJRfnL3UwU9yi1q5ESK6AWKq/s1600/nueva-imagen2.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi0AdpFPdPsb0ihNDPkH-7bEiSI7p3al-u3vOxgaaWRASgWnmUNry2wDlBMGU1TbNHey0AdSOcbQN4wX6C792O0IkMRocz0MkXo1Hrvx0SczupXIqC_XVjBGJRfnL3UwU9yi1q5ESK6AWKq/s1600/nueva-imagen2.jpg" height="320" width="195" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Figura 05- Cronos devorando seus filhos de Goya</td></tr>
</tbody></table>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-indent: 36.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Ainda nessa cena, somos
presenteados pelo diretor com uma representação de “Cronos devorando seu filho”
<b>(figura 05) </b>de Goya, onde monstro arranca e come
a cabeça de uma das fadinhas, enquanto Ophelia, por muito pouco, consegue
escapar. Está feito. O pai primitivo comparece em sua função castradora e
Ophelia agora “sabe” que </span><span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">“Dizer
que o Outro é a lei ou que é o gozo enquanto proibido, é a mesma coisa.” (Lacan,
Sem IX, p. 241)</span></div>
<div style="line-height: 150%; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">O que
se segue no filme tem todos os elementos do romance familiar do neurótico: o desejo
da morte do irmão, a fantasia de pais melhores que os seus (rei e rainha) e o <i style="mso-bidi-font-style: normal;">grand finale</i> onde Ophelia se oferece em
sacrifício no lugar do irmão: instauração do Supereu como introjeção da lei e
imperativo de gozo. </span></div>
<div style="line-height: 150%; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">O
artista sempre antecipa o psicanalista, embora o faça sem saber....</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<br /></div>
Lia Silveirahttp://www.blogger.com/profile/01914928244809718150noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-7548064999185896208.post-32093201524345544322015-03-22T15:24:00.003-03:002015-03-22T15:24:45.294-03:00O PARADOXO DO GOZO E O ENIGMA DE SUA RELAÇÃO COM A LEI
<style>@font-face {
font-family: "Times";
}@font-face {
font-family: "Verdana";
}@font-face {
font-family: "Verdana";
}@font-face {
font-family: "Cambria";
}@font-face {
font-family: "MS Mincho";
}@font-face {
font-family: "SimSun";
}p.MsoNormal, li.MsoNormal, div.MsoNormal { margin: 0cm 0cm 0.0001pt; font-size: 10pt; font-family: Cambria; }p.MsoFootnoteText, li.MsoFootnoteText, div.MsoFootnoteText { margin: 0cm 0cm 0.0001pt; font-size: 12pt; font-family: Cambria; }p.MsoFooter, li.MsoFooter, div.MsoFooter { margin: 0cm 0cm 0.0001pt; font-size: 10pt; font-family: Cambria; }span.MsoFootnoteReference { vertical-align: super; }span.FootnoteTextChar { font-family: Cambria; }span.FooterChar { font-family: Cambria; }.MsoChpDefault { font-size: 11pt; }div.WordSection1 { page: WordSection1; }</style>
<br />
<div align="right" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-align: right; text-autospace: none;">
<i><span style="font-family: Verdana; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">No descomeço era o verbo.<br />
Só depois é que veio o delírio do verbo.<br />
O delírio do verbo estava no começo, lá onde a<br />
criança diz: Eu escuto a cor dos passarinhos.<br />
A criança não sabe que o verbo escutar não funciona<br />
para cor, mas para som.<br />
Então se a criança muda a função de um verbo, ele delira.</span></i></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-align: right; text-autospace: none;">
<i><span style="font-family: Verdana; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">(Manoel de Barros, 1993)</span></i><span lang="EN-US" style="font-family: Verdana; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-ansi-language: EN-US;"></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 36.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 36.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: Verdana; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">O objetivo deste texto é tomar a
expressão “paradoxo do gozo” utilizada por Lacan no seminário sete para examiná-la
em sua relação com a lei, relação esta que, neste mesmo seminário, é
apresentada como sendo da ordem do enigma. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-indent: 36.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: Verdana; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Examinemos, em primeiro lugar, o que é um
paradoxo. A doxa, como se sabe, deriva do grego e refere-se a uma opinião ou
crença comum. Esta crença comum, por sua vez, depende diretamente da articulação
entre dois aspectos: o bom senso e o senso comum. No livro intitulado <i style="mso-bidi-font-style: normal;">A Lógica do Sentido</i> o filósofo francês
contemporâneo de Lacan, Gilles Deleuze (1974), define esses elementos da
seguinte forma: </span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-indent: 36.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: Verdana; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">a) o bom senso se caracteriza pela
afirmação de uma direção possível, de um senso único. Essa direção vai do mais
diferenciado ao menos diferenciado, do singular ao regular, do passado ao
futuro. Ela exprime a existência de uma ordem de acordo com a qual é preciso
escolher uma direção e se fixar a ela.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-indent: 36.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: Verdana; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>b)
Já o senso comum se caracteriza pela suposição da existência de uma
subjetividade e de uma objetividade partilhadas. No plano subjetivo, parte da
consideração de uma unidade capaz de dizer “Eu”: “<span style="mso-bidi-font-weight: bold;">é um só e mesmo eu que percebe, imagina, lembra-se, </span>sabe etc.; e
que respira, que dorme, que anda, que come...” Correlativamente, no plano
objetivo, o bom senso refere-se também a unidade do objeto ou de mundo:<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>“é o mesmo objeto <span style="mso-bidi-font-weight: bold;">que eu vejo, cheiro, saboreio, toco, o mesmo que percebo, ima</span>gino
e do qual me lembro... e é no mesmo mundo que respiro, ando, fico em vigília ou
durmo, indo de um objeto para outro segundo as leis de um sistema determinado.”
(Deleuze, 1974, p. 80). </span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-indent: 36.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: Verdana; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Há ainda uma solidariedade entre o bom
senso e o senso comum para engendrar o que é da ordem do sentido. É a partir da
articulação entre essas dimensões que implicam na suposição de uma ordem e de
uma permanência, que se pode jogar o jogo do sentido. Pois bem, o paradoxo se
define exatamente por se opor a esses dois aspectos da doxa, tanto ao bom senso
como ao senso comum. Primeiramente porque ele não supõe mais uma direção única,
nem mesmo uma direção contrária. A potência do paradoxo consiste em apontar dois
sentidos e duas direções ao mesmo tempo. Em segundo lugar, porque no terreno do
paradoxo as identidades se dissolvem. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-indent: 36.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: Verdana; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Como afirma Deleuze (1974, p. 94):</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 12.0pt; margin-left: 4.0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: Verdana; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: Times;">“O paradoxo é a subversão simultânea do bom senso e do senso comum: ele
aparece de um lado como os dois sentidos ao mesmo tempo do devir-louco,
imprevisível; de outro lado, como não-senso da identidade perdida,
irreconhecível. Alice é aquela que vai sempre nos dois sentidos ao mesmo tempo:
O país das maravilhas </span><i><span style="font-family: Verdana; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: Helvetica;">(Wonderland) </span></i><span style="font-family: Verdana; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: Times;">tem uma dupla direção sempre subdividida.” </span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-indent: 36.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: Verdana; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Ainda assim, o paradoxo não é exatamente
contraditório – o que implicaria em uma anulação de seus enunciados. Na
verdade, ele aponta para o plano do impossível, lá onde se pode assistir à
gênese da contradição: “É</span><span style="font-family: Verdana; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: Times;"> contudo aí que se opera a
doação de sentido, nesta região que precede todo bom senso e senso comum. Aí, a
linguagem atinge sua mais alta potencia como paixão do paradoxo” (Deleuze,
1974, p. 94). </span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-indent: 36.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: Verdana; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Ou, como ensina Manoel de Barros<a href="https://www.blogger.com/blogger.g?blogID=7548064999185896208#_ftn1" name="_ftnref1" style="mso-footnote-id: ftn1;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-family: Verdana; font-size: 12.0pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: "MS Mincho"; mso-fareast-language: EN-US;">[1]</span></span></span></span></a>
(1996, p.47), o paradoxo é o “</span><span style="font-family: Verdana; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">criançamento
das palavras. Lá onde elas ainda urinam na perna”. É quando a criança “garatuja
o verbo para falar o que não tem”. Salve o poeta, que nos ensina de forma tão
mais bela aquilo que quebramos a cabeça para formular teoricamente!</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-indent: 36.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: Verdana; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Oportuno também a referência ao infantil
que esse poema traz, pois é nesse terreno que estamos quando se trata do
inconsciente. E é ele que interessa quando Lacan interroga as relações entre
desejo, lei e gozo para formulá-las em termos de paradoxo e enigma. Passemos,
então a examiná-las.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-indent: 36.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-indent: 36.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: Verdana; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">O
nó entre Gozo, Desejo e Lei</span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-indent: 36.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: Verdana; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Primeiramente, tomemos a reação entre lei
e desejo. Ela remonta aos primórdios da psicanálise, desde que Freud, em sua
correspondência com Fliess, elabora o complexo de édipo como núcleo da neurose.
A universalidade da paixão pela mãe e do desejo de matar o pai, faz de cada um
de nós, em germe ou em fantasia, um personagem da tragédia grega </span><i><span style="font-family: Verdana; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: SimSun;">Oedipus Rex </span></i><span style="font-family: Verdana; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-style: italic; mso-fareast-font-family: SimSun;">(Freud,
1897/1980). </span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-indent: 36.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: Verdana; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-style: italic; mso-fareast-font-family: SimSun;">O pai abusador antes anunciado na teoria da sedução é substituído pelo
pai que interdita a mãe para o filho, lançando-o na tarefa de encontrar um
substituto para o objeto perdido. Alguns anos depois, Freud elabora outra
versão do pai, aquela encontrada em Totem e Tabu (1912-14/2012). Aqui também
está em jogo o desejo pelas mulheres inacessíveis e o assassinato do pai como
medida tomada pelo filho para ter acesso a elas. No entanto, o crime cometido,
ao invés de liberar o acesso ao objeto, invade os filhos com uma culpa que vai
levá-los a invenção do pai totêmico, pai simbólico portanto, que passa a reger
as relações entre os membros da tribo. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-indent: 36.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: Verdana; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-style: italic; mso-fareast-font-family: SimSun;">Pai sedutor, pai interditor, pai gozador, são as pére-versions
freudianas que aparecem como tentativa de dizer a verdade da neurose ao longo
de sua obra, apontando para seu “desejo </span><span style="font-family: Verdana; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">de
encontrar um pai que seja o causador da neurose.” (Freud, 1897/1980, p.350).
Essa frase, diga-se de passagem, surge na carta 64 à Fliess, a mesma em que
Freud afirma estar perto de descobrir a origem da moralidade (o que sabemos, vai
desembocar na formulação do Complexo de Édipo). </span><span style="font-family: Verdana; mso-fareast-font-family: SimSun;"></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-indent: 36.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: Verdana; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Apesar
da última dessas versões já apontar para a ineficácia do assassinato do pai para
o acesso ao objeto interditado, ainda temos presente ai uma situação em que um
desejo pré-existente é impedido pelo pai que, esse sim, goza: “Um pai violento
e ciumento, que reserva todas as fêmeas para si e expulsa os filhos quando
crescem, eis o que ali se acha.” (Freud, 1912-14/2012, p. 216). </span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-indent: 36.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: Verdana; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">O
pai como agente da lei também está no cerne dos interesse do estudo de Jacques
Lacan que retomou o édipo freudiano extraindo daí o que é da ordem da
estrutura. No Seminário 5 (Lacan, 1957-58/1999) temos uma elaboração que vai
apontar para o lugar ocupado pelo pai em termos de função. Já não se trata mais
da pessoa do pai da realidade, mas do suporte de uma lei simbólica que se
dirige concomitantemente à mãe e ao filho: para a primeira – “tu não
reintegrarás o produto do teu ventre”; para o segundo – “tu não te deitarás com
tua mãe”. O pai surge diferenciado em suas dimensões imaginária, simbólica e
real, sendo que é na dimensão simbólica, como Nome-do-Pai que ele se coloca
como conferindo autoridade à lei. Tomar o Édipo enquanto arranjo simbólico
talvez seja o primeiro passo de um caminho que vai permitir à Lacan ir além de
Freud no que tange aos objetivos de uma análise. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-indent: 36.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: Verdana; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Ainda
no seminário 5, Lacan afirma, com o Freud de <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Totem e Tabu</i>, que o pai que promulga a Lei é o pai morto, o que já
começa por introduzir um paradoxo que ele só retomará no <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Seminário 7</i>: se o assassinato do pai se dá pela cobiça do objeto
cuja posse a ele pertencia, como poderia a cobiça (enquanto desejo) existir aí
se é somente depois de morto que ele instaura a lei que permite desejar? Temos
então duas afirmações paradoxais: a) O pai morto é que instaura a Lei que
interdita o gozo; e b) É somente porque a Lei existe que o gozo se anuncia como
transgressão. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-indent: 36.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: Verdana; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Foi
preciso dar mais um passo na incursão que levará Lacan a formular o campo do
gozo, como campo lacaniano. No <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Seminário
7</i> (Lacan, 1959-60/1991) ele faz referência à conferência proferida em 1960
em Bruxelas (publicada com o título de <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Discurso
aos católicos</i>) onde recorreu a um trecho de uma epístola de São Paulo aos
romanos para apontar essa relação paradoxal entre o desejo, o objeto e a lei:</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 4.0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: Verdana; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">“Que Diremos então? Que a Lei é pecado? De modo algum. Mas
eu não conheci o pecado senão pela Lei. Porque não teria ideia da cobiça se a
Lei não me tivesse dito “Não cobiçarás’. Foi o pecado, portanto, que
aproveitando-se da ocasião que lhe foi dada pelo preceito excitou em mim todo
tipo de cobiças. Pois sem a Lei, o pecado não vive. Sem a Lei, eu vivia. Mas
quando o preceito adveio, o pecado recobrou vida, ao passo que eu encontrei a
morte.” (Lacan, 1960/2005, p. 24-25)</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-indent: 36.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: Verdana; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Lacan
nos sugere substituir o significante “pecado” pelo termo da “Coisa” para termos
aí uma indicação bem clara do nó do desejo com a Lei. O gozo da “Coisa” não
existia antes que a Lei se instaurasse. Pelo contrário, é porque a lei existe
que o gozo pode surgir como transgressão, ainda que “em germe ou em fantasia”,
como é o caso do neurótico. O neurótico, conjuga o verbo pecar (ou gozar) no
tempo verbal que só existe na gramática infantil e que foi poeticamente formulado
por Chico Buarque<a href="https://www.blogger.com/blogger.g?blogID=7548064999185896208#_ftn2" name="_ftnref2" style="mso-footnote-id: ftn2;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-family: Verdana; font-size: 12.0pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: EN-US;">[2]</span></span></span></span></a> em
“João e Maria”: agora eu era...agora eu era herói, agora eu tinha acesso ao
gozo, só que num tempo passado que só passou agora a existir. O paradoxo do
gozo aponta, portanto, para um paradoxo do desejo, que só pode se formular como
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">wunsch</i>, como o voto expresso na
gramática do “agora eu era”. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-indent: 36.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: Verdana; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Voltemos
para finalizar à relação o paradoxo com o impossível de onde brota o sentido. O
paradoxo não é escravo do bom senso, nem do senso comum. Ele aponta para um
não-senso, para uma verdade que, embora impossível de ser toda dita, exige que
algo possa, ali, ser formulado. No caso do paradoxo que enoda Lei, desejo e
gozo, a verdade que jaz impossível de ser toda dita aponta para o encontro com
a falta de um significante que possa nomear o gozo. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-indent: 36.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: Verdana; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">O
neurótico, ao se defrontar com a falta, com o impossível de dizer, recorre ao
pai para interditar aquilo que supõe correr o risco de gozar. Assim, <span style="mso-spacerun: yes;"> </span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 120.5pt; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="color: #181818; font-family: Verdana; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Para
que algo da ordem da lei seja então veiculado preciso que passe pelo caminho
traçado pelo drama primordial articulado em </span><i><span style="color: #181818; font-family: Verdana; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: Times;">Totem e Tabu, </span></i><span style="color: #181818; font-family: Verdana; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">ou seja, o</span><span style="color: #181818; font-family: Verdana; font-size: 8.0pt; line-height: 150%;"> </span><span style="color: #181818; font-family: Verdana; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">assassinato
do pai e suas consequências, assassinato, na origem da cultura, dessa figura da
qual não se pode deveras nada dizer, temível, temida assim como incerta, a do
personagem onipotente, semi-animal da horda primordial, morto por seus filhos.
(</span><span style="font-family: Verdana; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Lacan, 1959-60/1991, p.211)</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 12.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-indent: 36.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: Verdana; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">No
entanto, é essa própria impossibilidade que impõe a criação do mito do pai
gozador, seu assassinato e consequente instauração do pai simbólico enquanto
morto. Todo o mito é construído, afirma Lacan, para velar essa falha, fazendo
com que aquilo que era impossível, surja como interditado: “</span><span style="color: #181818; font-family: Verdana; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Esse
ato constituía todo o mistério. Ele é feito para nos velar isto, que não apenas
o</span><span style="color: #181818; font-family: Verdana; font-size: 8.0pt; line-height: 150%;"> </span><span style="color: #181818; font-family: Verdana; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">assassinato do pai não abre a via para o gozo
que sua presença era suposta interditar, mas ele reforça sua interdição”. (</span><span style="font-family: Verdana; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Lacan, 1959-60/1991, p.211)</span><span style="color: #181818; font-family: Verdana; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-indent: 36.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: Verdana; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Sim, o pai está morto, mas se ele está é
porque o é desde sempre. Como afirma Lacan (1959-60/1991): “ele nunca foi pai a
não ser na mitologia do filho”.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-indent: 36.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-indent: 36.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: Verdana; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Considerações Finais </span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 12.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-indent: 36.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="color: #2f2f2f; font-family: Verdana; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">O paradoxo, portanto, brota
ali onde uma falha se faz presente, opondo-se tanto ao bom senso, como ao senso
comum, resistindo ao fechamento do sentido, apontando para o impossível de
dizer tudo, o impossível da relação sexual. Em psicanálise sabemos que a
castração é o nome dessa falha.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 12.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-indent: 36.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="color: #2f2f2f; font-family: Verdana; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">O neurótico, por sua vez, é
aquele que constrói uma resposta frente a essa falha, ao articulá-la ao mito do
assassinato do Pai. Pai morto, pai simbólico, é ele enquanto “Nome-do-pai” que
vai permitir </span><span style="color: #1d1d1d; font-family: Verdana; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">os deslizamentos e pontuações da cadeia significante,
permitir com que se continue jogando o “jogo do sentido”. É só então que
podemos falar de uma transgressão que “terá havido” quando do assassinato do
pai. </span><span style="font-family: Verdana; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Diante da verdade em sua face
medusante, o neurótico cria. </span><span style="color: #1d1d1d; font-family: Verdana; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Estamos diante do paradoxo em que Lei,
desejo e gozo se articulam.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 12.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-indent: 36.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: Verdana; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">E
como ao abordar de frente à verdade precisamos sempre de alguma proteção que
nos impeça de cegar, recorramos mais uma vez ao poeta, para que ele contornando
o impossível com suas palavras, nos permita o véu da beleza: </span></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-align: right; text-autospace: none;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: Verdana; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Ando muito completo de vazios. </span></i></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-align: right; text-autospace: none;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: Verdana; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Meu órgão de morrer me predomina. </span></i></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-align: right; text-autospace: none;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: Verdana; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Estou sem eternidades. </span></i></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-align: right; text-autospace: none;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: Verdana; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Não posso mais saber quando amanheço ontem. </span></i></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-align: right; text-autospace: none;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: Verdana; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Está rengo de mim o amanhecer. </span></i></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-align: right; text-autospace: none;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: Verdana; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Ouço o tamanho oblíquo de uma folha. </span></i></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-align: right; text-autospace: none;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: Verdana; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Atrás do ocaso fervem os insetos. </span></i></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-align: right; text-autospace: none;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: Verdana; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Enfiei o que pude dentro de um grilo o meu destino. </span></i></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-align: right; text-autospace: none;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: Verdana; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Essas coisas me mudam para cisco. </span></i></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-align: right; text-autospace: none;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: Verdana; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">A minha independência tem algemas.</span></i></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-align: right; text-autospace: none;">
<span style="font-family: Verdana; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">(Manoel de Barros,
1993)</span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: Verdana; font-size: 12.0pt;">REFERÊNCIAS</span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt;">
<span style="font-family: Verdana; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">BARROS, M. <u>O livro das ignorãças</u>. 3ªed. Rio de
Janeiro: Civilização Brasileira, 1993.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt;">
<span style="font-family: Verdana; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">___________. </span><u><span style="font-family: Verdana; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Livro sobre Nada</span></u><span style="font-family: Verdana; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">.
Rio de Janeiro: Record, 1996</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: Verdana; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">DELEUZE, G. <u>A Lógica do Sentido</u>. Perspectiva: São
Paulo, 1974.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: Verdana; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-style: italic; mso-fareast-font-family: SimSun;">FREUD,
S. </span><span style="font-family: Verdana; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">(1888-1893). <strong><u><span style="font-family: Verdana; font-weight: normal; mso-bidi-font-weight: bold;">Cartas
a Fliess – cartas 64 e 71</span></u></strong><strong><span style="font-family: Verdana;">.</span></strong> In: Obras Completas, Ed Standard Brasileira, vol. I,
Rio de Janeiro, Imago, 1980.</span><span style="font-family: Verdana; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-style: italic; mso-fareast-font-family: SimSun;"> </span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: Verdana; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-style: italic; mso-fareast-font-family: SimSun;">FREUD,
S. <u>Totem e Tabu</u> (1912-14). In: Obras Completas, Vol. 11. São Paulo:
Companhia das Letras, 2012.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: Verdana; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">LACAN, J. <u>O
Seminário, livro 5: as formações do inconsciente</u> (1957-1958). Rio </span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: Verdana; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">de Janeiro,
Zahar Ed., 1999. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: Verdana; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">_________. <u>O
Seminário, livro 7: a ética da psicanálise</u> (1959-1960). Rio de </span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: Verdana; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Janeiro,
Zahar Ed., 1991</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: Verdana; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">_________. <u>O
Triunfo da Religião, precedido de Discurso aos Católicos</u> (1960). Rio de
Janeiro: Zahar, 2005.</span><span style="font-family: Verdana; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"></span></div>
<div style="mso-element: footnote-list;">
<br clear="all" />
<hr align="left" size="1" width="33%" />
<div id="ftn1" style="mso-element: footnote;">
<div class="MsoFootnoteText">
<a href="https://www.blogger.com/blogger.g?blogID=7548064999185896208#_ftnref1" name="_ftn1" style="mso-footnote-id: ftn1;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-family: Cambria; font-size: 12.0pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: "MS Mincho"; mso-fareast-language: EN-US;">[1]</span></span></span></span></a> <span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 9.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Manoel de Barros é um dos maiores poetas contemporâneos
brasileiros, nascido em 1916, em Cuiabá, no estado de Mato Grosso</span><span style="mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">.</span><span lang="EN-US" style="mso-ansi-language: EN-US;"></span></div>
</div>
<div id="ftn2" style="mso-element: footnote;">
<div class="MsoFootnoteText">
<a href="https://www.blogger.com/blogger.g?blogID=7548064999185896208#_ftnref2" name="_ftn2" style="mso-footnote-id: ftn2;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-family: Cambria; font-size: 12.0pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: "MS Mincho"; mso-fareast-language: EN-US;">[2]</span></span></span></span></a> Compositor
do cancioneiro popular brasileiro.<span lang="EN-US" style="mso-ansi-language: EN-US;"></span></div>
</div>
</div>
Lia Silveirahttp://www.blogger.com/profile/01914928244809718150noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7548064999185896208.post-68527795864832678172015-03-22T15:10:00.004-03:002015-03-22T15:10:26.292-03:00Vendo vozes...e aprendendo com elas!<div style="text-align: justify;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjOW7QS17ZfSbDvx17GhAF_5iruZlMIf1qqBq4IkglklmlhrgNAefBnb7sHNOab8snleZyzO08yUyIAGLfqLmGbcxOCGoJ7K2ZotM5rSO_HltN5GB7ytXhGWXSRtmsT4TEMEv3V_1qNsZ0U/s1600/canvas.png" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjOW7QS17ZfSbDvx17GhAF_5iruZlMIf1qqBq4IkglklmlhrgNAefBnb7sHNOab8snleZyzO08yUyIAGLfqLmGbcxOCGoJ7K2ZotM5rSO_HltN5GB7ytXhGWXSRtmsT4TEMEv3V_1qNsZ0U/s1600/canvas.png" height="320" width="240" /></a>Acabo de terminar uma viagem por um mundo que me era completamente desconhecido até então. Essa viagem foi proporcionada por uma amiga querida a quem deixo aqui meu agradecimento: Renata Castelo Peixoto*.<br /> </div>
<div style="text-align: justify;">
Há algum tempo, não sei (ou não sabia) dizer porque, senti um vago interesse em saber alguma coisa sobre o universo dos surdos, principalmente em saber se seria possível a experiência da psicanálise para essas pessoas. Foi assim que, numa conversa informal, comentei com essa colega (que é uma pesquisadora da área) sobre minha curiosidade e ela, além de me dizer coisas que aguçaram ainda mais meu interesse, me emprestou esse livro: <i>Vendo Vozes</i>, de Oliver </div>
<div style="text-align: justify;">
Sacks.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Devo confessar que essa leitura me veio como um tapa na cara! Eu me assustei em perceber como eu tinha uma visão preconceituosa acerca dessa realidade. Para mim, acho que assim como para a maioria dos leigos ouvintes, o surdo era um deficiente. Mas o que aprendi é que, na verdade, ser surdo é (ou pode ser, desde que dadas as condições para isso) uma autêntica identidade cultural. Não no sentido dos famosos "orgulhos" com que se pintam as bandeiras de determinadas causas que as vezes escorregam no proselitismo. Mas uma identidade cultural no sentido de que é a nossa língua quem nos dá um sentimento de pertença a uma determinada cultura, com todas as suas produções ético-estético-políticas. Como diz o autor em determinado trecho: não é a mesma coisa pensar na língua de Shakespeare ou na língua de Goethe. Minha língua sou eu!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
E eu que já havia sido fisgada há algum tempo pela psicanálise, principalmente pelas lentes lacanianas, descobri que podia ir aprender muito sobre essa relação "subjetividade"x linguagem nesse contato com o universo dos surdos. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Sabemos com Lacan, por exemplo, que a linguagem não é a mera emissão de sons, nem mesmo a emissão de mensagem. A linguagem é o que constitui o sujeito na relação com o outro. Sabemos também que é no corpo-a-corpo erotizador com a mãe que a criança recebe seu banho de linguagem, sua lalíngua, como o psicanalista francês chamou essa primeira inscrição de significantes que, apesar de ainda não formarem um léxico, marcam o gozo no corpo. Será então que isso seria impossível aos surdos? estariam eles (os surdos pre-linguísticos, ou seja, aqueles que nasceram ou tornaram-se surdos antes de aprender a falar) impossibilitados de entrar na linguagem por não ouvirem? </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
O estudo de Oliver Sacks (ou sua leitura dos estudos realizados por tantos outros)não só responde negativamente a essas perguntas, como atestam as teses lacanianas com uma radicalidade quase cruel: a criança surda não se torna uma exilada da linguagem simplesmente por não ouvir. Mas, quando não exposta a algum tipo de linguagem de sinais até determinado momento de vida, pode ter seriamente prejudicadas suas capacidades de abstração, de representação do mundo, de fazer ou entender a estrutura de uma pergunta, de questionar, de saber que existe um nome para ela e para todas as coisas do mundo. Isso explica porque tantas crianças surdas sejam tratadas como deficientes mentais, pois sabemos, desde Freud que é o processo de curiosidade acerca do mundo que leva à constituição do sujeito.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
A impossibilidade de comunicação com os pais pode se abater como uma tragédia sobre a criança surda que fica impossibilitada de dizer de si e do mundo. Fiquei pensando como todos nós, ouvintes ou não, experienciamos de alguma forma, isso. Todos nós experimentamos em algum momento da vida essa impossibilidade de dizer algo e de se fazer ouvir, o que nos deixa sozinhos do lado de fora. Certamente isso é mais radical para uma criança surda, pois se é na linguagem que experienciamos o trauma daquilo que não cabe em palavras, é através delas que sobrevivemos a isso e nos tornarmos sujeito de desejo. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
A criança surda pode entrar na linguagem, comprovam os estudos citados por Sacks. Mas isso só ocorre se ela for exposta a um outro que "fale" numa língua que ela possa apreender com outros sentidos que não o da audição Embora nasçamos com um aparelho biológico que nos permite falar, a linguagem não é um processo natural! Ela envolve necessariamente o tête-a-tête com o outro.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Assim, os estudos também comprovam que basta que essa criança seja exposta a uma "língua de sinais" no contato com a mãe para que o processo de aquisição da linguagem se dê, de forma similiar ao de qualquer outra criança. E traz exemplos de casos muito bonitos como o da pequena Charlotte: perguntadora, cheia de criatividade e de vida!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Aprendi também, na leitura desse livro, que as "línguas de sinais" não são chamadas assim por acaso. Elas não são uma pantomima como pode parecer ao leigo ouvinte. Não se trata de mímica. Elas tem realmente a estrutura de uma língua com uma gramática própria, sujeito e objeto, presente passado e futuro, conjugação verbal e, pasmem, tudo isso é feito utilizando-se do corpo, do tempo e do espaço. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
O cérebro aprende a processar todos esses elementos e combiná-los na constituição de uma linguagem que vai muito além da nossa capacidade de apreensão pois simplesmente não desenvolvemos essas ferramentas: "Ser surdo, nascer surdo, coloca a pessoa numa situação extraordinária:
expõe o indivíduo a uma série de possibilidades linguísticas e,
portanto, a uma serie de possibilidades intelectuais e culturais que nos
outros, como falantes nativos num mundo de falantes, não podemos sequer
começar a imaginar."</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
É realmente surpreendente! De repente, nós ouvintes é, de certa maneira, somos deficientes frente ao mundo dos surdos.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Eu não tenho nenhuma experiência com surdos, não tenho parentes surdos nem amigos surdos, mas de alguma forma meu desejo foi despertado para conhecer esse mundo. E, ali onde eu pensei que fosse encontrar informações técnicas sobre uma deficiência, esse livro me mostrou o quanto tenho a aprender acerca da diferença e do que é possível quando nos abrimos à ela. Aprendemos, inclusive que podemos não ser tão diferentes assim e que, de repente, aquilo que parecia tão estranho, pode nos ser, na verdade, intimamente familiar. Assim já dizia Freud, não é mesmo?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
PS: não foi só com os surdos que me descobri preconceituosa. Também tive que engolir também minhas pre-concepções acerca de neurocinetistas! Enquanto me deliciava com o livro, descobri (por uma triste coincidência) que Oliver Sacks não só é um excelente escritor, mas um ser humano admirável. É que nesse mesmo tempo em que escrevo, Sacks vive seus últimos dias de vida, vítima de uma câncer em estágio terminal. E ele deixa uma carta de adeus muito linda, com um sentimento de gratidão que só os grandes homens podem ter diante da vida e de seu fim: "Não posso fingir que não estou com medo. Mas meu sentimento predominante
é de gratidão. Amei e fui amado; recebi muito e dei algo em troca; li,
viajei, pensei e escrevi. Tive uma relação com o mundo, a relação
especial de escritores e leitores."</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Segue o link para quem quiser lê-la na íntegra:<a href="http://www.papodehomem.com.br/oliver-sacks-diante-da-morte/" target="_blank">http://www.papodehomem.com.br/oliver-sacks-diante-da-morte/</a></div>
<div style="text-align: justify;">
____________________________ </div>
<div style="text-align: justify;">
</div>
<div style="text-align: justify;">
*Renata possui graduação em Psicologia pela Universidade Federal do Ceará
(1998), especialização em psicopedagogia(2004) e mestrado em Educação
pela UFC (2004). Atualmente é doutoranda em Educação Brasileira na UFC.
Tem experiência nas áreas de Educação e de Psicologia, com ênfase em
Educação de Surdos, Ensino de linguagem e Psicolinguística, atuando
principalmente nos seguintes temas: surdez, leitura e escrita,
psicologia do desenvolvimento/aprendizagem, alfabetização e ensino de
português para surdos.
</div>
<br />Lia Silveirahttp://www.blogger.com/profile/01914928244809718150noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-7548064999185896208.post-91631887358366163882014-09-13T17:40:00.000-03:002014-09-13T17:40:03.047-03:00A questão da técnica, o estatuto do sujeito e o lugar do objeto em psicanálise
<style>@font-face {
font-family: "Cambria Math";
}@font-face {
font-family: "Cambria";
}@font-face {
font-family: "MS Mincho";
}p.MsoNormal, li.MsoNormal, div.MsoNormal { margin: 0cm 0cm 0.0001pt; font-size: 10pt; font-family: Cambria; }p.MsoFootnoteText, li.MsoFootnoteText, div.MsoFootnoteText { margin: 0cm 0cm 0.0001pt; font-size: 12pt; font-family: Cambria; }p.MsoFooter, li.MsoFooter, div.MsoFooter { margin: 0cm 0cm 0.0001pt; font-size: 10pt; font-family: Cambria; }span.MsoFootnoteReference { vertical-align: super; }p.MsoListParagraph, li.MsoListParagraph, div.MsoListParagraph { margin: 0cm 0cm 0.0001pt 36pt; font-size: 10pt; font-family: Cambria; }p.MsoListParagraphCxSpFirst, li.MsoListParagraphCxSpFirst, div.MsoListParagraphCxSpFirst { margin: 0cm 0cm 0.0001pt 36pt; font-size: 10pt; font-family: Cambria; }p.MsoListParagraphCxSpMiddle, li.MsoListParagraphCxSpMiddle, div.MsoListParagraphCxSpMiddle { margin: 0cm 0cm 0.0001pt 36pt; font-size: 10pt; font-family: Cambria; }p.MsoListParagraphCxSpLast, li.MsoListParagraphCxSpLast, div.MsoListParagraphCxSpLast { margin: 0cm 0cm 0.0001pt 36pt; font-size: 10pt; font-family: Cambria; }span.FootnoteTextChar { font-family: Cambria; }span.FooterChar { font-family: Cambria; }.MsoChpDefault { font-size: 11pt; }div.WordSection1 { page: WordSection1; }ol { margin-bottom: 0cm; }ul { margin-bottom: 0cm; }</style>
<br />
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt;"><br /></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-indent: 36.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-indent: 36.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="color: #1a1718; font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Uma disciplina
intitulada “Teorias e Técnicas Psicoterápicas” que se pretenda “psicanalítica”
coloca, desde saída, alguns problemas que merecem ser examinados.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-indent: 36.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="color: #1a1718; font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Em primeiro lugar,
porque esse título traz, em si embutida, a ideia que marca o pensamento moderno
de que o saber se acumula em um arsenal teórico cientificamente respaldado que,
posteriormente vai poder ser aplicado na prática, devidamente
instrumentalizado. Ou seja, através
da acumulação do saber científico eu tenho como ter de antemão um determinado
corpo de saber que me permitiria intervir para obter determinado efeito
esperado.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-indent: 36.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="color: #1a1718; font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">É essa a visão
presente, por exemplo, no currículo da graduação em psicologia, em que o aluno passa
alguns semestres acumulando um saber teórico para, em seguida, realizar o seu
estágio clínico em um “Serviço de Psicologia Aplicada", ou seja, um lugar onde
ele irá aplicar a técnica.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-indent: 36.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="color: #1a1718; font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">No entanto, essa
forma de pensar a técnica como uma mera instrumentalização merece ser
questionada, principalmente quando se trata das disciplinas que compõem o campo
"psi". Especialmente porque nesse campo, não é raro surgir a angústia
do lado daquele que aplica a técnica, exatamente por sentir que o conjunto
teórico de saberes que ele acumulou não é suficiente ou nem mesmo adequado para
permiti-lhe intervir, ficando a incômoda sensação de farsa. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-indent: 36.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="color: #1a1718; font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Além disso, vale
a pena resgatar o comentário de Bukowski (1987) em uma entrevista dada a Sean Penn e
que toca em cheio na fragilidade que perpassa a intervenção clínica pautada
nesse modelo:</span></div>
<blockquote class="tr_bq">
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-indent: 36.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">“Creio
que o problema entre psiquiatria e seu paciente é que o psiquiatra atua de
acordo com o livro, ainda que o paciente chegue pelo que a vida lhe fez. E
mesmo que o livro possa ter certa astúcia, as páginas sempre são as mesmas e
cada paciente é diferente. Existem muito mais problemas individuais que
páginas.”</span></div>
</blockquote>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-indent: 36.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Sim,
existem muito mais problemas individuais que páginas! No entanto, esse
pensamento que está na base da organização da psiquiatria e da psicologia
contemporânea tenta classificar o que "chega pela vida" em páginas dos livros". Essa estrutura é fundada naquilo que ficou conhecido na história como “momento
cartesiano”, marcado pelo cogito de Descartes: penso, logo existo. Ou seja, há
uma possibilidade de amarrar a garantia do ser em algo que é formulado pelo
pensamento. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-indent: 36.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Mas é naquilo que recebemos na prática clínica que esse fundamento é mais
questionado, pois aquilo com que lidamos é geralmente perpassado por um saber
que não se basta, não se garante pela páginas dos livros nem em todo o saber
teórico organizado. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-indent: 36.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">E
é aí que, n</span><span style="color: #1a1718; font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">o final das contas, fica a pergunta: de onde
tirar a matéria por onde iremos intervir? Devo buscar nas minhas experiências
pessoais, nos meus preconceitos, nas minhas experiências de vida? Mas como, se
muitas vezes sou eu o sujeito angustiado reduzido frente a um discurso que me
objetifica como mero depositário de um saber pré-fabricado, do qual eu em nada
participo?</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-indent: 36.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="color: #1a1718; font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">A angústia de
introduzir esses questionamentos pode ser imobilizante, talvez por isso mesmo
ela seja tão pouco abordada na universidade. Mas nossa proposta é que possamos
avançar essas questões, ao invés de ignorá-las.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6pt; text-align: justify; text-indent: 36pt;">
<span style="color: #1a1718; font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Partamos então da “Questão da Técnica”. Esse na verdade é o
título de um texto muito interessante de Martin Heidegger, onde ele vai
questionar as definições mais conhecidas de “técnica”: aquela que diz que a
técnica é “um meio para fins”; e aquela que diz que a “técnica é um fazer do
homem”.</span><span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-indent: 36.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="color: #1a1718; font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Nesse
texto, a proposta de Heidegger é questionar a técnica em sua essência que,
segundo ele, não é de modo algum algo meramente técnico. Ele nos diz o seguinte:</span></div>
<blockquote class="tr_bq">
<blockquote class="tr_bq">
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-indent: 36.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="color: #1a1718; font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">“Assim, pois, a
essência da técnica também não é de modo algum algo técnico. E por isso nunca
experimentaremos nossa relação para com a sua essência enquanto somente
representarmos e propagarmos o que é técnico, satisfizermo-nos com a técnica ou
escaparmos dela. Por todos os lados, permaneceremos, sem liberdade, atados à
ela, mesmo que a neguemos ou a confirmemos apaixonadamente. Mas de modo mais
triste estamos entregues à técnica quando a consideramos como algo neutro; pois
essa representação, à qual hoje em dia especialmente se adora prestar
homenagem, nos torna completamente cegos perante a essência da técnica.”</span></div>
</blockquote>
</blockquote>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-indent: 36.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="color: #1a1718; font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-indent: 36.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="color: #1a1718; font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Então, se nos
mantivermos presos à técnica como algo neutro, estaremos privados de liberdade
e completamente cegos diante da experiência. A técnica, portanto, deve ter
algum outro fundamento que a ancore. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-indent: 36.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="color: #1a1718; font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">O filósofo então
retoma as definições comumente atribuídas a técnica para questioná-las: “o que
é o instrumental mesmo? Onde se situam algo como um meio e um fim?” E é aí que ele situa
que, perguntarmo-nos pela questão dos meios e dos fins, coloca necessariamente em
questão a função da “causa”: </span></div>
<blockquote class="tr_bq">
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-indent: 36.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="color: #1a1718; font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">“Um meio é algo
pelo qual algo é efetuado e, assim, alcançado. Aquilo que tem como consequência
um <b style="mso-bidi-font-weight: normal;">efeito</b>, denominamos <b style="mso-bidi-font-weight: normal;">causa</b>.”</span></div>
</blockquote>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-indent: 36.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="color: #1a1718; font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Tanto o meio por
onde se obtém um determinado efeito como a própria finalidade que se busca
alcançar colocam em função a questão da <b style="mso-bidi-font-weight: normal;">causa</b>.
E aí, já não estamos mais no terreno da pura técnica, mas já adentramos em um
outro que é aquele da <b style="mso-bidi-font-weight: normal;">Ética</b>. Veremos
porquê.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-indent: 36.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="color: #1a1718; font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Quando ouvimos o
significante “causa”, dentro do modelo científico, ele nos remete imediatamente
a conhecida relação de causa e efeito. No campo da clínica, por exemplo, há
muito se questiona acerca da “causa” das doenças, dos transtornos, dos
distúrbios. Mas o que se oculta nessa interrogação é que ela já é fundamentada
por uma outra vertente da “causa”: “a causa pela qual se luta, a causa que se
defende e pela qual se pode até morrer. Trata-se da causa que norteia uma
vida.” (Quinet, A. A estranheza da Psicanálise, 2003, P. 27)</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-indent: 36.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="color: #1a1718; font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Aqui já é preciso
dizer que trouxemos para o debate um outro campo, aquele da <b style="mso-bidi-font-weight: normal;">política</b>. A indústria farmacêutica que
financia as pesquisas chamadas “clínicas” sustenta uma “causa”. O sujeito que
padece de um sofrimento, também sustenta a sua.Isso porque, como
nos diz Heidegger, a causa e o que ela<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>ocasiona tem a ver com o que a cada vez aparece no produzir, e o que
aparece no produzir é a <b style="mso-bidi-font-weight: normal;">verdade</b> que
o sustenta: <span style="mso-spacerun: yes;"> </span></span></div>
<blockquote class="tr_bq">
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-indent: 36.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="color: #1a1718; font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">“O produzir leva
do ocultamento para o descobrimento. O trazer à frente somente se dá na medida
em que algo oculto chega ao desocultamento. Este surgir repousa e vibra naquilo
que denominamos o desabrigar (Entbergen). Os gregos têm para isso a palavra
“aletheia”. Os romanos a traduzem por “veritas”. Nós dizemos “verdade” e a
compreendemos costumeiramente como a exatidão da representação. (...)</span><span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"> <span style="color: #1a1718;">Por onde nos perdemos? Questionamos a técnica e agora
aportamos na aletheia, no desabrigar. O que a essência da técnica tem a ver com
o desabrigar? Resposta: tudo. Pois no desabrigar se fundamenta todo produzir. (...)
A técnica não é, portanto, meramente um meio. É um modo de desabrigar. Se
atentarmos para isso, abrir-se-á para nós um âmbito totalmente diferente para a
essência da técnica. Trata-se do âmbito do desabrigamento, isto é, da verdade.”</span></span></div>
</blockquote>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-indent: 36.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="color: #1a1718; font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Assim, perguntar
sobre os meios para se chegar a um fim, não é uma questão meramente técnica,
mas também ética e política. Chagamos portanto a uma relação entre técnica,
causa e verdade, que passaremos a explorar. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-indent: 36.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="color: #1a1718; font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Há séculos,
diz-nos Heidegger, a filosofia ensina que há quatro causas:</span></div>
<ol>
<li><span style="color: #1a1718; font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"> a causa
materialis, o material, a matéria a partir da qual, por exemplo, uma taça de
prata é feita; </span></li>
<li><span style="color: #1a1718; font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">a causa
formalis, a forma, a figura, na qual se instala o material;</span></li>
<li><span style="color: #1a1718; font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">a causa
finalis, o fim, por exemplo, o sacrifício para o qual a taça requerida é
determinada segundo matéria e forma; </span></li>
<li><span style="color: #1a1718; font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">a causa
efficiens, o forjador da prata que efetua o efeito, a taça real acabada. </span></li>
</ol>
<span style="color: #1a1718; font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><br /></span><div style="text-align: justify;">
<span style="color: #1a1718; font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"></span><span style="color: #1a1718; font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"> Na verdade essas
quatro dimensões da causa foram elaboradas por Aristóteles, há mais de 300 anos
a.C.</span><span style="color: #1a1718; font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"> Em um texto
intitulado “A Ciência e a Verdade”, Lacan vai examinar os campos do saber que
se organizaram na história da humanidade a partir da causa e da verdade que
está em jogo em cada um deles: a magia, a religião e a ciência. E, a partir daí,
vai poder situar a especificidade da psicanálise em situação de ex-centricidade
em relação a esses outros campos</span></div>
<div class="MsoListParagraphCxSpFirst" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 14.2pt; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; mso-add-space: auto; mso-layout-grid-align: none; mso-list: l0 level1 lfo1; mso-pagination: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-indent: 36.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="color: #1a1718; font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";"><span style="mso-list: Ignore;">a)<span style="font: 7.0pt "Times New Roman";"> </span></span></span><span style="color: #1a1718; font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">a magia é a verdade como causa sob
seu aspecto de causa eficiente. Isso porque a verdade está no agente que é o
xamã, cujo corpo ele empresta ao mito, sustentando o ritual por onde a verdade
se processa. (Quinet, 2003, p 31). “Ela supõe o significante respondendo como
tal ao significante. O significante na natureza é invocado pelo significante no
encantamento. É metaforicamente mobilizado. A Coisa, na medida que fala,
responde a nossas objurgações.”(Lacan, 1966, p.885). Trovão, chuva, meteoros e
milagres, é assim que aparece aquilo que o xamã mobiliza na natureza, mas essa
é uma forma de relação com a causa que negligencia a verdade do sujeito. Esconde-se
aí que a preparação do sujeito em sua relação com a verdade é imprescindível
para que ele possa operar com seus poderes. Ele precisa se purificar, entrar em
contato com a natureza, etc.</span></div>
<div class="MsoListParagraphCxSpMiddle" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 14.2pt; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; mso-add-space: auto; mso-layout-grid-align: none; mso-list: l0 level1 lfo1; mso-pagination: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-indent: 36.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="color: #1a1718; font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";"><span style="mso-list: Ignore;">b)<span style="font: 7.0pt "Times New Roman";"> </span></span></span><span style="color: #1a1718; font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Na religião, trata-se da verdade
como causa final: “o religioso entrega a Deus a incumbência da causa, mas nisso
corta seu próprio acesso a verdade. Por isso é levado a atribuir a Deus a causa
de seu desejo, o que é propriamente o objeto do sacrifício. Sua demanda é
submetida ao desejo suposto de um Deus que , por conseguinte, é preciso
seduzir. O jogo do amor entra por ai.</span></div>
<div class="MsoListParagraphCxSpLast" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 14.2pt; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; mso-add-space: auto; mso-layout-grid-align: none; mso-list: l0 level1 lfo1; mso-pagination: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-indent: 36.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="color: #1a1718; font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";"><span style="mso-list: Ignore;">c)<span style="font: 7.0pt "Times New Roman";"> </span></span></span><span style="color: #1a1718; font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Na ciência, o que ocorre é que, da
verdade como causa, ela nada quer saber nada, centrando-se inteiramente na
causa formal. A questão do saber e da verdade são reduzidas à questão do
método, das formas, e nada mais do lado do sujeito precisa ser questionado,
como por exemplo, o desejo do pesquisador... Falaremos um pouco mais dessa
modalidade de saber.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-indent: 36.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="color: #1a1718; font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">A ciência
progride pela vontade de potência de domínio sobre o real. Encontrar as
respostas para tudo aquilo que se atravessa em nossa história como enigma,
obstáculo, e no limite, para a própria morte. No entanto, esse progresso
científico é balizado muito mais pelos novos obstáculos que cada teorização
encontra, do que pelos próprios avanços obtidos. Essa é a tese de Koyré, filósofo
como quem Lacan irá dialogar, mas que podemos encontrar de alguma maneira
também nas formulações de Popper e Kuhn.</span></div>
<blockquote class="tr_bq">
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-indent: 36.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="color: #1a1718; font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">“Na perspectiva
de Koyré, o obstáculo e inerente a produção do conceito, e por extensão, à
elaboração do saber da ciência. Até porque o tal ‘obstáculo’ não faz mais do
que <i style="mso-bidi-font-style: normal;">revelar o impensável de uma época</i>.
Em consequência, acaba por mostrar o limite da axiomática na qual se insere.
Donde se depreende que, para ele, o impensável em uma axiomática – em uma época
dada – indica o advento de uma nova dimensão e aponta o surgimento da
axiomática seguinte.” (CABAS, G.A. 2003, p.200)</span></div>
</blockquote>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-indent: 36.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="color: #1a1718; font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"> No entanto, o
curioso do discurso científico é que, desses limites com os quais ele vai se
deparando (e que constituem sua verdade), ele não quer saber nada. Ele foraclui
a verdade como causa, assim como sutura o sujeito eliminando a questão do seu
desejo. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 36.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="color: #1a1718; font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">É assim
que a ciência moderna nasce por um movimento que elimina as relações do sujeito
com a verdade, </span><span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">por uma valorização do “como funciona”, em
detrimento do “qual o agente” ou “qual a finalidade” de uma ação. Enquanto que
no pensamento teocêntrico, Deus era o eixo central enquanto <i style="mso-bidi-font-style: normal;">causa final</i>, as leis do pensamento
científico são uma espécie de <i style="mso-bidi-font-style: normal;">causa
formal</i>, onde não interessa a intenção do agente nem seus porquês.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 36.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="color: #1a1718; font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span></span><span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">É interessante observarmos que,
ao mesmo tempo em que cria as condições para o surgimento do sujeito (antes do
momento cartesiano, o único agente do universo era Deus), o nascimento da
ciência moderna expulsa de suas condições de possibilidade exatamente tudo que
diz respeito a esse sujeito. Isso porque, a partir daí, nada do “ser de
sujeito” do cientista participa dessa produção do conhecimento. Pelo contrário,
espera-se dele a máxima neutralidade. Como diz Lacan no seminário 11, ninguém
se pergunta sobre o desejo do Físico!</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 36.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Daí porque Lacan vai
afirmar que o sujeito da psicanálise é o mesmo sujeito da ciência. Antes da
ciência moderna, não haveria possibilidade de surgimento da psicanálise pois a
questão da “causa” era totalmente atribuída a Deus. Além disso, podemos dizer
que a psicanálise nasce de um dos obstáculos encontrados pela ciência
positivista: é Freud, encontrando as histéricas de Salpetriêre que se
constituíam em um limite para o saber cientifico, não respondiam a ele, não se
encaixavam em suas premissa.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 36.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Assim, seguindo a tese
de Koyré, seria a psicanálise uma ciência, já que nasce do encontro de um
obstáculo de uma axiomática anterior? Poderia até ser, se não fosse o fato de
que a psicanálise já nasce subvertendo a lógica do discurso científico. Ocorre
que Freud, ao se questionar sobre a histeria, não o fez sob os moldes de um
observador externo ao objeto estudado. O que a psicanálise sustenta é que o
“sujeito está, se nos permitem dizê-lo, em uma exclusão interna a seu objeto.
”(Lacan, 1966, p. 875).</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 36.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Foi através da análise
de seus próprios sonhos que Freud avançou no terreno da histeria. Isso porque
ele propôs uma outra fundamentação para o saber. Frente a nossa pergunta
inicial: onde vou poder buscar a matéria por onde vou intervir na clínica?
Freud respondeu: com seu próprio saber inconsciente. Isso porque o que ele
descobre é que o sintoma tem um sentido, uma lógica a ser decifrada: isso fala!
É portanto no próprio texto inconsciente que se manifesta através dos lapsos,
sonhos chistes, que a verdade do sujeito deve ser buscada.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 36.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Ou seja, a psicanálise,
nas exposição das causas aristotélicas, opera de forma diferente tanto da magia
(que se encontra na clínica sob a forma de sugestão) como da religião e da
ciência. A psicanálise reintroduz no campo do saber a relação do sujeito com
seu desejo, ou seja, com sua verdade. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 36.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Mas aí, ela opera uma subversão tão grande, que não é
mais possível pensarmos a questão da formação como algo que se dá nos bancos de
uma universidade. Não podemos mais esperar de uma acumulação do saber, que
foraclui o sujeito, as bases para que ela possa intervir segundo uma técnica.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 36.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">É preciso que o próprio
sujeito vá se interrogar sobre o seu desejo, que ele possa ter acesso a sua
própria verdade e às fixões<span style="font-size: xx-small;"><a href="https://www.blogger.com/blogger.g?blogID=7548064999185896208#_ftn1" name="_ftnref1" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-family: "Times New Roman";">[1]</span></span></span></span></a>.</span> E
a verdade para a psicanálise tem uma especificidade. Não se trata de uma
verdade transcendente, absoluta, universal. Trata-se de uma verdade particular,
um “fato de memória”: “lembrar os obstáculos que precederam a conquista de um
saber – o que Lacan denomina ‘a verdade enquanto causa’- é o que o discurso
analítico define como ‘lembrança da castração’. (CABAS, G. 2003, p. 212)</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 36.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">É isso que a ciência não
considera, a memória dos obstáculos, e que a psicanálise vai resgatar. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 36.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">O neurótico é alguém
que, ao se deparar com um obstáculo, constitui uma ‘axiomática’ para responder
pelo que ele é, pelo lugar do Outro e pelo que ele entende do mundo em si. Só
que essa construção o fixa a uma realidade em que ele é sempre objeto do gozo
do Outro; em que ele repete uma situação em que ele sofre com seu sintoma, mas
com isso goza de uma satisfação que mal se reconhece como tal.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 36.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Na clínica a consideração desses princípios implica
reconhecer que a conduta do terapeuta de forma alguma pode ser reduzida a uma “escolha
da abordagem” teórica ou do aprendizado de técnicas, mas implica em um dimensão
do saber inconsciente que só pode ser acessado através da análise. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 36.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"> Assim, falar da técnica
exige necessariamente que falemos da (de)formação necessária para aquele que
vai exercê-la, e isso não pode ser pensado separadamente de uma ética e de uma
política. Isso é o que veremos na próxima aula. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 36.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<b><span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><span style="mso-spacerun: yes;">Referências</span></span></b></div>
<ul style="text-align: justify;">
<li><span style="font-size: small;"><span style="font-family: inherit;"><span style="line-height: 150%;"><span>Bukowski, C. (1987). (Entrevista com Sean Penn, ator e poeta). Recuperado em 20 outubro, 2011, de <a href="http://bukowski.net/poems/int2.php" target="_blank">http://bukowski.net/poems/int2.php</a> </span></span></span></span></li>
<li><span style="font-size: small;"><span style="font-family: inherit;"><span style="line-height: 150%;"><span>CABAS, A. G. O sujeito na psicanálise de Freud a Lacan: da questão do
sujeitoao sujeito em questão. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2003. </span></span></span></span></li>
<li><span style="font-size: small;"><span style="font-family: inherit;"><span style="line-height: 150%;"><span>Heidegger, M. A Questão da Técnica (1953). Revista S</span></span><span style="color: #231f20;">cientiæ </span><span style="color: #231f20;">zudia, </span><span style="color: #231f20;">São Paulo, v. 5, n. 3, p. 375-98, 2007. Disponível em </span><cite class="_Rm">www.revistas.usp.br/ss/article/download/1111</cite>AS</span></span></li>
<li><span style="font-size: small;"><span style="font-family: inherit;"><span style="line-height: 150%;"><span>LACAN, Jacques. A ciência e a verdade (1965-66). In:Escritos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 1998. </span></span></span></span></li>
<li><span style="font-size: small;"><span style="font-family: inherit;">QUINET, A. <i>A estranheza da psicanálise: a Escola de Lacan e seus analistas</i>. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2009, p.124-129. </span></span></li>
</ul>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 36.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 36.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-indent: 36.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-indent: 36.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-indent: 36.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 36.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<br /></div>
<div style="mso-element: footnote-list;">
<br clear="all" />
<hr align="left" size="1" width="33%" />
<div id="ftn1" style="mso-element: footnote;">
<div class="MsoFootnoteText">
<a href="https://www.blogger.com/blogger.g?blogID=7548064999185896208#_ftnref1" name="_ftn1" style="mso-footnote-id: ftn1;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-family: Cambria; font-size: 12.0pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: "MS Mincho"; mso-fareast-language: EN-US;">[1]</span></span></span></span></a> <span lang="EN-US" style="mso-ansi-language: EN-US;">Neologismo criado por Lacan que
junta ficções e aquilo que se fixa </span></div>
</div>
</div>
Lia Silveirahttp://www.blogger.com/profile/01914928244809718150noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-7548064999185896208.post-67781536800224576712014-08-31T16:40:00.002-03:002017-11-04T13:01:46.601-03:00Lost in Translation...<style>
<!--
/* Font Definitions */
@font-face
{font-family:"Cambria Math";
panose-1:2 4 5 3 5 4 6 3 2 4;
mso-font-charset:0;
mso-generic-font-family:auto;
mso-font-pitch:variable;
mso-font-signature:-536870145 1107305727 0 0 415 0;}
@font-face
{font-family:Cambria;
panose-1:2 4 5 3 5 4 6 3 2 4;
mso-font-charset:0;
mso-generic-font-family:auto;
mso-font-pitch:variable;
mso-font-signature:-536870145 1073743103 0 0 415 0;}
@font-face
{font-family:"MS Mincho";
panose-1:0 0 0 0 0 0 0 0 0 0;
mso-font-alt:"MS 明朝";
mso-font-charset:128;
mso-generic-font-family:roman;
mso-font-format:other;
mso-font-pitch:fixed;
mso-font-signature:1 134676480 16 0 131072 0;}
/* Style Definitions */
p.MsoNormal, li.MsoNormal, div.MsoNormal
{mso-style-unhide:no;
mso-style-qformat:yes;
mso-style-parent:"";
margin:0cm;
margin-bottom:.0001pt;
mso-pagination:widow-orphan;
font-size:10.0pt;
font-family:Cambria;
mso-fareast-font-family:"MS Mincho";
mso-bidi-font-family:"Times New Roman";}
span.null
{mso-style-name:null;
mso-style-unhide:no;}
.MsoChpDefault
{mso-style-type:export-only;
mso-default-props:yes;
font-size:11.0pt;
mso-ansi-font-size:11.0pt;
mso-bidi-font-size:11.0pt;
mso-fareast-font-family:"MS Mincho";}
@page WordSection1
{size:595.0pt 842.0pt;
margin:72.0pt 90.0pt 72.0pt 90.0pt;
mso-header-margin:35.4pt;
mso-footer-margin:35.4pt;
mso-paper-source:0;}
div.WordSection1
{page:WordSection1;}
</style>
<br />
<div class="MsoNormal">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiTir8TM6UID4-ZgMgrINOK_ub6lnGfs5C0mpSXRjk-fTVZsKaTWp-Pq7MR9B7vw1C5P67123Q2PqjFDoQGgCS-in3-N7_hvtGlhbOpfcHH7exHBsyWIXSSYc8aPSfG3EvNVVTVPUVE1bMy/s1600/0d946940b63cd64755f55a3ea6df37c8.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="510" data-original-width="905" height="180" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiTir8TM6UID4-ZgMgrINOK_ub6lnGfs5C0mpSXRjk-fTVZsKaTWp-Pq7MR9B7vw1C5P67123Q2PqjFDoQGgCS-in3-N7_hvtGlhbOpfcHH7exHBsyWIXSSYc8aPSfG3EvNVVTVPUVE1bMy/s320/0d946940b63cd64755f55a3ea6df37c8.jpg" width="320" /></a></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
<br />
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-size: small;"> “Foi só isso? Parece que ele disse bem mais que isso...”</span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-size: small;">A
fala é de Bob Harris (Bill Murray), um ator de cinema que está em Tokyo para
fazer um comercial de whisky. O Diretor, japonês, fala umas vinte frases
incompreensíveis para o ocidental, ao que a tradutora retruca: ele disse que
quer que você se vire e olhe para a câmera. Claro que não foi só isso que ele
disse. O resto ficou..lost in translation.
A frase, que dá título a esse filme belo e delicado, não poderia definir
melhor o que se passa (A tradução em português - Encontros e Desencontros - não
foi tão feliz assim). </span></span></div>
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-size: small;">
</span></span><br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-size: small;">Bob é um homem de meia idade, que arrasta um casamento
desgastado em seus 25 anos, e com uma cara de quem preferia estar em qualquer
lugar do mundo, menos no Japão. Entre as idas e vindas para a filmagem do
comercial (que lhe exige uma encenação ridícula, mas que paga milhões de
dólares para ele estar ali) Bob se revira no quarto do hotel, assolado pelo jet
lag de 24 hs de diferença de fuso. Não é dito muita coisa, mas quem já passou
uma noite tentando, em vão, dormir, sabe imediatamente do que se trata. Ele
desce pro bar do hotel e lá conhece Charlotte (Scarlett Johanson) - linda, como
só ela consegue ser, mas extremamente entediada. Ela está na cidade acompanhando
o marido fotógrafo. Ele, veio a trabalho. Ela... ainda não está muito certa a que veio.
Aliás, essa é a frase que, repetida em situações diferentes, resume sua
personagem: “I’m not sure”.</span></span></div>
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-size: small;">
</span></span><br />
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-size: small;">Ela não está muito certa do que vai querer beber, de qual é
sua profissão, do está fazendo no mundo, do que é estar casada, do que é estar
consigo mesma. Assim como Bob, ela se arrasta insone entre o quarto e o bar do
hotel. <a href="http://moviesfilmsandflix.files.wordpress.com/2014/04/lost-in-translation.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" height="173" src="https://moviesfilmsandflix.files.wordpress.com/2014/04/lost-in-translation.jpg" width="320" /></a>Nessas idas e vindas, eles se encontram. Trocam algumas
palavras, não muitas. Mas parece que compartilham algo, talvez a sensação de
que a vida está passando e eles não fazem ideia de como vieram parar ali.</span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-size: small;">Tokyo é uma metáfora para este “ali”. Uma metáfora
belíssima, por sinal. Num dos momentos mais poéticos do filme, acompanhamos
Charlotte deslocar-se de trem até Kyoto. Na viagem vemos o Monte Fuji imponente e
ancestral, e a acompanhamos em um passeio num parque, onde seu olhar cruza com uma mulher
ricamente adornada em trajes típicos japoneses, amparada pela mão do marido.
Por um segundo, somos atravessados naquele olhar por todas as perguntas que uma
mulher se faz, sobre si, sobre o amor, sobre a vida. </span></span><br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgBFXwA_TRtkradRxn0SW-U6N21A363ybxb1rcKhHu2kT1beEpwytbxCfst52l2RPr5fB5qYammhGgBgbw80nNTNZBtXGpVKN4hRIp-cPaCxydMblzNPzaDhWLIyMa5jMgjO8rt8REd79NT/s1600/hqdefault.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="360" data-original-width="480" height="240" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgBFXwA_TRtkradRxn0SW-U6N21A363ybxb1rcKhHu2kT1beEpwytbxCfst52l2RPr5fB5qYammhGgBgbw80nNTNZBtXGpVKN4hRIp-cPaCxydMblzNPzaDhWLIyMa5jMgjO8rt8REd79NT/s320/hqdefault.jpg" width="320" /></a></div>
</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-size: small;">Assim é a dor e a delícia
de poder usar das palavras. Nunca se diz tudo. Na palavras da
poeta Orides Fontela: “Tudo será difícil de dizer: a palavra real nunca é suave". Mas, apesar desse
impossível, e até por causa dele, eis que uma metáfora se faz e a poesia invade
a cena.</span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-size: small;">Aquilo que nos chega da experiência, como que invadindo
nosso corpo, precisa ser transcrito em outra língua, traduzido mesmo, disse
Freud em sua famosa carta 52 à Fliess. E nisso que se traduz, alguma coisa
resta sempre “lost in translation”. Irrecuperável, mas presente inexoravelmente
cada vez que tentarmos nos dizer.</span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
</div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-size: small;">Estar sozinha em um país distante é uma forma de
experimentar mais perto esse algo. Em uma experiência recente, fui tomada pela
visão de um quadro que, assim como esse filme, me disse muito sobre o que é
estar tão intimamente acompanhada disso que “Que dá dentro da gente e que não devia/ Que desacata a gente,
que é revelia”. O quadro, de Edward Hooper, se chama “Hotel Room”. </span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-size: small;"><a href="http://03varvara.files.wordpress.com/2010/06/edward-hopper-hotel-room-1931-e1276936366167.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="291" src="https://03varvara.files.wordpress.com/2010/06/edward-hopper-hotel-room-1931-e1276936366167.jpg" width="320" /></a></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-size: small;"></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-size: small;">Nele vemos u<span class="null">ma mulher sentada na cama de
um hotel qualquer. Ela se despiu, seu chapéu e suas roupas estão jogados sobre
uma cadeira e ela parece cansada demais para desfazer a mala. Nas suas mãos um
papel que ela examina, provavelmente o bilhete do trem que vai pegar no dia
seguinte. Tal qual a Charlotte diante da gueixa da cena do filme, me vi
fascinada por aquela mulher, identificada ao que ali se diz de sua situação de
viajante sozinha, mas, principalmente, identificada ao que não sei dizer de mim que
ela parece também portar. </span>Enfim, seja em NovaYork, em Tokyo, em Madrid ou no interior
do Ceará, tem sempre a possibilidade de encontrarmos com essa estranheza
familiar.</span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-size: small;">
</span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-size: small;">Sofia Copolla teve um grande mérito nesse filme (mais um
entre tantos): não reduziu o desconforto, o tédio, a angústia, a um encontro
onde o amor resolve tudo, como é a promessa do cinema holywoodiano). Charlotte
e Bob se encontram, é fato. Mas isso não elimina a estranheza. Apesar da
sensação implícita de que pela primeira vez na vida conseguem estar com alguém
com quem minimamente conseguem conversar, a promessa de um amor vai se
arrastando. Provavelmente enquanto ele pensa na esposa e nos filhos que deixou
na América, e ela no marido workaholic que não consegue ficar perto dela.</span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-size: small;">
</span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-size: small;">A tensão é constante, mas não há encontro físico. Eles
dormem juntos porque pegam no sono conversando, mas não fazem sexo. E o único
beijo do filme acontece num momento lindo, quando prestes a pegar o avião que
vai levá-lo embora para longe de Charlotte, Bob sussurra algo em seu ouvido,
algo que nós espectadores nunca vamos saber: lost in translation. </span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-size: small;">
</span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-size: small;">Fica a sensação se que algo escapou, algo está
perdido. Mas é isso também que faz toda a beleza do filme e da vida. Não é que
a vida valha a pena, apesar de perdermos. É exatamente porque perdemos que vale
a pena seguir inventando: inventando o amor, a poesia, a vida. </span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-size: small;">
</span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-size: small;">A psicanálise tem outra forma de dizer isso. Nessa mesma
viagem em que encontrei Hooper, tiver a oportunidade de ouvir uma belíssima apresentação
do psicanalista Antonio Quinet onde ele disse da estrangeiridade de todos nós
em relação ao inconsciente, que é sempre translinguístico. Isso é, apesar da ilusão
de que “é falando que a gente se entende”, estamos todos - mesmo quem nunca
saiu do seu lugar natal - sempre tendo que nos virar com uma língua estrangeira.
E que a tarefa do analista consiste em arrancar as palavras de sua
familiaridade, permitindo que, por um lado, o sujeito se descole de suas
identificações, e por outro, que aquilo que cai “lost in translation” compareça.
</span></span><span style="font-family: "times new roman"; font-size: 11.0pt;"></span></div>
Lia Silveirahttp://www.blogger.com/profile/01914928244809718150noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7548064999185896208.post-10545182364425772942014-08-26T21:06:00.001-03:002014-08-26T21:06:22.076-03:00As escolhas (Hetero) (Homo) sexuais e a Psicanálise<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 36.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<style>
<!--
/* Font Definitions */
@font-face
{font-family:"Courier New";
panose-1:2 7 3 9 2 2 5 2 4 4;
mso-font-charset:0;
mso-generic-font-family:auto;
mso-font-pitch:variable;
mso-font-signature:3 0 0 0 1 0;}
@font-face
{font-family:Wingdings;
panose-1:5 0 0 0 0 0 0 0 0 0;
mso-font-charset:2;
mso-generic-font-family:auto;
mso-font-pitch:variable;
mso-font-signature:0 268435456 0 0 -2147483648 0;}
@font-face
{font-family:Wingdings;
panose-1:5 0 0 0 0 0 0 0 0 0;
mso-font-charset:2;
mso-generic-font-family:auto;
mso-font-pitch:variable;
mso-font-signature:0 268435456 0 0 -2147483648 0;}
@font-face
{font-family:Cambria;
panose-1:2 4 5 3 5 4 6 3 2 4;
mso-font-charset:0;
mso-generic-font-family:auto;
mso-font-pitch:variable;
mso-font-signature:3 0 0 0 1 0;}
@font-face
{font-family:"MS Mincho";
panose-1:0 0 0 0 0 0 0 0 0 0;
mso-font-alt:"MS 明朝";
mso-font-charset:128;
mso-generic-font-family:roman;
mso-font-format:other;
mso-font-pitch:fixed;
mso-font-signature:1 134676480 16 0 131072 0;}
/* Style Definitions */
p.MsoNormal, li.MsoNormal, div.MsoNormal
{mso-style-unhide:no;
mso-style-qformat:yes;
mso-style-parent:"";
margin:0cm;
margin-bottom:.0001pt;
mso-pagination:widow-orphan;
font-size:10.0pt;
font-family:Cambria;
mso-fareast-font-family:"MS Mincho";
mso-bidi-font-family:"Times New Roman";}
p.MsoFooter, li.MsoFooter, div.MsoFooter
{mso-style-priority:99;
mso-style-link:"Footer Char";
margin:0cm;
margin-bottom:.0001pt;
mso-pagination:widow-orphan;
tab-stops:center 216.0pt right 432.0pt;
font-size:10.0pt;
font-family:Cambria;
mso-fareast-font-family:"MS Mincho";
mso-bidi-font-family:"Times New Roman";}
p.MsoListParagraph, li.MsoListParagraph, div.MsoListParagraph
{mso-style-priority:34;
mso-style-unhide:no;
mso-style-qformat:yes;
margin-top:0cm;
margin-right:0cm;
margin-bottom:0cm;
margin-left:36.0pt;
margin-bottom:.0001pt;
mso-add-space:auto;
mso-pagination:widow-orphan;
font-size:10.0pt;
font-family:Cambria;
mso-fareast-font-family:"MS Mincho";
mso-bidi-font-family:"Times New Roman";}
p.MsoListParagraphCxSpFirst, li.MsoListParagraphCxSpFirst, div.MsoListParagraphCxSpFirst
{mso-style-priority:34;
mso-style-unhide:no;
mso-style-qformat:yes;
mso-style-type:export-only;
margin-top:0cm;
margin-right:0cm;
margin-bottom:0cm;
margin-left:36.0pt;
margin-bottom:.0001pt;
mso-add-space:auto;
mso-pagination:widow-orphan;
font-size:10.0pt;
font-family:Cambria;
mso-fareast-font-family:"MS Mincho";
mso-bidi-font-family:"Times New Roman";}
p.MsoListParagraphCxSpMiddle, li.MsoListParagraphCxSpMiddle, div.MsoListParagraphCxSpMiddle
{mso-style-priority:34;
mso-style-unhide:no;
mso-style-qformat:yes;
mso-style-type:export-only;
margin-top:0cm;
margin-right:0cm;
margin-bottom:0cm;
margin-left:36.0pt;
margin-bottom:.0001pt;
mso-add-space:auto;
mso-pagination:widow-orphan;
font-size:10.0pt;
font-family:Cambria;
mso-fareast-font-family:"MS Mincho";
mso-bidi-font-family:"Times New Roman";}
p.MsoListParagraphCxSpLast, li.MsoListParagraphCxSpLast, div.MsoListParagraphCxSpLast
{mso-style-priority:34;
mso-style-unhide:no;
mso-style-qformat:yes;
mso-style-type:export-only;
margin-top:0cm;
margin-right:0cm;
margin-bottom:0cm;
margin-left:36.0pt;
margin-bottom:.0001pt;
mso-add-space:auto;
mso-pagination:widow-orphan;
font-size:10.0pt;
font-family:Cambria;
mso-fareast-font-family:"MS Mincho";
mso-bidi-font-family:"Times New Roman";}
span.FooterChar
{mso-style-name:"Footer Char";
mso-style-priority:99;
mso-style-unhide:no;
mso-style-locked:yes;
mso-style-link:Footer;
mso-ansi-font-size:10.0pt;
mso-bidi-font-size:10.0pt;
font-family:Cambria;
mso-ascii-font-family:Cambria;
mso-hansi-font-family:Cambria;}
.MsoChpDefault
{mso-style-type:export-only;
mso-default-props:yes;
font-size:11.0pt;
mso-ansi-font-size:11.0pt;
mso-bidi-font-size:11.0pt;
mso-fareast-font-family:"MS Mincho";}
@page WordSection1
{size:595.0pt 842.0pt;
margin:72.0pt 70.9pt 72.0pt 70.9pt;
mso-header-margin:35.45pt;
mso-footer-margin:35.45pt;
mso-paper-source:0;}
div.WordSection1
{page:WordSection1;}
/* List Definitions */
@list l0
{mso-list-id:803741129;
mso-list-type:hybrid;
mso-list-template-ids:-620298804 67698711 67698713 67698715 67698703 67698713 67698715 67698703 67698713 67698715;}
@list l0:level1
{mso-level-number-format:alpha-lower;
mso-level-text:"%1\)";
mso-level-tab-stop:none;
mso-level-number-position:left;
text-indent:-18.0pt;}
@list l0:level2
{mso-level-number-format:alpha-lower;
mso-level-tab-stop:none;
mso-level-number-position:left;
text-indent:-18.0pt;}
@list l0:level3
{mso-level-number-format:roman-lower;
mso-level-tab-stop:none;
mso-level-number-position:right;
text-indent:-9.0pt;}
@list l0:level4
{mso-level-tab-stop:none;
mso-level-number-position:left;
text-indent:-18.0pt;}
@list l0:level5
{mso-level-number-format:alpha-lower;
mso-level-tab-stop:none;
mso-level-number-position:left;
text-indent:-18.0pt;}
@list l0:level6
{mso-level-number-format:roman-lower;
mso-level-tab-stop:none;
mso-level-number-position:right;
text-indent:-9.0pt;}
@list l0:level7
{mso-level-tab-stop:none;
mso-level-number-position:left;
text-indent:-18.0pt;}
@list l0:level8
{mso-level-number-format:alpha-lower;
mso-level-tab-stop:none;
mso-level-number-position:left;
text-indent:-18.0pt;}
@list l0:level9
{mso-level-number-format:roman-lower;
mso-level-tab-stop:none;
mso-level-number-position:right;
text-indent:-9.0pt;}
@list l1
{mso-list-id:893126637;
mso-list-type:hybrid;
mso-list-template-ids:602553458 67698711 67698713 67698715 67698703 67698713 67698715 67698703 67698713 67698715;}
@list l1:level1
{mso-level-number-format:alpha-lower;
mso-level-text:"%1\)";
mso-level-tab-stop:none;
mso-level-number-position:left;
text-indent:-18.0pt;}
@list l1:level2
{mso-level-number-format:alpha-lower;
mso-level-tab-stop:none;
mso-level-number-position:left;
text-indent:-18.0pt;}
@list l1:level3
{mso-level-number-format:roman-lower;
mso-level-tab-stop:none;
mso-level-number-position:right;
text-indent:-9.0pt;}
@list l1:level4
{mso-level-tab-stop:none;
mso-level-number-position:left;
text-indent:-18.0pt;}
@list l1:level5
{mso-level-number-format:alpha-lower;
mso-level-tab-stop:none;
mso-level-number-position:left;
text-indent:-18.0pt;}
@list l1:level6
{mso-level-number-format:roman-lower;
mso-level-tab-stop:none;
mso-level-number-position:right;
text-indent:-9.0pt;}
@list l1:level7
{mso-level-tab-stop:none;
mso-level-number-position:left;
text-indent:-18.0pt;}
@list l1:level8
{mso-level-number-format:alpha-lower;
mso-level-tab-stop:none;
mso-level-number-position:left;
text-indent:-18.0pt;}
@list l1:level9
{mso-level-number-format:roman-lower;
mso-level-tab-stop:none;
mso-level-number-position:right;
text-indent:-9.0pt;}
@list l2
{mso-list-id:1873879361;
mso-list-type:hybrid;
mso-list-template-ids:-597937168 67698689 67698691 67698693 67698689 67698691 67698693 67698689 67698691 67698693;}
@list l2:level1
{mso-level-number-format:bullet;
mso-level-text:;
mso-level-tab-stop:none;
mso-level-number-position:left;
text-indent:-18.0pt;
font-family:Symbol;}
@list l2:level2
{mso-level-number-format:bullet;
mso-level-text:o;
mso-level-tab-stop:none;
mso-level-number-position:left;
text-indent:-18.0pt;
font-family:"Courier New";}
@list l2:level3
{mso-level-number-format:bullet;
mso-level-text:;
mso-level-tab-stop:none;
mso-level-number-position:left;
text-indent:-18.0pt;
font-family:Wingdings;}
@list l2:level4
{mso-level-number-format:bullet;
mso-level-text:;
mso-level-tab-stop:none;
mso-level-number-position:left;
text-indent:-18.0pt;
font-family:Symbol;}
@list l2:level5
{mso-level-number-format:bullet;
mso-level-text:o;
mso-level-tab-stop:none;
mso-level-number-position:left;
text-indent:-18.0pt;
font-family:"Courier New";}
@list l2:level6
{mso-level-number-format:bullet;
mso-level-text:;
mso-level-tab-stop:none;
mso-level-number-position:left;
text-indent:-18.0pt;
font-family:Wingdings;}
@list l2:level7
{mso-level-number-format:bullet;
mso-level-text:;
mso-level-tab-stop:none;
mso-level-number-position:left;
text-indent:-18.0pt;
font-family:Symbol;}
@list l2:level8
{mso-level-number-format:bullet;
mso-level-text:o;
mso-level-tab-stop:none;
mso-level-number-position:left;
text-indent:-18.0pt;
font-family:"Courier New";}
@list l2:level9
{mso-level-number-format:bullet;
mso-level-text:;
mso-level-tab-stop:none;
mso-level-number-position:left;
text-indent:-18.0pt;
font-family:Wingdings;}
ol
{margin-bottom:0cm;}
ul
{margin-bottom:0cm;}(Texto apresenad</style><span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 11.0pt; line-height: 150%;"> </span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhrOUvjFh17G2DdYINhaHXv-CZ1Xcu1nTedv2FLH7XE3Hqjrows2uZv6CkNR4Ju_0og4U8tv50LWSQz-n1lKXj9grYXNlYB5gtsGChT3X5sFQ97AFis3l-cCo-FhNa7WHfTi1PPbm-Fegwj/s1600/hetero_homo.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhrOUvjFh17G2DdYINhaHXv-CZ1Xcu1nTedv2FLH7XE3Hqjrows2uZv6CkNR4Ju_0og4U8tv50LWSQz-n1lKXj9grYXNlYB5gtsGChT3X5sFQ97AFis3l-cCo-FhNa7WHfTi1PPbm-Fegwj/s1600/hetero_homo.jpg" height="213" width="320" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 36.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 11.0pt; line-height: 150%;">Para além das
determinações sociais, culturais ou de gênero, a psicanálise vai afirmar que, para o ser falante,
tanto a identificação com seu sexo como a escolha de objeto são engendradas a
partir de uma “outra cena”, inconsciente.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 36.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 11.0pt; line-height: 150%;">Usamos aqui tres
palavras que exigem que falemos um pouco mais sobre elas: identificação,
escolha e objeto. Comecemos com uma pergunta: afinal, podemos falar de
“escolha” no que tange a sexualidade? </span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 4.0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 11.0pt; line-height: 150%;">“Dizer
que um homem ou uma mulher “escolheu” ser homossexual pode parecer um absurdo,
ainda mais no caso em que tudo que ele/ela preferiria na vida seria ser
heterossexual, ou quando luta contra seus desejos, ou se recrimina por eles e
até tenta se matar para não ter que viver sua pulsão, a qual lhe exige
constante satisfação. (...) No entanto, falar de escolha subjetiva em relação à
sua forma de falar é uma postura ética, que tira o sujeito dito homossexual do
lugar de vítima: de sua genética ou de seu destino ou do desejo de seus pais, o
Outro parental. Falar de escolha sexual implica em fazer o sujeito responsável
por seu gozo.” (Quinet, 2013, p.
131)</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 36.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 11.0pt; line-height: 150%;">Como então podemos
entender essa “escolha” que mal se reconhece como tal? Em primeiro lugar é
preciso situá-la dentro dessa “outra cena” a que nos referimos há pouco. Não se
trata de uma escolha consciente, de uma decisão tomada deliberadamente em um
dado momento cronológico da vida. Trata-se de uma escolha forçada, como diz
Lacan. Para ilustrar essa escolha, ele coloca a seguinte situação: imagine que você que vem andando distraído, portanto uma bolsa com todos
os seus pertences. De repente, surge o ladrão que, com uma arma encostada na
sua cabeça, sentencia: a bolsa ou a vida! Não sei o que você faria, a gente
nunca sabe de antemão como reagiria numa situação dessas, mas pode ter certeza
de uma coisa: a bolsa, você já a perdeu!<span style="mso-spacerun: yes;">
</span>Considerando que a opção de correr está fora de cogitação (lembre-se que
o cano está apontado pra sua cabeça, sobram duas opções: a) você escolhe a vida
e entrega a bolsa; b) você escolhe a bolsa,
e ai ele lhe tira a vida. O que no final das contas não vai lhe sobrar muito
pra continuar usufruindo da bolsa.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 36.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 11.0pt; line-height: 150%;">Pois bem, nossa
constituição psíquica nos coloca em determinado momento frente a uma escolha
desse mesmo tipo, e nos obriga a nos alienar ao Outro da linguagem e com isso
perdemos algo. É preciso dizer que nem todos escolhem essa via, é possível
escolher também a bolsa, não se alienando ao Outro, mas nesse caso as
consequências são tão devastadoras que já não podemos usufruir da bolsa. Mas
não trataremos desse caso aqui. Detenhamo-nos portanto naqueles que escolhem a
vida.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 36.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 11.0pt; line-height: 150%;">Não nascemos homens ou
mulheres, nem hetero nem homossexuais. (Na verdade, o que Freud descobriu em
sua clínica foi que nascemos com uma predisposição bissexual que só depois vai
se definir). Mas enfim, nós nascemos mesmo é completamente desamparados, sem
recurso algum para lidar com um corpo que vive, ao sabor das pulsões parciais.
Se nós estamos aqui hoje conversando, é porque quando nascemos, algum outro se
dignou a nos tomar em seu desejo e, frente a esse nosso desamparo fundamental,
compareceu. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 36.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 11.0pt; line-height: 150%;">Freud toma como exemplo
dessa situação o bebezinho recém-nascido que chora e esperneia. Ele sente
coisas, coisas que não sabe ainda nomear. Uma delas é uma sensação de
contrações no estômago que o deixa muito irritado: FOME! O adulto que se
aproxima, geralmente a mãe ou quem ocupa seu lugar, oferece o seio ou a
mamadeira ele então tem aquilo que chamamos de “primeira experiência de
satisfação”. Aquilo é maravilhoso! E ele guarda consigo um traço mnêmico dessa
experiência. Mas o que Freud descobriu foi que, da próxima vez que a fome
bater, ele não vai sair gritando e esperneando pra chamar novamente a mãe. Ele
investe libidinalmente o traço que ficou marcado dessa experiência, o que quer
dizer que ele alucina! Ele tenta por essa via alucinada repetir a experiência
do mesmo objeto da primeira satisfação. Mas ele não encontra, porque o que ele
tem são apenas traços, vestígios desse objeto.<span style="mso-spacerun: yes;">
</span>E aí, ele é obrigado a chamar novamente a mãe que novamente comparece
com o seio.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 36.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 11.0pt; line-height: 150%;">Como diz Quinet (2013, p. 132), “o
sujeito escolhe o <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Outro do amor como uma
escolha forçada, que constitui sua alienação- menos pior que o desamparo da
ausência do Outro. Trata-se da escolha do Outro do sentido, ou seja, da
linguagem, aquele que dá ao sujeito o apoio do simbólico. Mas para entrar na
sexualidade, ele deve, em seguida, poder separar-se , pois, entre o sujeito e o
Outro, há o objeto a, causa do desejo, que lhe dará a orientação subjetiva e
sexual em sua singularidade. É esse o objeto que o sujeito alojará no parceiro
sexual de sua escolha.” (p. 132)</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 36.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 11.0pt; line-height: 150%;">Após a alienação ao
Outro do amor, a separação. Desse processo restará um vazio deixado pelo objeto
esperado mas não encontrado É nesse lugar que Lacan vai construir seu conceito
de objeto a, objeto que causa o desejo e não objeto de satisfação do desejo.
Dito de outra maneira, nós não temos algo a nossa frente (como quer nos fazer
acreditar o capitalismo) que, ao ser encontrado, responderá pelo nosso desejo.
O que nós temos é um vazio que nos obriga a caminhar pela vida, buscando
substitutos que o preencham.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 36.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 11.0pt; line-height: 150%;">É na relação que
estabelecemos com esse vazio, ou com esse objeto que vão se organizar duas das
nossas escolhas mais importantes em termos de sexualidade: a escolha da posição
sexuada dentro da partilha dos sexos (posição masculina ou feminina) e a
escolha de objeto sexual.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 36.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 11.0pt; line-height: 150%;">O discurso religioso ou
até mesmo o discurso da ciência nos levam a crer que existe uma norma natural
que rege isso. Do lado religioso, ouvimos constantemente afirmações como “a
relação entre dois homens não pode ser aceita porque não é natural”. Do lado
científico, as teorias genéticas levam a explicações baseadas nas <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>organizações cromossômicas que cada um
portamos e defende que é isso que define nosso sexo.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Daí que tudo aquilo que desvia dessa pretensa
natureza é tido como desvio, pecado ou doença. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 36.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 11.0pt; line-height: 150%;">Mas o que a psicanálise
descobre é que que, se tem uma coisa que todos nós somos em termos de
sexualidade, é que somos todos desviantes! Perverso polimorfo, foi assim que
Freud chamou a criança, que busca satisfazer suas pulsões por todos os buracos
do corpo: daí a pulsão oral, anal, escópica, invocante... A entrada na norma
fálica tenta recalcar essa sexualidade infantil a serviço dos avanços a
civilização. Mas ocorre que a pulsão persiste, insaciável, exigindo sua
satisfação, ainda que por outras vias desviadas. Daí que a sexualidade do ser
falante, ao contrário do animal, é sempre conflituosa.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 36.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 11.0pt; line-height: 150%;">É em meio a essa bagunça
da pulsão, por um lado, e as exigências civilizatórias, por outro, que cada um
precisa se posicionar sexualmente e escolher seu objeto. Falemos primeiramente
da escolha da posição sexuada: tornar-se homem ou tornar-se mulher, o que é
isso? </span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 36.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 11.0pt; line-height: 150%;">Freud descobriu uma
coisa estranha: a criança pequena desconhece a diferença sexual e atribui um
falo a todos os seres animados...e as vezes até aos inanimados. É o que ele
chamou de “primazia do falo”. Acima de tudo, ela supõe um falo á mãe, que como
ser mais importante na sua escala do universo, deve ter um falo maior que todos
do mundo! Do tamanho do de um cavalo, como diz o famoso pequeno Hans. Na
verdade ela até se identifica a esse falo materno, como aquilo que a
complementa e a realiza. Nesse momento, meninos e meninas tem uma mesma escolha
de objeto: a mãe. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 36.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 11.0pt; line-height: 150%;">A descoberta de que a
mãe não tem o falo, de que ela não é completa, de que ela deseja, é decisiva <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>para o posicionamento da criança frente a
partilha sexual e aqui muita coisa pode acontecer. Se ela for neurótica, o caso
que estamos abordando aqui, ela vai localizar no pai, aquilo que a mãe deseja,
ou seja, o falo. Foi a isso que Freud tentou explicar com o termo Complexo de
Édipo. O Édipo é uma experiência determinante para que o sujeito possa
separar-se desse lugar de objeto da mãe, definindo seu lugar no mundo e com
isso sua identificação com seu sexo e sua escolha de objeto. Somente aqui as
coisas começam a se diferenciar para meninos e meninas:</span></div>
<div class="MsoListParagraphCxSpFirst" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; mso-add-space: auto; mso-list: l0 level1 lfo1; text-align: justify; text-indent: -14.7pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 11.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";"><span style="mso-list: Ignore;">a)<span style="font: 7.0pt "Times New Roman";"> </span></span></span><span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 11.0pt; line-height: 150%;">o
menino será aquele que, ao localizar o falo do lado do pai, passa a se
identificar com ele, aquele que tem o falo, abre mão da mãe como objeto de amor
e passa a procurar uma mulher que a substitua.</span></div>
<div class="MsoListParagraphCxSpLast" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; mso-add-space: auto; mso-list: l0 level1 lfo1; text-align: justify; text-indent: -14.7pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 11.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";"><span style="mso-list: Ignore;">b)<span style="font: 7.0pt "Times New Roman";"> </span></span></span><span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 11.0pt; line-height: 150%;">A
menina será aquela que, localizando o falo do lado do pai, se identifica com
aquela que não tem o falo, a mãe, e passa a esperar receber o falo do pai em
forma de um bebê. Como esse bebe do pai não chega, ela passa a buscá-lo em
outros homens. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 36.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 11.0pt; line-height: 150%;">Essa é a explicação
freudiana que, apesar de muito importante para entendermos o processo de
sexuação, tem alguns pontos cegos, alguns pontos problemáticos. Principalmente
no que tange a explicar a posição feminina, pois se ela responde pelo que é o
desejo da mãe (um filho) ela deixa intocada a questão do que quer uma mulher.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 36.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 11.0pt; line-height: 150%;">Lacan vai entrar nessa
conversa apontando que Freud fez avanços importantíssimos nessa área e que
precisavam ser resgatados: a sexualidade infantil, a realidade psíquica, a
lógica inconsciente,<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>o objeto para
sempre perdido... mas que ele se deteve num certo ponto: suas elaborações se
detiveram dentro da lógica fálica, aquela que responde pelo desejo, pela
libido, sempre masculina. Por isso Freud se deteve frente ao que ele chamou de
“continente negro”.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 36.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 11.0pt; line-height: 150%;">Para poder avançar nos
esquemas freudianos, Lacan recorreu à lógica e esboçou um quadro que situa, de
um lado a lógica toda fálica, masculina. E do outro, o que ele chamou de não –
todo fálico, ou lógica feminina. A escolha do lugar na partilha sexual,
portanto, não depende nem da anatomia, nem das construções sociais, mas do
lugar em que cada um vai se colocar: todo fálico ou não todo fálico.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 36.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 11.0pt; line-height: 150%;">O lado todo fálico, convencionou-se
chamar lado homem, é totalmente inscrito na lógica fálica. Como afirma Quinet
(2013, p. 136) “o homem se assegura que é homem a partir da apropriação fálica.
Isso porque ele tampouco tem o falo e sua angústia de castração o leva não a
temer perdê-lo (como pênis, o falo imaginário) pois não o tem, mas a arrumar
substitutos, cuja perda, aí sim, significariam sua castração.” Essa lista de
substitutos é infinita e inclui mulheres, dinheiro, poder, carros, etc. Objetos
que adquirem significação fálica em uma dada cultura. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 36.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 11.0pt; line-height: 150%;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>O lado não todo fálico, lado que designaria a
posição feminina, não está todo delimitado pelas significações sociais
localizadas na norma fálica. É preciso dizermos que, a norma fálica organiza as
cadeias significantes e a própria linguagem, permitindo que regulemos as
relações sociais através de discursos. Quem se coloca do lado mulher, portanto,
não está toda submetida a essa norma fálica, embora também esteja com um pé
dentro dela. O gozo feminino irrompe nessa lógica fálica apontando para um fora
da linguagem, fora do sentido, fora da norma, o que faz com que o feminino
tenha sido visto ao longo dos tempos como algo meio louco e desorganizador. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 36.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 11.0pt; line-height: 150%;">Agora, alguns pontos
importantes: </span></div>
<div class="MsoListParagraphCxSpFirst" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; mso-add-space: auto; mso-list: l1 level1 lfo2; text-align: justify; text-indent: 36.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 11.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";"><span style="mso-list: Ignore;">a)<span style="font: 7.0pt "Times New Roman";"> </span></span></span><span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 11.0pt; line-height: 150%;">Nada impede que um ser portador de uma anatomia
masculina se inscreva do lado feminino ou vice-versa. É de uma escolha de gozo
que se trata, não de anatomia. </span></div>
<div class="MsoListParagraphCxSpMiddle" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; mso-add-space: auto; mso-list: l1 level1 lfo2; text-align: justify; text-indent: 36.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 11.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";"><span style="mso-list: Ignore;">b)<span style="font: 7.0pt "Times New Roman";"> </span></span></span><span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 11.0pt; line-height: 150%;">Existem diversas possibilidades de se localizar
nessas duas lógicas.</span></div>
<div class="MsoListParagraphCxSpMiddle" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; mso-add-space: auto; mso-list: l1 level1 lfo2; text-align: justify; text-indent: 36.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 11.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";"><span style="mso-list: Ignore;">c)<span style="font: 7.0pt "Times New Roman";"> N</span></span></span><span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 11.0pt; line-height: 150%;">ós não nos relacionamos sexualmente com
pessoas, mas com um objeto que causa nosso desejo e que situamos nela. Nos
investimos o objeto.</span></div>
<div class="MsoListParagraphCxSpLast" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; mso-add-space: auto; mso-list: l1 level1 lfo2; text-align: justify; text-indent: 36.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 11.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";"><span style="mso-list: Ignore;">d)<span style="font: 7.0pt "Times New Roman";"> </span></span></span><span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 11.0pt; line-height: 150%;">A escolha de objeto não está condicionada pela
posição sexuada.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 36.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 11.0pt; line-height: 150%;">O que podemos deduzir
desses tres pontos é que, como dizia um antigo comercial, "existem diversas
maneiras de preparar Neston":</span></div>
<div class="MsoListParagraphCxSpFirst" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; mso-add-space: auto; mso-list: l2 level1 lfo3; text-align: justify; text-indent: -7.65pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: Symbol; font-size: 11.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: Symbol; mso-fareast-font-family: Symbol;"><span style="mso-list: Ignore;">·<span style="font: 7.0pt "Times New Roman";"> </span></span></span><span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 11.0pt; line-height: 150%;">Um ser
que nasceu portador de um pênis ou de uma vagina, pode se colocar do lado
masculino e escolher investir um objeto sexual que está localizado em uma
mulher ou em outro homem. </span></div>
<div class="MsoListParagraphCxSpLast" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; mso-add-space: auto; mso-list: l2 level1 lfo3; text-align: justify; text-indent: -7.65pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: Symbol; font-size: 11.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: Symbol; mso-fareast-font-family: Symbol;"><span style="mso-list: Ignore;">·<span style="font: 7.0pt "Times New Roman";"> </span></span></span><span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 11.0pt; line-height: 150%;">Um ser
que nasceu portador de um pênis ou de uma vagina pode se colocar do lado feminino
e escolher investir um objeto sexual que está em um homem, em uma mulher ou até
em Deus, caso do gozo místico.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 36.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 11.0pt; line-height: 150%;">A única condição para
que essa combinatória aconteça é que esteja colocada a diferença sexual. Não há
sexo entre iguais, é sempre uma alteridade que se busca, aquilo que eu não
tenho. Isso leva Quinet (2013) a afirmar que, a rigor, a homossexualidade não existe.
Para haver sexo é preciso que alguém se coloque do lado todo fálico e alguém do
lado não-todo fálico, para além da diferença anatômica entre os sexos. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 36.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 36.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 11.0pt; line-height: 150%;"></span></b><span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 11.0pt; line-height: 150%;">(Texto
apresentado no grupo de vivências do Encontro Nacional de Estudantes de
Psicologia - ENEP, realizado em agosto de 2014 na Universidade Estadual
do Ceará) </span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 11.0pt; line-height: 150%;">Referência</span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 11.0pt; line-height: 150%;">QUINET, A. A Escolha do sexo com Freud e
Lacan. In As Homossexualidades na Psicanálise. QUINET, A. e COUTINHO JORGE, M.
A. Orgs. São Paulo: Segmento Farma, 2013<span style="mso-spacerun: yes;">
</span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 36.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<br /></div>
Lia Silveirahttp://www.blogger.com/profile/01914928244809718150noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7548064999185896208.post-46564793730499240142014-08-16T19:59:00.000-03:002014-08-16T19:59:05.445-03:00This must be the Place..or not!
<style>
<!--
/* Font Definitions */
@font-face
{font-family:"Cambria Math";
panose-1:2 4 5 3 5 4 6 3 2 4;
mso-font-charset:0;
mso-generic-font-family:auto;
mso-font-pitch:variable;
mso-font-signature:3 0 0 0 1 0;}
@font-face
{font-family:Cambria;
panose-1:2 4 5 3 5 4 6 3 2 4;
mso-font-charset:0;
mso-generic-font-family:auto;
mso-font-pitch:variable;
mso-font-signature:3 0 0 0 1 0;}
@font-face
{font-family:"MS Mincho";
panose-1:0 0 0 0 0 0 0 0 0 0;
mso-font-alt:"MS 明朝";
mso-font-charset:128;
mso-generic-font-family:roman;
mso-font-format:other;
mso-font-pitch:fixed;
mso-font-signature:1 134676480 16 0 131072 0;}
/* Style Definitions */
p.MsoNormal, li.MsoNormal, div.MsoNormal
{mso-style-unhide:no;
mso-style-qformat:yes;
mso-style-parent:"";
margin:0cm;
margin-bottom:.0001pt;
mso-pagination:widow-orphan;
font-size:10.0pt;
font-family:Cambria;
mso-fareast-font-family:"MS Mincho";
mso-bidi-font-family:"Times New Roman";}
.MsoChpDefault
{mso-style-type:export-only;
mso-default-props:yes;
font-size:11.0pt;
mso-ansi-font-size:11.0pt;
mso-bidi-font-size:11.0pt;
mso-fareast-font-family:"MS Mincho";}
@page WordSection1
{size:595.0pt 842.0pt;
margin:72.0pt 90.0pt 72.0pt 90.0pt;
mso-header-margin:35.4pt;
mso-footer-margin:35.4pt;
mso-paper-source:0;}
div.WordSection1
{page:WordSection1;}
-->
</style>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";"> </span><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhCU8zypfQ0EjVm6gtmyMQfR8vpOcAckvRiALPAQKrYkBkTEKwxMkIcmZZKbIgWahXr2K1i0KCOo3xhoJupHWYbETKzt1qXFTMls8UE7kDIvJ2hIE0q0CFLGAYXmowPKxyZAdxL7G7XqAP-/s1600/sean.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhCU8zypfQ0EjVm6gtmyMQfR8vpOcAckvRiALPAQKrYkBkTEKwxMkIcmZZKbIgWahXr2K1i0KCOo3xhoJupHWYbETKzt1qXFTMls8UE7kDIvJ2hIE0q0CFLGAYXmowPKxyZAdxL7G7XqAP-/s1600/sean.jpg" height="320" width="320" /></a><span style="font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";"></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">“Tem alguma
coisa errada aqui, eu não sei exatamente o que é, mas tem”. Talvez essa frase, repetida por Cheyenne ao longo do filme, seja o que faz amarração entre o
espectador confortavelmente sentado em sua poltrona numa tarde de domingo e a
estranheza que perpassa “This must be the Place”. A frase, e a interpretação de
Sean Penn – claro! Que apesar de atingir o cômico em diversos pontos do filme,
deixa um quê de amargo na boca desde as primeiras cenas.</span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">A história
trata de um roqueiro velho e decadente, com traços de Ozzy Osborne, entediado
numa vida sem projetos. Mesmo assim, todo dia ele veste o personagem: unhas
pintadas de preto, batom vermelho e uma cabeleira negra que insiste em lhe cair
sobre os olhos. Patético. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Até que um
dia Cheyenne fica sabendo que seu pai (com quem não fala há trinta anos) está
muito doente e precisa ir visitá-lo. De família judaica, o cantor fica ainda
mais bizarro em meio a judeus ortodoxos com suas longas <i style="mso-bidi-font-style: normal;">peiot</i> . Logo ficamos sabendo que ele demorou demais (devido à fobia
de avião, ele se deslocou de navio) e, numa das cenas mais emocionantes do
filme, Cheyenne encontra o pai jazendo sobre seu leito de morte. A estranheza
do momento é total: a decoração tipicamente judaica, a boca vermelha e cheia de
rugas do cantor, a comoção da morte e o corpo estendido na cama...Debaixo do
lençol, que ele vacilantemente levanta, somo guiados pela câmera até um número
gravado na pele do pai morto. Sobrevivente de um campo de concentração, o velho
homem dedicara toda sua vida a perseguir um soldado nazista, seu torturador. No
entanto, como a morte chegou antes que ele concluísse sua caçada, esta foi
repassada à Cheyenne como um legado incontornável. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">E assim, o
roqueiro infantilizado torna-se um caçador de nazistas! Mesclando emoção e muito
humor, acompanhamos toda a falta de jeito e a sensibilidade de Cheyenne em sua
jornada rumo à realização do último desejo do pai. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">“Tem alguma
coisa errada aqui, eu não sei exatamente o que é, mas tem”. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>O filme nos captura na sensação de
estranheza que essa sentença carreia (ainda mais contrastante quando se pensa na canção do Talking Heads que
dá título ao filme). Meu palpite é que isso se deve ao
fato de que essa frase, pontualmente repetida ao longo do filme, marcando suas
escansões, diz de um sentimento que é velho conhecido de todos nós. Angústia, é
como o vernáculo designa essa sensação de que algo não vai bem, de algo que não
está em seu lugar, embora não saibamos dar-lhe nome. E aí, embora o filme trate
de uma figura a mais <i style="mso-bidi-font-style: normal;">oddest </i><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>possível, estamos ali todos nós.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Seguimos
Cheynne no que ja se converteu num Road Movie, e vemos como a confusão e letargia
do cantor vai se transformando em desejo: Um pai morto, uma causa, e uma
travessia... </span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Só crianças
não tem vontade de fumar, diz uma personagem a certa altura do filme. Cheyenne
não fuma. Até cheirou heroína...cheirou, porque tem medo de agulha. Só posso
dizer que no final ele acende um cigarro, o resto você precisa assistir para
ver a cara impagável do Sean Penn! </span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<iframe allowfullscreen='allowfullscreen' webkitallowfullscreen='webkitallowfullscreen' mozallowfullscreen='mozallowfullscreen' width='320' height='266' src='https://www.youtube.com/embed/rVoPzA0g3Ac?feature=player_embedded' frameborder='0'></iframe></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<br /></div>
Lia Silveirahttp://www.blogger.com/profile/01914928244809718150noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7548064999185896208.post-21644349937012246912014-08-11T14:12:00.000-03:002014-08-11T14:22:14.245-03:00Amor só é bom se doer?<div class="s4" style="margin-bottom: 5px; margin-top: 5px; text-align: start;">
<span class="s5">Freud </span><span class="s8" style="font-style: italic;">dixit</span><span class="s5"> : perguntem aos poetas! E em matéria de amor, a língua portuguesa deu ao Brasi</span><span class="s5">l um de seus maiores expoentes: Vinícius de Moraes.</span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://www.poesiaspoemaseversos.com.br/w/wp-content/uploads/2012/01/vinicius-de-moraes-rosto.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" src="http://www.poesiaspoemaseversos.com.br/w/wp-content/uploads/2012/01/vinicius-de-moraes-rosto.jpg" height="251" width="320" /></a><span class="s5" style="text-align: start;"> O</span><span class="s5" style="text-align: start;"> “poetinha” </span><span class="s5" style="text-align: start;">não só co</span><span class="s5" style="text-align: start;">mpôs e cantou </span><span class="s5" style="text-align: start;">o amor, </span><span class="s5" style="text-align: start;">como o perseguiu incansavelmente. Vinícius</span><span class="s5" style="text-align: start;">,</span><span class="s5" style="text-align: start;"> o homem, </span><span class="s5" style="text-align: start;"></span><span class="s5" style="text-align: start;">chegou a</span><span class="s5" style="text-align: start;"> casar</span><span class="s5" style="text-align: start;">-se</span><span class="s5" style="text-align: start;"> nove vezes, correndo atrás do “amor total” </span><span class="s5" style="text-align: start;">e caindo fora de cada relação tão logo a </span><span class="s5" style="text-align: start;">“</span><span class="s5" style="text-align: start;">chama eterna</span><span class="s5" style="text-align: start;">”</span><span class="s5" style="text-align: start;"> se apagava. </span><span class="s5" style="text-align: start;">(</span><span class="s5" style="text-align: start;">Mas deixemos de lado a biografia, já que se não se trata de bancar o psicólogo.</span><span class="s5" style="text-align: start;">)</span></div>
<div class="s7" style="margin-bottom: 5px; margin-top: 5px;">
<span class="s5" style="background-color: rgba(255, 255, 255, 0);">Batida de samba, os versos anunciam:</span></div>
<div class="s7" style="margin-bottom: 5px; margin-top: 5px;">
<span style="background-color: rgba(255, 255, 255, 0);"><span class="s5"></span><span class="s5">“</span><span class="s5">Amigo sinhô</span><span class="s5">, </span><span class="s5">Saravá</span><span class="s5">!</span><span class="s5"><br /></span><span class="s5">Xangô me mandou lhe dizer</span><span class="s5">:</span><span class="s5"><br /></span><span class="s5">Se é canto de </span><span class="s5">Ossanha</span><span class="s5">, n</span><span class="s5">ão vá!</span><span class="s5"><br /></span><span class="s5">Que muito vai se arrepender</span><span class="s5">.</span><span class="s5"><br /></span><span class="s5">Pergunte </span><span class="s5">pr'o</span><span class="s5"> seu Orixá</span><span class="s5">,</span><span class="s5"><br /></span><span class="s5">O amor só é bom se doer</span><span class="s5">”</span> </span></div>
<div class="s9" style="margin-bottom: 5px; margin-top: 5px; text-align: start;">
<span style="background-color: rgba(255, 255, 255, 0);"><span class="s5">“Amor só é bom se doer”, n</span><span class="s5">ão é novidade. Rimar amor e dor já é lugar comum. Na verdade, o amor </span><span class="s5">romântico</span><span class="s5"> nasce assim: um impedimento, um balcão, dois amantes e uma trova. Cartas de amor, é o que a dor da distância produz. </span><span class="s5">Na poesia romântica, na musica romântica, só se fala das dores de </span><span class="s5">amor, dos desencontros do amor, das impossibilidades</span><span class="s5"> do amor.</span><span class="s5"></span></span></div>
<div class="s9" style="margin-bottom: 5px; margin-top: 5px; text-align: start;">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://www.geocities.ws/lucasdeoxala/ossaim1.gif" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://www.geocities.ws/lucasdeoxala/ossaim1.gif" /></a></div>
<span style="background-color: rgba(255, 255, 255, 0);"><span class="s5">Nas </span><span class="s5">linhas </span><span class="s5">de “Canto de </span><span class="s5">Ossanha</span><span class="s5">” </span><span class="s5">Vinícius (com a ajuda de Baden Powell que mais tarde entrou pra igreja evangélica e renegou os afro-sambas) </span><span class="s5">fala-nos </span><span class="s5">de um </span><span class="s5">dos perigos a que está exposto o amor:</span><span class="s5"> </span><span class="s5">o das ameaças de c</span><span class="s5">anto</span><span class="s5"> </span><span class="s5">sedutor</span><span class="s5">, </span><span class="s5">traidor. Um canto que traz consigo uma promessa, mas que já vem </span><span class="s5">acompanhada</span><span class="s5"> de</span><span class="s5"> um alerta de</span><span class="s5">arrepend</span><span class="s5">imento</span><span class="s5">: “</span><span class="s5">Se é canto de </span><span class="s5">Ossanha</span><span class="s5">, n</span><span class="s5">ão vá!</span><span class="s5"> </span><span class="s5">Que muito vai se arrepender</span><span class="s5">.”</span></span></div>
<div class="s9" style="margin-bottom: 5px; margin-top: 5px; text-align: start;">
<span style="background-color: rgba(255, 255, 255, 0);"><span class="s5">Ossanha</span><span class="s5"> é um dos ícones da mitologia afro-brasileira. Conta a </span><span class="s5">lenda</span><span class="s5"> que u</span><span class="s5">m rei decidiu casar a sua filha mais velha. </span><span class="s5">Mas só concederia sua mão àquele </span><span class="s5">que adivinhasse o nome de suas três filhas. </span><span class="s5">Ossa</span><span class="s5">nha</span><span class="s5"> </span><span class="s5">aceitou o desafio</span><span class="s5"> e subindo em uma árvore, disfarçou-se de pássaro e pôs-se a cantar um canto irresistível, atraindo a atenção das princesas</span><span class="s5">.</span><span class="s5"> Disfarçado de pássaro</span><span class="s5">, </span><span class="s5">brincou com</span><span class="s5"> elas a tarde toda, ganhou sua confiança e descobriu seus nomes</span><span class="s5">. A</span><span class="s5">ssim</span><span class="s5">, </span><span class="s5">conseguiu </span><span class="s5">cas</span><span class="s5">ar-se </span><span class="s5">com a </span><span class="s5">pretendida.</span></span></div>
<div class="s9" style="margin-bottom: 5px; margin-top: 5px; text-align: start;">
<span style="background-color: rgba(255, 255, 255, 0);"><span class="s5">Embora não </span><span class="s5">n</span><span class="s5">os diga o porquê do perigo, nos versos </span><span class="s5">vinicianos</span><span class="s5"> </span><span class="s5">é o próprio Xangô</span><span class="s5">(</span><span class="s5">autoridade entre os orixás</span><span class="s5">)</span><span class="s5"> </span><span class="s5">que</span><span class="s5">m</span><span class="s5"> avisa do destino trágico reservado à quem se deixar levar por esse canto. A</span><span class="s5"> nos fiarmos na estrutura dos mitos, sabemos</span><span class="s5">,</span><span class="s5"> com Ulisses</span><span class="s5">,</span><span class="s5">onde leva </span><span class="s5">ess</span><span class="s5">a sedução d</span><span class="s5">a voz:</span><span class="s5"> </span><span class="s5">as sereias, </span><span class="s5">com seu canto m</span><a href="https://www.blogger.com/blogger.g?blogID=7548064999185896208" name="_GoBack"></a><span class="s5">avioso, encantam os marinheiros e os arrasta</span><span class="s5">m</span><span class="s5"> para a morte</span><span class="s5">.</span></span></div>
<div class="s9" style="margin-bottom: 5px; margin-top: 5px; text-align: start;">
<span style="background-color: rgba(255, 255, 255, 0);"><span class="s5">A morte, </span><span class="s5">preço a ser pago pela reprodução sexuada entre os seres. </span><span class="s5">A morte, p</span><span class="s5">onto final </span><span class="s5">para todo desejo não advertido, desejo que se deixa seduzir pela crença de que é possível encontra</span><span class="s5">r</span><span class="s5"> o objeto que o satisfaça.</span></span></div>
<div class="s7" style="margin-bottom: 5px; margin-top: 5px;">
<span style="background-color: rgba(255, 255, 255, 0);"><span class="s5">Mas o que o mito (re)vela</span><span class="s5"> é </span><span class="s5">a divisão estrutural </span><span class="s5">de todo ser falante, que o destina ao paradoxo de, por um lado, ser ali onde não pens</span><span class="s5">a</span><span class="s5">, e por outro, pensar onde não é.</span><span class="s5">C</span><span class="s5">omo diz a canção:</span></span></div>
<div class="s7" style="margin-bottom: 5px; margin-top: 5px;">
<span style="background-color: rgba(255, 255, 255, 0);"><span class="s5">O homem que diz </span><span class="s5">“</span><span class="s5">dou</span><span class="s5">”</span><span class="s5">,</span><span class="s5"><br /></span><span class="s5">Não dá!</span><span class="s5"><br /></span><span class="s5">Porque quem dá mesmo</span><span class="s5">.</span><span class="s5"><br /></span><span class="s5">Não diz!</span><span class="s5"><br /></span><span class="s5">O homem que diz </span><span class="s5">“</span><span class="s5">vou</span><span class="s5">”</span><span class="s5"><br /></span><span class="s5">Não vai!</span><span class="s5"><br /></span><span class="s5">Porque quando foi</span><span class="s5">,</span><span class="s5"><br /></span><span class="s5">Já não quis!</span><span class="s5"><br /></span><span class="s5">O homem que diz </span><span class="s5">“</span><span class="s5">sou</span><span class="s5">”</span><span class="s5"><br /></span><span class="s5">Não é!</span><span class="s5"><br /></span><span class="s5">Porque quem é mesmo </span><span class="s5">“</span><span class="s5">é</span><span class="s5">”</span><span class="s5"><br /></span><span class="s5">Não sou!</span><span class="s5"><br /></span><span class="s5">O homem que diz </span><span class="s5">“</span><span class="s5">tou</span><span class="s5">”</span><span class="s5">,</span><span class="s5"><br /></span><span class="s5">Não tá</span><span class="s5">!</span><span class="s5"><br /></span><span class="s5">Porque ninguém tá</span><span class="s5"> </span><span class="s5">q</span><span class="s5">uando quer</span><span class="s5">.</span></span></div>
<div class="s9" style="margin-bottom: 5px; margin-top: 5px; text-align: start;">
<span style="background-color: rgba(255, 255, 255, 0);"><span class="s5">É o desejo</span><span class="s5">,</span><span class="s5"> que sobrepuja o Eu que diz “sou”, porque ninguém tá quando </span><span class="s5">“</span><span class="s5">quer</span><span class="s5">”</span><span class="s5">.</span><span class="s5"> Não existe afânise do desejo, é antes o sujeito que sucumbe frente à fulguração do desejo.</span><span class="s5"></span><span class="s5">O amor-canto-de-</span><span class="s5">o</span><span class="s5">ssanha</span><span class="s5"> enganador, engana a dor dessa divisão, fazendo acreditar que é possível</span><span class="s5"> integrar essas metades num “amor total”. Amor narcísico, diz Freud, po</span><span class="s5">is não está interessado </span><span class="s5">na alteridade, na diferença, mas a</span><span class="s5">penas em recuperar aquilo que</span><span class="s5"> </span><span class="s5">julga parte de si.</span></span></div>
<div class="s7" style="margin-bottom: 5px; margin-top: 5px;">
<span style="background-color: rgba(255, 255, 255, 0);"><span class="s5">No canto de </span><span class="s5">Ossanha</span><span class="s5">, o desejo surge fazendo questão, desacomodando</span><span class="s5">. O sujeito, dividido entre o imperativo e sua recusa, vacila num ritornelo</span><span class="s5">:</span></span></div>
<div class="s7" style="margin-bottom: 5px; margin-top: 5px;">
<span style="background-color: rgba(255, 255, 255, 0);"><span class="s5">Vai! Vai! Vai! Vai!</span><span class="s5"><br /></span><span class="s5">Não Vou!</span><span class="s5"><br /></span><span class="s5">Vai! Vai! Vai! Vai!</span><span class="s5"><br /></span><span class="s5">Não Vou!</span><span class="s5"><br /></span><span class="s5">Vai! Vai! Vai! Vai!</span><span class="s5"><br /></span><span class="s5">Não Vou!</span><span class="s5"><br /></span><span class="s5">Vai! Vai! Vai! Vai!</span></span></div>
<div class="s7" style="margin-bottom: 5px; margin-top: 5px;">
<span style="background-color: rgba(255, 255, 255, 0);"><span class="s5"><br /></span><span class="s5">Até que o enunciador se </span><span class="s5">afirma por um “</span><span class="s5">Não Vou!</span><span class="s5">” decidido</span><span class="s5">, e justifica:</span></span></div>
<div class="s7" style="margin-bottom: 5px; margin-top: 5px;">
<span style="background-color: rgba(255, 255, 255, 0);"><span class="s5">Não!</span><span class="s5"> Eu só vou se for pra</span><span class="s5"> ver</span><span class="s5"><br /></span><span class="s5">Uma estrela aparecer</span><span class="s5"><br /></span><span class="s5">Na manhã de um novo amor...</span></span></div>
<div class="s9" style="margin-bottom: 5px; margin-top: 5px; text-align: start;">
<span style="background-color: rgba(255, 255, 255, 0);"><span class="s5">Ato, decisão, escolha subjetiva...disso depende um novo amor. </span><span class="s5">Será que a análise anuncia </span><span class="s5">a</span><span class="s5"> </span><span class="s5">manhã de um novo amor</span><span class="s5">?</span><span class="s5"> Será possível inventar </span><span class="s5">uma rima outra, </span><span class="s5">que não amor e dor?</span></span></div>
<div class="s9" style="margin-bottom: 5px; margin-top: 5px; text-align: start;">
<span style="background-color: rgba(255, 255, 255, 0);"><span class="s5">A</span><span class="s5"> análise </span><span class="s5">começa por essa via d</span><span class="s5">o canto-</span><span class="s5">promessa de amor, cartas</span><span class="s5"> (</span><span class="s5">let</span><span class="s5">t</span><span class="s5">res</span><span class="s5">)</span><span class="s5"> de amor se endereçam e desfilam. A diferença só se faz possível porque</span><span class="s5">,</span><span class="s5"> nessa repetição</span><span class="s5">,</span><span class="s5"> um desejo novo se faz presente. Desejo do analista que, ao fazer semblante de canto, o</span><span class="s5">reduz à pura voz que o sustenta. Voz, marca de gozo, letra </span><span class="s5">(</span><span class="s5">lettre</span><span class="s5">) </span><span class="s5">esvaziada do sentido</span><span class="s5"> que sustentava a mandinga do Outro traidor.</span></span></div>
<div class="s9" style="margin-bottom: 5px; margin-top: 5px; text-align: start;">
<span style="background-color: rgba(255, 255, 255, 0);"><span class="s5">A partir dessa experiência do vazio, de tomá-lo em sua</span><span class="s5"> radicalidade</span><span class="s5">, pode ser que surja </span><span class="s5">a </span><span class="s5">“</span><span class="s5">manhã de um novo amor</span><span class="s5">”. Novo, nã</span><span class="s5">o na acepção de “recente”, “recém-chegado” (nesse sentido é bem possível desfilar uma lista de “novos” amores sem nunca sair do mesmo), mas novo no sentido de “inédito”, daquilo que permite que algo se inscreva como diferença.</span></span></div>
<div class="s9" style="margin-bottom: 5px; margin-top: 5px; text-align: start;">
<span style="background-color: rgba(255, 255, 255, 0);"><span class="s5">Em novembro estaremos em Campo Grande para falar de amor, </span><span class="s5">convidamos</span><span class="s5"> a todos para que possamos dizer um pouco mais sobre isso.</span></span><br />
<span style="background-color: rgba(255, 255, 255, 0);"><span class="s5"><br /></span></span>
(Texto escrito como prelúdio para o XV Encontro da Escola de. Psicanálise dos Fóruns do Campo Lacaniano - Brasil, a se realizar em Campo Grande em novembro de 2014)<br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<iframe allowfullscreen='allowfullscreen' webkitallowfullscreen='webkitallowfullscreen' mozallowfullscreen='mozallowfullscreen' width='320' height='266' src='https://www.youtube.com/embed/I7SGgf5vaNc?feature=player_embedded' frameborder='0'></iframe></div>
<span style="background-color: rgba(255, 255, 255, 0);"><span class="s5"><br /></span></span></div>
<div class="s7" style="margin-bottom: 5px; margin-top: 5px;">
<br /></div>
<div class="s7" style="margin-bottom: 5px; margin-top: 5px;">
<br /></div>
<div class="s7" style="font-size: 18px; line-height: 21px; margin-bottom: 5px; margin-top: 5px;">
<span class="s5" style="font-size: 12px; line-height: 14px;"><br /></span></div>
Lia Silveirahttp://www.blogger.com/profile/01914928244809718150noreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-7548064999185896208.post-75269074707871019552014-04-05T18:23:00.000-03:002014-04-05T18:23:00.075-03:00Escrever, diz ela
<style>@font-face {
font-family: "Cambria";
}@font-face {
font-family: "MS Mincho";
}p.MsoNormal, li.MsoNormal, div.MsoNormal { margin: 0cm 0cm 0.0001pt; font-size: 10pt; font-family: Cambria; }p.MsoFootnoteText, li.MsoFootnoteText, div.MsoFootnoteText { margin: 0cm 0cm 0.0001pt; font-size: 12pt; font-family: Cambria; }p.MsoFooter, li.MsoFooter, div.MsoFooter { margin: 0cm 0cm 0.0001pt; font-size: 10pt; font-family: Cambria; }span.MsoFootnoteReference { vertical-align: super; }span.st { }span.FootnoteTextChar { font-family: Cambria; }span.FooterChar { font-family: Cambria; }.MsoChpDefault { font-size: 11pt; }div.WordSection1 { page: WordSection1; }</style>
<br />
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: center; text-indent: 36.0pt;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 14.0pt; line-height: 150%;"><br /></span></b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi8mOaAkfBTzRxzn-Zifl_VwLu7d7riQ9p7WZ99fm0_8jSTLueX9-4W0KEd3OYl4Awo8Ekr0xscGtzfn8amcwo7uYSaTGL9ugwLtD9jRg1gsNBluL0DO88edv39Gwv40y5M9ShUkxO2jM59/s1600/duras2.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi8mOaAkfBTzRxzn-Zifl_VwLu7d7riQ9p7WZ99fm0_8jSTLueX9-4W0KEd3OYl4Awo8Ekr0xscGtzfn8amcwo7uYSaTGL9ugwLtD9jRg1gsNBluL0DO88edv39Gwv40y5M9ShUkxO2jM59/s1600/duras2.jpg" height="160" width="320" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 36pt;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"> </span></b><span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Comemorar o centenário de Marguerite Duras
em Fortaleza não é propriamente um lugar comum. A escritora, diretora e
roteirista não é tão conhecida em terras alencarinas. Além disso, a própria
autora não apostava nas propriedades de laço social que poderia advir de sua
obra. Como bem lembrou Dominique Fingermann, ela diz em “A Dor”:</span><span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";"> “Aqueles que vivem de dados gerais
nada têm em comum comigo. Ninguém tem nada em comum comigo."</span>
</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 36.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">E
no entanto, a escrita dessa mulher me afetou de uma maneira indelével, de um
modo estranho, que eu ainda não consigo colocar apropriadamente em palavras. Arrebatadora,
ela, e nós os arrebatados, disse Lacan.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 36.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Talvez
o que permita a essa obra ressoar em Paris ou no sertão do Ceará, seja
exatamente, não o dado geral, mas o estranho, o violento, o arrebatamento de
algo completamente desconhecido, mas que no entanto, esteve sempre ali. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 36.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Estes
foram alguns dos afetos experimentados na minha primeira leitura de M.D. O
livro era “O Amante” (Sua obra mais conhecida e ganhadora do prêmio Goncourt, o
prêmio literário mais cobiçado da França).<span style="mso-spacerun: yes;">
</span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 36.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">A
história, versava sobre uma menina vietnamita em uma balsa fazendo a travessia
do rio Mekong e de um homem mais velho, um chinês,<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>que se tornaria o “amante” em questão. Mas já
estavam ali presentes também os diversos elementos biográficos(?) que eu
encontraria depois em diversas outras obras. Marguerite fala de uma forma
totalmente despudorada da loucura da mãe em sua obstinação em possuir terras;
da prostituição velada a que ela se submete e que a família acompanha cúmplice,
apenas pela possibilidade de comer em um restaurante; do amor incestuoso pelo
irmão mais novo que morreria cedo, devastando M.D., e a fúria sádica do irmão
mais velho, o delinquente.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 36.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Realmente,
nenhuma dessas experiências tem nada em comum comigo. E ainda assim (e talvez
por isso mesmo) eu me perguntava, porque isso me revira? Não sei responder. Mas
isso me pôs a trabalhar, de várias maneiras. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 36.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 36.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Parte
desse “motor de trabalho” foi o que enderecei ao dispositivo de cartel,
elemento constitutivo da formação do analista na Escola de Lacan. Recentemente
propus um cartel com o tema “Escrita e psicanálise”, que se encontra em
funcionamento. Considero que esta proposta é tributária da minha leitura da
obra durrassiana, pois a inquietação provocada era o que estava como pano de
fundo. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 36.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Com
frequência, durante as nossas reuniões, seu nome me vem à boca. Mas continuo
ainda sem saber exatamente porque. Talvez o cartel (que ainda está no começo) me
permita aos poucos elaborar algo sobre isso. E esse texto já é um começo. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 36.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Ele
parte inicialmente de uma observação feita pelo “mais-um” desse cartel, na
nossa primeira reunião. Discutíamos sobre o quão ampla eram as possibilidades
de relação entre escrita e psicanalise: análise de uma obra, o estudo de um
autor específico,<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>a busca por conceitos
psicanalíticos em uma obra, etc. Mas nesse dia, foi ficando claro que não era
nada disso que se tratava. Até que o mais-um formulou explicitamente a nossa
pergunta: do que é que se trata quando se escreve? O “de que se trata” não no
sentido do conteúdo, mas do processo mesmo de escrever. O que é Escrever? Porque
se escreve? Como se escreve? O que acontece com quem escreve? E com o escrito?</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 36.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Enfim,
essas são questões ainda incipientes e que ainda não podem ser completamente respondidas.
Ainda movem ao trabalho do cartel. Mas já que o nome de Marguerite Duras esteve
desde o início como pano de fundo para a constituição desse cartel,<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>pensei que essa oportunidade de dizer algo
sobre ela, seria excelente para endereçar-lhe essas perguntas e tentar ver o
que ela responderia. Convido-os a seguirmos esse rastro por onde, como já disse
Freud, o artista antecipa o psicanalista nas respostas.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span></span></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: center; text-indent: 36.0pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">***</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 36.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Comecemos
então com o “<b style="mso-bidi-font-weight: normal;">o que é escrever</b>?”</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 36.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Temos
aqui uma resposta polêmica de M.D., pois para ela, muitos daqueles que são
considerados escritores,<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>não o são, ou
não o foram. Sartre, por exemplo, ela diz que não foi escritor. Pode ter sido
um cronista, um sociólogo, um moralista, mas não escritor: “O escritor é um
selvagem – e Sartre é mais do que um civilizado.”.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 36.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Escrever,
para Duras, é algo que nasce da possibilidade de tudo por em duvida. (Écrire, p.
21). A escrita, segundo ela, nasce de um momento fatal do qual não se pode
escapar, em que tudo é posto em questão: “o casamento, os amigos, os amigos do
casal. Menos o filho. O filho não é nunca posto em dúvida. E essa dúvida começa
a crescer em torno de si. Trata-se de um encontro consigo onde não há mais nada
a perder, só se escreve verdadeiramente quando se está perdido: quando não se
tem nada a escrever, a perder, se escreve.”(Écrire, p.22)</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 36.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Apesar
de fatal e terrificante, esse momento em que tudo é posto em questão é o que
abre caminho para aquilo que é necessário para que se possa escrever: a
solidão.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 36.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Para
M.D. só é possível escrever na solidão. Não existe escrita a duas mãos. Ela diz
que você pode compor a duas mãos, cantar a duas vozes, por exemplo. Mas escrever
jamais. Então é uma solidão necessária,<span style="mso-spacerun: yes;">
</span>mas terrificante.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 36.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Essa
solidão é tributária desse “questionar tudo” do qual não se pode fugir. É dessa
dúvida, nasce a solidão. Ela diz inclusive que muita gente fugiria diante do
horror disso, e é por isso que não temos tantos escritores assim. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 36.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Então
é como se escrever fosse esse se descolar do que é conhecido, colocar em dúvida
tudo que já se sabe, numa travessia rumo ao desconhecido. Essa é outra
indicação dela sobre o que é a escrita: Não se escreve sobre o que já se sabe. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-left: 4.0cm; text-align: justify; text-indent: 36.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">“A escrita é o desconhecido. Antes
de escrever não se sabe nada do que vai ser escrito. É o desconhecido de si, de
sua cabeça, de seu corpo. Escrever não é nem mesmo uma reflexão. Escrever é uma
espécie de faculdade que se tem ao lado de sua pessoa, paralela a ela mesma uma
outra pessoa que aparece e avança, invisível, dotada de pensamento, de cólera,
e que algumas vezes, por sua própria criação, está em risco de perder a vida.
Se soubéssemos algo do que vai ser escrito antes de fazê-lo, nós não
escreveríamos.” (Écrire,p.52) </span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 36.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Essa
última frase, foi de Lacan que ela a recebeu. Lacan disse sobre ela: “Ela não
deve saber sobre o quê ela escreve. Porque ela se perderia. E isso seria a
catástrofe”. Duras ficou aturdida. E fez disso “uma espécie de “identidade de
princípio, de um “direito de dizer” totalmente ignorado das mulheres.”</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 36.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 36.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Agora,
podemos perguntar sobre quais as indicações de MD sobre o<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><b style="mso-bidi-font-weight: normal;">“Como
escrever?”</b></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 36.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Então,
em primeiro lugar, na solidão. Em segundo lugar, ela diz: com a força do corpo.
“É preciso ser mais forte que si mesmo para poder abordar a escritura, é
preciso ser mais forte que aquilo que vamos escrever. É uma coisa engraçada,
sim. Não é apenas a escrita, o escrito. É o grito das feras da noite, os gritos
de todos, os meus e os seus, o grito dos cães. É a vulgaridade massiva,
desesperadora, da sociedade. A dor, é também Cristo e Moisés, e os faraós e
todos os judeus, e todas as crianças judias, é também o mais violento da
bondade.” (Ècrire, p.24)</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 36.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Enfim,
perguntemos agora à Duras: <b style="mso-bidi-font-weight: normal;">porque
escrever?</b></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 36.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Para
escapar da morte, diz ela. “A solidão é isso, ou o livro, ou a morte”. “Ser
escritor é se encontrar diante de um horror onde só a </span><span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">escrita
poderá salvá-lo”.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 36.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Temos então em M.D. esse conjunto de
elementos sobre o que é a escrita e o processo de escrever: a vida posta em
questão; a dor; a solidão; a busca por algo que possa salvá-la da morte; a
necessidade de nisso colocar o corpo e, eu gostaria de adicionar, a
possibilidade de devir outra coisa a partir do escrito. Por exemplo, na entrevista
que ela concedeu a </span><span class="st"><span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Bernard
Pivot em 1984 </span></span><span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">para o programa de TV Apostrophe, ela diz que com
o livro “o amante” foi que ela conseguiu perdoar o irmão. E noutro momento quando
ela fala da casa que conseguiu comprar com a venda de “barragem contra o
pacifico”, obra em que ousou falar da mãe.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 36.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Veremos agora o que esses elementos podem
nos ajudar a pensar a questão da escrita na psicanálise.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 36.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Escrita
em Duras e Psicanálise: Pontos de interseção </span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 36.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Lacan aproximou de alguma maneira a função
do escrito e aquilo que se processa em uma análise. No Seminário 18, De um
discurso que não fosse do semblante, por exemplo, ele diz que “a diz-mansão da
verdade em sua morada é algo que só se faz pelo escrito na medida em que é
somente a partir do escrito que se constitui a lógica.” </span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 36.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Como poderíamos entender essa frase de
Lacan?</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 36.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 36.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Se remetermo-nos a experiência, o que é
fazer análise? É antes de tudo falar. Falar livremente, disse Freud,
associando. Porque topamos, nós e cada analisante que inicia seu percurso, essa
proposta freudiana? Penso que entrar verdadeiramente nisso só é possível
quando, como disse Duras, algo é posto em dúvida. Não só os amigos, os
amores... mas aquilo que dava sustentação a todas essas relações. Não é quando
surge um sintoma que alguém busca verdadeiramente uma análise. Mas quando o
“sujeito vê soçobrar a segurança que ele extraía dessa fantasia em que se
constitui para cada um sua janela sobre o real”. (Lacan, sem 13 apud Quinet).
Nessa frase Lacan está tratando da travessia da fantasia que conduz ao final de
uma análise. Mas penso podermos dizer que isto já está colocado desde o início.
Sem esse “por em questão” como diz Duras, não há escrita, não há análise. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 36.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Daí, a solidão. Também não se faz análise à
dois. Primeiro porque a análise promove uma descolagem do outro imaginário,
apontando para o impossível de fazermos dois com ele. Depois porque, embora
estejam ali presentes, analisante e analista, não se trata de uma relação
intersubjetiva. O analista não está ali como pessoa, nem mesmo como sujeito.
Ele está ali como semblante do resto que sobrou da divisão constitutiva do
sujeito, divisão estrutural e inevitável para todo ser falante. Como disse
Dominique Fingermann certa vez aqui em Fortaleza, o amor de transferência diz
“dois”. O analista em seu ato, diz “um”. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 36.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Então, topamos essa solidão e nela um gozo
permitido: tudo falar, livremente, associar. Constituímos assim a diz-mansão ou
a mansão dos ditos<a href="https://www.blogger.com/blogger.g?blogID=7548064999185896208#_ftn1" name="_ftnref1" style="mso-footnote-id: ftn1;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: "MS Mincho"; mso-fareast-language: EN-US;">[1]</span></span></span></span></a>. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 36.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Podemos dizer que “interrogar a diz-mansão
da verdade” é a função de uma análise. Muitos ditos, que em sua rede de
associações começam a remeter a um dizer. A verdade teria a ver com isso, com o
dizer que funda todos esses ditos. Nesse sentido, interrogar a verdade seria extrair
um dizer, ou seja uma lógica, desses ditos. E isso só seria possível a partir
do escrito. Teríamos então uma escrita da análise. Ou, como diz Luciano Elia,
num dos primeiros textos que lemos no nosso cartel da Escrita e Psicanalise:</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-left: 4.0cm; text-align: justify; text-indent: 36.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">“A
função da escrita permite a interrogação sobre a verdade, tornando efetivas e
permanentes as consequências do dizer do sujeito em análise (dizer que, fora da
escrita, pode esvanescer-se em sua contumaz paixão pela ignorância, pelo não
saber) e, como o que permite escrever o gozo em um novo corpo, o corpo de
letras que substitui o corpo do sintoma. O corpo do neurótico, mal tratado pelo
sintoma, pode ser reescrito em um corpo de letras: o gozo, escrito nesse corpo,
não é o mesmo gozo de que o sujeito padecia, no tempo em que as letras que
poderiam escrevê-lo estavam para ele perdidas.” (Elia, p.135)</span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-left: 4.0cm; text-align: justify; text-indent: 36.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 12.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-indent: 36.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Vemos agora surgir aí a
terceira intercessão entre a escrita durassiana e a análise: é preciso
comparecer com o corpo. Como disse Freud, “́impossível liquidar alguém <i style="mso-bidi-font-style: normal;">in absentia</i> ou <i style="mso-bidi-font-style: normal;">in effigie</i>”, sendo que o alguém em questão não é certamente o
analisante, mas o gozo mortífero da repetição do qual o sujeito padece. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 36.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Mas aqui, acho importante pontuar pelo
menos uma diferença radical entre a escrita segundo Duras e o processo de
análise. É que, pela operação do discurso do analista, é possível, pelo menos
em certa medida, evitar que a passagem ao ato leve o sujeito às raias do
suicídio ou do alcoolismo desenfreado. O sofrimento de Duras com o Álcool foi
retratado no livro de </span><span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Yann
Andréa Steiner (com quem M.D. formou um improvável casal: ele, um jovem
homossexual. Ela, uma mulher já deidade avançada). Apesar de ter tido problemas
com álcool ao longo de boa parte de sua vida, o livro M.D. retrata um período
em que ela esteve á beira da morte, desacordada por vários meses. Na verdade,
na entrevista concedida ao programa Apostrophe, ao ser perguntada se passou por
uma ressurreição, ela diz que não e dá a entender que morreu mesmo ali. Enfim,
acredito que o desejo do analista pode conduzir as coisas sem carrear tanto
estrago. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 36.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Certamente,
há diversos outros elementos que afastam a escrita do artista, da escrita numa
análise. A possibilidade mesmo de um final onde ocorra essa reescrita do corpo,
não acho que seja plenamente viável através da arte. Penso aqui em Ernest
Hemingway que, ao ser perguntado se fazia análise, respondeu que seu analista
era a sua Corona portátil, número três (referindo-se à sua maquina de escrever)
mas que,<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>posteriormente suicidou-se com
a mesma arma com que o pai havia se matado anos antes e que sua mãe o enviara
pelo correio. Todos recebemos os desígnio do Outro de alguma maneira, alguns de
forma mais trágica e direta...</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 36.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Então,
acredito que seja a isso que Lacan se refere quando diz que o analista seja o
único parceiro com alguma chance de responder. Responder fora da repetição e
seu gozo mortífero. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 36.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span></span><span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">No entanto, a despeito das
diferenças, mais uma vez podemos dizer que Freud acertou em cheio quando disse
que o artista sempre precede o analista.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 36.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 36.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">(Texto apresentado no Fórum do Campo Lacaniano de Fortaleza, por ocasião da comemoração do centenário de Marguerite Duras) </span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 36.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 36.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<br /></div>
<div style="mso-element: footnote-list;">
<br clear="all" />
<hr align="left" size="1" width="33%" />
<div id="ftn1" style="mso-element: footnote;">
<div class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<a href="https://www.blogger.com/blogger.g?blogID=7548064999185896208#_ftnref1" name="_ftn1" style="mso-footnote-id: ftn1;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-family: Cambria; font-size: 12.0pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: "MS Mincho"; mso-fareast-language: EN-US;">[1]</span></span></span></span></a>
<span style="font-size: 11.0pt;">Com diz-mansão Lacan faz um jogo de
significantes que remete à dimensão da verdade, mas também morada da verdade,
lá onde moram os ditos.</span><span lang="EN-US" style="font-size: 11.0pt; mso-ansi-language: EN-US;"></span></div>
</div>
</div>
Lia Silveirahttp://www.blogger.com/profile/01914928244809718150noreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-7548064999185896208.post-19844385952677913662013-09-15T20:12:00.001-03:002015-04-11T10:32:25.517-03:00As Aventuras de Lacan com Saussure no País do Inconsciente<style>@font-face {
font-family: "Times";
}@font-face {
font-family: "Times";
}@font-face {
font-family: "Cambria";
}@font-face {
font-family: "MS Mincho";
}p.MsoNormal, li.MsoNormal, div.MsoNormal { margin: 0cm 0cm 0.0001pt; font-size: 10pt; font-family: Cambria; }p.MsoFootnoteText, li.MsoFootnoteText, div.MsoFootnoteText { margin: 0cm 0cm 0.0001pt; font-size: 12pt; font-family: Cambria; }span.MsoFootnoteReference { vertical-align: super; }p { margin-right: 0cm; margin-left: 0cm; font-size: 10pt; font-family: "Times","serif"; }span.FootnoteTextChar { font-family: Cambria; }span.textexposedshow { }.MsoChpDefault { font-size: 11pt; }div.WordSection1 { page: WordSection1; }</style>
<br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhuimLBtDXKqDH_YaxnEpNaN1wL8o6tXV4znnzn4edp5FbEDkQcsfZfWEK0VZJU8G0Qq4iBTsI9_hdYY98KlaRIWU1uREKLNSUozJl8vIt4q0xFCEhspLkoFOD81ilX0IBKKXVjTS2Wh1mD/s1600/alice03a.png" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhuimLBtDXKqDH_YaxnEpNaN1wL8o6tXV4znnzn4edp5FbEDkQcsfZfWEK0VZJU8G0Qq4iBTsI9_hdYY98KlaRIWU1uREKLNSUozJl8vIt4q0xFCEhspLkoFOD81ilX0IBKKXVjTS2Wh1mD/s320/alice03a.png" height="303" width="320" /></a></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 4.0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; text-align: right;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 11.0pt;">“Insetos
não me agradam”, Alice explicou, “porque tenho bastante medo deles... pelo
menos dos grandes. Mas posso lhe dizer os nomes de alguns.”</span></i></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 4.0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; text-align: right;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 11.0pt;">“Claro que
eles atendem pelo nome, não é?” o Mosquito comentou irrefletidamente.</span></i></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 4.0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; text-align: right;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 11.0pt;">“Nunca
soube que o fizessem.”</span></i></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 4.0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; text-align: right;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 11.0pt;">“De que
serve eles terem nomes”, disse o Mosquito, “se não atendem por eles?” </span></i></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 4.0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; text-align: right;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 11.0pt;">“Não
servem de nada para eles”, disse Alice, “mas é útil para as pessoas que lhes
dão nomes, suponho. Senão, para que afinal as coisas têm nome?” </span></i></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 4.0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; text-align: right;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 11.0pt;">(Alice Através
do Espelho)<span style="mso-spacerun: yes;"> </span></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 36.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 36.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 36.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">É com enorme satisfação que
recebo o convite para falar num encontro histórico que homenageia os 100 anos
de morte de Ferdinand de Saussure, principalmente pela possibilidade de estabelecer
um diálogo com pessoas de um campo diferente do meu. Acredito que isso é sempre
muito rico, pois coloca em jogo uma heterogeneidade que nos permite antever
algo de nossas próprias costas, assim como voltar para o lugar de onde viemos
um pouco mais arejados pelo ar da diferença. Fugimos assim de nos acomodarmos a
um lugar confortável, onde achamos que todos pensam igual, mas que nos lança
nos riscos dos sectarismos fundamentalistas, hoje estão mais vivos que nunca . <span style="color: black; mso-themecolor: text1;">Agradeço portanto ao Grupo de Estudos
Bakhtinianos do Ceará (GEBACE) e Núcleo Interdisciplinar de Estudos em
Pragmática (NIPRA) na pessoa do professor João Batista Gonçalves.</span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 36.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">O lugar de onde venho
falar aqui é o da psicanálise e isso já demarca uma especificidade do que vou
falar e que, por usa, vez, demarca também a especificidade da apropriação que
Lacan faz da linguística sassureana. Várias críticas foram feitas à maneira
completamente subversiva com que Lacan se apropriou da linguística
estruturalista, mas elas só se colocam na medida em que se desconhece que há
uma distinção entre os campos que estão aí em jogo: enquanto que o objeto da
linguística é o dos desdobramentos da linguagem humana, a psicanálise tem por
objeto o inconsciente. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 36.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">A linguagem que lhe
interessa, portanto, é, nas palavras de Lacan, a linguagem do desejo. E se
Lacan se apropria de alguns fundamentos da linguística, é na medida em que ela
vai fornecer as ferramentas necessárias para empreender o que ele chamou de “retorno
à Freud”. Ocorre que, na época em que Lacan se aproxima da psicanálise, havia
prosperado uma certa leitura da obra freudiana que tendia e enfatizava as
relações do ego com a realidade, resvalando para uma abordagem claramente
adaptativa. Os conceitos mais subversivos apontados por Freud e que fizeram da
psicanálise um campo do saber que rompe com a medicina e com a psicologia
haviam sido completamente desprezados. Assim, o conceito de pulsão, as
elaborações sobre a sexualidade infantil e até o próprio conceito de inconsciente
perdem espaço para discussões acerca dos mecanismos de defesa do ego, da ênfase
na chamada “parte sadia da personalidade” e da intervenção do analista a partir
de seu próprio Eu, considerado mais forte que o do analisando. É contra esse
estado de coisas que Lacan vai se colocar ao tomar a linguística estruturalista
como lente para reler a obra de Freud. Ao final dessa fala pretendo leva-los a
entrever o quão longe essa empreitada o levou, para além dos limites da
estrutura, inclusive.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 36.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Intitulei minha fala
nesse evento de “As Aventuras de Lacan com Saussure no País do Inconsciente”.
Inicialmente a inspiração em Carroll veio de maneira despretensiosa, apenas a
partir da associação livre que minha releitura do texto de Freud sobre o
inconsciente foi provocando. No entanto, como toda associação livre não é tão
livre assim, acabei me defrontando com um texto de Lacan intitulado “Homenagem
a Lewis Carroll” e que, vim saber depois, foi transcrito a partir de uma fala
proferida por ele numa intervenção radiofônica transmitida pela France Culture
em 31 de Dezembro de 1966 num programa que marcava a comemoração dos cem anos
de publicação de “Alice no país das Maravilhas”. É curioso também que esse
programa foi reprisado por ocasião dos cem anos de morte de Lewis Carroll, em
1998, não sem que antes tenha sido cortada exatamente a intervenção de Lacan. Pego
essas informações de um texto de autoria de Sophie Marret (2003) onde a mesma
também afirma que os críticos da obra carrolliana até hoje ignoraram
completamente essa intervenção de Lacan sobre o autor, provavelmente por
centrarem sua teses na dimensão dos significados da obra, enquanto que o
psicanalista francês se interessou pelo que havia aí do significante em
articulação com o real impossível. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 36.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Sendo assim, achei ainda
mais justificada a referência à Carroll na minha proposta, tendo em vista que
mais uma vez estamos diante de um centenário, dessa vez homenageando aquele que
deu à Lacan a possibilidade de entrever essa dimensão simbólica e reinventar a
psicanálise. Além disso, estamos diante de um público voltado às letras e à
literatura e isso me dá a chance de também homenagear Lacan, reintroduzindo de
alguma maneira esse seu texto “esquecido”.<span style="mso-spacerun: yes;">
</span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 36.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Freud e Saussure foram
contemporâneos e, embora não haja registros de que tenham entrado em contato
com as teses um do outro, estavam trabalhando em torno de algo que tinha muito
em comum. Ambos situam-se como homens do século XIX, mas com um espírito muito
mais projetado para o século XX. Ambos influenciariam sobremaneira tudo o que
se vai formular sobre o homem no século vindouro. O ponto em comum entre esses
dois homens vai ser, cada um a seu modo, o interesse pela linguagem.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 36.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Sigmund Freud inicia
seus trabalhos como neurologista. Mais tarde, em parceria com Josef Breuer, vai
se interessar pelo estudo das manifestações histéricas à partir do método da
hipnose. As pacientes, frequentemente do sexo feminino, apresentavam sintomas
para os quais não se encontravam nenhuma base orgânica. Os médicos vienenses
descobriram que, ao falar sob hipnose de situações traumáticas relacionadas de
alguma forma a seus sintomas, essas pacientes obtinham uma melhora
significativa. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 36.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Freud viu aí o nascimento de algo novo para a
medicina, mas não se deu por satisfeito com o novo método de tratamento.
Primeiro, porque a remissão<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>dos sintomas
era temporária. Era como se, ao acordarem, as mulheres não conseguissem
integrar na consciência o que tinham falado sob hipnose. Segundo por que, dizem
as más línguas, Freud era um péssimo hipnotizador. Em meio a essas
dificuldades, ele começa a tentar outras técnicas para fazer a paciente falar
em estado de vigília. Tenta operar a partir da sugestão dizendo coisas como:
“quando eu retirar a mão de sua testa você vai falar sobre..”.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 36.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Até que um dia ele encontra
uma paciente “impaciente” que lhe diz: “Cale a boca e me deixe falar!” A
genialidade de Freud foi que ele, não só se calou, como ouviu o que ela tinha a
dizer. Nascia aí a “Taking Cure” ou cura pela fala, que esta paciente definia
como “limpeza da chaminé”. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 36.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Pela fala alguma coisa
se limpava, desentupia, caía. A proposta de método adotada por Freud á partir
daí (e adotada pela psicanálise até hoje) foi o que ele chamou de “associação
livre”.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>O paciente é convidado a dizer
tudo que lhe vier à cabeça naquele momento sem filtro moral ou censura de
qualquer ordem.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 36.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Freud chega a apontar
que para um leigo parece até que se trata de uma mágica! Palavras, palavras,
palavras...como diz o personagem shakesperiano, como elas podem ter o poder de
intervir sobre o corpo, varrendo sintomas? </span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 36.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Com Lacan, em seu
diálogo com Saussure e outros autores estruturalistas como Levi-Strauss, encontramos
as bases para ler em Freud uma explicação lógica para o funcionamento do
inconsciente, a formação do sintoma e da incidência da análise sobre este
último, que se afasta de qualquer espécie de magia ou misticismo. Falar incide
sobre o sintoma porque, como formação do inconsciente, este é feito da mesma
materialidade que a fala<a href="http://www.blogger.com/blogger.g?blogID=7548064999185896208#_ftn2" name="_ftnref2" style="mso-footnote-id: ftn2;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: "MS Mincho"; mso-fareast-language: EN-US;">[2]</span></span></span></span></a>.
Essa materialidade é, para Lacan, aquela do significante:</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 120.5pt; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">"Nossa
doutrina do significante está fundada no fato de que o inconsciente tem a
estrutura radical da linguagem, que um material que aí está deve jogar de
acordo com leis que são aquelas descobertas pelo estudo das línguas positivas,
das línguas que são ou que foram efetivamente faladas." (Direção do
tratamento, <span style="mso-bidi-font-style: italic;">Écrits</span>, p. 594)</span></i><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"> </span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 36.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Daí a formulação do seu
famoso aforisma: “o inconsciente é estruturado como uma linguagem”. Ser
estruturado como uma linguagem quer dizer que o inconsciente não é apenas um
depósito inerte de memórias esquecidas. Trata-se, na verdade, de uma outra
razão, organizada como um sistema, regida por leis próprias que são aquelas do
significante e que tem seu paradigma nos mecanismos da metáfora e da metonímia.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 36.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">No texto “A instância da
letra no Inconsciente ou a Razão desde Freud” encontramos explanada a
apropriação que Lacan faz da linguística saussureana, a partir do signo
linguístico. Nesse texto, Lacan rende homenagens ao mestre genebrino, mas sua
homenagem já é quase um assassinato<a href="http://www.blogger.com/blogger.g?blogID=7548064999185896208#_ftn3" name="_ftnref3" style="mso-footnote-id: ftn3;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: "MS Mincho"; mso-fareast-language: EN-US;">[3]</span></span></span></span></a>,
já que ele atribui à Saussure uma formulação do algoritmo do signo linguístico
que não se encontra, como ele mesmo diz, em nenhuma das diversas aulas do
“Curso de linguística Geral”: “significante sobre significado, correspondendo o
“sobre” à barra que separa às duas etapas.” (Instância da letra, p.500)<span style="mso-spacerun: yes;"> </span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 36.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Então, se estão
lembrados o signo saussureano é composto inversamente pelo significado (conceito)
sobre o significante (imagem acústica), onde eles se encontram intimamente
unidos e um reclama o outro. Além disso, Saussure atribui ao signo as
características da arbitrariedade e da linearidade. A primeira afirma que a
escolha do significante é imotivada, não tem com o mesmo nenhum laço natural na
realidade. A segunda, a característica da linearidade, afirma que os
significantes se dispõem na linha do tempo, seus elementos se apresentam um
após o outro, formando uma cadeia.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Lacan
vai também vai introduzir modificações e variações na maneira de compreender
estes postulados do signo linguístico em Saussure.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 36.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Mas então, o que
autoriza o psicanalista a se apropriar da teoria de um autor tão influente como
Saussure, subvertendo-a desta maneira? Será apenas incoerência, anarquismo teórico,
uma espécie de vale-tudo ou um simples descaso pelas formulações do autor? </span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 36.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">No meu ponto de vista
não se trata de nada disso. Ocorre que como ressaltamos anteriormente, estamos
adentrando num outro terreno. Enquanto que a linguística estruturalista lida
com as relações humanas no plano da consciência (onde prevalecem o princípio de
realidade, com as regras lógicas que exigem ao pensamento se organizar em torno
de significados), o que vai interessar à Lacan está relacionado à uma outra
cena, aquela que Freud identificou como o inconsciente. Trata-se de dois
registros diferentes, duas “linguagens” que, apesar de operarem com os mesmos
elementos, seguem regras diferentes. Como diz Alice, há toda uma lógica
diferente para além do espelho, onde as coisas mudam de lugar e o Jaberwocky
(ou Pargarávio, como foi traduzido no português), apesar de não ter sentido
algum, produz um efeito de significação: </span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6.0pt; text-indent: 36.0pt;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt;">“</span></i><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: Cambria; mso-fareast-theme-font: minor-latin;">Solumbrava, e os lubriciosos touvos</span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6.0pt; text-indent: 36.0pt;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: Cambria; mso-fareast-theme-font: minor-latin;">Em
vertigiros persondavam as verdentes;</span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6.0pt; text-indent: 36.0pt;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: Cambria; mso-fareast-theme-font: minor-latin;">Trisciturnos
calavam-se os gaiolouvos</span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6.0pt; text-indent: 36.0pt;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: Cambria; mso-fareast-theme-font: minor-latin;">E
os porverdidos estriguilavam fientes.”</span></i><span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt;"> </span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 1.0cm; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Efeito este que aponta
para um impossível, ou na fala de Alice: “De todo modo, alguém matou alguma
coisa: isto está claro, pelo menos.”</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 1.0cm; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Entre a linguagem e a
morte, desde Freud temos que considerar que há, de saída, uma divisão
estrutural do sujeito, acarretada pela entrada deste na cultura, ou em termos
lacanianos, pela entrada na linguagem. Este sujeito, não existe desde o momento
em que nascemos. Ele se estrutura<span style="mso-spacerun: yes;">
</span>incialmente se alienando ao outro materno, aos seus cuidados, seu toque e
suas palavras. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-indent: 36.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Antes mesmo de nascer, todos
nós já temos um lugar reservado na linguagem que nos antecede. São histórias
que se contam de geração em geração, o nome que os pais escolhem e os
planejamentos que esses fazem para o futuro filho. Tudo isso nos antecede e
delimita, de certa forma, o mundo no qual iremos chegar. Além disso, chegamos
para esta jornada ainda muito despreparados, desprovidos das ferramentas que
precisamos para sobreviver. Em meio a nossa luta pela sobrevivência, é nesse
outro que vamos buscar os significantes com que nomeamos nossa fome, nossa
sede, nosso medo e... nosso desejo. Sendo assim, podemos afirmar com Lacan, que
nascemos alienados a tudo isto que nos precede, a isto que ele deu o nome de
‘Outro’.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-indent: 36.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">O Outro, com letra maiúscula
diz respeito à linguagem, ao lugar onde existem os significantes dos quais nos
apropriamos para nomear o mundo e as nossas experiências. Escrevemos “Outro”
com letra maiúscula para diferenciar do “outro”, pessoas com as quais nos
relacionamos, são os nosso pares, são aqueles com quem nos identificamos pois
são como nós.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-indent: 36.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">É deste suposto grande Outro
que a criança recebe, desde antes de seu nascimento, o seu nome, o nome das
coisas, o nome do que sente. O bebê que chora não sabe nomear o que sente, quem
nomeia é este Outro, que tudo sabe. Sem essa referência ao Outro da linguagem
seríamos como Alice ao entrar no bosque “onde as coisas não tem nome”: </span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 4.0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">“Esse
deve ser o bosque disse pensativamente, em que as coisas não tem nomes. O que
vai ser do meu nome quando eu entrar nele?” (p. 199) </span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-indent: 36.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">O desejo de ter um filho (ou de
qualquer outra coisa que venha nesse lugar), vem antes mesmo desta criança
existir, junto com as expectativas, da escolha do nome, da profissão que a
criança terá, de como ela será criada, são desejos e significantes que dão
forma ao bebê.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-indent: 36.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Porém, quem quer que tenha
acolhido esta criança em seu desejo, precisa estar voltada também para algo que
se situe além do bebê, apontando que essa relação mãe e filho não basta para
satisfazê-la. Ao apontar para o filho que tem outros interesses, a mãe se situa
também como mulher e, como tal, um ser desejante. A criança percebe que a este
Outro também falta algo, que ele não pode tudo, não vê tudo e não pode nomear
tudo. Nessas idas e vindas o sujeito percebe que a mãe não é completa, que a
ela também faltam coisas que busca alcançar. Esse ponto fraco aparece
justamente porque o Outro também tem que recorrer à linguagem, impossível de
dizer tudo.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-indent: 36.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Nesse lacuna que se abre,
marcada pela falta no Outro é que o sujeito vai passar a se perguntar sobre o
desejo: o que esse outro quer? E mais, o que ele quer de mim? É frente a esse
pergunta feita ao Outro que o sujeito vai se escrever como resposta.</span></div>
<div style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 4.0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">"Quem é você?",
perguntou a Lagarta.</span></div>
<div style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 4.0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Não era uma maneira
encorajadora de iniciar uma conversa. Alice retrucou, bastante timidamente:
"Eu - eu não sei muito bem, Senhora, no presente momento - pelo menos eu
sei quem eu era quando levantei esta manhã, mas acho que tenho mudado muitas
vezes desde então.</span></div>
<div style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 4.0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">"O que você quer dizer com
isso?", perguntou a Lagarta severamente. "Explique-se!"</span></div>
<div style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 4.0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">"Eu não posso explicar-me,
eu receio, Senhora", respondeu Alice, "porque eu não sou eu mesma,
vê?"</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-indent: 36.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="color: red; font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-indent: 36.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Existem maneiras diversas de
responder a esse encontro com o desejo do Outro e é essa resposta que vai
determinar o modo como esse sujeito vai se estruturar. Na estrutura neurótica
esse encontro é recalcado, com a consequente divisão do sujeito<a href="http://www.blogger.com/blogger.g?blogID=7548064999185896208#_ftn4" name="_ftnref4" style="mso-footnote-id: ftn4;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: "MS Mincho"; mso-fareast-language: EN-US;">[4]</span></span></span></span></a>.
Segundo Quinet, Freud formula a subjetividade humana em conflito, a divisão do
sujeito entre o que ele quer inconscientemente e o que ele conscientemente não
quer ou ignora que quer. (Quinet, p. 23)</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-indent: 36.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Nesse encontro com a falta no
Outro, emerge algo que não pode ser tolerado pela consciência. O conceito
freudiano de recalque vai se fundamentar na constatação de que, nesse momento,
há uma separação entre a “ideia” e aquilo que a “representa”. Esses são termos
freudianos! Estão publicados num texto de 1915. Se aproximarmos aí ideia,
conceito, significado de um lado e representante, significante, de outro, vemos
ai o quanto ele e Saussure estavam de alguma maneira próximos, embora nem se
conhecessem. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-indent: 36.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Então, o que que acontece no
recalque? Ocorre a tentativa de impedir que essa ideia insuportável se torne
consciente. Há portanto a instauração de uma barra quase intransponível entre
significante e significado. Daí uma primeira consideração sobre a apropriação
do signo linguístico por Lacan, que é o reforçamento da barra que compõe o
algoritmo saussureano, atribuindo à mesma um caráter de resistência à
significação.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 4.0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">“Dizemos
então que se acha em estado de “inconsciente”, e podemos oferecer boas provas
de que também inconscientemente ela pode produzir efeitos, inclusive aqueles
que afinal atingem a consciência”. (Freud, o Inconsciente, 1915)</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-indent: 36.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Então, o material recalcado,
tornado inconsciente, não é inerte. Ele opera, produzindo efeitos com
características diferentes daquelas que encontramos na consciência. Que
características são essas? Vou retomar aqui um trecho do texto “O
Inconsciente”: </span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 4.0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 11.0pt; line-height: 150%;">“O
âmago do <i>Ics </i>consiste de <b style="mso-bidi-font-weight: normal;">representantes
pulsionais</b>, que querem descarregar seu investimento, de impulsos de desejo,
portanto. Esses impulsos pulsionais são coordenados entre si, coexistem sem
influência mútua, <b style="mso-bidi-font-weight: normal;">não contradizem uns
aos outros</b>. (...)</span><span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 4.0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 11.0pt; line-height: 150%;">Nesse
sistema <b style="mso-bidi-font-weight: normal;">não há negação, não há dúvida
nem graus de certeza</b>. Tudo isso é trazido apenas pelo trabalho da censura
entre <i>Ics </i>e <i>Pcs. </i>A negação é um substituto da repressão em nível
mais alto. No <i>Ics </i>existem apenas conteúdos mais ou menos fortemente
investidos.</span><span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 4.0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 11.0pt; line-height: 150%;">Há uma <b style="mso-bidi-font-weight: normal;">mobilidade bem maior das intensidades de
investimento</b>. Pelo processo de <i>deslocamento </i>uma ideia pode ceder a
outra todo o seu montante de investimento, pelo de <i>condensação </i>pode
acolher todo o investimento de várias outras. Propus enxergar nesses dois
processos indícios do assim chamado processo psíquico primário. (...)</span><span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 4.0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 11.0pt; line-height: 150%;">Os
processos do sistema <i>Ics </i><b style="mso-bidi-font-weight: normal;">são <i>atemporais</i></b><i>,
</i>isto é, não são ordenados temporalmente, não são alterados pela passagem do
tempo, não têm relação nenhuma com o tempo. (...)</span><span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 4.0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 11.0pt; line-height: 150%;">Os
processos do <i>Ics </i><b style="mso-bidi-font-weight: normal;">tampouco levam
em consideração a <i>realidade</i></b><i>. </i>São sujeitos ao princípio do
prazer; seu destino depende apenas de sua intensidade e de cumprirem ou não as
exigências da regulação prazer-desprazer.</span><span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 4.0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Vamos
resumir: <i>ausência de contradição, processo primário </i>(mobilidade dos
investimentos), <i>atemporalidade </i>e <i>substituição da realidade externa
pela psíquica </i>são as características que podemos esperar encontrar nos
processos do sistema <i>Ics.”</i></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-indent: 36.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Tracemos agora um comparativo
entre as características do inconsciente tal como apresentadas por Freud neste
texto e as modificações introduzidas por Lacan no signo linguístico.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-indent: 36.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Em primeiro lugar, percebemos
que no plano inconsciente o que temos são representantes pulsionais que querem
descarregar seu investimento, impulsos de desejo, Freud vai dizer. Com Lacan
podemos dizer que estamos no plano da articulação de significantes e a
exigência de satisfação pulsional. Nesse ponto, vou ter que me arriscar a jogar
- de maneira um pouco imprudente - um conceito freudiano fundamental que é o
conceito de pulsão. A pulsão como conceito limite entre o psíquico e o somático
é o que, segundo Freud, se diferencia do instinto dos animais, por ser sempre
parcial e por ser uma força constante em busca de satisfação. Embora nenhum
objeto possa realmente satisfazê-la, no sentido de anulá-la, a pulsão não cessa
de pressionar por satisfação. Então, no recalque, não é pelo fato de pertencer
à dimensão inconsciente, que se resolve a pressão por satisfação de uma ideia
investida libidinalmente. Ela vai continuar buscando formas de se satisfazer.
E, o inconsciente, é uma espécie de “País das Maravilhas” onde todo tipo de
combinação é possível. Por mais absurdo que possa parecer uma lagarta falando,
um sorriso sem gato, um coelho apressado... O absurdo e propriamente o reino do
inconsciente, assim como o demonstram nossos sonhos. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-indent: 36.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Além disso, no inconsciente,
não se trata de jogos de imagens. Embora os sonhos esteja repletos de formações
imagéticas, é no relato do sonhador, ou seja, na sua articulação linguageira,
que Freud vai buscar o material para a interpretação analítica.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-indent: 36.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">E porque? Porque no
inconsciente a primazia é do significante, tomado em jogos de combinações
malucas de forma a permitir a satisfação pulsional. Daí porque Lacan vai
inverter o algoritmo, colocando o significante acima da barra. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-left: 4.0cm; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-indent: -7.1pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">“Você pode observar uma
borboleteiga (butterfly). Suas asas são fatias finas de pão com manteiga, o
corpo é de casca de pão, a cabeça é um torrão de açúcar. “</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-left: 4.0cm; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-indent: -7.1pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">“E o que ela come?”</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-left: 4.0cm; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-indent: -7.1pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">“Chá fraco com creme.”</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Assim
como em nossos sonhos, elementos podem se combinar criando seres estranhos, a
partir, não de seu significado, um inseto, colorido, que voa, por exemplo, mas
a partir de associações significantes, manteiga, pão, chá, creme.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-indent: 36.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Dissemos ainda que Lacan também
vai introduzir variações nas características da arbitrariedade e da linearidade
do signo. Então vejamos. Quanto à arbitrariedade, ele radicaliza. Para
Lacan,<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>precisamos nos livrar da ilusão
de que o significante atende à função de representar o significado, ou melhor
dizendo, de que o significante tem que responder por sua existência a título de
uma significação qualquer. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Daí sua
afirmação no texto intitulado “A Instância da letra no Inconsciente, ou a razão
desde Freud” que “nenhuma significação se sustenta a não ser pela remissão a
uma outra significação” (p.501). Nesse texto ele toma o exemplo clássico do
algoritmo saussureano onde temos o conceito de árvore com sua respectiva imagem
acústica. Essa não é necessariamente a ideia que criamos ao ouvir o
significante árvore. Basta, como ele diz, plantar essa árvore na locução
“trepar na árvore”, para jogar aí um toque de malícia que deixa entrever a
dimensão do sexual para a qual aponta o inconsciente.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 36.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Quanto a linearidade do
significante, Lacan também vai pontuar diferenças em relação à afirmação de
Saussure. Mais uma vez em função da particularidade do inconsciente. Para
Saussure, a característica da linearidade se resume no fato de que os
significantes “são diferentes entre si, limitados, independentes, sem variações.
Ou pronunciamos ‘faca” ou pronunciamos ‘vaca’. Não existe um meio-termo entre
/f/ e /v/, que são, deste modo unidades discretas, isto é, separáveis,
descontínuas.” Essas unidades discretas tem que ser emitidas sucessivamente,
não são co-existentes ou simultâneas. “Ao contrário, são sucessivas e, por
isso, só podemos emitir um fonema de cada vez, em linha, ou melhor,
linearmente” (Carvalho, 2003)</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 36.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Para Lacan, a
linearidade é necessária a constituição da cadeia do discurso, como afirma
Saussure, no entanto, ela não é suficiente. Certamente ela se impõe na medida
em que o discurso é ordenado no tempo, </span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 120.5pt; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">“mas
basta escutar a poesia, o que sem dúvida aconteceu com F. De Saussure, para que
nela se faça ouvir uma polifonia e para que todo o discurso revele alinhar-se
nas diversas pautas de uma partitura.”(Lacan, p. 507)</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 36.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>E no inconsciente, uma nota que está numa
linha qualquer da partitura não hesita em salta para outra linha, caso isso
seja conveniente à dança da pulsão. Além disso, a pontuação dessa cadeia significante
vai abrir possibilidades de encadeamentos outras: </span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 4.0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">“Não
há cadeia significante, com efeito, que não sustente, como que apenso na
pontuação de cada uma de sua unidades, tudo que se articula de contextos
atestados na vertical, por assim dizer, deste ponto” (Lacan).</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-indent: 36.0pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Quando
um desses significantes consegue transpor a barra, temos aí um efeito de
metáfora ou de metonímia, que vão caracterizar as leis de funcionamento do
inconsciente. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 36.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Como afirmamos
anteriormente, Freud já havia identificado que o inconsciente não segue as
mesmas leis que<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>pensamento consciente.
Mas, para além disso, ele descobre que os elementos significantes seguem ali
outras leis, aquelas que ele chamou de condensação e deslocamento. Essas leis
operam para fazer funcionar a possibilidade de investimento pulsional à
despeito da barreira do recalque. É como se os elementos constitutivos das
cadeias inconscientes precisassem se “disfarçar” para se manifestarem. Assim, o
investimento de um significante passa facilmente a outro, seja por assonância,
por ambiguidade ou contiguidade temporal, mas em qualquer um dos casos, sem
nenhuma consideração pelo significado. E como então podemos reconhecer esse
funcionamento do inconsciente? Freud afirma que podemos reconhece-lo em
qualquer uma das chamadas formações do inconsciente: sonhos, chistes, atos
falhos e sintomas.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 36.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">No sonho, por exemplo,
como a temporalidade não incide, temos o significante funcionando não pelo que
possa significar, mas pelas possibilidades de condensação e deslocamento (ou metáfora
e metonímia, como vai chamar Lacan, apontando para o caráter linguageiro desses
mecanismos). A condensação ou metáfora ocorre quando </span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 4.0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">“duas
representações dos pensamentos oníricos que tenham algo em comum, algum ponto
de contato, são substituídas no conteúdo do sonho por uma representação
composta, na qual um núcleo relativamente nítido retrata o que elas têm em
comum, enquanto alguns detalhes colaterais indistintos correspondem aos
aspectos em que elas diferem entre si.” (Freud, Interpretação dos sonhos).</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 36.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">É assim que, em um sonho
podemos juntar características de duas pessoas diferentes que formam uma só. Na
conversa de Alice com Humpty-Dumpty temos a fantástica criação das “palavras
valise” que, como o próprio Humpty explica, é quando há dois sentidos embalados
numa palavra só:</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 4.0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">“</span><span style="mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Solumbrava, e os lubriciosos
touvos</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 4.0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Em vertigiros
persondavam as verdentes;</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 4.0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Trisciturnos
calvam-se os gaiolouvos</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 4.0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<span class="textexposedshow"><span style="mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">E
os poverdidos estriguilavam fientes.”</span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 36.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 36.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Solumbrava: é aquela
hora em que o sol vai baixando e as sombras se alongam.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 36.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Lubriciosos: significa
lúbricos, que é a mesma coisa que escorregadios e operosos, ágeis.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 36.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Touvos: são parecidos
com texugos...têm um pouco de lagartos...e lembram muito um saca-rolha.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 36.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Vertigiro: é o giro extremamente rápido de uma
verruma. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 36.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Persondar é perfurar
prescutando</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 36.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Verdentes: canteiros em
volta dos relógios de sol</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 36.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Trisciturno: triste,
taciturno e noturnal (mais uma palavra-valise pra você)</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 36.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Porverdidos: porcos
verde que perderam<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>caminho de casa.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 36.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Estriguilar: é algo
entre estridular, guinchar, cricrilar, estrilar e assobiar, com uma espécie de
espirro no meio.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 36.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Claro que quando o
Humpty decifra o sentido de uma palavra-valise, forçando-a a entrar na
diacronia<a href="http://www.blogger.com/blogger.g?blogID=7548064999185896208#_ftn5" name="_ftnref5" style="mso-footnote-id: ftn5;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: "MS Mincho"; mso-fareast-language: EN-US;">[5]</span></span></span></span></a>,
faz com que ela perca muitos outros que poderiam advir na sincronia<a href="http://www.blogger.com/blogger.g?blogID=7548064999185896208#_ftn6" name="_ftnref6" style="mso-footnote-id: ftn6;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: "MS Mincho"; mso-fareast-language: EN-US;">[6]</span></span></span></span></a>.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 36.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">No deslocamento ou
metonímia, o sonho pode tomar um detalhe de uma pessoa (um bigode ou a cor dos
olhos, por exemplo, para remeter à outra). Trata-se do mecanismo que transfere
as intensidades ligadas às representações de uma representação para outra.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-indent: 36.0pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Na
conversa de Alice com a Tartaruga Falsa sobre a escola, por exemplo, por
metonímia o nome das disciplinas cursadas se deslocam por outras relações que
se estabelecem com o significante tartaruga:</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 4.0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">“Não pude me dar ao luxo de estudar essa
matéria”, disse a tartaruga Falsa com um sorriso “Só fiz o curso regular”</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 4.0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">“E como era”, quis saber Alice.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 4.0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">“Lentura e Estrita, é claro, pra começar”
respondeu a Tartaruga Falsa. “E depois os<span style="mso-spacerun: yes;">
</span>diferentes ramos da Aritmética: Ambição, Subversão, Desemblezação e
Distração”</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 4.0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">“E o que mais tinham que estudar?” Disse
Alice.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 4.0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">“Bem, tínhamos Histeria”, respondeu a
Tartaruga Falsa, contando as matérias nas patas, “Histeria Antiga e moderna,
com Marografia, depois Desdém...” (p. 113 e 114)</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 36.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 36.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">No sintoma também
encontramos a metáfora que cifra uma mensagem que não poderia ser dita
claramente tendo em vista que se trata de algo insuportável para a consciência.
Assim, uma parte do corpo pode, na histeria, ser tomada como significante e vir
na cadeia representando algo que não pôde ser colocado em palavras. (punhalada
no coração, ter que engolir isso, não poder se manter em pé). Ou no caso da
Neurose Obsessiva, onde o sintoma se forma a partir de uma ideia o mais
distante possível na ideia recalcada, mas ainda pertencendo a mesma cadeia
associativa. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 36.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">O que está em jogo nos mecanismos
da formação dos sintomas é uma evitação do desejo, tomado como impossível, pelo
obsessivo, ou como insatisfeito, pela histérica, de qualquer maneira apontando
para uma impotência do neurótico em alcançar o objeto que poderia satisfazê-lo.
Ocorre que o de que se trata no desejo é da própria impossibilidade de
encontrar um objeto que pudesse suturá-lo. O Desejo, desde Freud, é um vetor
que aponta para uma experiência anterior, que só se inscreve como traço de
experiência. O desejo, portanto, é metonímico, é sempre desejo de outra coisa.
Seu objeto, por tanto, é perdido, e o que temos dele é apenas o rastro deixado
pelas inscrições dos significantes. A estrutura, portanto não é completa, ela é
perpassada por um furo, aquele que poderia responder elo desejo. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 36.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Voltamos então ao começo
do deste texto, onde dissemos que a linguagem que interessa à Lacan é aquela do
desejo. Ou seja, aquela com que cada sujeito vai tentar se fundar como tal, na
sua relação com o vazio com que se depara na estrutura do Outro, com a
impossibilidade de dizer tudo da linguagem e com o como se introduz para cada
um sua relação com o real, com aquilo que fica fora da linguagem.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 36.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Finalmente, para nos
despedirmos de Carroll, podemos nos perguntar sobre que real estava em jogo
quando ele produziu Alice? Lacan nos adverte que não devemos buscar essa
resposta na sua inclinação pela menina impúbere. “Mas na sua obra enquanto
lugar eleito para demonstrar a verdadeira natureza da sublimação na obra de
arte. Recuperação de um certo “objeto”... objeto impossível! </span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 36.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 36.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<br /></div>
<div style="mso-element: footnote-list;">
<br clear="all" />
<hr align="left" size="1" width="33%" />
<div id="ftn1" style="mso-element: footnote;">
<div class="MsoFootnoteText">
<a href="http://www.blogger.com/blogger.g?blogID=7548064999185896208#_ftnref1" name="_ftn1" style="mso-footnote-id: ftn1;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-family: Cambria; font-size: 12.0pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: "MS Mincho"; mso-fareast-language: EN-US;">[1]</span></span></span></span></a> <span lang="EN-US" style="font-size: 9.0pt; mso-ansi-language: EN-US;">Psicanalista, membro
da Escola de Psicanálise dos Fóruns do Campo Lacaniano. Professora da UECE.</span></div>
</div>
<div id="ftn2" style="mso-element: footnote;">
<div class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<a href="http://www.blogger.com/blogger.g?blogID=7548064999185896208#_ftnref2" name="_ftn2" style="mso-footnote-id: ftn2;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-family: Cambria; font-size: 12.0pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: "MS Mincho"; mso-fareast-language: EN-US;">[2]</span></span></span></span></a>
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 9.0pt;">Há aqui e em outras
partes do texto lacaniano, uma utlização dos termos linguagem, fala e
língua<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>como quase sinônimos que
certamente, não vai passar despercebida a um publico de linguistas. Esse é
inclusive um dos pontos e crítica à apropriação lacaniana desta disciplina. Mas
como não é o foco deste texto fazer as comparações entre as aproximações e
distanciamentos de Lacan com a linguistica saussureana, sugiro a leitura do
texto </span><span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 9.0pt; mso-bidi-font-weight: bold; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">A abertura
da estrutura: limite da aplicação da linguistica saussuriana à psicanálise de
autoria (Sales, 2008)</span><span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 9.0pt;"></span></div>
</div>
<div id="ftn3" style="mso-element: footnote;">
<div class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<a href="http://www.blogger.com/blogger.g?blogID=7548064999185896208#_ftnref3" name="_ftn3" style="mso-footnote-id: ftn3;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 9.0pt;"><span style="mso-special-character: footnote;"><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 9.0pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: "MS Mincho"; mso-fareast-language: EN-US;">[3]</span></span></span></span></span></a><span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 9.0pt;"> Não faço uso aqui do
termo “assassinato” com uma conotação pejorativa, pois estou considerando que,
em psicanálise, o assassinato do pai é a base para a invenção da cultura.</span></div>
</div>
<div id="ftn4" style="mso-element: footnote;">
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 12.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-justify: inter-ideograph;">
<a href="http://www.blogger.com/blogger.g?blogID=7548064999185896208#_ftnref4" name="_ftn4" style="mso-footnote-id: ftn4;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-family: Cambria; font-size: 10.0pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: "MS Mincho"; mso-fareast-language: EN-US;">[4]</span></span></span></span></a>
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 9.0pt;">Na psicose, o
elemento traumático é foracluído, e retorna em forma de alucinações; na
perversão, o sujeito se nega a reconhecer a falta no Outro, embora tenha
registro dela. </span><span lang="EN-US" style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 9.0pt; mso-ansi-language: EN-US;"></span></div>
</div>
<div id="ftn5" style="mso-element: footnote;">
<div class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<a href="http://www.blogger.com/blogger.g?blogID=7548064999185896208#_ftnref5" name="_ftn5" style="mso-footnote-id: ftn5;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-family: Cambria; font-size: 12.0pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: "MS Mincho"; mso-fareast-language: EN-US;">[5]</span></span></span></span></a>
<span style="mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">“</span><span style="font-size: 9.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">O <i>eixo das
sucessões</i>, sobre os quais não se pode considerar mais do que uma coisa por
vez, mas onde estão situadas todas as coisas do primeiro eixo com suas
respectivas transformações."</span><span lang="EN-US" style="font-size: 9.0pt; mso-ansi-language: EN-US;"></span></div>
</div>
<div id="ftn6" style="mso-element: footnote;">
<div class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<a href="http://www.blogger.com/blogger.g?blogID=7548064999185896208#_ftnref6" name="_ftn6" style="mso-footnote-id: ftn6;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-family: Cambria; font-size: 12.0pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: "MS Mincho"; mso-fareast-language: EN-US;">[6]</span></span></span></span></a>
<span style="font-size: 9.0pt;">“</span><span style="font-size: 9.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">O <i>eixo das simultaneidades</i>, concernente às relações
entre coisas coexistentes, de onde toda intervenção do tempo se exclui”</span><span lang="EN-US" style="mso-ansi-language: EN-US;"></span></div>
</div>
</div>
Lia Silveirahttp://www.blogger.com/profile/01914928244809718150noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-7548064999185896208.post-77778994234734063402013-09-03T14:38:00.000-03:002013-09-03T14:39:52.555-03:00O atendimento na clínica contemporânea<h1 style="color: #262626; font-size: 18px; font-weight: bold; margin-bottom: 0; margin-left: 0; margin-right: 0; margin-top: 0; padding-bottom: 0; padding-left: 0; padding-right: 0; padding-top: 5px;">
</h1>
<h1 style="color: #262626; font-size: 18px; font-weight: bold; margin-bottom: 0; margin-left: 0; margin-right: 0; margin-top: 0; padding-bottom: 0; padding-left: 0; padding-right: 0; padding-top: 5px;">
<span style="font-size: small;">(Palestra proferida na Semana de Psicologia da Fanor, 2013) </span></h1>
<div>
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Quando recebi o convite para falar sobre " O <span style="color: #222222; font-family: 'Helvetica Neue',Helvetica,Arial,sans-serif; font-size: 15px; line-height: 22px;">atendimento na clínica contemporânea" pensei em como poderia organizar uma fala. Primeiramente, parti do significado das palavras "contemporâneo"e "clínica".</span></div>
<div style="text-align: justify;">
</div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: black; font-family: 'Helvetica Neue',Helvetica,Arial,sans-serif; font-size: 15px; line-height: 22px;">Contemporâneo - aquilo que é do mesmo tempo em que se fala.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: black; font-family: 'Helvetica Neue',Helvetica,Arial,sans-serif; font-size: 15px; line-height: 22px;">Clínica - do grego <i>Kliné</i> , debruçar-se, atendimento junto ao leito. Em psicanálise, a clínica é o que se dá no encontro com o paicente, espaço de escuta.</span>
</div>
<div style="text-align: justify;">
</div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #222222; font-family: 'Helvetica Neue',Helvetica,Arial,sans-serif; font-size: 15px; line-height: 22px;">Percebi que poderia tomar esse tema por duas vertentes diferentes, a partir de duas perguntas:</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<ul>
<li style="color: #222222; font-family: 'Helvetica Neue',Helvetica,Arial,sans-serif; font-size: 15px; line-height: 22px;">a primeira pergunta é se haveria uma especificidade do como se realiza a clinica na contemporaneidade;</li>
<li style="color: #222222; font-family: 'Helvetica Neue',Helvetica,Arial,sans-serif; font-size: 15px; line-height: 22px;">A segunda, seria do ponto de vista do "com que lidamos" na clinica na contemporaneidade.</li>
</ul>
</div>
<div style="text-align: justify;">
</div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #222222; font-family: 'Helvetica Neue',Helvetica,Arial,sans-serif; font-size: 15px; line-height: 22px;">Vou me guiar então pela resposta que posso formular a essas duas questões.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
</div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #222222; font-family: 'Helvetica Neue',Helvetica,Arial,sans-serif; font-size: 15px; line-height: 22px;">Em
primeiro lugar, é preciso destacar que, a clínica a qual me refiro, é a
psicanalítica. E o que é a clinica psicanalítica? É aquela que nasce
com Freud no início do século XX. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #222222; font-family: 'Helvetica Neue',Helvetica,Arial,sans-serif; font-size: 15px; line-height: 22px;">É
interessante ressaltar que, antes de Freud, ja havia a clinica. Com
Foucault, no livro o nascimento da clinica, sabemos que a clinica
moderna é a clinica anátomo-patologica, que identifica o sintoma a uma
lesão nos tecidos e se pauta na observação. Esta clinica, pretende
anular tudo que é subjetivo pois considera que esses elementos
interferem na observação da doença que deve ser o mais objetiva
possível.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #222222; font-family: 'Helvetica Neue',Helvetica,Arial,sans-serif; font-size: 15px; line-height: 22px;">A
grande invenção freudiana foi ter se interessado por aquilo que não se
encaixava nesse modelo. Por queixas que não apresentava base orgânica,
mas que faziam sofrer as mulheres e lotavam Salpetrière. Ele se
interessou em ouvi-las e ainda atribuiu um sentido ao que elas diziam.
Não, elas não era fingidoras, elas tinham algo a dizer com seu sintoma. A
partir de sua clinica ele desenvolveu as bases teórico metodológicas da
psicanálise que sao, </span><span style="color: #222222; font-family: 'Helvetica Neue',Helvetica,Arial,sans-serif; font-size: 15px; line-height: 22px;"> por
uma lado a metapsicologia (nos conceitos de inconsciente, desejo,
pulsão, repetição) e, por outro, a aplicação da regra de ouro que é a
associação livre. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #222222; font-family: 'Helvetica Neue',Helvetica,Arial,sans-serif; font-size: 15px; line-height: 22px;">Se
tomarmos por esse viés, não haveria muito o que se falar de uma
"clínica contemporânea", pois a psicanálise não só não se "atualizou"
com o passar do tempo, como poderíamos dizer que essa fidelidade à suas
bases que datam de longo tempo é, na verdade, a garantia de que ainda
possamos chamar de psicanálise aquilo que fazemos.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #222222; font-family: 'Helvetica Neue',Helvetica,Arial,sans-serif; font-size: 15px; line-height: 22px;">Mesmo
o grande inovador da psicanálise, que surge no cenário psicanalitico
após a morte de Freud, Jacques Lacan, não cansou de afirmar que sua
proposta não era a de uma "modernização" de Freud, mas a de um retorno
às suas bases que, naquele tempo, ja andavam pra lá de esquecidas. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #222222; font-family: 'Helvetica Neue',Helvetica,Arial,sans-serif; font-size: 15px; line-height: 22px;">Lacan
vai apontar que, para que a piscanálise continue merecendo ser assim
chamada, ela precisa preservar a lâmina cortante da verdade freudiana,
que aponta para a realidade sexual do inconsciente e para o impossível
que ela concerne. A política do analista é a política da falta, ele vai
dizer. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #222222; font-family: 'Helvetica Neue',Helvetica,Arial,sans-serif; font-size: 15px; line-height: 22px;">Dizer que a política da psicanálise é a política da falta, quer dizer que ali onde haja a pretensão</span><span style="color: #222222; font-family: 'Helvetica Neue',Helvetica,Arial,sans-serif; font-size: 15px; line-height: 22px;"> de
dar respostas, de completar, de fazer sentido, a psicanálise deve
comparecer para sustentar o furo, o buraco, constitutivo de todo
discurso.</span></div>
<div>
<img height="379" src="https://mail.google.com/mail/u/0/?ui=2&ik=16fe9346a5&view=att&th=140b6c299d329b47&attid=0.1&disp=emb&zw&atsh=1" style="display: block; margin-left: auto; margin-right: auto;" width="582" /></div>
<div>
</div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #222222; font-family: 'Helvetica Neue',Helvetica,Arial,sans-serif; font-size: 15px; line-height: 22px;">A
clinica psicanalítica do nosso tempo é, portanto, a boa e velha clinica
de Freud. ele formulou que esse buraco e o mal-estar estar dele
decorrente é constitutivo do ser falante. Formulou ainda que ele existe
devido ao fato de estarmos na civilização - de estarmos na linguagem,
dirá Lacan. A palavra é sempre insuficiente para nomear o mundo, nomear
nossas experiências, nomear nossa angustia. Sobra sempre algum
inominável que vai constituir esse furo. A psicanálise não vai buscar
preencher o furo. Ela se orienta por sustentar aberto o buraco, sabendo
que ele é mal- estar, mas é também constitutivo do sujeito e de seu
desejo. Se, furo, não há desejo!</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #222222; font-family: 'Helvetica Neue',Helvetica,Arial,sans-serif; font-size: 15px; line-height: 22px;">Essa estrutura é atemporal, portanto, nessa perspectiva, não há uma especificidade de uma clinica do nosso tempo</span><span style="color: #222222; font-family: 'Helvetica Neue',Helvetica,Arial,sans-serif; font-size: 15px; line-height: 22px;"> . O que há é a clinica, conforme inventada por Freud.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #222222; font-family: 'Helvetica Neue',Helvetica,Arial,sans-serif; font-size: 15px; line-height: 22px;">Esso nos leva, então, à </span><span style="color: #222222; font-family: 'Helvetica Neue',Helvetica,Arial,sans-serif; font-size: 15px; line-height: 22px;">segunda questão: haveria uma contemporaneidade do "com que lidamos" na clinica psicanalítica?</span></div>
<div style="text-align: justify;">
</div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #222222; font-family: 'Helvetica Neue',Helvetica,Arial,sans-serif; font-size: 15px; line-height: 22px;">Penso
que ai podemos formular alguma coisa. Embora o "com que lidamos" seja
desde Freud, com o sujeito e seu desejo, as formações do inconsciente e
o gozo da repetição mortífera que se apresenta no sintoma, acredito que
podemos falar de uma contemporaneidade do "envoltório formal" desse
sintoma. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
</div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #222222; font-family: 'Helvetica Neue',Helvetica,Arial,sans-serif; font-size: 15px; line-height: 22px;">O
mal-estar decorre da civilização. Mas certamente, a civilização não se
estrutura nas mesmas bases que na época de Freud. Só para termos uma
ideia dessas mudanças, em um texto como "A moral civilizada e doença
nervosa moderna" Freud relaciona o adoecimento neurótico à repressão
sexual promovida pela sociedade de seu tempo, com sua moral vitoriana.
As histéricas adoeceriam porque, impedidas de terem relações sexuais,
chegava ao casamento frígidas após anos de repressão, perdendo o caminho
do acesso a sua sexualidade.(Estamos falando de um tempo onde as
mulheres "supostamente" esperavam até os 19, 20 anos para casarem
virgens). </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #222222; font-family: 'Helvetica Neue',Helvetica,Arial,sans-serif; font-size: 15px; line-height: 22px;">Quem
poderia sustentar uma tese dessas nos dias de hoje? Naquela época,
perder a virgindade antes do casamento era quase uma sentença de
envelhecer sozinha. Hoje em dia, as meninas de 14 anos vem ao
consultório se queixar por ainda serem virgens quando suas colegas já
tem vida sexual ativa. Alias, desde muito antes disso, as crianças ( que
antes se supunha assexuadas) já são instigadas a se vestir como
mulheres, dançar sensualmente, etc. Tudo muito distante da repressão
sexual da época de Freud. pelo contrario, somos cobrados a gozar intensa
e infinitamente. A sentença do nosso tempo é a do supereu: goza!</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #222222; font-family: 'Helvetica Neue',Helvetica,Arial,sans-serif; font-size: 15px; line-height: 22px;">Sendo
assim, diríamos que estamos menos neuróticos? Nada nos autoriza a fazer
essa afirmação. Pelo contrário. Na clínica nos chega cada vez mais
sujeitos desanimados, enlutados, entristecidos, desiludidos,
desbussolados, desrorientados em relação ao seu desejo... E todos eles
nomeados segundo a ciência, com o rotulo de "depressão". O que estaria
por trás desse fenômeno? Somos todos deprimidos?</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #222222; font-family: 'Helvetica Neue',Helvetica,Arial,sans-serif; font-size: 15px; line-height: 22px;">A
questão por trás disso é o tal do furo. Na sociedade vitoriana tínhamos
um outro a quem atribuir a interdição do nosso acesso ao gozo. O
discurso da época dizia que não gozávamos suficientemente porque a
igreja impedia, porque a sociedade proibia, porque a estrutura
patriarcal se impunha. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #222222; font-family: 'Helvetica Neue',Helvetica,Arial,sans-serif; font-size: 15px; line-height: 22px;">De
lá pra cá, queimamos soutiens, inventamos a pílula, a mulher passou a
ter papel fundamental na renda familiar (embora ainda receba menos que o
homem pelo mesmo trabalho) e os nossos valores se tornaram bem menos
proibitivos, quando não, se esvaíram por completo. E, principalmente,
ciência tomou o lugar da religião como lugar de acesso a verdade. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #222222; font-family: 'Helvetica Neue',Helvetica,Arial,sans-serif; font-size: 15px; line-height: 22px;">Ao
contrario do discurso religioso que diz pra suportarmos melhor o buraco
porque vamos ganhar uma vida plena no reino dos céus, a ciência vem
para dizer que não precisamos perder tempo esperando (time is money),
podemos ter uma vida plena aqui mesmo na terra. Podemos eliminar o
sofrimento, o envelhecimento, as doenças e, quiçá, a morte. Basta para
isso encontrarmos o produto certo. Antidepressivos, cirurgias plásticas,
criogenia..isso vai às raias da loucura quando alguém chega a pagar
para ter seu corpo congelado, apostado na descoberta da ressurreição.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #222222; font-family: 'Helvetica Neue',Helvetica,Arial,sans-serif; font-size: 15px; line-height: 22px;">O
parceiro feliz desse discurso científico é o discurso capitalista. Ora,
se para ter a vida plena, basta ter acesso ao produto certo, "nós
estamos aqui para garanti-lo!", quase podemos ouvir o slogan dessa
espécie de "Organizações Tabajara" generalizada. Se você se sente
impotente, seus problemas acabaram! compre um carro gigante e tome
viagra. A questão é que os objetos da produção capitalistas que se
apresentam para tamponar o furo, não so não se sustentam nesse lugar,
como, pior ainda, fazem desaparecer o desejo ao tamponar esse buraco.
Saímos da concessionária preenchidos com um carnê de prestaçoes a pagar
com mais trabalho que vamos ter que acumular e..desanimados, se,
entender porque não ficamos tão felizes quanto às pessoas do Facebook!</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #222222; font-family: 'Helvetica Neue',Helvetica,Arial,sans-serif; font-size: 15px; line-height: 22px;">Outro
exemplo disso, é que certamente avançamos muito com a ciência na cura
das doenças e praticamente dobramos a nossa expectativa de vida. No
entanto, a ameaça que antes vinha do corpo, agora vem das ruas, da
violência sem limites e da drogadição generalizada. </span></div>
<div>
</div>
<div>
<img height="348" src="https://mail.google.com/mail/u/0/?ui=2&ik=16fe9346a5&view=att&th=140b6c299d329b47&attid=0.2&disp=emb&zw&atsh=1" style="display: block; margin-left: auto; margin-right: auto;" width="400" /></div>
<div>
</div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #222222; font-family: 'Helvetica Neue',Helvetica,Arial,sans-serif; font-size: 15px; line-height: 22px;">Dai
que Antonio Quinet vai dizer que capitalismo e tecnociência são as
"Torres gêmeas" do mal-estar na civilização contemporânea.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #222222; font-family: 'Helvetica Neue',Helvetica,Arial,sans-serif; font-size: 15px; line-height: 22px;">A
psicanálise surge como o avesso desse discurso. Ela esta advertida de
que não gozamos plenamente porque é impossível ao ser falante preencher o
furo. E nem seria desejável que o fizesse, pois seria o seu próprio
desejo que se esvairia.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #222222; font-family: 'Helvetica Neue',Helvetica,Arial,sans-serif; font-size: 15px; line-height: 22px;">A
expectativa de encontrar a "metade da laranja" invariavelmente
fracassa, por que aquilo que encontramos no outro não é o pedaço que
faltava para sermos completos. </span></div>
<div>
<img height="307" src="https://mail.google.com/mail/u/0/?ui=2&ik=16fe9346a5&view=att&th=140b6c299d329b47&attid=0.3&disp=emb&zw&atsh=1" style="display: block; margin-left: auto; margin-right: auto;" width="492" /></div>
<div>
<br clear="none" /></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #222222; font-family: 'Helvetica Neue',Helvetica,Arial,sans-serif; font-size: 15px; line-height: 22px;">Mas
se sentir faltando um pedaço dói! O que vamos fazer então?
Resignarmo-nos no sofrimento? E ainda sem a promessa de vida eterna? <i>Me Funai</i>, antes não ter nascido...máxima da tragédia grega?</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #222222; font-family: 'Helvetica Neue',Helvetica,Arial,sans-serif; font-size: 15px; line-height: 22px;">Não
é essa aposta da psicanálise. A aposta é que podemos encontrar uma
forma de manter o buraco aberto e aprender a fazer algo com ele.. Um
assobio, um poema, um amor...mas sabendo que nada pode, nem deve,
completá-lo.</span></div>
Lia Silveirahttp://www.blogger.com/profile/01914928244809718150noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7548064999185896208.post-60974303076683554862013-05-01T21:27:00.000-03:002013-05-01T22:15:40.049-03:00CRASH – ESTRANHOS PRAZERES<style>
<!--
/* Font Definitions */
@font-face
{font-family:Times;
panose-1:2 0 5 0 0 0 0 0 0 0;
mso-font-charset:0;
mso-generic-font-family:auto;
mso-font-pitch:variable;
mso-font-signature:3 0 0 0 1 0;}
@font-face
{font-family:"Cambria Math";
panose-1:2 4 5 3 5 4 6 3 2 4;
mso-font-charset:0;
mso-generic-font-family:auto;
mso-font-pitch:variable;
mso-font-signature:-536870145 1107305727 0 0 415 0;}
@font-face
{font-family:Cambria;
panose-1:2 4 5 3 5 4 6 3 2 4;
mso-font-charset:0;
mso-generic-font-family:auto;
mso-font-pitch:variable;
mso-font-signature:-536870145 1073743103 0 0 415 0;}
@font-face
{font-family:"MS Mincho";
panose-1:0 0 0 0 0 0 0 0 0 0;
mso-font-alt:"MS 明朝";
mso-font-charset:128;
mso-generic-font-family:roman;
mso-font-format:other;
mso-font-pitch:fixed;
mso-font-signature:1 134676480 16 0 131072 0;}
/* Style Definitions */
p.MsoNormal, li.MsoNormal, div.MsoNormal
{mso-style-unhide:no;
mso-style-qformat:yes;
mso-style-parent:"";
margin:0cm;
margin-bottom:.0001pt;
mso-pagination:widow-orphan;
font-size:10.0pt;
font-family:Cambria;
mso-fareast-font-family:"MS Mincho";
mso-bidi-font-family:"Times New Roman";}
p.MsoFooter, li.MsoFooter, div.MsoFooter
{mso-style-priority:99;
mso-style-link:"Footer Char";
margin:0cm;
margin-bottom:.0001pt;
mso-pagination:widow-orphan;
tab-stops:center 216.0pt right 432.0pt;
font-size:10.0pt;
font-family:Cambria;
mso-fareast-font-family:"MS Mincho";
mso-bidi-font-family:"Times New Roman";}
span.FooterChar
{mso-style-name:"Footer Char";
mso-style-priority:99;
mso-style-unhide:no;
mso-style-locked:yes;
mso-style-link:Footer;
mso-ansi-font-size:10.0pt;
mso-bidi-font-size:10.0pt;
font-family:Cambria;
mso-ascii-font-family:Cambria;
mso-hansi-font-family:Cambria;}
.MsoChpDefault
{mso-style-type:export-only;
mso-default-props:yes;
font-size:11.0pt;
mso-ansi-font-size:11.0pt;
mso-bidi-font-size:11.0pt;
mso-fareast-font-family:"MS Mincho";}
@page WordSection1
{size:595.0pt 842.0pt;
margin:72.0pt 90.0pt 72.0pt 90.0pt;
mso-header-margin:35.4pt;
mso-footer-margin:35.4pt;
mso-paper-source:0;}
div.WordSection1
{page:WordSection1;}
</style> <br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEirAGa_NW0xv-cUkzsTS7YSUbeSfI21rHqtzkelORHZqGbk5y04uK3E7mWXsS8LzYs6Xwf9co_CwBSFAnZIOLQ4CHDK31crWHjDKp9o7fbdEHShdginuSV-jrXOFsCV81pKNt7Y67Dqqz4R/s1600/crash.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="220" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEirAGa_NW0xv-cUkzsTS7YSUbeSfI21rHqtzkelORHZqGbk5y04uK3E7mWXsS8LzYs6Xwf9co_CwBSFAnZIOLQ4CHDK31crWHjDKp9o7fbdEHShdginuSV-jrXOFsCV81pKNt7Y67Dqqz4R/s400/crash.jpg" width="400" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Com uma palavra, o que esse filme provoca no espectador? Angústia?
Medo? Excitação? Parece que Ballard e Cronenberg se reúnem em Crash para lidar
exatamente com esse misto de excitação e angústia. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">O filme é inspirado no livro homônimo escrito por J.G.
Ballard. O escritor nasceu em 1930, em Xangai, China, onde seu pai era
empresário. Depois do ataque a Peal Harbor, Ballard e sua família foram
colocados em um campo de concentração para civis. Retornaram à Inglaterra em
1946. Ballard passou dois anos em Cambridge, estudando medicina e trabalhou
como redator de propaganda e porteiro antes de ir para o Canadá, com a RAF -
Republican Air Force. Em 1956, seu primeiro conto foi publicado e Ballard
começou a trabalhar como editor de uma publicação científica, onde permaneceu
até 1961. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">O autor sabe que está escrevendo para uma sociedade datada,
aquela do século XX. Na introdução ao livro ele diz: </span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">“O casamento entre a
razão e o pesadelo, que tem dominado o século 20, deu origem a um mundo que é
cada vez mais ambíguo. Pelo cenário das comunicações movem-se os espectros de
tecnologias sinistras e os sonhos que o dinheiro pode comprar. Sistemas de
armas termonucleares e comerciais de bebidas coexistem em um ofuscante reino
governado pela publicidade e pelos pseudo-eventos, pela ciência e pela
pornografia. Nossas vidas são presididas pelos grandes e geminados leitmotifs
do século 20 sexo e paranóia. (...) Assim como o passado, em termos sociais e
psicológicos, tornou-se uma vítima de Hiroshima e da era nuclear (quase que por
definição um período no qual somos todos forçados a pensar prospectivamente), o
futuro também está deixando de existir, devorado por um presente que é todo
voracidade. Anexamos o futuro ao nosso próprio presente, como mais uma simples
alternativa entre as múltiplas que se abrem para nós. As opções multiplicam-se
ao nosso redor, vivemos em um mundo quase infantil no qual qualquer demanda,
qualquer possibilidade, seja por estilos de vida, viagens, papéis sexuais e
identidades, pode ser instantaneamente satisfeita. Vivemos em um mundo
governado por ficções de toda espécie o merchandising de massa, a publicidade,
a política conduzida como um ramo da propaganda, a tradução instantânea da
ciência e da tecnologia em imagens populares, a crescente mistura e
interpenetração de identidades no reino dos bens de consumo, a apropriação pela
televisão de qualquer resposta imaginativa livre ou original à experiência.
Nossa vida é uma grande novela Para o escritor, em particular, torna-se cada
vez menos necessário inventar o conteúdo fíccional de sua obra. A ficção já
está aí. A tarefa do escritor é inventar a realidade. (...) Em Crash! utilizei
o carro não apenas como uma imagem sexual mas como uma metáfora total para a
vida do homem na sociedade atual. Como tal, o livro tem um papel político
bastante distanciado do seu conteúdo sexual, mas eu ainda gostaria de pensar
que Crash! é o primeiro romance pornográfico baseado na tecnologia. Em certo
sentido, a pornografia é a mais política das formas de ficção, pois tenta
mostrar como nos usamos e nos exploramos mutuamente, da maneira a mais
insistente e implacável possível. Desnecessário dizer que o objetivo final de
Crash! é admoestatório, é um aviso contra um mundo brutal, erótico e ofuscante,
que nos acena, cada vez mais persuasivamente, das margens do cenário
tecnológico.” </span></i><span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">(Crash! JG Ballard)</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">O Mundo de Crash é o de hoje, uma ficção científica não
sobre o futuro, mas sobre o hoje. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhoHquVO9qyyHvJy6P7_lI1X2KECeATC1Zw4qCGTWoEbu9TOK_hUFjiWQKUaWxd788XsPB2iSOOuhLVYSRNJAiG3jjtesiMGw0cX1GX7BUaoEsMEWnz5yRVSZT2iSnJ5qFkK0ndwUqqeoVL/s1600/crash05.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhoHquVO9qyyHvJy6P7_lI1X2KECeATC1Zw4qCGTWoEbu9TOK_hUFjiWQKUaWxd788XsPB2iSOOuhLVYSRNJAiG3jjtesiMGw0cX1GX7BUaoEsMEWnz5yRVSZT2iSnJ5qFkK0ndwUqqeoVL/s1600/crash05.jpg" /></a><span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Como o próprio autor coloca, trata-se de um mundo sem
proibições, onde qualquer demanda parece poder ser satisfeita. E no entanto,
nunca estivemos tão insatisfeitos! Talvez tão insatisfeitos quanto antes..mas
desorientados. Pois se antes podíamos culpar um outro pela proibição (o lema de
68 já dizia: é proibido proibir!, o pai, os governos ditatoriais, a repressão
social, o machismo)<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>hoje, quando tudo
parece possível, não conseguimos entender porque permanecemos insatisfeitos,
sem encontrar o gozo almejado: e ai você gozou? <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>talvez da próxima vez... é a frase que abre e
fecha o filme sustentando uma promessa que, pelo visto, só pode se realizar na
morte.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Crash também não é um filme sobre um outro estranho e
psicopata que vive se esgueirando pelas esquinas a noite enquanto as pessoas de
bem dormem tranquilas em suas casas. Crash é um filme sobre todos nós.
Cronemberg sabe disso. Por isso criou um filme que prende nossa atenção. Quem
nunca se deparou com um situação de horror mas que parece convidar ao olhar? A
felicidade é que o diretor sabe fazer isso com arte. Os programas de televisão
sensacionalistas como “Barra Pesada” também sabem disso. Só não tem a mesma
capacidade artística de Cronenberg. Nossas fantasias, as fantasias dos
neuróticos são perversas. É com isso que o filme joga. Por isso nos prende.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Estamos diante de um filme que fala sobre nós mesmos, aqui e
agora.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Curiosamente, é um homem do século passado que vai nos
ajudar a entender isso. Sigmund Freud inventou a psicanálise numa época em que
a repressão social imperava. As histéricas insatisfeitas pareciam sofrer de
falta de liberdade sexual. A cultura, a civilização, ao exigir a perda de
alguma satisfação pulsional ocasionava o mal-estar. O homem seria guiado pelo
princípio do prazer. Mas logo Freud se deparou com outra coisa. Se o homem se
guia pelo princípio do prazer, o que é que explica a repetição daquilo que
causa exatamente o desprazer?</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Existe algo que se situa além do princípio do prazer que nos
guia, foi o que Freud descobriu na experiência com veteranos de guerra,
observando as brincadeiras infantis e, principalmente, na clínica sob o
fenômeno da compulsão à repetição, que faz com que o sujeito repita uma
situação traumática inconsciente. Apesar de conscientemente afirmarmos que
queremos ser felizes, queremos nos livrar do sintoma, abandonar o sofrimento,<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>não é exatamente o “<a href="http://letras.mus.br/tim-maia/549215/" target="_blank">caminho do bem</a>” (como
cantava o mestre Tim Maia) que seguimos. Cada um repete, á sua maneira, algo
que presentifica o horror, o insuportável, o traumático. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEifzK7X1pQEFXIb7JQ1NzSlmM7uC3BO5fCxi989S1SFZvQ66kJudVnIbyzvrX70V3OjG-p2RfJwhJB5Kt1xiZambbqe4J0tJckBwpS10HcJabTMR40X-ul_CpRA-s5u8s4chsCi5M5cCnrF/s1600/crash2.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"></a><span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">No filme essa repetição nos leva a uma série interminável de acidentes, corpos despedaçados, carne dilacerada, fluidos e cavidades expostas... mas o que o diretor deixa entrever (e que Freud tão bem delimitou) é que há algo que se satisfaz nessa repetição. Não se trata mais de prazer nem tampouco de uma antítese do prazer, mas de algo que está além do prazer. Lacan nomeou de "gozo" a esse campo onde uma satisfação que não podemos reconhecer como tal está em jogo.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"> As vezes é possível
que a pessoa nem se dê conta dessa repetição. Ou até que a atribua à forças
externas ou divinas como o “karma”, “destino”, etc. Mas ao endereçar-se a uma
analista, isso vai ser tomado como algo que se dá na relação do sujeito com seu
inconsciente.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEifzK7X1pQEFXIb7JQ1NzSlmM7uC3BO5fCxi989S1SFZvQ66kJudVnIbyzvrX70V3OjG-p2RfJwhJB5Kt1xiZambbqe4J0tJckBwpS10HcJabTMR40X-ul_CpRA-s5u8s4chsCi5M5cCnrF/s1600/crash2.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="220" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEifzK7X1pQEFXIb7JQ1NzSlmM7uC3BO5fCxi989S1SFZvQ66kJudVnIbyzvrX70V3OjG-p2RfJwhJB5Kt1xiZambbqe4J0tJckBwpS10HcJabTMR40X-ul_CpRA-s5u8s4chsCi5M5cCnrF/s400/crash2.jpg" width="400" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="clear: left; float: left; font-family: "Times New Roman"; font-size: 12pt; line-height: 150%; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"> Não no sentido que comumente atribuímos a essa palavra.
No senso comum e em algumas concepções psicológicas, alguém “traumatizado é
alguém que foi vítima de maus-tratos, abusos, violência. Freud de inicio até se
aproximou dessa concepção ao supor a teoria da sedução como causa da histeria.
Mas como excelente clínico que era, logo se deu conta que não se tratava de
algo vivenciado na realidade, mas de uma realidade psíquica.</span><span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">O que está em jogo é que, nós nos constituímos sujeitos a
partir de um “trauma”.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Com Lacan vamos poder dizer que a “violência” em questão é
aquela do encontro da linguagem com o real do corpo. Na vivência de suas
pulsões perverso polimorfas, a criança vai se deparar com um gozo impossível de
ser simbolizado, ao mesmo tempo em que, do lado do Outro (lugar de onde provém
os significantes com os quais tentamos nos dizer) esse encontro corresponde a
descoberta de um furo, da ausência de um significante que pudesse nomear esse
gozo. A descoberta de que o Outro deseja e, ainda mais, que seu desejo é
bastante enigmático para a criança.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Nesse sentido, somos todos “traumatizados”. Ainda bem!
Porque apesar da angústia dessa descoberta, é ela que abre para nós a
possibilidade de sairmos da completa alienação ao Outro e constituirmos a nós
mesmos como desejantes, nesse mesmo lugar onde ao Outro falta algo. A fantasia
vai ser uma tentativa de responder a isso, o sintoma também.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Então, voltando a Freud, o que ele nos diz é que nesse
limite, onde não podemos simbolizar o que se passa, não conseguimos falar disso
como algo que nos ocorreu, nós repetimos, atuando esse traumático nas nossas
relações atuais, sempre que se trata de um investimento libidinal, de um
encontro com o outro como objeto sexual. Como um disco arranhado ficamos dando
voltas nesse “mesmo” tentando encontrar alguma forma de dizê-lo. Portanto, com
ou sem proibição, o que está em jogo é que o sexual coloca em cena alguma coisa
que fracassa. Estamos na dimensão do desejo, sempre desejo de outra coisa,
porque o objeto que poderia satisfazê-lo é desde sempre perdido.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Nos dias de hoje temos uma forma bastante problemática de
lidar com isso. É que o discurso capitalista apresenta esse objeto não como
perdido, mas como ainda não encontrado. É a ciência que, ao se deparar com o
real, com o impossível, nos diz que nós... ainda vamos descobrir a causa.. É o
mercado que se utiliza da propaganda para dizer que, se você não está
satisfeito é porque você ....ainda não comprou o último modelo.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">O discurso capitalista não leva em consideração a castração.
Como diz Ballard vivemos em um mundo que nos faz acreditar que qualquer demanda
pode ser instantaneamente satisfeita. Mas isso é uma impostura desse discurso.
Nós não podemos mais satisfazer instantaneamente nenhuma necessidade. Aliás,
nem podemos mais falar em necessidade. Porque estamos inseridos no campo da linguagem
e precisamos dela pra nos relacionarmos com o mundo. Daí que, como ela não pode
dizer tudo, há sempre uma perda incluída na equação, há sempre um fracasso em
jogo. Esse fracasso é também o motor da repetição, encontro programado com o real
impossível de simbolizar que retorna sempre ao mesmo lugar.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Em crash esse fracasso nos é apresentado de saída pela
relação de Ballard e Catherine. Eles são um casal de meia idade com uma relação
já desgastada, que tentam recuperar a excitação através de jogos sexuais. Eles
transam com outras pessoas, desconhecidos (que também não os satisfazem) mas
usam o conteúdo erótico dessas escapadas como motor da relação. Uma relação sustentada
numa promessa de gozar mais.. não agora, mais um dia...da próxima vez...</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">No livro, Ballard diz: </span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">“Há anos que eu era
capaz de adivinhar os casos de Catherine, quase que poucas horas depois de seu
primeiro encontro sexual, simplesmente percebendo qualquer nova disposição
física ou mental - um súbito interesse em algum vinho de terceira classe, uma
postura diferente em relação à política da aviação civil. Muitas vezes eu podia
descobrir o nome do seu último amante bem antes que ela o revelasse no clímax
de nossos atos sexuais. Este jogo provocante nós precisávamos jogar. Deitados
na cama, nós elaborávamos um encontro amoroso completo, desde o primeiro
bate-papo em uma festa numa companhia aérea até o próprio ato sexual. O clímax
desses jogos era o nome do parceiro ilícito. Retido até o último instante, ele sempre
produzia os mais intensos orgasmos em nós dois. Muitas vezes eu sentia que
esses casos aconteciam meramente para proporcionar a matéria-prima de nossos
jogos sexuais. Essas buscas, entretanto, começaram a tornar todos os nossos
relacionamentos, entre nós mesmos e com outras pessoas, cada vez mais
abstratos. Logo ela se tornou incapaz de alcançar um orgasmo sem a fantasia
elaborada de um ato sexual lésbico com Karen, com seu clitóris sendo lambido,
mamilos tocados e ânus acariciado. Essas descrições pareciam ser uma linguagem
em busca de objetos ou até mesmo, talvez, o início de uma nova sexualidade
divorciada de qualquer expressão física possível.” </span></i><span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">(Crash! JG Ballard)</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">O preço a pagar, expulso pela porta da frente com a
liberação sexual máxima: transar com todos que tiver vontade, experimentar os
orgasmos mais incríveis - <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>retorna pela
porta dos fundos sob a forma da criação de uma sexualidade divorciada de
qualquer expressão física possível. Uma sexualidade divorciada do corpo!
Abstrata! </span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Uma primeira consideração é: porque divorciada do corpo? por
que o corpo implica em castração. O encontro sexual é um encontro entre corpos,
e esses são submetidos a castração. Não só a mulher por conta da ausência de
pênis. O que está em jogo não é o pênis, é o falo. E o falo seria um órgão
potente e ereto o tempo todo. Mas a detumescência faz parte do ato sexual. O
orgasmo é uma pequena morte que exige incorporar de alguma forma a perda. O
fim. Mas por outro lado, só se pode gozar com o corpo. Adélia Prado diz isso da
forma que só os poetas conseguem: </span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">“Sem o corpo a alma de
um homem não goza. </span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Por isto Cristo sofreu
no corpo a sua paixão, </span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">adoro Cristo na Cruz. </span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Meu desejo é
atômico,<span style="mso-spacerun: yes;"> </span></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">minha unha é como meu
sexo, meu pé te deseja,</span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>meu nariz, meu espírito – que é o alento de
Deus em mim – te deseja </span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">pra fazer não sei o quê
com você.” </span></i><span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">(A Terceira Via – Adelia Prado)</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<object class="BLOGGER-youtube-video" classid="clsid:D27CDB6E-AE6D-11cf-96B8-444553540000" codebase="http://download.macromedia.com/pub/shockwave/cabs/flash/swflash.cab#version=6,0,40,0" data-thumbnail-src="http://img.youtube.com/vi/huE0HV_wg1I/0.jpg" height="266" width="320"><param name="movie" value="http://youtube.googleapis.com/v/huE0HV_wg1I&source=uds" /><param name="bgcolor" value="#FFFFFF" /><param name="allowFullScreen" value="true" /><embed width="320" height="266" src="http://youtube.googleapis.com/v/huE0HV_wg1I&source=uds" type="application/x-shockwave-flash" allowfullscreen="true"></embed></object></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Portanto, é preciso colocar o corpo na jogada para poder
gozar. A retirada do corpo leva a uma amplificação da excitação, a um material
que vai servir de conteúdo para os jogos eróticos entre Ballard e Catherine, cuja
consequência é exatamente não levar a satisfação alguma. A inclusão do limite
do corpo, por outro lado, abre espaço para um acesso ao gozo que é solidário da
lei. Uma parcela de gozo.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Além disso, por não estar submetido aos limites da castração,
essa busca por um mais-além leva até as últimas consequências. E, como Crash
deixa muito bem entrever, a consequência ultima é a morte. O casal descobre
isso no encontro com Vauhgn.</span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg_uMuAoD75-IDc-o595xDXouWPnZkOMlnW8I6FhlzPsZ_H1Pwbn1EpnwJgiuF8BfBesjJqm_7tRuJdbSG_k_9r8rHH_iAyFkgyuZjBvn01N71RcKEfCCREwl7CW5v9H8qWuJ23Ow-zUQa7/s1600/crash3.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="176" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg_uMuAoD75-IDc-o595xDXouWPnZkOMlnW8I6FhlzPsZ_H1Pwbn1EpnwJgiuF8BfBesjJqm_7tRuJdbSG_k_9r8rHH_iAyFkgyuZjBvn01N71RcKEfCCREwl7CW5v9H8qWuJ23Ow-zUQa7/s320/crash3.jpg" width="320" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
<style>
<!--
/* Font Definitions */
@font-face
{font-family:"Cambria Math";
panose-1:2 4 5 3 5 4 6 3 2 4;
mso-font-charset:0;
mso-generic-font-family:auto;
mso-font-pitch:variable;
mso-font-signature:-536870145 1107305727 0 0 415 0;}
@font-face
{font-family:Cambria;
panose-1:2 4 5 3 5 4 6 3 2 4;
mso-font-charset:0;
mso-generic-font-family:auto;
mso-font-pitch:variable;
mso-font-signature:-536870145 1073743103 0 0 415 0;}
@font-face
{font-family:"MS Mincho";
panose-1:0 0 0 0 0 0 0 0 0 0;
mso-font-alt:"MS 明朝";
mso-font-charset:128;
mso-generic-font-family:roman;
mso-font-format:other;
mso-font-pitch:fixed;
mso-font-signature:1 134676480 16 0 131072 0;}
/* Style Definitions */
p.MsoNormal, li.MsoNormal, div.MsoNormal
{mso-style-unhide:no;
mso-style-qformat:yes;
mso-style-parent:"";
margin:0cm;
margin-bottom:.0001pt;
mso-pagination:widow-orphan;
font-size:10.0pt;
font-family:Cambria;
mso-fareast-font-family:"MS Mincho";
mso-bidi-font-family:"Times New Roman";}
.MsoChpDefault
{mso-style-type:export-only;
mso-default-props:yes;
font-size:11.0pt;
mso-ansi-font-size:11.0pt;
mso-bidi-font-size:11.0pt;
mso-fareast-font-family:"MS Mincho";}
@page WordSection1
{size:612.0pt 792.0pt;
margin:72.0pt 90.0pt 72.0pt 90.0pt;
mso-header-margin:36.0pt;
mso-footer-margin:36.0pt;
mso-paper-source:0;}
div.WordSection1
{page:WordSection1;}
</style>
</div>
-->
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Certamente não se trata de diagnosticar personagens, mas
poderíamos aproximar Vauhgn do que seria a posição perversa. Encontramos a
fixidez de um gozo que busca dividir o outro, busca a angústia no outro. Pode
até parecer que o perverso goza mais que o neurótico, já que está sempre
desconhecendo os limites. Mas, pelo contrário, sua vida sexual limita-se a uma
forma monótona e repetitiva. O livro de Ballard começa com a morte de Vaughn. E
sobre esta o autor nos diz: </span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">“Esta primeira morte, entretanto, parecia tímida quando
comparada com outras nas quais Vaughan tomara parte e com aquelas imaginárias
que povoavam sua mente. Tentando esgotar-se, Vaughan concebera um almanaque
aterrorizador de desastres automobilísticos imaginários com ferimentos insanos
- os pulmões de homens idosos perfurados pelas maçanetas das portas, os tórax de
jovens mulheres impalados pela coluna do volante, as faces de belos
adolescentes rasgadas pelos aros de cromo dos faróis. Essas feridas eram, para
ele, as chaves de uma nova sexualidade nascida de uma tecnologia perversa.
Essas imagens pairavam na galeria de sua mente como as peças em exibição no
museu de um matadouro.”</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 12.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">A morte encarna a figura última da castração.
Frente a ela tanto o neurótico quanto o perverso estão em dificuldades. No
entanto, enquanto o neurótico recalca a castração e constrói a fantasia como
forma de velá-la, o perverso a desmente e se oferece como<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>objeto que responderia pelo gozo do outro,
encenando aquilo que ele considera responder pelo gozo do outro. A encenação do
acidente de James Dean e a própria cena da morte de Vauhgn podem ser tomados
nesse sentido.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 12.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Quanto a Ballard, me parece que sua posição é
muito mais a de um querer saber sobre a morte. </span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiOZNIIwBoGrkVr2jWVr_i3lT_VeFO2kKtgIPQ1nQ3bBzJ7_f8El5gwl-RJcTykV3hPK1-lf8A_wCong-pThdnlSGtgXeOgEaVcrnxA0Ke0UXY5DuR_OdG6-4Q7UafrKIO_viDH2KlVJ8VE/s1600/crash04.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" height="185" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiOZNIIwBoGrkVr2jWVr_i3lT_VeFO2kKtgIPQ1nQ3bBzJ7_f8El5gwl-RJcTykV3hPK1-lf8A_wCong-pThdnlSGtgXeOgEaVcrnxA0Ke0UXY5DuR_OdG6-4Q7UafrKIO_viDH2KlVJ8VE/s320/crash04.jpg" width="320" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
<style>
<!--
/* Font Definitions */
@font-face
{font-family:Times;
panose-1:2 0 5 0 0 0 0 0 0 0;
mso-font-charset:0;
mso-generic-font-family:auto;
mso-font-pitch:variable;
mso-font-signature:3 0 0 0 1 0;}
@font-face
{font-family:"Cambria Math";
panose-1:2 4 5 3 5 4 6 3 2 4;
mso-font-charset:0;
mso-generic-font-family:auto;
mso-font-pitch:variable;
mso-font-signature:-536870145 1107305727 0 0 415 0;}
@font-face
{font-family:Cambria;
panose-1:2 4 5 3 5 4 6 3 2 4;
mso-font-charset:0;
mso-generic-font-family:auto;
mso-font-pitch:variable;
mso-font-signature:-536870145 1073743103 0 0 415 0;}
@font-face
{font-family:"MS Mincho";
panose-1:0 0 0 0 0 0 0 0 0 0;
mso-font-alt:"MS 明朝";
mso-font-charset:128;
mso-generic-font-family:roman;
mso-font-format:other;
mso-font-pitch:fixed;
mso-font-signature:1 134676480 16 0 131072 0;}
/* Style Definitions */
p.MsoNormal, li.MsoNormal, div.MsoNormal
{mso-style-unhide:no;
mso-style-qformat:yes;
mso-style-parent:"";
margin:0cm;
margin-bottom:.0001pt;
mso-pagination:widow-orphan;
font-size:10.0pt;
font-family:Cambria;
mso-fareast-font-family:"MS Mincho";
mso-bidi-font-family:"Times New Roman";}
.MsoChpDefault
{mso-style-type:export-only;
mso-default-props:yes;
font-size:11.0pt;
mso-ansi-font-size:11.0pt;
mso-bidi-font-size:11.0pt;
mso-fareast-font-family:"MS Mincho";}
@page WordSection1
{size:612.0pt 792.0pt;
margin:72.0pt 90.0pt 72.0pt 90.0pt;
mso-header-margin:36.0pt;
mso-footer-margin:36.0pt;
mso-paper-source:0;}
div.WordSection1
{page:WordSection1;}
</style>
</div>
-->
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 12pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">É a figura do homem morto, que atravessou o
para-brisa e caiu sobre seu banco, que o fascina. Será uma pergunta sobre si
mesmo? Estou vivo ou estou morto? Será a crença de que alguém pode deter um
saber sobre a morte? De qualquer forma, o fato mesmo de se perguntar sobre a
morte já aponta para sua posição de sujeito dividido. “Minha primeira e breve
viagem ao local do acidente despertara novamente o espectro do homem morto e,
mais importante, a percepção da minha própria morte.” O próprio fascínio que
ele desenvolve pela viúva aponta para essa questão com a morte que está sempre
espreitando o obsessivo.</span><span lang="EN-US" style="font-family: Times; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-ansi-language: EN-US; mso-bidi-font-family: Times;"></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Que outra saída seria possível então frente ao imperativo
superegoico que diz ao sujeito “Goza”? A psicanálise propõe um caminho que vai
a partir do aparelhamento desse gozo com a linguagem, levar o sujeito a poder
incluir a castração como motor do desejo. Como afirma Lacan, não há desejo sem
lei. Aliás, é porque a lei existe que desejamos. A proposta não é a de uma
resignação frente a castração. Mas que, ao cernir os limites de seu próprio
desejo, o sujeito não precise mais devotar a vida ao Outro, seja para velar ou
negar sua castração. </span><br />
<br />
<div style="text-align: center;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">“Tudo<br />
será difícil de dizer:<br />
a palavra real<br />
nunca é suave.<br />
<br />
Tudo será duro:<br />
luz impiedosa<br />
excessiva vivência<br />
consciência demais do ser.<br />
.....</span></i><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">
Toda palavra é crueldade”</span></i></span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">(</span></i><b><i><span style="font-family: Times; font-size: 7.5pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Fala</span></i></b><b><span style="font-family: Times; font-size: 7.5pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">,
Orides Fontela)</span></b> </span></div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<br /></div>
<table border="0" cellpadding="0" cellspacing="0" class="MsoNormalTable" style="border-collapse: collapse; mso-yfti-tbllook: 1184;">
<tbody>
<tr style="mso-yfti-firstrow: yes; mso-yfti-irow: 0; mso-yfti-lastrow: yes;">
<td style="padding: 7.5pt 7.5pt 7.5pt 7.5pt; width: 15.0pt;" valign="top" width="15"></td>
<td style="padding: 7.5pt; text-align: center;"><div class="MsoNormal">
<br />
<b><span style="font-family: Times; font-size: 7.5pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";"></span></b><b><span style="font-family: Times; font-size: 7.5pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";"></span></b></div>
</td>
<td style="padding: 7.5pt; text-align: center;" valign="bottom"><div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Times; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">
</span></div>
</td>
</tr>
</tbody></table>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Encontremos então a palavra impiedosa que possa nomear nossa
própria crueldade, advertidos, no entanto, de que nem tudo poderá ser dito!</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<br /></div>
<div style="mso-element: footnote-list;">
<br clear="all" />
<hr align="left" size="1" width="33%" />
<div id="ftn1" style="mso-element: footnote;">
<div class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<a href="http://www.blogger.com/blogger.g?blogID=7548064999185896208#_ftnref1" name="_ftn1" style="mso-footnote-id: ftn1;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-family: Cambria; font-size: 12.0pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: "MS Mincho"; mso-fareast-language: EN-US;">[1]</span></span></span></span></a>
<span lang="EN-US" style="font-size: 10.0pt; mso-ansi-language: EN-US;">Texto
apresentado na discussão do filme de mesmo título, promovida pelo Centro Acadêmico
do Curso de Psicologia da Universidade Estadual do Ceará, na atividade "<a href="https://www.facebook.com/cineterapia1?fref=ts" target="_blank">CINETERAPIA</a>" em 26/04/2013</span><br />
<br />
<span lang="EN-US" style="font-size: 10.0pt; mso-ansi-language: EN-US;"> </span><span lang="EN-US" style="mso-ansi-language: EN-US;"> </span></div>
</div>
</div>
Lia Silveirahttp://www.blogger.com/profile/01914928244809718150noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7548064999185896208.post-13844538779424871782012-08-12T22:30:00.000-03:002013-05-01T22:14:54.283-03:00Arnaldo Baptista: a vida em golfadas<style>
<!--
/* Font Definitions */
@font-face
{font-family:Cambria;
panose-1:2 4 5 3 5 4 6 3 2 4;
mso-font-charset:0;
mso-generic-font-family:auto;
mso-font-pitch:variable;
mso-font-signature:-536870145 1073743103 0 0 415 0;}
@font-face
{font-family:"MS Mincho";
panose-1:0 0 0 0 0 0 0 0 0 0;
mso-font-alt:"MS 明朝";
mso-font-charset:128;
mso-generic-font-family:roman;
mso-font-format:other;
mso-font-pitch:fixed;
mso-font-signature:1 134676480 16 0 131072 0;}
/* Style Definitions */
p.MsoNormal, li.MsoNormal, div.MsoNormal
{mso-style-unhide:no;
mso-style-qformat:yes;
mso-style-parent:"";
margin:0cm;
margin-bottom:.0001pt;
mso-pagination:widow-orphan;
font-size:10.0pt;
font-family:Cambria;
mso-fareast-font-family:"MS Mincho";
mso-bidi-font-family:"Times New Roman";}
p.MsoFootnoteText, li.MsoFootnoteText, div.MsoFootnoteText
{mso-style-priority:99;
mso-style-link:"Footnote Text Char";
margin:0cm;
margin-bottom:.0001pt;
mso-pagination:widow-orphan;
font-size:12.0pt;
font-family:Cambria;
mso-fareast-font-family:"MS Mincho";
mso-bidi-font-family:"Times New Roman";}
span.MsoFootnoteReference
{mso-style-priority:99;
vertical-align:super;}
span.FootnoteTextChar
{mso-style-name:"Footnote Text Char";
mso-style-priority:99;
mso-style-unhide:no;
mso-style-locked:yes;
mso-style-link:"Footnote Text";
mso-ansi-font-size:12.0pt;
mso-bidi-font-size:12.0pt;
font-family:Cambria;
mso-ascii-font-family:Cambria;
mso-hansi-font-family:Cambria;}
.MsoChpDefault
{mso-style-type:export-only;
mso-default-props:yes;
font-size:11.0pt;
mso-ansi-font-size:11.0pt;
mso-bidi-font-size:11.0pt;
mso-fareast-font-family:"MS Mincho";}
/* Page Definitions */
@page
{mso-footnote-separator:url("Macintosh HD:Users:LiaSilveira:Library:Caches:TemporaryItems:msoclip:0clip_header.htm") fs;
mso-footnote-continuation-separator:url("Macintosh HD:Users:LiaSilveira:Library:Caches:TemporaryItems:msoclip:0clip_header.htm") fcs;
mso-endnote-separator:url("Macintosh HD:Users:LiaSilveira:Library:Caches:TemporaryItems:msoclip:0clip_header.htm") es;
mso-endnote-continuation-separator:url("Macintosh HD:Users:LiaSilveira:Library:Caches:TemporaryItems:msoclip:0clip_header.htm") ecs;}
@page WordSection1
{size:595.0pt 842.0pt;
margin:72.0pt 90.0pt 72.0pt 90.0pt;
mso-header-margin:35.4pt;
mso-footer-margin:35.4pt;
mso-paper-source:0;}
div.WordSection1
{page:WordSection1;}
</style>
-->
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEir_QnAKflJ3p4SR1X8nw88JQa3H9lNsCEfIivLAM9KLCOs1k8rGjOtUXcdog8_96NggzqrIL8FrUhapYSqAmYj9GzEO-MBmZ3vY5ZsQhmbAfjKM7GHZKyHV154JvwkiegaptQgyOoF7agH/s1600/img_esquerda.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEir_QnAKflJ3p4SR1X8nw88JQa3H9lNsCEfIivLAM9KLCOs1k8rGjOtUXcdog8_96NggzqrIL8FrUhapYSqAmYj9GzEO-MBmZ3vY5ZsQhmbAfjKM7GHZKyHV154JvwkiegaptQgyOoF7agH/s320/img_esquerda.jpg" width="217" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
A
vida nem sempre entra suave. Algumas vezes vem em golfadas, jorros engolidos,
vomitados. Com as palavras tentamos costurar algo que minimamente filtre e
desacelere essas invasões. Mas sempre escapa muito ou pouco desse impossível
que, por sua vez,<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>se diz no corpo.
Angústia ou despedaçamento, se diz no corpo. Acabo de assistir Loki (2008)
documentário sobre a vida e obra do músico Arnaldo Baptista. Sempre gostei de Mutantes,
mas confesso que nunca soube muito da história desse integrante da banda. Pra mim ele era só mais um
dos Mutantes que um dia desapareceram, ficando a Rita Lee.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Mas o que me fez querer escrever não foi o
artista. Muito rico, de uma criação profícua, diga-se de passagem. O que me
envolveu no documentário foi a odisseia de um sujeito em busca de um lugar para
poder existir.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
Uns
garotos de 17 ou 18 anos, vivem uma ascensão intensa nos loucos anos 60.
Fazendo um som que muitos nem entendiam, misturando rock, bossa nova e muito
improviso. Um sucesso estupendo, no Brasil da ditadura e fora dele. Um dia
seriam comparados aos Beatles e admirado por gente do nível musical de Kurt
Cobain e Sean Lenon. Assim como os garotos de Liverpool eles também conhecem os
poderes do LSD. Muitos voltaram da viagem, Arnaldo não.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
Fim
da banda, fim do casamento com a mulher que lhe dava alguma estrutura. Rita era
para Arnaldo o que Nora era para Joyce, o que Gala era para Dali. A mulher,
que por algum tempo funcionou como amarração. Mas quando ela começa a querer,
a desejar, isso se torna incompreensível para ele: “É difícil falar alguma coisa
que seja compreensível para as pessoas que tenham algum sentimento pela Rita
Lee, mas as pessoas a veem pelo lado do palco, dos holofotes e eu a via pelo
lado LetItBed<span style="font-size: xx-small;"><a href="http://www.blogger.com/blogger.g?blogID=7548064999185896208#_ftn1" name="_ftnref1" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-family: Cambria;">[1]</span></span></span></a>.
</span>Então, nesse sentido, teve uma certa razão de ser do lado dela ter me
abandonado. Mas acho que foi tudo uma questão de cansaço.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>E tudo isso depende de um gosto, e eu tinha
um gosto que eu num conseguia expressar pra ela né? Talvez por falta de
experiência, porque ela era a minha primeira, então não tinha muito relacionamento
com outros seres femininos, né? Então pra mim era um pouco misterioso o que eu
conhecia de mulher, não tinha irmãs.. Então foi a mamãe e num passou disso.
Depois foi a Rita Lee e com as coisas que vieram.” </div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
O
mistério da mulher (que não é a mãe) se abre e abre de forma hemorrágica a invasão da vida. O
mundo vinha em golfadas, mas não dessa forma filtrada que a linguagem permite.
Nas palavras dele mesmo: “eu me sinto completamente esburacado. É como se
pessoas tivessem dançando e passando por todos os meus poros”. Sem a rede de
proteção simbólica o mundo é pura invasão, e o corpo é carne viva. </div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
Internado
diversas vezes e rotulado pela mídia como louco, o artista foi relegado ao
ostracismo absoluto. Em mais uma de suas crises, ele é levado pela quinta vez
ao hospital psiquiátrico. Durante uma tentativa de contê-lo em uma camisa de
força, cansado de falar com os médicos, se sentindo perdido na vida e Arnaldo
pensa: “Eu vou me ver livre! Escapa e se joga do quarto andar de uma das
janelas do hospital. </div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
Os
danos cerebrais foram graves e ele entrou em coma. Ninguém esperava por uma
possibilidade de recuperação. Na verdade todos se afastaram. Todos, menos uma
mulher, uma fã, que passou a visita-lo todos os dias na UTI e nunca mais foi
embora. Mais uma vez, uma mulher. Sem reducionismos maniqueístas entre aquela
que o abandonou e aquela que o salvou. Não há aqui uma bruxa e uma santa. A
primeira achou que não dava mais e seguiu seu caminho. A segunda renunciou a
ser mulher e fez do ato de cuidar desse homem em coma, a sua sina. Como ela
mesmo afirma, envolvida em um amor que vai muito além daquele entre um homem e
uma mulher, um amor de mãe, ela diz. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Para
algumas mulheres essa é uma saída viável: fazer de um homem o seu sentido. Seja
como for, os cuidados dessa mulher foram fundamentais para permitir a
construção de uma nova vida. Ela não só o admirou, o amou e o incentivou a
criar, como deu a ele o mínimo de um laço social exigido para que ele não
caísse no perverso esquema de seguidas re-internações psiquiátricas.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
Em
certo ponto do documentário ele fala desse insuportável de um mundo construído
na equivocidade significante, onde você fala "x" e as pessoas entendem "y", e sonha
com um mundo onde "x" só queira dizer "x" mesmo. Mal sabe ele que a riqueza de sua
obra reside na possibilidade mesma de que “x” possa significar um alfabeto
inteiro. É isso que dói, é isso que cria.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
Me
parece que um dia ele conseguiu minimamente fixar esse “x” da questão e
construir uma amarração que lhe permite existir sem tanta invasão. Parte disso,
cabe a Lucinha, a sua menina como ele chama; A mulher, com A maiúsculo. A outra
parte parece vir de um uso singular que ele mesmo fez do significante
Loki/Louco. Se no auge da sua agonia ele cantava: </div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
“<span style="mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Cê tá pensando que eu sou
loki, bicho?</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Sou malandro velho</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Não tenho nada com isso”</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Hoje ele soube no palco e
canta a balada do louco, assumindo esse lugar reservado a ele pelo Outro
social, mas fazendo disso o seu elogio a loucura:</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">“Dizem que sou louco, por eu
ser assim</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Mas louco é quem me diz, que
não é feliz. Eu sou feliz.”</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Não acredito muito nessa
felicidade inerente à loucura que a poesia desse outro Maluco Beleza exalta. Mas
desse lugar de louco ele encontra algum reconhecimento e consegue encontrar um
lugar onde existir é possível. Não na loucura medicalizada da psiquiatria, mas
na loucura que desde os tempos mais remotos fala pela boca de poetas, sábios e
filósofos. De lá ele pode produzir sua obra. A nós fica a felicidade de ouvi-lo.</span></div>
<div style="mso-element: footnote-list;">
<br clear="all" />
<hr align="left" size="1" width="33%" />
<div id="ftn1" style="mso-element: footnote;">
<div class="MsoFootnoteText">
<a href="http://www.blogger.com/blogger.g?blogID=7548064999185896208#_ftnref1" name="_ftn1" style="mso-footnote-id: ftn1;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-family: Cambria; font-size: 12.0pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: "MS Mincho"; mso-fareast-language: EN-US;">[1]</span></span></span></span></a> <span style="font-size: x-small;">N<span lang="EN-US">ome de um dos discos de Arnaldo Baptista que, segundo ele, já existia 14 anos antes mesmo do disco ser gravado. Aqui aparece como
um neologismo para descrever sua relação com Rita.</span></span></div>
</div>
</div>
Lia Silveirahttp://www.blogger.com/profile/01914928244809718150noreply@blogger.com3