Um
dia uma amiga me falou sobre a importância de cultivar várias amizades.
Talvez ela nem saiba, mas aprendi muito com ela naquela ocasião. Não
que eu ja não soubesse o valor da amizade. Mas não me dava conta dessa
espécie de balé, onde os investimentos se distribuem, deslizam, se
encontram e se afastam ao sabor da música que cada um pode tocar. Então
ela me disse: com alguns você vai ter vontade de compartilhar coisas
íntimas, com outros você vai querer rir de bobagens, com outros falar
sobre o trabalho e alguns você vai querer por perto quando estiver
sofrendo.
Ela
falou e eu pude ouvir. Isso foi muito importante por que antes, eu
esperava que cada amizade fosse capaz de suprir tudo isso, que cada
amigo fosse um pacote com todas essas "funcionalidades" e passava a só
investir naquelas que eu imaginava poderem suprir essas expectativas.
O problema é que esperar que uma só pessoa corresponda a tudo isso, não só é quase impossível, como corre o risco de levar essa relação a uma morte por asfixia. Aliás, isso vale tanto pro amor, quanto para a amizade. Freud inclusive aponta para uma raiz comum a esses dois sentimentos. A amizade, assim como o amor, surge do investimento de pulsões sexuais sobre o objeto. Só que no caso da amizade o impulso sexual é inibido, impedido por resistências internas de ser alcançado. Nesse caso, diz Freud, ele passa a se contentar com certas "aproximações" á satisfação. Acho que era disso que a minha amiga estava falando. Ao invés de perseguir o objeto ideal (que na verdade não existe), aprender a dançar com a pulsão, usufruindo de todas as "aproximações" possíveis. O mais legal é que, segundo Freud, esse é o tipo de investimento que leva ás relações mais duradouras, "especialmente firmes e permamentes".
Hoje consigo perceber e cultivar os movimentos singulares de cada amizade:
Tem
aquelas de um tempo muito distante, que quase não encontramos mais.
Talvez elas nem existam na atualidade da mesma forma como habitam nossas
lembranças. Mas isso as fazem mais especiais, pois permanecem
conservadas nas memórias com muito carinho.
Tem
aquelas com quem convivemos muito no momento. A gente se fala com muita
frequencia, compartilha coisas mais íntimas, liga quando está triste e
quando tem uma notícia feliz.
Tem
aquelas que são amigas de sangue, nasceram na sua familia, mas para
além do laço sanguíneo, tem um grande sentimento de amizade que nos une.
Tem
os amigos de farra (Adoro!). Quando chega sexta feira a primeira coisa
que voce pensa é em reunir todo mundo, jogar conversa fora, dar uma boas
risadas.
Tem
os colegas de trabalho que viraram amigos. Em meio ao ambiente ás vezes
árido de trabalho, das relaçoes de poder, de disputas e hierarquias,
germina uma flor. E de repente você percebe que quer ter aquela pessoa
na sua vida, muito além daqueles mestros quadrados.
Tem
os amigos dos amigos que viram seus amigos tambem. E amigos dos irmãos,
amigos dos filhos, etc. Essa espécie é muito querida, é como se fosse
amigo ao quadrado, pois alem de gostar de voce gosta tambem do seu
amigo.
E
last, but not least, tem os amigos recentes. Novas flores que ainda não
desabrocharam, mas por isso mesmo cheias de descobertas. Todo um mundo
novo que se anuncia. Alguns você conhece pouco, nem teve tantas
oportunidades quanto gostaria de estar com eles, mas nutre uma espécie
de carinho em reserva, so esperando uma chance de estreitar esses laços.
Enfim,
a lista poderia crescer ainda mais a medida que vou lembrando de
pessoas. Mas o importante é saber que cada uma dessas delas tem um
significado unico, qualidades unicas, defeitos unicos e que com cada uma
delas voce pode sempre aprender.