sábado, 16 de agosto de 2014

This must be the Place..or not!


 
“Tem alguma coisa errada aqui, eu não sei exatamente o que é, mas tem”. Talvez essa frase, repetida por Cheyenne ao longo do filme, seja o que faz amarração entre o espectador confortavelmente sentado em sua poltrona numa tarde de domingo e a estranheza que perpassa “This must be the Place”. A frase, e a interpretação de Sean Penn – claro! Que apesar de atingir o cômico em diversos pontos do filme, deixa um quê de amargo na boca desde as primeiras cenas.

A história trata de um roqueiro velho e decadente, com traços de Ozzy Osborne, entediado numa vida sem projetos. Mesmo assim, todo dia ele veste o personagem: unhas pintadas de preto, batom vermelho e uma cabeleira negra que insiste em lhe cair sobre os olhos. Patético.
Até que um dia Cheyenne fica sabendo que seu pai (com quem não fala há trinta anos) está muito doente e precisa ir visitá-lo. De família judaica, o cantor fica ainda mais bizarro em meio a judeus ortodoxos com suas longas peiot . Logo ficamos sabendo que ele demorou demais (devido à fobia de avião, ele se deslocou de navio) e, numa das cenas mais emocionantes do filme, Cheyenne encontra o pai jazendo sobre seu leito de morte. A estranheza do momento é total: a decoração tipicamente judaica, a boca vermelha e cheia de rugas do cantor, a comoção da morte e o corpo estendido na cama...Debaixo do lençol, que ele vacilantemente levanta, somo guiados pela câmera até um número gravado na pele do pai morto. Sobrevivente de um campo de concentração, o velho homem dedicara toda sua vida a perseguir um soldado nazista, seu torturador. No entanto, como a morte chegou antes que ele concluísse sua caçada, esta foi repassada à Cheyenne como um legado incontornável.
E assim, o roqueiro infantilizado torna-se um caçador de nazistas! Mesclando emoção e muito humor, acompanhamos toda a falta de jeito e a sensibilidade de Cheyenne em sua jornada rumo à realização do último desejo do pai.
“Tem alguma coisa errada aqui, eu não sei exatamente o que é, mas tem”.  O filme nos captura na sensação de estranheza que essa sentença carreia (ainda mais contrastante quando se pensa na canção do Talking Heads que dá título ao filme). Meu palpite é que isso se deve ao fato de que essa frase, pontualmente repetida ao longo do filme, marcando suas escansões, diz de um sentimento que é velho conhecido de todos nós. Angústia, é como o vernáculo designa essa sensação de que algo não vai bem, de algo que não está em seu lugar, embora não saibamos dar-lhe nome. E aí, embora o filme trate de uma figura a mais oddest  possível, estamos ali todos nós.
Seguimos Cheynne no que ja se converteu num Road Movie, e vemos como a confusão e letargia do cantor vai se transformando em desejo: Um pai morto, uma causa, e uma travessia...
Só crianças não tem vontade de fumar, diz uma personagem a certa altura do filme. Cheyenne não fuma. Até cheirou heroína...cheirou, porque tem medo de agulha. Só posso dizer que no final ele acende um cigarro, o resto você precisa assistir para ver a cara impagável do Sean Penn! 



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